O pássaro brasileiro que faz uma complexa dança coletiva para atrair a fêmea:

Um som agudo anuncia que um espetáculo está ocorrendomeio à Mata Atlântica: machos do pássaro tangará realizam uma complexa dança coletiva na tentativaconquistar uma única fêmea. Ela é exigente, então os movimentos precisam ser impecáveis.

No primeiro ato da dança, os machos ficam alinhadosfila ao lado da fêmea. A seguir, o primeiro deles faz um breve voo vertical, como um beija-flor, ficando frente a frente com ela. Depois, voamarcha ré, até chegar ao fim da fila, onde pousa.

O segundo macho, então, repete o mesmo movimento do primeiro. E assim sucessivamente,um carrossel, que vai ficando cada vez mais rápido. É um dos rituaisreproduçãoaves mais complexos do mundo.

O númerodançarinos variadois a oito. E o tempo da dança pode chegar a até sete minutos. A apresentação é encerrada por um movimento rápido, acompanhadoum grito estridente, realizados pelo macho alfa. Então, todos os machos ficam aguardando a reação da fêmea.

Se ela aprovar a apresentação, pode consentir que o macho alfa copule com ela. Antes, porém, o macho ainda realiza uma dança solo.

Já os demais machos dançarinos estão ali apenas para ajudar na performance. Não é algo comum na natureza, já que, geralmente, o cortejo é feito por apenas um macho,interesse próprio.

Uma das regiões onde a dança pode ser observada é a Reserva Natural Salto Morato,Guaraqueçaba, Paraná, localizada dentro do maior remanescente contínuoMata Atlântica no Brasil. O local, mantido pela Fundação Grupo BoticárioProteção à Natureza, é aberto à visitação.

A maior parte das danças visíveis, porém, é realizada apenas entre machos. Os cientistas acreditam que pode ser um ensaio, para polir a coreografia antesapresenta-la para uma fêmea.

Nesse caso, um macho mais jovem desempenha o papel da fêmea – ele fica parado no galho, apenas observando os demais dançarem.

De certa forma, o tangará jovem se parece com uma fêmea, já que seu corpo também é verde - a plumagem só fica azulada na vida adulta. O principal sinalque se trataum macho é a coroa alaranjada, já presente.

"É difícil explicarpalavras, porque é um comportamento muito diferente do que a gente já viu. A gente fica torcendo para os machos, torcendo para a fêmea gostar da apresentação. E fica com dó quando eles não conseguem", diz a bacharelBiologia Laura Schaedler, que fez mestrado na Universidade Federal do Paraná sobre os tangarás.

Imagens: LaboratórioEcologia Comportamental e Ornitologia (Leco), Universidade Federal do Paraná