'Chorava escondido para pacientes não verem', diz médica brasileirabahia ponte preta palpiteGaza:bahia ponte preta palpite

Credito: Liliana Andrade

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Legenda da foto, Liliana estevebahia ponte preta palpiteGazabahia ponte preta palpite2012 e retornou à região no início do mês

"Você tem que chorar escondido, porque os pacientes não podem ver que está com medo. Comecei a rezar e pedir que as coisas se acalmassem."

Mas,bahia ponte preta palpitemeio ao conflito, Liliana teve um reencontro emocionante: passou uma tarde com um meninobahia ponte preta palpite4 anos que havia atendidobahia ponte preta palpite2012, quando a criança foi atingida por bombas. "Nunca achei que fosse revê-lo. É muito gratificante, não tem dinheiro no mundo que pague."

Leia abaixo trechos da entrevista:

bahia ponte preta palpite BBC Brasil - Foram 50 diasbahia ponte preta palpitecombate e o conflito mais violento desde 2007. O que mais te marcou?

bahia ponte preta palpite Liliana Mesquita Andrade - A coisa que mais me impressionou não foi a questão propriamente médica, mas ver milharesbahia ponte preta palpitepessoas morando no hospital porque o consideravam um lugar mais seguro. Na época que cheguei aqui tinha 2 mil pessoas no hospital, mas não pacientes. Eram pessoas morando nas instalações do hospital, no estacionamento, no jardim, nas escadas.

Também vi muitas crianças que haviam perdido toda a família e outras extremamente feridas, lesões muito diferentes. Por exemplo, recebi uma menina com uma fratura no fêmur na raiz da coxa devido às explosões. A energia necessária pra gerar uma fratura daquela é uma coisa extremamente rara, só mesmo num contexto muito violento.

Essa criança chegou no hospital suja, completamente suja daquela poeira cinzentabahia ponte preta palpitedesmoronamento que tem aqui, no Iraque, na Síria. Eles chegavam ou com poeira cinza ou com poeira negra,bahia ponte preta palpitefuligem, queimadura. Você não tem tempo nem para perguntar o que houve: tem que agir rápido, porque o tempo que perde conversando pode custar a vida do paciente.

bahia ponte preta palpite BBC Brasil - Você sentiu medo?

bahia ponte preta palpite Andrade - Por mais que você venhabahia ponte preta palpiteum mistobahia ponte preta palpitecoragem, desprendimento, amor ao próximo e amor à medicina, você tem medo também. Na primeira noite no hospital ouvi explosões, senti as coisas tremerem. Tive que chorar sozinha, porque você não pode demonstrar que está com medo, principalmente para o paciente. Você começa a rezar e pedir para que o cessar-fogo chegue e que as coisas se acalmem.

Crédito: Liliana Andrade

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Legenda da foto, Crianças são parte mais frágilbahia ponte preta palpiteconflito, diz médica

bahia ponte preta palpite BBC Brasil - Como você se protegia?

bahia ponte preta palpite Andrade - O que era recomendado era que ficássemos sempre juntos e dentro do hospital. O centro cirúrgico é um lugar muito fechado, não tem janela, e a gente está tão concentrado na gravidade do paciente que às vezes nem ouvia as explosões.

Na casa tinha um quartobahia ponte preta palpitesegurança, com uma localização mais central. Quando tinha bomba a gente ia para lá e ficávamos todos juntos.

bahia ponte preta palpite BBC Brasil - O bloqueio afetava seu trabalho ebahia ponte preta palpitevida?

bahia ponte preta palpite Andrade - Claro que no auge da guerra pode ter ficado mais difícil, mas não a nívelbahia ponte preta palpiteprejudicar o atendimento. Nem sempre as condições eram 100%, mas tinha o suficiente para dar para o paciente.

Só a nossa locomoção ficava prejudicada. Tinha que sair todo mundo junto e voltar junto, sempre num carro identificado pelo MSF, sem ser blindado. Era proibido sair da casa, o tempo todo era casa-hospital, hospital-casa.

bahia ponte preta palpite BBC Brasil - Como foi a decisãobahia ponte preta palpiteir para a Faixabahia ponte preta palpiteGazabahia ponte preta palpitemeio ao conflito?

bahia ponte preta palpite Andrade - Foi a decisão mais difícil que tive que tomar. Eu ia para o Afeganistão, é minha 8ª missão no MSF, mas me pediram para trocar e acabei vindo pela segunda vez para a Faixabahia ponte preta palpiteGaza. Estou nas férias, tenho trabalho no Brasil, mas me programo todo ano pra vir.

Minha família estava extremamente preocupada. Minha irmã pediu pra eu não vir porque já perdemos nossos pais e nosso irmão caçula. Não foi fácil. Mas eu sou muito católica e acho que Deus acaba sempre protegendo todo mundo que faz esse tipobahia ponte preta palpitetrabalho.

Estudei pra aliviar o sofrimento, como anestesista. Não importa onde você esteja, você tem que ajudar. Independentemente se é aqui, no Brasil, no Iêmem, no Paquistão, você tem que ajudar.

bahia ponte preta palpite BBC Brasil - Reencontrou alguém que já tinha conhecidobahia ponte preta palpiteGaza?

bahia ponte preta palpite Liliana Mesquita Andrade - Reencontrei uma criança que há dois anos tinha sido vítimabahia ponte preta palpiteum explosão e tinha queimaduras no rosto, na mão, nos braços. Tratei delabahia ponte preta palpiteum projetobahia ponte preta palpitecirurgia plástica reconstrutora. A cada dois ou três dias precisavabahia ponte preta palpiteanestesia e eu tinha muito contato com ele. No meu último dia ele, que não falava uma palavrabahia ponte preta palpiteinglês, olhou pra mim e falou I love you, Lili.

Credito: Liliana Andrade

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Legenda da foto, Anestesista trabalha no maior hospitalbahia ponte preta palpiteGaza

Quando cheguei aqui a primeira coisa que perguntei foi sobre ele. Me falaram que continuava fazendo tratamento, ele ainda tem muitas queimaduras. E ele veio me visitar. Foi a maior surpresa. Comecei a chorar e ele ficou todo envergonhado. Ele lembravabahia ponte preta palpitemim, veio direto no meu colo. O pai disse que ele se recusa a fazer novas cirurgias, porque já sofreu muito, e a família está muito preocupada.

Dei lápisbahia ponte preta palpitecera pra ele, brincamos. Essa foi a única tardebahia ponte preta palpiteque realmente tive férias. Ao final, perguntei: "Still love me?" E ele falou "I love you" outra vez. É muito gratificante, não tem dinheiro no mundo que pague isso.

bahia ponte preta palpite BBC Brasil - Como foi a reação ao cessar-fogo?

bahia ponte preta palpite Andrade - Estávamos todos muito ansiosos pelo cessar-fogo e eu chorei muito, fico até emocionadabahia ponte preta palpitefalar com você. Parecia finalbahia ponte preta palpiteCopa do Mundo. A alegria deles foi igual à finalbahia ponte preta palpiteCopa no Brasil.

bahia ponte preta palpite BBC Brasil - Falandobahia ponte preta palpiteBrasil, é possível fazer alguma comparação entre a situaçãobahia ponte preta palpiteGaza e a do Rio, que muitos consideram uma "guerra urbana"?

bahia ponte preta palpite Andrade - Ao mesmo tempobahia ponte preta palpiteque estava tendo bombas aqui, minha irmã saiu do trabalho um dia no Rio, foi pegar minha sobrinha numa ruabahia ponte preta palpiteque havia uma favela próxima e estava fechada. Haviam colocado fogo num ônibus, ninguém podia passar. Brinquei com ela: quem está maisbahia ponte preta palpiterisco, você no Rio, por causa dos traficantes, ou eu na Faixabahia ponte preta palpiteGaza?

bahia ponte preta palpite BBC Brasil - Você voltaria para a Faixabahia ponte preta palpiteGaza?

bahia ponte preta palpite Andrade - Com certeza.