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O que era a pílula número 9, comprimido 'cura tudo' dado a soldados da 1ª Guerra Mundial:ceara x sport
Como "uma panaceia para todas as doenças", o soldado canadense George Bell também descreveuceara x sporttom irônicoceara x sportsuas memórias, conforme registrado no livro Glimpsing Modernity: Military Medicine in World War I (Vislumbrando a modernidade: medicina militar na 1ª Guerra Mundial,ceara x sporttradução livre).
E, apesarceara x sportsua onipresença, a eficácia real da pílula número 9 para tratar muitas das doenças era, no mínimo, duvidosa.
13 comprimidos
A 1ª Guerra Mundial trouxe consigo a aplicação massivaceara x sportgrandes avanços no campo da medicina. Os hospitaisceara x sportcampo foram dotadosceara x sportimportantes inovações que permitiram diagnosticar e tratar melhor os doentes e feridos. Esses novos recursos incluíam, por exemplo, o usoceara x sportraios X, desenvolvidos no final do século 19, mas cuja utilização na 1ª Guerra Mundial os tornou uma ferramenta comum.
Por iniciativa da física polonesa Marie Curie (1867-1934), o Exército francês conseguiu ter cercaceara x sport20 veículos que serviam como unidades equipadas com aparelhosceara x sportraios X e um quarto escuro para revelar as imagens.
Outro avanço importante foi a realizaçãoceara x sporttransfusõesceara x sportsangue, cujo uso se generalizou e permitiu salvar muitas vidas entre as tropas aliadas durante o último estágio do conflito, depois que os Estados Unidos entraramceara x sportcombate.
Havia também uma variedadeceara x sportopções analgésicas. "Oficiais médicos receberam todos os tiposceara x sportanalgésicos. Eles tinham pílulasceara x sportmorfina. Eles tinham cocaína", diz Tim Cook, historiador do Museuceara x sportGuerra Canadense à BBC News Mundo.
"Umceara x sportmedicamentos mais importantes foi o rum, que eles também poderiam dar aos pacientes para se aquecerem. E tudo isso poderia ser combinado com o objetivoceara x sportatenuar a dor."
Os médicos que estavam diretamente no front, ao lado das unidadesceara x sportcombate, no entanto, tinham um número limitadoceara x sportrecursos. Levavam consigo uma caixaceara x sportlata preta na qual guardavam 13 tipos diferentesceara x sportpílulas disponíveis para tratar as doenças dos soldados.
Como é explicado na seçãoceara x sportserviços médicos do projetoceara x sportcomemoração da 1ª Guerra Mundial desenvolvido pela Universidadeceara x sportOxford, na Inglaterra, "cada medicamento era identificado pelas autoridades médicas com um número e mantidoceara x sportseu respectivo compartimento, e etiquetas descritivas foram evitadas para desencorajar o roubo e automedicação por parte das tropas".
Além das pílulas que tinham um efeito analgésico forte - como as que continham morfina e ópio -, havia outro com fenacetina (acetaminofeno), que servia para diminuir a febre e amenizar a dor. Existia também uma pílula com epinefrina (adrenalina), uma com quinina, outra que servia contra a tosse, uma para diarréia ou dorceara x sportestômago e outra com permanganatoceara x sportpotássio.
A número 9, entretanto, continha cloreto mercuroso, ruibarbo e Citrullus colocynthis. Isto é, nada mais era do que um poderoso laxante. Mas então, por que se prescrevia isso com tanta frequência?
Médicos e guardiões
Cook diz que, embora esses militares fossem médicos que se alistaram para cuidar dos soldados quando estavam doentes ou feridos, eles também tinham um papel adicional cuidar da disciplina da tropa.
"Havia soldados que estavam genuinamente doentes e outros que fingiam estar porque estavam fartos da guerra e queriam deixar o front. Então, cabia ao médico determinar quem estava dizendo a verdade", explica Cook.
Parte do problema era que, durante os mesesceara x sportinverno, todos estavam exaustos e doentes. "Os médicos tiveram um papel muito difícil e foram vistos como cruéis pelos soldados, que achavam que eles não estavam realmente interessados em cuidar daceara x sportsaúde. Mas o Exército esperava que os médicos mantivessem as tropas sob controle. E a pílula número 9 tornou-se um símbolo do que muitos soldados viam como um tratamento cruel com eles", acrescenta o historiador.
Em um artigo sobre medicina durante a 1ª Guerra Mundial, o historiador Leo Van Bergen aponta que essa "dupla lealdade" dos médicosceara x sportrelação aos pacientes e às necessidades do Exército resultouceara x sportuma forte desconfiança dos soldados, mesmo nos casosceara x sportque seu bem-estar era realmente a preocupação predominante.
Sendo a pílula 9 um poderoso laxante, o fatoceara x sportter sido usado como um remédio genérico para "tratar" todos os tiposceara x sportdoenças também teve um efeito parcialmente dissuasivo sobre os soldados que não estavam doentes ou ao menos não o suficiente para não poderem seguir no combate.
"O laxante número 9, quando combinado com a dieta do Exército, com seu excessoceara x sportcarne enlatada eceara x sportfaltaceara x sportfrutas e vegetais frescos, poderia ter um efeito explosivo no trato digestivo", escreveu Cook. Aqueles que o tomavam podiam acabar fazendo uma longa visita às latrinas.
De fato, para aqueles soldados nos quais uma doença não era muito evidente, muitas vezes a receita recebida eraceara x sport"remédio e serviço", o que significava que eles recebiam o laxante e eram enviados para cumprir suas funções.
Este papel disciplinar da pílula foi evidenciado durante um debate no Parlamento britânicoceara x sport1959, quando Charles Simmons questionou o então Secretárioceara x sportEstado da Guerra, Christopher Soames. Simmons elogiou o uso da prescriçãoceara x sport"remédio e serviço", bem como a pílula número 9.
"Se esse tratamento ainda está disponível, por que não se aplica aos preguiçosos e neuróticos que parecem ser dispensados do Exército sob qualquer pretexto?", perguntou o parlamentar. Mas, àquela altura, aquela pílula não tinha qualquer serventia no Exército.
Legado cultural
O uso extensivo feito pelas forças aliadas da pílula número 9 durante a 1ª Guerra Mundial permitiu que ela se tornasse parte da herança cultural deixada por esse conflito. Nos panfletos que os soldados faziam e imprimiam durante o conflito para seu divertimento nas trincheiras, havia muitos "poemas", piadas, bem como "anúncios" falsos e jocosos que se referiam a esse remédio.
Um desses anúncios dizia: "Para você. Você se sente cansado. As marchas deixam seus pés doloridos? Sua cargaceara x sporttrabalho pesada faz você tremer? Experimente a famoso pílula número 9. Isso irá surpreendê-lo. À vendaceara x sporttodos os postosceara x sportsaúde".
Os soldados também compartilharam com suas famílias algumas dessas piadas sobre o modo excessivo como a pílula número 9 foi prescrita.
Em uma carta paraceara x sportmãeceara x sportdezembroceara x sport1916 sobre as coisas divertidas que acontecim no Exército, o soldado canadense Gordon MacKay contou: "Um soldado vai ao médico, e o médico diz ao seu assistente para lhe dar o comprimido número 9 (um dos seus favoritos). O assistente diz-lhe que eles haviam acabado. 'Bem', diz ele, 'dê um 4 e um 5 que somam 9 '. Eles te dão a mesma pílula se tiver pés machucados, febre do sarampo ou qualquer outra coisa".
Cook, que publicou uma dezenaceara x sportlivros sobre a história militar do Canadá, ressalta que, embora não tenha sido muito útilceara x sporttermos médicos, a pílula número 9 teve valor como parte da cultura dos soldados. "O humor ajudou alguns a tolerar e a resistir. Embora eles zombassem disso, era um mecanismo para lidar com a situação", diz ele.
"E a pílula do número 9ceara x sportsi fazia parteceara x sportuma estrutura médica maior que tentava administrar essa guerra verdadeiramente sem precedentes, com milhõesceara x sportsoldados lutando, com terríveis perdas e a experiência nas trincheiras."
Assim, mesmo que não curasse a tosse ou diminuísse a febre ou aliviasse a dor, esta pílula quase esquecida pode ter cumprido um papel mais importante do que foi atribuído à ela.
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