'Chorava escondido para pacientes não verem', diz médica brasileiravaidebet comGaza:vaidebet com

Credito: Liliana Andrade

Crédito, Liliana Andrade

Legenda da foto, Liliana estevevaidebet comGazavaidebet com2012 e retornou à região no início do mês
  • Author, Luiza Bandeira
  • Role, Da BBC Brasilvaidebet comLondres

vaidebet com Há dois anos, a médica brasileira Liliana Mesquita Andrade esteve na Faixavaidebet comGaza e cuidouvaidebet comvárias crianças. Desta vez, durante o conflito mais violento entre Israel e Palestina nos últimos anos, foram poucas.

"Infelizmente, as crianças são a parte mais frágil da guerra. Já chegavam mortas ou quase mortas", conta a anestesista,vaidebet com39 anos.

Pacientes cobertos por poeira, pessoas morando no hospital por medovaidebet comvoltar para casa e trabalhar com o barulhovaidebet combombas são imagens que marcaram a experiência da médica no conflito - que somou 50 diasvaidebet comcombate e deixou maisvaidebet com2,2 mil mortos.

"Na primeira noite no hospital ouvi explosões, senti as coisas tremerem", afirmou à BBC Brasil por telefone, da Faixavaidebet comGaza, onde está desde o dia 7vaidebet comagosto.

"Você tem que chorar escondido, porque os pacientes não podem ver que está com medo. Comecei a rezar e pedir que as coisas se acalmassem."

Mas,vaidebet commeio ao conflito, Liliana teve um reencontro emocionante: passou uma tarde com um meninovaidebet com4 anos que havia atendidovaidebet com2012, quando a criança foi atingida por bombas. "Nunca achei que fosse revê-lo. É muito gratificante, não tem dinheiro no mundo que pague."

Leia abaixo trechos da entrevista:

vaidebet com BBC Brasil - Foram 50 diasvaidebet comcombate e o conflito mais violento desde 2007. O que mais te marcou?

vaidebet com Liliana Mesquita Andrade - A coisa que mais me impressionou não foi a questão propriamente médica, mas ver milharesvaidebet compessoas morando no hospital porque o consideravam um lugar mais seguro. Na época que cheguei aqui tinha 2 mil pessoas no hospital, mas não pacientes. Eram pessoas morando nas instalações do hospital, no estacionamento, no jardim, nas escadas.

Também vi muitas crianças que haviam perdido toda a família e outras extremamente feridas, lesões muito diferentes. Por exemplo, recebi uma menina com uma fratura no fêmur na raiz da coxa devido às explosões. A energia necessária pra gerar uma fratura daquela é uma coisa extremamente rara, só mesmo num contexto muito violento.

Essa criança chegou no hospital suja, completamente suja daquela poeira cinzentavaidebet comdesmoronamento que tem aqui, no Iraque, na Síria. Eles chegavam ou com poeira cinza ou com poeira negra,vaidebet comfuligem, queimadura. Você não tem tempo nem para perguntar o que houve: tem que agir rápido, porque o tempo que perde conversando pode custar a vida do paciente.

vaidebet com BBC Brasil - Você sentiu medo?

vaidebet com Andrade - Por mais que você venhavaidebet comum mistovaidebet comcoragem, desprendimento, amor ao próximo e amor à medicina, você tem medo também. Na primeira noite no hospital ouvi explosões, senti as coisas tremerem. Tive que chorar sozinha, porque você não pode demonstrar que está com medo, principalmente para o paciente. Você começa a rezar e pedir para que o cessar-fogo chegue e que as coisas se acalmem.

Crédito: Liliana Andrade

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Legenda da foto, Crianças são parte mais frágilvaidebet comconflito, diz médica

vaidebet com BBC Brasil - Como você se protegia?

vaidebet com Andrade - O que era recomendado era que ficássemos sempre juntos e dentro do hospital. O centro cirúrgico é um lugar muito fechado, não tem janela, e a gente está tão concentrado na gravidade do paciente que às vezes nem ouvia as explosões.

Na casa tinha um quartovaidebet comsegurança, com uma localização mais central. Quando tinha bomba a gente ia para lá e ficávamos todos juntos.

vaidebet com BBC Brasil - O bloqueio afetava seu trabalho evaidebet comvida?

vaidebet com Andrade - Claro que no auge da guerra pode ter ficado mais difícil, mas não a nívelvaidebet comprejudicar o atendimento. Nem sempre as condições eram 100%, mas tinha o suficiente para dar para o paciente.

Só a nossa locomoção ficava prejudicada. Tinha que sair todo mundo junto e voltar junto, sempre num carro identificado pelo MSF, sem ser blindado. Era proibido sair da casa, o tempo todo era casa-hospital, hospital-casa.

vaidebet com BBC Brasil - Como foi a decisãovaidebet comir para a Faixavaidebet comGazavaidebet commeio ao conflito?

vaidebet com Andrade - Foi a decisão mais difícil que tive que tomar. Eu ia para o Afeganistão, é minha 8ª missão no MSF, mas me pediram para trocar e acabei vindo pela segunda vez para a Faixavaidebet comGaza. Estou nas férias, tenho trabalho no Brasil, mas me programo todo ano pra vir.

Minha família estava extremamente preocupada. Minha irmã pediu pra eu não vir porque já perdemos nossos pais e nosso irmão caçula. Não foi fácil. Mas eu sou muito católica e acho que Deus acaba sempre protegendo todo mundo que faz esse tipovaidebet comtrabalho.

Estudei pra aliviar o sofrimento, como anestesista. Não importa onde você esteja, você tem que ajudar. Independentemente se é aqui, no Brasil, no Iêmem, no Paquistão, você tem que ajudar.

vaidebet com BBC Brasil - Reencontrou alguém que já tinha conhecidovaidebet comGaza?

vaidebet com Liliana Mesquita Andrade - Reencontrei uma criança que há dois anos tinha sido vítimavaidebet comum explosão e tinha queimaduras no rosto, na mão, nos braços. Tratei delavaidebet comum projetovaidebet comcirurgia plástica reconstrutora. A cada dois ou três dias precisavavaidebet comanestesia e eu tinha muito contato com ele. No meu último dia ele, que não falava uma palavravaidebet cominglês, olhou pra mim e falou I love you, Lili.

Credito: Liliana Andrade

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Legenda da foto, Anestesista trabalha no maior hospitalvaidebet comGaza

Quando cheguei aqui a primeira coisa que perguntei foi sobre ele. Me falaram que continuava fazendo tratamento, ele ainda tem muitas queimaduras. E ele veio me visitar. Foi a maior surpresa. Comecei a chorar e ele ficou todo envergonhado. Ele lembravavaidebet commim, veio direto no meu colo. O pai disse que ele se recusa a fazer novas cirurgias, porque já sofreu muito, e a família está muito preocupada.

Dei lápisvaidebet comcera pra ele, brincamos. Essa foi a única tardevaidebet comque realmente tive férias. Ao final, perguntei: "Still love me?" E ele falou "I love you" outra vez. É muito gratificante, não tem dinheiro no mundo que pague isso.

vaidebet com BBC Brasil - Como foi a reação ao cessar-fogo?

vaidebet com Andrade - Estávamos todos muito ansiosos pelo cessar-fogo e eu chorei muito, fico até emocionadavaidebet comfalar com você. Parecia finalvaidebet comCopa do Mundo. A alegria deles foi igual à finalvaidebet comCopa no Brasil.

vaidebet com BBC Brasil - Falandovaidebet comBrasil, é possível fazer alguma comparação entre a situaçãovaidebet comGaza e a do Rio, que muitos consideram uma "guerra urbana"?

vaidebet com Andrade - Ao mesmo tempovaidebet comque estava tendo bombas aqui, minha irmã saiu do trabalho um dia no Rio, foi pegar minha sobrinha numa ruavaidebet comque havia uma favela próxima e estava fechada. Haviam colocado fogo num ônibus, ninguém podia passar. Brinquei com ela: quem está maisvaidebet comrisco, você no Rio, por causa dos traficantes, ou eu na Faixavaidebet comGaza?

vaidebet com BBC Brasil - Você voltaria para a Faixavaidebet comGaza?

vaidebet com Andrade - Com certeza.