Linguista afirma ter encontrado 14 formasamor ao redor do mundo:
O interesse do autor agora é catalogar a maneira como o amor é descrito nessas línguas. Até o momento, Lomas encontrou mais600 palavrasinúmeros idiomas que se referem ao atoamar e que não têm tradução para o inglês - a língua mais falada do nosso tempo.
Mas, afinal, o que é o amor?
"Sem dúvida, não existe nenhuma palavra que dê conta da ampla gamasentimentos e experiências que envolve o amor", se esquiva Lomas da resposta.
Ou seja, a pesquisaLomas conclui que o vocabuláriocada povo pode expressar uma maneira específicaamar e se falaramor naquela cultura.
No português, por exemplo, sentimos "saudade" quando não estamos perto da pessoa amada, do nosso "xodó". Também pedimos "cafuné" e dizemos que nos "apaixonamos" antesdizer que, enfim, amamos alguém. Esse é o jeitinho único do brasileirofalar e descrever o amor, já que "saudade", "xodó", "cafuné" e "apaixonar" nem sempre têm uma única palavra equivalente ou tradução para outras línguas.
Como explicar para seu amigo alemão porquemãe te chamaxodó e que paixão, para nós, é um verbo, apaixonar?
Os sabores do amor
Durante toda a entrevista, o pesquisador - simpático e hábil no uso das palavras - enfatizou que são "pelo menos" 14 tiposamor, pois que não se trataum esquema fechado e definitivo. Segundo Lomas, o amor é a emoção mais apreciada, falada e procurada ao redor do mundo, fazendo com que seja tarefa quase que impossível identificar todas as formas possíveisamar.
Aliás, o linguista não usa a palavra "forma" ou "tipo" empesquisa, publicada recentemente no Journal for the Theory of Social Analysis, mas sim "flavours", ou sabores. O pesquisador explica que prefere usar a metáfora"sabores" do amor para demonstrar que cada situação pode envolver uma ou mais formasamor.
"Um dado relacionamento não é exclusivamente só um 'tipo'amor. Por exemplo, um relacionamento romântico pode entrever vários desses tipos. A metáfora dos sabores nos permite apreciar que um relacionamento possa misturar vários sabores para criar um 'gosto' único", afirma Lomas.
O linguista também explica que, para compor a lista dos "sabores", nomeou cada forma com termos gregos intraduzíveis para outros idiomas.
"Essas palavras podem revelar fenômenos (relacionados ao amor) que foram negligenciados ou subestimadosuma cultura", explica.
Em outras palavras, o linguista defende que para percebermos que um sentimento existe e que ele é diferenteoutros que já conhecemos, é preciso que saibamos nomeá-lo. Por isso a especial atenção do pesquisadornomear cada formauma maneira específica.
Além do romântico
Para demonstrar a complexidadesentimentos, emoções e situações que envolve o amor, o linguista agrupou os 14 tiposquatro categorias diferentes:
A primeira categoria abarca as formas impessoaisamor, "sabores" do amor que não estão relacionadas a pessoas, mas aos sentimentospertencimento eidentificação que estabelecemos com lugares, objetos e atividades:
"Érōs" - o amor por objetos que apreciamos;
"Meraki" - amor por determinadas ações e atividades;
"Chōros" - o amor que sentimos por determinados lugares, especialmente pelos que chamamos"lar".
A segunda é a categoria do amor não romântico, que diz respeito aos saboresamor estabelecido entre pessoas e por nós mesmos:
"Storgē" - o amor que protege, educa e cuida da família;
"Philia" - o amor que forma os laços que estabelecemos com os amigos;
"Philautia" - o amor por nós mesmos, capazconstruir nossa autoestima e a noçãoautocuidado.
O amor romântico é a terceira categoria e abriga mais saboresamor, inclusive um sabor azedose amar: a "Mania", que representa o amor nos problemas gerados pela dependência e intimidade com o outro. Há mais quatro saboresamor romântico:
"Epithymía" - é a forma do amor nos desejos sexuais e nas paixões românticas;
"Paixnidi" - amor romântico por nossos afetos;
"Prâgma" - é o amor presente nos relacionamentos duradouros;
"Anánkē" - é a forma mais abstrata, pois se refere ao amor à primeira vista, um amor por alguém que acabamosconhecer e que não conseguimos evitar.
Por último, há as formas transcendentaisamor,que o atoamar é capazreduzir nossas próprias necessidades e preocupaçõesrazão do outro e do coletivo:
"Agápē" - o amor relacionado à caridade e à compaixão desinteressada;
"Koinōnía" - o amor que leva a autoabnegação temporária quando nos conectamos com um grupo, com o coletivo;
"Sébomai" - é o amor que se refere a um tipodevoção por uma divindade ou por creralgo.
A língua do amor
Há quem diga que a língua do amor é o inglês, por causaautores como William Shakespeare, Jane Austin, Lord Byron e mais uma lista extensapoetas e dramaturgos ingleses. Há quem defenda que a sonoridade do italiano, do francês e do espanhol fazem dessas as verdadeiras línguas do amor. Mas para Lomas, o idioma do amor é o grego.
"Em algumas línguas, há uma grande granularidade para se referir ao amor, permitindo uma diferenciação mais específica entre os diferentes tipos", afirma o pesquisador.
Ao falar"granularidade"uma língua, o linguista se refere ao que a ciência chama"granularidade das emoções", que representa a capacidadeuma pessoausar várias palavras para descrever uma emoção com precisão. Segundo a Psicologia, pessoas que possuem um vasto vocabulário emocional, por exemplo, tendem a ter uma maior capacidadelidar com os sentimentos.
Nesse sentindo, a língua com uma maior granularidade referente ao amor é o grego, segundo Lomas. Daí ter recorrido ao complicado idioma para nomear as 14 formasamorsua pesquisa.
Quando questionado qual língua,contrapartida ao grego, fornece menos nuances para expressar o amor, Lomas rebate: "Essa é uma questão complicada". Ao insistir na pergunta, o linguista reflete sobre o vocabulário inglês.
"O fatoque o inglês tem uma única palavra para descrever inúmeras experiências faz com que seja fácil para seus falantes expressar o amor, já que as pessoas podem usar apenas 'love' para se referir a múltiplos contextos, sem ter que pensartermos mais específicos para cada situação", explica o britânico.
"Por outro lado, a baixa granularidade do inglês também pode gerar maior dificuldadeseus falantesse fazerem entendidos, pois,várias situações, é preciso conseguir explicar o 'tipo'amor que estamos falando."
Isso faz dos nativos da língua inglesa povos pouco românticos ou que amem menos?
"Afirmar isso é dar um poder determinista às línguas. Eu acredito que as pessoas são capazesvivenciar emoções que elas não conseguem explicarpalavras", tranquiliza Lomas.
"Mas eu diria que a língua tem a capacidadeinfluenciar nossas vidas, pois o idioma pode afetar o que e como observamos, conceituamos, priorizamos e falamos sobre o mundo".