Como o mar pode garantir a alimentação da humanidade no futuro:

Ostras

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Legenda da foto, 'A criaçãomexilhões eostras são muito positivasseus impactos, porque elas podem até ajudar a limpar os ecossistemas costeiros e mitigar problemas', explica o professor Chris Armstrong

Para muitos cientistas, a resposta pode estar nas águas, muito mais do que no solo.

Dada a crescente demanda por comida e as restrições da expansão da produçãoalimentosterra, os alimentos provenientes do oceano — ricosnutrientes e uma fonteproteína — estão prestes a se tornar nossa próxima grande resistência para produção alimentar capazsuprir as quase 10 bilhõespessoas que viverão no planeta até 2050.

Um grupoespecialistastodo o mundo reuniu-se para analisar essa questão, contando comamplitude combinadaconhecimento que abrange economia, biologia, ecologia, nutrição e pesca.

E também a maricultura, termo que começa a ganhar maior projeção, e que diz respeito às práticascultivo da vida marinha para alimentação humana (o mesmo que a agricultura, mas feita nos mares).

São 22 pesquisadoresdistintas partes do mundo que se debruçaram sobre a questão para publicar uma sérieartigos (o inaugural saiu na prestigiada revista Nature) sobre a alimentação que vem do mar.

Pessoa segura isopor com peixes dentro

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Legenda da foto, Alguns pesquisadores acreditam que o mar poderá ser mais explorado para fins alimentícios, sem que isso leve a uma exaustão do ambiente marinho

"Examinamos os principais setores produtoresalimentos na pesca oceânica - selvagem, peixesmaricultura e mariculturabivalves - para estimar 'curvasoferta sustentável' que levamconta as restrições ecológicas, econômicas, regulatórias e tecnológicas. Sobrepomos essas curvasoferta com cenáriosdemanda para estimar a produção futuraalimentos do mar", diz a apresentação do artigo.

Hoje, estimam os cientistas, os alimentos provenientes do mar representam apenas 17% da produção atualcarne comestível no planeta. A pesquisa visa responder quantoalimentos podemos esperar que o oceano produzaforma sustentável até 2050.

"Os alimentos comestíveis do mar podem aumentar21 a 44 milhõestoneladas até 2050, um aumento36 a 74%comparação com os rendimentos atuais. Isso representaria 12 a 25% do aumento estimadotoda a carne necessária para alimentar 9,8 bilhõespessoas até 2050", concluem.

"Basicamente, a pergunta que estávamos tentando responder era: o gerenciamento sustentável do oceano nos próximos 30 anos significa que produziremos mais ou menos alimentos?", pergunta Christopher Costello, professorEconomia Ambiental eRecursos da UCSB Bren School of Environmental Science & Management, e principal autor do artigo.

Por muito tempo pensou-se que, para gerenciar o oceanoforma sustentável, teríamos que extrair menos, o que significaria menos comida do mar. O que os pesquisadores descobriram, no entanto, foi que temos que extrairforma melhor — que tenha a sustentabilidade como valor principal.

"Se feitoforma sustentável, é possível aumentar os alimentos do mar euma proporção inversarelação à expansão dos alimentos baseadosterra", detalhou o coautor Ling Cao, membro afiliado do CentroSegurança Alimentar e Meio AmbienteStanford.

"E isso pode ser feitouma maneira muito mais ecológica para o clima, a biodiversidade e outros serviços ecossistêmicos do que a produçãoalimentosterra".

Para isso, eles propõem ações que vãoreformas políticas, inovação tecnológica e a extensão das mudanças futuras na demanda, mas sempre tendoconta um planejamento prévio — algo que não tivemos na agricultura e na pecuáriasolo, que correspondem pela esmagadora maioria dos alimentos que consumimos.

"Se esses potenciaisprodução serão realizadosforma sustentável dependerámuitos fatores, mas queremos começar essa discussão", acrescenta Costello.

Filéssalmão
Legenda da foto, Criação extensivasalmão já traz impactos ambientais muito negativos aos mares, exemplifica pesquisador

Autorum recém-lançado livro que tem sido considerado um dos mais importantes manifestos sobre as políticasexploração dos oceanos (A Blue Deal: Why We Need a New Politics for the Ocean, ainda sem edição no Brasil), o professor Chris Armstrong, do DepartamentoPolíticas e Relações Internacionais da University of Southampton (Inglaterra), ecoa o coroque novas políticasexploração dos mares precisam ser criadas.

"O oceano já enfrenta muitas ameaças, e é importante que não as tornemos ainda piores. Se vamos adicionar novas indústrias oceânicas, elas terão que ser do tipo que possam ajudar o oceano a se recuperar,vezprejudicar ainda maissaúde", afirma,entrevista à BBC Brasil.

Ele cita, por exemplo, a criação extensivasalmão e camarão que têm impactos ambientais muito negativos aos mares —danos à vida marinha e do usoantibióticos nas águas.

Mas indica a exploração sustentávelanimais que podem nos trazer maiores benefícios.

"A criaçãomexilhões eostras são muito positivasseus impactos, porque elas podem até ajudar a limpar os ecossistemas costeiros e mitigar problemas. O mesmo vale para o cultivoalgas marinhas, que também pode ajudar a combater as mudanças climáticas", ele afirma.

Armstrong também refuta a ideiaque o oceano é 'subexplorado', como defendem alguns pesquisadores— ainda que defenda que a ofertaalimentos provenientes do mar possam aumentarforma ordenada e sustentável.

"Nossa primeira prioridade deve ser garantir que os ecossistemas oceânicos sejam protegidos, não que sejam 'usados' ao máximo", ele ressalta.

Com a demanda global por alimentos aumentando e questões sérias se acentuando sobre se a oferta pode aumentarforma sustentável, o mar pode indicar uma solução no horizonte. Claro que expansão baseadaterra é possível, mas pode exacerbar as mudanças climáticas e a perdabiodiversidade e comprometer a prestaçãooutros serviços ecossistêmicos.

"Concordo que no futuro nos voltemos para novas fontesalimentos do mar. Sobretudo porque seus impactos ambientais são menores do que as formas convencionaispesca e piscicultura eoutras maneiras que conhecemos para produzir alimentos para bilhõespessoas", conclui.

- Texto originalmente publicado http://vesser.net/geral-63295626

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