Vacina contra covid para crianças: 6 fatos a favor:

garota toma vacina

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Agências reguladoras e especialistas apontam que benefícios da vacinação infantil contra covid superam eventuais riscos
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1. A vacina é eficaz e segura

A vacina é eficaz e segura para as crianças, segundo pesquisadores, agências reguladorasdiversos países (inclusive a Anvisa) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Estudo feito com crianças5 a 11 anos que receberam duas dosesvacina da Pfizer mostrou que elas tiveram uma respostaanticorpos neutralizantesconcentrações similares às observadasadolescentes e adultos16 a 25 anos.

E não foram observados eventos adversos graves associados à vacinação.

Esses dados são citadoscarta conjunta das sociedades brasileirasPediatria, Infectologia eImunizações, na qual os médicos dizem que apoiam a vacinação infantil, visto que os benefícios superam eventuais riscos.

Os médicos destacam ainda que, além dos resultados dos testes clínicos, já é possível observar o que acontece nos Estados Unidos eoutros países que vacinam amplamente suas crianças.

"Temos hoje maiscinco milhõesdoses aplicadas desta vacinacrianças5-11 anos nos Estados Unidos eoutros países, com dadosfarmacovigilância não revelando eventos adversospreocupação", destacam os pediatras e infectologistas.

Criança italiana sendo vacinada contra covid-19

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Vacina para público infantil tem dosagem e composição diferentes das do público mais velho

2. A vacina é específica para as crianças

Quando se fala da eficácia e segurança da vacina para crianças, é importante destacar que se trataum produto que é específico para este público.

A vacina da Pfizer aprovada no Brasil para crianças tem dosagem e composição diferentes daquela que já está sendo utilizada para os maiores12 anos.

O imunizante terá que ser aplicadoduas doses0,2 mL (equivalente a 10 microgramas, um terço da dos adultos), com pelo menos 21 diasintervalo entre as doses. A dose infantil terá, também, menor concentraçãomRNA (o componente da vacina que estimula a resposta do sistema imunológico).

Para facilitar a identificação pelos profissionaissaúde e pelos responsáveis e cuidadores das crianças, a tampa do frasco será diferente, com cor laranja.

3. Covid é risco para as crianças

Embora as crianças geralmente tenham riscos menores que os adultos mais velhos quando pegam covid, elas também podem ser vítimas da doença.

Ao justificar a necessidadevacinar as crianças, o CentroControleDoenças (CDC) dos Estados Unidos diz que elas podem desenvolver casos gravescovid-19 e que também podem ter complicaçõessaúdecurto e longo prazo desenvolvidas a partir da covid.

A carta dos pediatras no Brasil também lembra do risco: "A carga da doença na população brasileiracrianças é relevante, incluindo até o momento milhareshospitalizações e centenasmortes pela covid-19 no grupo etárioquestão, alémoutras já demonstradas consequências da infecçãocrianças, como a covid longa e a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), todas elaspotencial gravidade neste grupo etário".

Nos Estados Unidos, foram quase 2 milhõescasosCovid-19crianças5 a 11 anos - e as autoridadessaúde apontam que, "em algumas situações, as complicações da infecção podem levar à morte".

A vacinação, segundo os especialistas, ajuda a evitar que as crianças adoeçam gravemente, mesmo que contraiam a doença.

A infectologista Raquel Stucchi diz,entrevista à BBC News Brasil, que o principal argumento favorável à vacinação infantil é "impedir que a covid seja a doença que mais mata as crianças no nosso país".

O Conselho NacionalSecretáriosSaúde (Conass) divulgou nota na qual diz que nenhuma outra doença imunoprevenível matou tantas crianças e adolescentes2021 quanto a covid.

"É importante destacar o alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta que o público entre 5 e 14 anos é o mais afetado pela nova ondaCovid-19 na Europa e, apesar do menor riscorelação a outras faixas etárias, nenhuma outra doença imunoprevenível causou tantos óbitoscrianças e adolescentes no Brasil2021 como a covid-19", diz o comunicado.

Campanhavacinação infantil contra covid-19Roma

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Cartazcampanhavacinação infantil contra covid-19Roma

4. Efeito positivo para a educação

A imunização das crianças tem efeitos positivos não só para a saúde delas, mas também na educação, aponta o CDC.

"Vacinar crianças com 5 anos ou mais pode ajudar a mantê-las na escola e a participar com segurançaesportes, jogos e outras atividadesgrupo", diz o órgão.

No Brasil, crianças6 a 10 anos são as mais afetadas pela exclusão escolar na pandemia, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). De 5,1 milhõesmeninas e meninos sem acesso à educaçãonovembro2020, 41% tinham6 a 10 anosidade; 27,8% tinham11 a 14 anos; e 31,2% tinham15 a 17 anos.

A OMS - apesardefender que não é urgente a vacinaçãocrianças e adolescentes (entenda abaixo) - destacou que esse grupo tem sido "afetadoforma desproporcional" na pandemia, com o fechamentoescolas.

"Alémter a rotina afetada, os menoresidade acabam perdendo nestas situações acesso a serviços fornecidos pelas escolas, como refeições, apoio presencial no aprendizado, terapias da fala e medidassaneamento e higiene", aponta a ONU.

5. Proteção coletiva

Além da imunização das crianças, a vacinação infantil é importante para ajudar a proteger quem estávolta delas - inclusive outras crianças que ainda não atingiram idade elegível, por exemplo.

"Vacinar crianças pode ajudar a proteger os membros da família, incluindo irmãos que não são elegíveis para a vacinação e membros da família que podem estarmaior riscoficarem muito doentes se forem infectados", diz o CDC.

A epidemiologista Ethel Maciel aponta que vacinar as crianças também faz parte da estratégia coletivatentar reduzir a circulação do vírus e controlar a pandemia.

"Quanto mais pessoas vacinadas eu tenho - ou seja, quanto maior a cobertura vacinal -, mais consigo fazer o bloqueio da circulação desse vírus na população. Para conseguirmos altas coberturas vacinais no Brasil, precisamosvacinar as crianças - elas também fazem parte dessa da conta", disse à BBC News Brasil.

garota toma vacina

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Especialistas apontam que vacinas contra covid são eficazes e seguras para crianças

6. Ômicron acelera novos casoscovid no mundo

Se a pandemia parecia ter começado a ficar sob controle diante do avanço da vacinação, a variante ômicron veio reforçar a importância da imunização e o reforçomedidas preventivas - e levou alguns países a acelerarem a aplicaçãodosesreforço, por exemplo.

Ela também impacta na questão da vacinação infantil, segundo Maciel. A epidemiologista diz que a ômicron - que está se alastrando rapidamentemuitos países - "faz com que a vacinação desse grupo seja mais importante".

"Quanto maior a transmissibilidade - a capacidade daquela variante do vírusse transmitir para o maior númeropessoas -, mais a gente tem que aumentar a cobertura da vacinação na população", explica.

"Incluir crianças tem essa importância principalmente diantevariantes mais transmissíveis."

OMS: Vacinar as crianças 'não é urgente'

A OMS afirmou,novembro, que as vacinas contra a covid-19 que receberam autorizaçãoentidades regulatórias para serem aplicadascrianças e adolescentes são seguras e eficazes para reduzir os impactos da doença nesses grupos.

A entidade, no entanto, defendeu que "não é urgente" vacinar esse grupo, ao afirmar que "crianças e adolescentes geralmente têm sintomas menos severos da covid-19 na comparação com os adultos".

A OMS vem defendendo a equidade global no acesso às vacinas e pediu aos países que já atingiram uma alta cobertura vacinal para priorizarem a partilhadoses por meio do mecanismo Covax, antescomeçarem a criar campanhasimunizaçãocrianças com baixos riscosdoenças severas.

Para Maciel, o posicionamento da OMS reflete a necessidade do organismo multilateralpensarforma global.

"A OMS cumpre o seu papel e está cumprindo muito bem", diz.

"Pensando globalmente, precisamos não só ampliar cobertura no nosso país como nós precisamos que a cobertura esteja ampliadatodos os países - então nós precisamos sempre vacinar os mais vulneráveis primeiro."

Stucchi diz que "a vacinação das crianças é importante porque elas também morrem - mas nos países onde a vacinação não se iniciou ou está se iniciando, temos que priorizar grupos que proporcionalmente morrem mais da doença - idosos e pessoas com comorbidades".

Marcelo Queiroga no Senado

Crédito, Ag Senado

Legenda da foto, Anvisa já deu aval para vacinas das crianças, mas Queiroga disse que decisão ficará para 2022

Por que o Brasil não começou a vacinar crianças5 a 11 anos?

O sinal verde foi dado pela Anvisa16dezembro, mas o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que a decisão ficará para 5janeiro. Ele afirmou que a decisão da Anvisa "não é suficiente".

"Sou a principal autoridade sanitária do Brasil e não abro mãoexercer as minhas prerrogativas", disse o ministro.

Assim, embora a Anvisa tenha apontado evidências científicas para aprovar a vacinação infantil, o governo federal decidiu que vai aguardar consulta pública e audiência pública para tomardecisão.

Nesta semana, Queiroga disse que "a pressa é inimiga da perfeição", ao comentar a vacinaçãocrianças. "Os pais terão a resposta no momento certo, sem açodamento."

Para a infectologista Raquel Stucchi, "não ter pressa neste momento é colocar nossas crianças sob risco, é deixar que elas vivamum ambiente inseguro".

"Nós já temos milhõescrianças vacinadas no mundo, estudos científicos, estudosvida real mostrando a segurança e eficácia das vacinas nessa faixa etária. Então a pressa existe para poder implementar a vacinação para nossas crianças e proteger as crianças, que no começo do ano a gente espera que possam estar com rotina normalizada, frequentando as escolas", justifica.

A epidemiologista Ethel Maciel aponta que a Anvisa já tomou a decisão levandoconta parâmetros técnicos e científicos e diz que é o órgão que tem as condiçõesfazer esse tipoavaliação.

Ela considera a decisão do ministro "equivocada" e diz que essa postura "colocaxeque o nosso próprio programa nacionalimunização, construído a duras penas".

Stucchi diz que colocar a decisão da Anvisaconsulta pública é "uma aberração".

"Nunca colocamos a decisãointroduzir vacinas no nosso calendárioconsulta pública. Temos comitêsespecialistas que assessoram o programaimunizações para decidir pela inclusão ou nãonova vacina - seja para crianças, adultos, idosos ou gestantes. Esta decisão espelha a vontade explícita deste governobloquear, dificultar a vacinação das crianças contra covid no Brasil", diz a infectologista.

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