Quem foi Giordano Bruno, o místico 'visionário' queimado na fogueira há 418 anos:freebet icon
É provável, dizem, que o temperamento inquieto e contestadorfreebet iconGiordano Bruno o tivesse levado por si só à fogueira, mas ter lido Erasmo ajudou a marcá-lo como herege. Na verdade, desde cedo ele mostrou tendências heterodoxas. Ainda noviço, ele atraiu atenção pela originalidadefreebet iconseus pontosfreebet iconvista e por suas exposições críticas das doutrinas teológicas então aceitas.
Vida religiosa e conturbada
Assim, não éfreebet iconestranhar que tenha chamado a atenção da Inquisição desde que começou a se tornar conhecido. Apesarfreebet iconBruno, que trocou o nome Filippo por Giordano aos 15 anos, quando entrou para a Ordem Dominicana, ter sempre estado ligado à religião, nunca foi aceito pelos religiosos.
Em 1575, três anos depoisfreebet iconter sido ordenado padre, o futuro condenado concluiu o cursofreebet iconteologia no Convento Dominicanofreebet iconSan Dominicafreebet iconMaggiori,freebet iconNápoles, o mesmofreebet iconque havia estudado e lecionado Santo Tomásfreebet iconAquino. Foi o início do seu calvário.
Em fevereirofreebet icon1576, aindafreebet iconNápoles, aos 28 anos, Bruno viu-se obrigado a se transferir para Roma para escapar das acusaçõesfreebet iconheresia. Mas uma vez lá, no Conventofreebet iconMinerva, ele não alteroufreebet iconmaneirafreebet iconser, e após alguns meses fugiu e abandonou o hábito dominicano. Foi o suficiente para ser sido enquadradofreebet iconum segundo processofreebet iconexcomunhão.
Em abril do mesmo ano, tevefreebet iconfugir para Genebra, na Suíça, onde se converteu ao calvinismo. Foi uma experiência efêmera. Por ter escrito um artigo no qual criticava um professor calvinista, acabou preso e excluído dessa religião.
Entre 1580 e 1585, Giordano Bruno pôde, enfim, desfrutarfreebet iconum breve interregnofreebet iconpaz. Deu aulasfreebet iconParis, Londres e na Universidadefreebet iconOxford e celebrizou-se como autorfreebet iconobras teológicas. Foi nessa época também que se evidenciaram suas ideias científicas, tendo ele escrito vários textos sobre a teoriafreebet iconCopérnico - mais tarde abraçada por Galileu Galilei, que também esteve na mira incendiária da Inquisição -, sobre o Sistema Solar, e apresentou a hipótesefreebet iconque o Universo era infinito.
Segundo o professor Rodolfo Langhi, do Departamentofreebet iconFísica do campusfreebet iconBauru da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Bruno conhecia e apoiava a teoriafreebet iconCopérnico, o heliocentrismo, que dizia ser o Sol o centro do universo. Mas foi além.
"Ele pregava que o Universo era infinito, sem centro, e repletofreebet iconmundos habitados, como o nosso", explica Langhi, que desenvolve pesquisas, projetos e publicações na áreafreebet iconEducaçãofreebet iconAstronomia.
"Ele disse o seguinte na obra Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos: 'que haja nesse espaço inúmeros corpos como nossa Terra e outras terras, nosso Sol e outros sóis, todos os quais executam revoluções nesse espaço infinito'."
Além disso, ele também afirmava, por exemplo, que, alémfreebet iconSaturno (o planeta mais distante do Sol conhecido até então), havia outros planetas que giravam ao redor da estrela. Isso foi confirmado com a descobertas dos planetas Urano,freebet icon1781, por William Herschel, Netuno,freebet icon1846, por Johann Galle, e Plutão,freebet icon1930, por Percival Lowell.
Apesarfreebet iconter acertado nessas previsões, o modelo cosmológicofreebet iconGiordano Bruno não estava embaladofreebet icondados científicos, masfreebet iconcrenças religiosas.
Por causa disso e outras "heresias", a partirfreebet icon1585, novamente o vento abrasador da intolerância começou a soprar emfreebet icondireção. Com as achas da incompreensão e da ignorância, seu inimigos começaram a acender e a alimentar a fogueira que iria devorá-lo.
Com uma coragem beirando a arrogância, entretanto, Bruno mantevefreebet iconpostura provocativa.
Em 1586, escreveu uma sériefreebet iconartigos insultando altos funcionários do governo e reiterando suas ideias a respeito do Universo. O resultado foi o previsto: tevefreebet iconfugirfreebet iconParis. Efreebet iconlá para a Alemanha, onde se converteu ao luteranismo. Masfreebet iconnovo, por pouco tempo. Foifreebet iconnovo expulso, desta vez pela Igreja Luteranafreebet iconHelmstedt.
Traição
Em 1591, cometeu aquele que seria, certamente, seu maior erro. Quinze anos depoisfreebet icondeixarfreebet iconterra natal, resolveu retornar à Itália a convitefreebet iconum nobre veneziano, Giovanni Mocenigo, que o alojou emfreebet iconcasafreebet icontrocafreebet iconaulasfreebet iconmemorização, outra especialidade dele.
No entanto, Mocenigo traiu Bruno, entregando-o à Inquisição veneziana.
Dessa vez, Bruno resolveu se retratar e argumentou que suas ideias eram filosofia e não teologia - portanto, não questionavam o poder da Igreja. Ele deveria ser solto, mas a Inquisição romana exigiufreebet iconextradição. Assim,freebet icon27freebet iconjaneirofreebet icon1593, ele tornou-se prisioneiro do Santo Ofício,freebet icononde só saiu para a fogueira.
Até hoje a figurafreebet iconBruno e o que ele representa são objetosfreebet icondiscussão. Apesarfreebet iconsuas ideias avançadas para a época, muitos pesquisadores modernos afirmam que ele não era um cientista na acepção que a palavra tem hoje.
"Ele era um pregador", resume o astrônomo Augusto Damineli, professor titular do Institutofreebet iconAstronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidadefreebet iconSão Paulo (USP).
O físico e astrônomo Othon Cabo Winter, do Departamentofreebet iconMatemática da Faculdadefreebet iconEngenharia (FEG), do campusfreebet iconGuaratinguetá da Unesp, pensafreebet iconmaneira semelhante.
"Ele era muito bem informado, tinha conhecimento dos avanços astronômicos mais atuais da época, mas não fazia ciência", diz. "Bruno juntava os conhecimentos com suas crenças e fazia especulações e afirmações sem um embasamento científicofreebet iconfato."
Cientista ou místico?
Há, no entanto, quem pense diferente. É o caso do antropólogo e medievalista português naturalizado brasileiro, João Eduardo Pinto Basto Lupi, pesquisador do Centrofreebet iconFilosofia e Ciências Humanas da Universidade Federalfreebet iconSanta Catarina (UFSC).
"Hoje achamos que cientista é alguém agarrado a instrumentosfreebet iconobservação e análise, com tabelasfreebet iconmatemática do lado", diz. "Mas no tempofreebet iconBruno não era assim. Muitos inclusive, como Newton, por exemplo, não deixavamfreebet iconser astrólogos, nemfreebet iconconsiderar ideiasfreebet iconciências ocultas."
De acordo com Lupi, o que importava era ter ideias capazesfreebet icondirigir o conhecimento sobre o universo, e isso Bruno tinha demais.
"É o que os americanos hojefreebet icondia chamamfreebet iconideias seminais, capazesfreebet iconfertilizar a inteligência", explica. "Mas muitas pessoas continuam agarradas a concepções científicas demasiado racionalistas e positivistas, que não têm mais futuro. E nisso o Giordano Bruno foi um grande orientador da ciência, um cientista visionário. Parecia medieval mas era mais contemporâneo do que muitos hojefreebet icondia."
Mas por que Giordano Bruno incomodava tanto a Igreja?
"Suas ideias tiveram importância política, pois na luta entre a Igreja conservadora (dona do poder) e a burguesia revolucionária (classefreebet iconascensão) ele optou pela revolução", responde Damineli. "Essa foi a principal motivação para a Igreja assassiná-lo. Note que ela reabilitou Galileu, mas nunca cogitoufreebet iconfazer o mesmo com Giordano Bruno, pois a luta dele era eminentemente política, no sentidofreebet iconvisão do mundo."
Segundo o astrofísico Daniel Britofreebet iconFreitas, da Universidade Federal do Ceará (UFC), o principal motivo do incômodo que Bruno causava à Igreja é que ele defendia que o Deus definido pelo Cristianismo era limitado e, acimafreebet icontudo, não incorporava a ideia da infinitude dos mundos.
"Ele sugeriu abandonar as Sagradas Escrituras e reescrever Deus levandofreebet iconconta a existênciafreebet iconoutros mundos e outras formasfreebet iconvida pensante", explica. "Para a Igreja, esse era um atofreebet iconblasfêmia do mais alto grau na escalafreebet iconheresia. Esse foi o motivo pelo qual a Igreja Católica perseguiu e condenou Giordano Bruno à fogueira da Santa Inquisição."
A revoluçãofreebet iconGiordano Bruno
Ao receber a sentença, Bruno deu uma prova, se não dessa arrogância que lhe atribuem, pelo menosfreebet icondesassombro e autoconfiança.
"Talvez vocês, meus juízes, pronunciem essa sentença contra mim com maior temor do que eu a recebo", declarou a seus algozes.
Apesar disso, ainda lhe foram dados oito dias para ver se se arrependia. E embora suas ideias científicas desafiassem os preceitosfreebet iconentão, a Igreja não admite que ele tenha sido condenado por esse motivo, mas sim por questões teológicas.
Mesmo com as controvérsias, a maiorias dos cientistasfreebet iconhoje concorda que Bruno foi um visionário que anteviu e levantou questões que vieram a ser comprovadas ou ainda intrigam séculos mais tarde.
"São ideias e questões bem atuais", diz Winter. "Milharesfreebet iconplanetas ao redorfreebet iconoutras estrelas já foram descobertos. A questão da existênciafreebet iconvida fora da Terra é um dos temas mais relevantes para a ciência na atualidade e acredita-se que será verificada ainda neste século."
Damineli lembra que Bruno se entusiasmou com as grandes navegações da época dos descobrimentos, que estavam ultrapassando os limites imaginários dos oceanos e colonizando novos mundos. A partir disso, ele imaginou naves movidas a vento solar, que só entraram no campo científico cerca quatro séculos mais tarde, e que atravessariam o "oceano escurofreebet iconvácuo" para aportarfreebet iconoutros planetas", diz.
Segundo Damineli, essas novas "grandes navegações no espaço" são análogas às anos 1500-1600 e têm um potencialfreebet iconrevolução industrial ainda maior que as da caravelas.
"Desta forma, a visãofreebet iconGiordano Bruno vai muito alémfreebet iconsua época, para temposfreebet iconque ainda não entramos, mas estamos no limiar."