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'Diagnóstico errado me fez ser internadaum hospital psiquiátrico':
Para a médica, a jovem tinha febre glandular — conhecida também como mononucleose ou doença do beijo.
Embora Hannah se sentisse muito cansada e seus sintomas se encaixassem nesse quadro, ela começou a demonstrar algumas mudanças na personalidade. Logo depois, perdeu a capacidadefalar.
"Tive que pedir para minha mãe vir comigo, sentar ao meu lado e falar com a doutora por mim."
"Eu escrevia para minha mãe o que eu precisava dizer, e ela falava (para a médica)."
Piora
A médica receitou remédios antidepressivos e encaminhou Hanna a um psicólogo.
Mas os sintomas pioraram e, pouco tempo depois, ela foi internadaum hospital psiquiátrico, onde recebeu medicação antipsicótica.
Um psiquiatra a examinou e pediu uma ressonância magnética.
No resultado do exame, os médicos encontraram um cistoseu cérebro. A estudante foi encaminhada ao pronto-socorro para que seu quadro fosse melhor analisado.
"Quando cheguei ao pronto-socorro, eles verificaram o cisto e disseram que eu provavelmente nasci com ele. Talvez não tivesse nada a ver com os sintomas."
"Eles perceberam, no meu examesangue, que meu corpo estava lutando contra algum tipovírus."
Houve mais exames e, após três semanas, Hannah finalmente recebeu um diagnóstico: encefalite anti-NMDA.
"É uma forma autoimuneencefalite, que é uma inflamação do cérebro", diz Hanna.
Uma confusão comum
Especialistaneurologia no Hospital Guy's and St Thomas, no Reino Unido, o professor Guy Leschziner diz que a confusão entre sintomas físicos e doenças mentais não é incomum.
"Às vezes, a gente vê indivíduos com psicoses e alterações severas no comportamento, e o diagnóstico inicial é uma doença psicótica como a esquizofrenia. Mas, na verdade, com o passardias ou semanas, enquanto estão no hospital, começa a ficar evidente o que está por trás: alguma condição autoimune", explica o neurologista.
Já se sabe, há maisum século, que danos a certas partes do cérebro e tumores podem causar mudanças na personalidade ou no comportamento.
"Nos últimos 20 anos, mais ou menos, começamos a reconhecer que existem várias condições imunológicas que fazem com que o sistema imunológico ataque o cérebro e cause danos às funções cerebrais", diz o professor.
"No casoFarrell, levou várias semanas para os médicos perceberem que se tratavauma condição autoimune grave, que exigia tratamento com medicamentos muito poderosos."
Voltar a viver
Hannah Farrell conta que, depois do diagnóstico, ela foi transferida para o setorneurologia do hospital.
"Eu estava completamente muda. Havia perdido a minha capacidademe vestir, me banhar e me alimentar. Nessa fase, eu estava realmente presameu próprio corpo."
A jovem passou por tratamentoimunoterapia e 13 trocasplasma — um processo no qual o sangue é filtrado antesser bombeadovolta para o corpo.
Embora o tratamento inicialmente não tenha funcionado e os médicos tenham dito a seus pais que ela provavelmente não teria muito tempovida, masum dia, após duas semanas, Hannah acordou conseguindo dizer algumas palavras.
Nas semanas seguintes, ela reaprendeu a falar e andar. Foi como aprender a vivernovo, diz a britânica.
"Eu olho para trás, para a pessoa que eu era antester encefalite, e parece que não a conheço. Simplesmente não consigo me conectar com essa pessoa."
Cinco anos se passaram. Hannah se recuperou, embora ainda estejatratamentoimunoterapia. Isso a torna mais vulnerável a infecções e pode afetarfertilidade.
"Gostaria que os médicos generalistas soubessem mais sobre as encefalites porque eles são o primeiro pontocontato para muitos pacientes", diz ela.
"Gostaria que minha médica soubesse mais sobre isso para ter me guiado no caminho certo. Se for imaginar todas as pessoas que tiveram encefalite e morreramhospitais psiquiátricos ou asilos, eu não conseguiria dormirnoite."
Uma conexãovia dupla
No caso da britânica, a encefalite, uma doença física, foi confundida com uma doença mental. Mas às vezes ocorre o contrário.
"Sabemos que a conexão entre o corpo e a mente ocorre nos dois sentidos. Problemas físicos podem causar sintomas psiquiátricos, mas problemas psicológicos também podem contribuir para doenças físicas", afirma Leschziner.
O professor diz que atende pacientes com sintomas como convulsões, paralisia e dormência sem uma causa física óbvia. Alguns são finalmente diagnosticados com um distúrbio neurológico funcional.
"Não entendemos completamente o que causa essas condições. Parece que qualquer um pode ser vulnerável a mudanças no 'software' que define como nosso sistema nervoso funciona."
"Mas sabemos que existem alguns fatoresrisco. Ou seja, estresse, ansiedade, depressão e traumas psicológicos anteriores,particular. Mas,última instância, qualquer pessoa pode desenvolver esses distúrbios neurológicos funcionais."
Saúde mental e física como um todo
Em todo o mundo, centenasmilharespessoas desenvolvem distúrbios neurológicos funcionais a cada ano. Condições como essas e as experiênciaspessoas como Hannah levaram alguns médicos a acreditar que precisamos pararpensarsaúde física e mental separadamente.
"Acho que devemos parardefinir doenças ou distúrbios que são do corpo ou da mente. Sabemos que, na realidade,quase todos os casos, há contribuiçõesambos", diz Leschziner.
"Mesmocondições consideradas puramente físicas, sabemos que a forma como as pessoas interpretam seus sintomas é importantetermosqualidadevida."
"Entender isso e garantir que todos tenham acesso a tratamentos físicos e psicológicos é realmenteextrema importância para quase todas as condições que nossos sistemassaúde atendem", conclui.
*Este artigo foi adaptadoum vídeo da BBC Ideascolaboração com a Open University. Clique aqui se quiser assistir o vídeo (em inglês).
- Este texto foi publicadohttp://vesser.net/geral-64113080
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