'Pareitomar banho e minha vida continuou': o professorYale que questiona o quanto nos limpamos:
"Passamos dois anos inteirosnossas vidas tomando banho. Quanto desse tempo (e dinheiro e água) é desperdício?", diz o artigo publicado2016.
Este ano, Hamblin publicou outro que intitulou You're Showering Too Much ("Você está tomando banho demais").
E embora insista para que nunca paremoslavar as mãos com sabão, ele diz acreditar que não devemos fazer o mesmo com outras partes do corpo.
Em entrevista à BBC News Mundo, o serviçoespanhol da BBC, Hamblin não só falou sobredecisão, mas sobre os cinco anospesquisas que resultaram no livro Clean: The New Science of Skin and the Beauty of Doing Less (Limpo: a nova ciência da pele e a belezafazer menos), que ele publicou este ano.
Porque,fato, as duas coisas estão interligadas.
Experimento
Quando questionado sobre por que paroutomar banho, Hamblin faz uma pausa e responde: "Bem, essa é uma história longa e realmente requer um livro para explicá-la. Mas eu queria entender o que está acontecendo."
"Conheço muitas pessoas que tomam banho muito pouco. Sabia que era possível, mas queria ter uma experiência pessoal para ver qual seria o efeito."
Em 2015, Hamblin decidiu finalmente embarcar nessa jornada.
E o que ele notou? Qual foi o efeitoparartomar banho?
"Mais uma vez é uma resposta longa", responde. "Com o tempo, seu corpo fica mais e mais acostumado a isso, então você não cheira tão mal se não usar desodorante e sabão."
"Epele não fica tão oleosa quando você parausar sabonetes fortes."
"Muitas pessoas usam xampu para remover a oleosidade do cabelo e,seguida, aplicam um condicionador para adicionar óleos sintéticos. Se você puder quebrar esse ciclo, seu cabelo vai ficar com a aparênciaquando você começou a usar esses produtos."
"Mas o principal é entender que leva tempo (para ver o efeito), não acontece da noite para o dia, não é imediato", ressalva.
Hamblin ressalta que, no seu caso, foi um processo gradativo: passou a usar menos sabonete, xampu e desodorante e tomou banho com menos frequência, o que fazia quase todos os dias.
"Houve momentosque queria tomar banho porque sentia falta, cheirava mal e parecia que minha pele estava muito oleosa. Mas isso começou a acontecer cada vez menos."
E a razão para isso é que, à medida que usava "cada vez menos produtos", passou a precisar"cada vez menos banhos", explica o médico.
Bactérias
Em seu artigo2016, Hamblin escreveu que "o odor corporal é o produtobactérias que vivemnossa pele e se alimentam das secreções oleosas do suor e das glândulas sebáceas na basenossos folículos capilares".
Ao aplicar produtos na pele e no cabelo todos os dias, "uma espécieequilíbrio entre os óleos da pele e as bactérias que vivem" é perturbado.
"Quando você toma banhoforma agressiva, você destrói esses ecossistemas. Eles se repovoam rapidamente, mas as espécies se desequilibram e tendem a favorecer os tiposmicróbios que produzem odor", explica ele no artigo.
Mas, depoisum tempo, ocorre um processoregulação: "Seu ecossistema chega a um estado estável e você paracheirar mal (...) Você não cheira a águarosas (...) Você tem um cheiro neutro".
Na verdade,uma entrevista publicada este ano no site da UniversidadeYale, Hamblin esclareceu que continuava tendo odor corporal, mas que "as populaçõesmicróbiosmeu corpo não produzem o fedor clássicosempre".
Cheirando mal?
Em agosto deste ano, Amy Barrett, jornalista da BBC, perguntou a Hamblin se ficava preocupado que pudesse "estar cheirando mal" e que as pessoas fossem "educadas demais" para lhe dizer isso.
Ao que ele respondeu que durante muito tempo tevepedir a "colegas, amigos e pessoas que conhecia que fossem honestos" para se certificarque não era o único a não sentir um cheiro desagradável.
Foi assim que chegou a um pontoque não mais produz aquele cheiro ruim com o qual estamos tão familiarizados.
Em vez disso, Hamblin tem um cheiro "próprio",quemulher gosta e que para outras pessoas "não é ruim", diz ele.
"Na maior partenossa história, tínhamos cheiros que faziam partecomo nos comunicamos com outras pessoas", explica.
E, no último século, isso foi amplamente eliminadonossa biologia social, diz ele.
"Portanto, esperamos que as pessoas não tenham cheiro ou que cheirem a perfume, colônia, sabonete líquido. Caso contrário, elas cheiram mal. Se houver algum odor humano detectável, ele é sempre negativo."
Barrett também lhe perguntou o que exatamente significa quando disse que paroutomar banho há cinco anos.
"No livro eu falo no sentido tradicional. Eu tomo banho quando preciso ou quando quero, apenas com água, rapidamente, sobretudo quando meu cabelo dá a impressãoque acabeiacordar ou se eu estiver visivelmente sujo. Mas você pode fazer esfoliação corporal, você pode remover a oleosidade apenas esfregando com as mãos e penteando o cabelo ocasionalmente. É isso."
Lavar as mãos com sabão e escovar os dentes ainda são essenciaisseu regimelimpeza.
Pesquisa
Tomar banho cada vez menos para ver a reaçãoseu corpo fez parte do processopesquisa para seu livro.
Ele também conversou com diversas pessoas, incluindo especialistasdiversas áreas, como dermatologistas, imunologistas, alergistas e até teólogos.
Hamblin estevefábricassabão e laboratóriosmicrobiologia e mergulhou na teoria e na história, séculos atrás, para entender o que é hoje a próspera indústriacuidados com a pele.
Tomar banho quase todos os dias com produtos, sabonetes, géis, cremes diferentes é um conceito moderno?
"Sim, porque não tínhamos água corrente. A maioria das pessoas não tinha acesso a água corrente até os últimos 100 anos."
"Era algo que talvez a realeza pudesse fazer, reis e rainhas, mas que as pessoas normais só podiam fazer ocasionalmente. Talvez eles entrassemum rio ou lago, mas não era algo que precisávamos fazer todos os dias."
"Além disso, não tínhamos capacidade para produzirmassa. Então, muitas pessoas usavam sabonetes caseiros e não os usavam todos os dias porque eram muito agressivos para a pele. É tudo muito moderno."
Mas por que Hamblin questiona como tomamos banho e quantas vezes o fazemos? Ecrítica não se volta apenas aos produtos que usamos, mas também a frequência com que tomamos banho.
"É um acontecimento muito novo na história da humanidade: temos que gastar tanto tempo, dinheiro e recursos no banho e se isso se aliar ao conhecimento que temos sobre o microbioma da pele. Tenho curiosidadepensar que talvez estejamos fazendo isso demais e pode ser benéfico reduzir", diz.
Entre bilhões
De acordo com Hamblin, "o tempo todo, temos bilhõesmicróbios vivendonós que não estão nos causando nenhuma doença".
"E quando lavamos nossa pele, mudamos essas populações microbianas e ainda não entendemos totalmente se isso é bom ou ruim."
E insisteque as mãos são uma exceção, pois isso é extremamente importante para evitar contrair infecções e espalhá-las, como a covid-19.
"Os micróbiosnossa pele são tão importantes paraaparência e saúde quanto a microbiota intestinal é para o sistema digestivo."
No entanto, historicamente associamos micróbios a algo negativo "porque só os encontramos" quando buscávamos as causas das doenças.
"Mas agora, na última década, uma vez que temos a tecnologiasequenciamentoDNA, sabemos que os micróbios estão por toda parte e geralmente não causam doenças. Só uma minoria muito pequena", explica.
"Por isso, as pessoas devem repensar o que estão tentando fazer ao tomarem banho porque, claro, queremos nos livrar da doença causada pelos micróbios, mas não queremos nos livrartodos eles."
Interface
E, como Hamblin explica, a pele é um órgão fundamental para nosso sistema imunológico.
"Esses micróbiosnossa pele são a interface entre o mundo natural e nós", diz ele.
"As células imunológicas do sangue são filtradas pela pele e estãocontato com os sinais que recebemos do meio ambiente" e, com isso, nos ajudam a percebê-los e entendê-los.
E isso é fundamental para que o sistema imunológico "não reaja exageradamente às coisas que são inofensivas eforma muito eficiente às que são".
"Não acho que todos tenham a mesma ideia do que é estar limpo", acrescenta Hamblin.
Algumas pessoas associam isso com a eliminaçãogermes e micróbios, mas devemos lembrar que eles estão nos acompanhando permanentemente e nem todos são ruins.
"Talvez seja mais uma sensação. Na verdade, é muito difícildefinir."
Questionado se acha que o hábitotomar foi "superestimado", Hamblin diz que se tratar"uma preferência, mas não uma necessidade médica."
Enquanto muitas pessoas gostamtomar banho, outras não tomam banho e se sentem bem também, acrescenta.
Sua abordagem minimalista não significa apenas menos tempo no chuveiro, mas menos embalagens e recipientes e, claro, menos água.
"Não estou dizendo às pessoas que elas deveriam desistir (do banho)", diz.
Hamblin ressalva que não quer sugerir o que é certo e o que é errado, ou mesmo defender queabordagem é a melhor para todos, mas apenas que funcionou para ele.
"Mas para aquelas pessoas que tiveram problemaspele ou que apenas gostariamtentar, aconselharia a tomar menos banhos. Comece devagar e continue até onde se sentir bem."
Por exemplo, menos xampu tem sido o pontopartida para alguns, enquanto outros preferem começar com um desodorante mais suave.
"Você pode começar com banhos mais curtos, menos frequentes, mais frios, com menos sabão", diz ele.
"Não precisa ser nada dramático."
E há algo que Hamblin considera fundamental: a saúde da nossa pele é,grande parte, resultado do nosso estilovida, ou seja, como dormimos, o que comemos, nosso nívelestresse, nossa atividade física , que bebidas bebemos, entre outros fatores.
"A indústria que vende produtoshigiene pessoal e sabonetes está muito focada na vendasoluções tópicas (aplicação externa e local)."
Embora alguns possam ser úteis, diz ele, é importante pensaruma abordagem "de dentro para fora" para a saúde da pele.
Neste sentido, Hamblin acredita ser importante distinguir o que é ciência do que é marketing, porque às vezes usamos mais produtos do que realmente precisamos, por acreditar que isso nos torna mais saudáveis.
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