Como a heroína, a cocaína e outras drogas surgiram a partirbet zzzremédios convencionais:bet zzz
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a cannabis é hoje a droga mais consumida no mundo, com uma estimativabet zzz188 milhõesbet zzzpessoas que a usarambet zzz2017,bet zzzacordo com as estimativas mais recentes.
Também segundo a organização, no relatório World Drug Report 2019, 35 milhõesbet zzzpessoas sofrem atualmente no mundobet zzzdistúrbios provocados pelo usobet zzzdrogas e 585 mil pessoas morrerambet zzz2017 por causas relacionadas a seu consumo.
"A prevenção e o tratamento continuam aquémbet zzzmuitas partes do mundo, com apenas umabet zzzcada sete pessoas com transtornos relacionados ao usobet zzzdrogas recebendo tratamento a cada ano", diz a ONU.
Freud, a cocaína e a depressão
A cocaína, um alcaloide da plantabet zzzcoca (Erythroxylon coca), isoladabet zzz1859 pelo químico alemão Albert Niemann, foi comercializada como medicamento nos Estados Unidosbet zzz1882. A substância era usada, principalmente, para doresbet zzzdentesbet zzzcrianças e para o tratamento da gota — doença que causa fortes dores nas articulações e pode causar artrite aguda.
Mas o verdadeiro responsável por descobrir as propriedades farmacológicas da coca foi o pai da psicanálise, Sigmund Freud. Embet zzzjuventude, ele estava mais inclinado à pesquisa do que à prática da medicina, pela qual parecia sentir verdadeira aversão. Em 1884, um artigobet zzzum médico militar com o título A importância e os efeitos psicológicos da cocaína chegou às mãosbet zzzFreud. E embora ele nunca tivesse ouvido falar da substância, acreditou que ela poderia ser usada para tratar algumas doenças mentais.
A partir desse momento, Freud iniciou seus estudos sobre a cocaína. A princípio, ele mesmo provou a substância e comprovou uma melhorabet zzzseu estado depressivo. Ele atestou que sentiu uma maior segurança e conseguiu trabalhar mais. No percurso do estudo, comprovou quebet zzzlíngua e seus lábios ficavam dessensibilizados após o uso da cocaína e as suas dores na mucosa bucal e na gengiva diminuíam.
Em 1884, ele escreveu seu famoso trabalho "Sobre a Coca" (Über coca,bet zzzalemão), no qual afirma que essa substância era um remédio muito eficaz para combater a depressão, eliminar o desconforto gástrico nervoso e aumentar a capacidadebet zzzrendimento físico e intelectual. Ele afirmava também que a substância não produzia vício, nem efeitos colaterais.
Depoisbet zzzcinco artigos altamente proselitistas sobre a cocaína, Freud abandonou a defesa da substância e recusou que aquilo que havia escrito sobre o tema fosse incluídobet zzzsuas obras completas. Isso porque ele verificou os efeitos indesejáveis da cocaína, principalmente após a mortebet zzzseu amigo Ernst Fleischl.
Apesar disso, ele recomendou a cocaína ao oftalmologista Karl Köller, que confirmou a grande eficácia da substância ao diluí-labet zzzformabet zzzcolírio, como anestésicobet zzzcirurgia ocular, para intervenções como asbet zzzcataratas. Com essa descoberta, a medicina deu um passo importante, e nasceu a anestesia local.
O maior sucesso "terapêutico" da cocaína surgiu com uma inclusãobet zzzuma infinidadebet zzz"elixires milagrosos" que eram vendidos, na virada do século, por suas propriedades energizantes e revigorantes. O mais famosobet zzztodos foi desenvolvido pelo químico e farmacêutico Angelo Mariani, que elaborou um vinho com extratosbet zzzfolhasbet zzzcoca, chamadobet zzz"Vin Mariani".
Mariani fundou,bet zzz1863, a primeira grande indústriabet zzzcoca. Ele até recebeu uma condecoração do Papa Leão 13 por seus méritosbet zzzprol da humanidade.
Nos Estados Unidos, John Styth Pemberton formuloubet zzz1885 um substituto sem álcool para esse vinho, que chamoubet zzz"French Wine Coca". Esse tônico estimulante foi reformulado no ano seguinte e recebeu o nomebet zzzCoca-Cola.
A empresa Coca-Cola foi fundadabet zzz1886 e, inicialmente, divulgou seu principal produto como um remédio para dorbet zzzcabeça e estimulante, alémbet zzzter um sabor agradável. Ela era divulgada como uma "bebida medicinal e intelectual".
Embora a empresa Coca-Cola tenha eliminado a cocaínabet zzzsua bebidabet zzz1903, substituindo-a por cafeína e folhasbet zzzcoca somente como aromatizantes,bet zzz1909 havia cercabet zzz69 bebidas nos Estados Unidos que continham a cocaína como ingrediente.
Heroína contra dor e tosse
A heroína nasceu na tentativabet zzzmelhorar o perfilbet zzzsegurança da morfina, um alcaloide do ópio, embora inicialmente não tenha sido desenvolvida como um analgésico.
A diacetilmorfina, nome técnico da heroína, foi sintetizadabet zzz1874 pelo químico Alder Wright, no hospital universitário St. Mary's,bet zzzLondres.
Para dar origem à heroína, o estudioso tratou a morfina com ácidos orgânicos. Apesarbet zzzprovar a capacidadebet zzzdiminuir a pressão arterial e respiratória, esse agente não despertou interesse clínico suficiente, nem nos anos seguintes, quando foi demonstrado que acalmava a tosse e facilitava o sonobet zzzpacientes com tuberculose.
Mas Heinrich Dreser, pesquisador da empresa farmacêutica Friedrich Bayer & Co., se interessou pela diacetilmorfina, que ele considerou mais potente no alívio da dor e com um perfilbet zzzsegurança mais aceitável que a morfina.
Em 1895, a droga alcançoubet zzzprodução industrial, sendo comercializadabet zzz1898 apenas para acalmar a tosse.
Dreser descreveu o medicamento como uma "droga heroica", então o nome comercial adotado pela Bayer era "Heroína". O remédio obteve rápido sucesso comercial, sendo amplamente utilizadobet zzztodo o mundo, principalmente como antitussígeno — os medicamentos que ajudam a aliviar a tosse.
Anfetaminas para congestão nasal
No fim da décadabet zzz1920, a monopolização do comérciobet zzzEphedra vulgaris, planta da qual surgiu a efedrina, determinou que esse ingrediente ativo era escasso e por isso o preço deveria aumentar. Isso motivou o desenvolvimentobet zzznovas alternativas terapêuticas para o tratamentobet zzzasma e congestõesbet zzzvias respiratórias.
Assim, a anfetamina, substância sintetizadabet zzz1887 pelo químico japonês Nagayoshi Nagai, foi estudada. Os laboratórios Smith Kline e French a comercializaram para uso por inalação como descongestionante nasal.
Durante a décadabet zzz1960, ela foi muito utilizadabet zzzpacientes com problemasbet zzzcongestão nasal. Na Grã-Bretanha, por exemplo, 2,5%bet zzztodas as prescrições oficial do anobet zzz1959 eram preparações contendo anfetaminas. Elas também eram recomendadas para emagrecimento e para tratamentobet zzzmazelas como a epilepsia, esquizofrenia, depressão, esclerose múltipla, lesões cerebrais e disfunção sexual.
O Ecstasy e a Marinha dos Estados Unidos
O metilenodioximetanfetamina, conhecido popularmente como "ecstasy", foi sintetizadobet zzz1914 nos laboratórios alemães da Merck. Ele também tinha a funçãobet zzzmoderadorbet zzzapetite, embora nunca tenha sido comercializado.
Ele foi usado para finsbet zzzpesquisa da Marinha Americana, nas décadasbet zzz1950 e 1960, e como agente facilitador da comunicação entre psicoterapeutas e pacientes durante a décadabet zzz70, por meiobet zzzseu efeito entactógeno — usado na época para permitir que o paciente entrassebet zzzcontato "consigo mesmo".
Outras drogas introduzidas mais recentemente no arsenal recreativo vêm do mundo dos anestésicos, como a fenciclidina, chamada ilegalmentebet zzz"póbet zzzanjo". Outro exemplo é a cetamina, outro anestésico geral dissociativo que era usado especialmentebet zzzcrianças e idosos, além da cirurgia veterinária, que passou a ser usada para fins recreativos quando seus efeitos psicodélicos foram descobertos por acaso na décadabet zzz1990, após notarem os efeitos no períodobet zzzanestesia.
Mais um exemplo é o gama-hidroxibutirato (GHB), comumente conhecido como "ecstasy líquido", outro anestésico também usado no tratamentobet zzzedema cerebral, no alcoolismo e como ingredientebet zzzsuplementos alimentaresbet zzzacademias.
Os fenômenos viciantes, associados ao uso da heroína e cocaína, já eram conhecidos nas primeiras décadas do século 20. A Leibet zzzAlimentos e Medicamentos Purosbet zzz1906 impôs as primeiras restrições à fabricaçãobet zzzambas as substâncias. A cocaína foi proibida nos Estados unidosbet zzz1914, sob a Lei Harrisonbet zzzControlebet zzzNarcóticos. Uma década depois,bet zzz1924, a heroína foi proibida.
Em 1937, uma lei proibiu o consumo da cannabis nos Estados Unidos. Em 1961, a maconha foi incluída na listabet zzzsubstâncias proibidas, após a Convenção sobre Narcóticos.
Todos eles são exemplos claros, na metáfora farmacêutica, da transiçãobet zzzheróis para vilões.
*Francisco López-Muñoz é professor titularbet zzzfarmacologia e vice-reitorbet zzzpesquisa e ciência da Universidade Camilo José Cela. Cecilio Álamo González é professor universitáriobet zzzFarmacologia na Universidadebet zzzAlcalá (Espanha).
Este artigo foi publicado originalmente na The Conversation e é reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler o artigo embet zzzversão original aqui.
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