Adoção irregular parece atodouble blaze appamor, mas não é boa para ninguém, diz especialista:double blaze app

Mãosdouble blaze appadultos e crianças unidas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Em 2021, houve recordedouble blaze appadoções e reintegraçõesdouble blaze appcrianças no Brasil; ao mesmo tempo, 8,7% das adoções iniciadas foram interrompidas por devoluçõesdouble blaze appcrianças a abrigos

Entretanto,double blaze appparalelo a esta sistematização recente, o Brasil lida com uma herançadouble blaze appdécadasdouble blaze appque adoções foram feitas à margem da lei, como a chamada "adoção direta",double blaze appque a família biológica entrega uma criança a pessoas conhecidas oudouble blaze appconfiança — uma prática vedada pela lei 12.010/09, com algumas exceções muito específicas (como o pedidodouble blaze appadoção unilateral, por uma madrasta ou padrasto por exemplo). Justamente por ser uma prática informal — e depois da instituiçãodouble blaze appalgumas leis, irregular —, é difícil quantificar a dimensão deste problema no país.

"A adoção é um atodouble blaze appamor sim; mas é um atodouble blaze appamor edouble blaze appmuita responsabilidade. É a vidadouble blaze appuma criança pela qual você vai ser responsável", afirma Mota, graduadadouble blaze appdireito e pós-graduadadouble blaze appdireito da criança, dos adolescentes e idosos.

Isabely Mota sentada diantedouble blaze appmesa com computador, olhando para frente,double blaze appevento

Crédito, Rômulo Serpa/Agência CNJ

Legenda da foto, 'Durante muitos anos, se viu a adoção como caridade. A adoção não é isso', diz Isabely Mota, pesquisadora do CNJ

"As adoções irregulares não fazem bem para ninguém. A mãe que faz a entrega (da criança) normalmente estádouble blaze appsituaçãodouble blaze appextrema vulnerabilidade social e vive um luto por perder o filho, mesmo que esta tenha sido uma decisão racional. Outra vítima é a criança, que muitas vezes tem negado seu direitodouble blaze appsaber dadouble blaze apporigem biológica. A terceira vítima é o próprio pretendente, porque essa pessoa está fazendo issodouble blaze appforma irregular. Ela sabe disso, e também não está amparada."

"Pode parecer um atodouble blaze appamor, mas todo mundo é vítima", diz Mota sobre as adoções irregulares.

Segundo a especialista, alguns desses casos acabam chegando tardiamente à Justiça — como quando uma nova família, que já está convivendo com a criança há anos, procura regularizar a adoção. Esses casos são uma pista para o quanto as adoções irregulares vêm ocorrendo.

"As adoções irregulares que passam pelo Judiciário para serem homologadas têm diminuído. Mas, principalmente no interior do Norte e do Nordeste, ainda tem esse tipodouble blaze appadoção acontecendo", explica a pesquisadora do CNJ.

Nesta semana, o tema da adoção apareceu no noticiário e nas redes sociais depois que a apresentadora Carol Nakamura anunciou,double blaze appsuas redes sociais, que uma criança que ela conheceu e chegou a morar emdouble blaze appcasa decidiu voltar a viver com a família biológica. No Instagram, a apresentadora afirmou que não tinha a guarda para finsdouble blaze appadoção do menino, e sim uma "autorização" dada pela mãe da criança — uma informalidade não prevista na lei.

"No início realmente não existia ideiadouble blaze appadoção, existia tentar ajudardouble blaze appalguma forma uma criança que nunca tinha ido à escola a ser alfabetizada", justificou Nakamura.

A BBC News Brasil tentou contato com a agência que representa a apresentadora por meiodouble blaze apptelefone e e-mail, mas não foi atendida.

'Mesmo com toda preparação, tem as devoluções'

A lei determina que toda pessoa ou família interessadadouble blaze appadotar deve procurar o sistema judiciário, por meio das Varasdouble blaze appInfância e Juventude e do pré-cadastro no SNA. No processo, ocorre a chamada habilitação para adoção, uma preparação com cursos e atendimento psicossocial para orientar as famílias pretendentes sobre eventuais dificuldades e ações que podem ajudar na educação da criança ou adolescente a ser adotado. É o "amparo" ao qual Isabely Mota estava se referindo, ao falar que as famílias que adotam irregularmente deixamdouble blaze appter.

"Durante muitos anos, se viu a adoção como caridade. A adoção não é isso. Esses cursos (preparatórios) são importantes para desconstruir esses mitos da adoção. Para desconstruir o mito do amor maternal inato; o mitodouble blaze appque só é possível construir vínculos na primeira infância; ou que a criação feita não pode ser desfeita", enumera a pesquisadora.

"As pessoas chegam com muitos preconceitos, então a gente precisa desse períododouble blaze apppreparação. Não é um tempo para deixar a pessoa esperando: é uma necessidade."

"E mesmo com toda essa preparação, a gente ainda tem as devoluções", lembra Mota, referindo-se a processosdouble blaze appadoção que foram iniciados e acabaram interrompidos, com a criança voltando para um abrigo.

Garoto segura desenhodouble blaze appcasa com família

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Dados preliminaresdouble blaze app2022 mostram que,double blaze app1.613 adoções iniciadas, 62 foram interrompidas por devoluções das crianças aos abrigos

Segundo dados inéditos passados por Mota à BBC News Brasil, com basedouble blaze appinformações do SNA,double blaze app2021, 8,7% dos processosdouble blaze appadoção iniciados — ou seja, a partir do momentodouble blaze appque a criança saiu do acolhimento para morar com a família adotiva,double blaze appestágiodouble blaze appconvivência — levaram à devolução do menordouble blaze appidade. No ano passado, isso ocorreudouble blaze app363 das 4.183 adoções iniciadas;double blaze app2020,double blaze app401 das 4.609 adoções iniciadas (também 8,7%).

"Muitos juízesdouble blaze appinfância ainda acham alto esse número. Porque você tem pessoas (pretendentes) que estão sendo treinadas, habilitadas. Mesmo preparando, tem esse número. Se a gente não fizesse toda essa preparação, seria muito pior. É o que acontecia no passado: tinha muito mais devoluções porque a preparação não era bem feita", explica a pesquisadora, que percorreu maisdouble blaze app20 Estados para ajudar na implementação do SNA.

"Não é culpabilizar o pretendente, mas a gente vê casos que realmente as pessoas não estão preparadas para assumir a maternidade e a paternidade. A gente vê devoluçãodouble blaze appbebês porque o bebê chora demais, porque ele não deixa dormir à noite", exemplifica.

"Para a criança (devolvida), é um novo abandono."

"É muito importante que a pessoa que vai adotar se informe, conheça outras pessoas que estejam passando ou já passaram pelo processo… Precisamosdouble blaze apppessoas responsáveis para fazer a adoção no Brasil."

Dados preliminaresdouble blaze app2022 mostram que, até agora, o percentualdouble blaze appdevoluções está mais baixo: 3,8%, ou 62 das 1.613 adoções iniciadas.

O ideal: a reintegração, também recordedouble blaze app2021

Outro recordedouble blaze app2021 foi odouble blaze appcrianças e adolescentes reintegrados aos seus pais biológicos — ou seja, aquelas que foram acolhidasdouble blaze appabrigos e, depoisdouble blaze appum trabalhodouble blaze appassistência social, voltaram a morar com seus pais. Foram 11.052 menoresdouble blaze appidade reintegrados no ano passado.

Esta é, na verdade, a prioridade das instituições e profissionais que trabalham com o SNA, segundo Isabely Mota — lembrando que a sigla do sistema inclui, além do Adouble blaze appadoção, o Adouble blaze app"acolhimento".

"No acolhimento, temos milharesdouble blaze appcrianças que nunca vão para a adoção. E não é porque elas estão esquecidas nas instituições, mas porque a gente está fazendo um trabalhodouble blaze appreintegração na família dela — com o fortalecimentodouble blaze appvínculos, auxílio no aluguel social para essa família, entre outros", explica Mota.

"É sempre o ideal que a criança volte para adouble blaze appfamília. O Estatuto da Criança e do Adolescente é claríssimo quanto a isso: a adoção é hipótese adicional, quando não foi possível o retorno da criança àdouble blaze appfamília biológica."

A especialista diz que, no Brasil, o acolhimento é sinônimodouble blaze apppobreza: a maioria dos menores acolhidos não chegam a essa situação por serem vítimasdouble blaze appcrimes como violência sexual, por exemplo, e sim pela faltadouble blaze appcondições financeiras da família.

"O acolhimento deve sempre ser a última medida protetiva a ser aplicada, mas muitas vezes acaba sendo a primeira porque a família não tem condiçõesdouble blaze appcriar aquela criança — o que mostra a faltadouble blaze apppolíticas públicas voltadas para essas famílias. A gente precisaria que essa família fosse estruturada, para a criança não precisar ser afastada porque a mãe tem que sair para trabalhar, ou não tem condiçõesdouble blaze appprover o mínimodouble blaze appsustento."

Mota destaca que a condição social não deve se sobrepor à importância dos vínculos familiares que ainda existem e podem ser reconstituídos.

"Aquela criança, principalmente os adolescentes (em acolhimento) que têm capacidadedouble blaze appconsentir, deixam claro que querem estar com a família (de origem). Que a condição social não é um impeditivo para que eles estejam ali. Se o governo auxilia aquela família a sair da situaçãodouble blaze appvulnerabilidade, a gente sabe que é melhor que eles estejam juntos."

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