Qual o riscoser atingido por lixo espacial que cai do céu:

Crédito, CFOTO/Future Publishing via Getty Images

A China já lançou três foguetes Longa Marcha 5B e todos eles foram deixados deliberadamenteórbita descontrolada. Isso significa que não havia formasaber onde eles atingiriam a Terra.

Quanto aos fragmentos encontrados nas Snowy Mountains, uma cordilheiraNova Gales do Sul, a SpaceX retiraórbita suas partesfoguetesforma controlada e projeta outros componentes para que queimem durante a reentrada na atmosfera terrestre. Mas os noticiários mostraram que nem sempre sai tudo conforme o planejado.

Então qual é o perigo real do lixo espacial? Bem, até onde sabemos, apenas uma pessoa já foi atingida por eles.

Lottie Williams, moradora da cidadeTulsa,Oklahoma (Estados Unidos), foi atingida por um pedaçolixo espacial1997. A peça tinha aproximadamente o tamanho da mão dela e acredita-se que tenha vindoum foguete americano Delta II. Ela guardou o fragmento e relatou às autoridades no dia seguinte.

Mas, com cada vez mais objetos sendo lançados ao espaço e retornando, a possibilidadealgo ou alguém ser atingido está aumentando, especialmente com relação a grandes objetos descontrolados, como os foguetes Longa Marcha 5B.

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Legenda da foto, Em 2014, um grande fragmentolixo espacial aterrissou pertoSalinópolis, no Pará. O fragmento tem o logotipo da Agência Espacial Britânica euma companhia europeiasatélites

Nas três vezesque este modelofoguete foi lançado, o que aconteceu foi:

  • o primeiro reentrou na atmosfera11maio2020 e houve componentes que atingiram a Terrauma aldeia na Costa do Marfim;
  • o segundo reentrou9maio2021, perto das ilhas Maldivas; e
  • o terceiro reentrou30julho2022 sobre a Indonésia e a Malásia e fragmentos atingiram aquela região.

Devo ficar preocupado?

Existem muitas estimativas diferentes sobre as possibilidadesque fragmentoslixo espacial atinjam alguém, mas a maioria está na faixauma10 mil.

Esta é a chanceque alguma pessoa seja atingida,alguma parte do mundo. Mas a possibilidadeque uma pessoa específica seja atingida (como eu ou você) é da ordemumaum trilhão.

Existem diversos fatores por trás dessas estimativas, mas vamos nos concentrar por enquantoum fator fundamental.

Ao analisar o trajeto orbital do recente foguete Longa Marcha 5B-Y3 nas suas últimas 24 horas (lembrando que diferentes objetos têm trajetos orbitais diferentes), é possível notar que ele passa cerca20% do seu trajeto sobre terra firme (em vezoceanos). Uma vaga estimativa diz que existem 20%terras habitadas - logo, existe uma possibilidade4%que a reentrada do Longa Marcha 5B ocorra sobre uma região onde há moradores.

Pode parecer uma possibilidade bastante alta. Mas, considerando o quanto"terra habitada" realmente abriga muitas pessoas, a probabilidadedanos ou morte fica significativamente menor.

Já a chancedanos a propriedades é maior. Ela pode chegar a 1% para qualquer reentrada do Longa Marcha 5B na atmosfera.

Além disso, o risco geral representado pelo lixo espacial irá aumentar com o imenso númeroobjetos sendo lançados e reentrando na atmosfera. Os planos atuaisempresas eagências espaciaistodo o mundo envolvem muito mais lançamentos.

A Estação Espacial Chinesa Tiangong deve ficar pronta no final2022. E a Coreia do Sul tornou-se recentemente o sétimo país a lançar satélites com carga útilmaisuma tonelada - com planosexpandir seu setor espacial (alémJapão, Rússia, Índia e Emirados Árabes Unidos).

Com isso, é muito provável que a possibilidadesermos atingidos só aumente (ainda que se espere que permaneça sendo muito pequena).

Como podemos nos preparar?

Duas perguntas vêm à mente:

1. Podemos prever a reentradalixo espacial?

2. O que podemos fazer para reduzir o risco?

Vamos começar com as previsões. Pode ser um enorme desafio prever onde um objetoórbita descontrolada irá reentrar na atmosfera terrestre.

Crédito, The Conversation

Legenda da foto, Órbitas do estágio do foguete Long March 3B-Y3 nas suas últimas 24 horas. A estrela vermelha indica o local aproximado dareentrada

A regra geral afirma que a incerteza do tempo estimadoreentrada é10% a 20% do tempo orbital restante. Isso significa que um objeto com tempo estimadoreentradadez horas terá uma margemincertezacercauma hora. Ou seja, se um objeto estiver orbitando a Terra a cada 60-90 minutos, ele poderá entrar praticamentequalquer lugar.

Melhorar essa margemincerteza é um grande desafio que exigirá pesquisas significativas. E, mesmo assim, é improvável que possamos prever o localreentradaum objeto com margemerromenos1 mil quilômetrosdistância.

Formasreduzir os riscos

Reduzir os riscos é um desafio, mas existem duas opções.

Primeiro, todos os objetos lançadosórbita da Terra devem ter um planosaídaórbita segura para uma região desabitada. Normalmente, essa região é a Área Desabitada do Sul do Oceano Pacífico (SPOUA, na siglainglês), também conhecida como o "cemitério das espaçonaves".

E existe também a opçãoprojetar cuidadosamente os componentes para que eles se desintegrem completamente durante a reentrada. Se tudo queimar ao atingir a atmosfera superior, os riscos deixarãoser significativos.

Já existem orientações que exigem a minimização dos riscos do lixo espacial, como o protocolo das Nações Unidas para a Sustentabilidade das Atividades no Espaço Cósmico a Longo Prazo, mas seus mecanismos não foram especificados.

E como aplicar essas orientações internacionalmente? Quem pode fiscalizarexecução? São questões que permanecem sem resposta.

Em resumo, você deve se preocuparser atingido pelo lixo espacial? Por enquanto, não.

É importante ter mais pesquisas sobre o lixo espacial para o futuro? Com certeza, sim.

* Fabian Zander é pesquisadorengenharia aeroespacial da Universidade do SulQueensland, na Austrália.

Este artigo foi publicado originalmente no sitenotícias acadêmicas The Conversation e republicado pelo site BBC Future sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão originalinglês.