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O dramasite playbondsmanter filhos vivossite playbonds'sociedade que vê alergia alimentar como frescura':site playbonds
Ligaram pela terceira vez. Eu conseguia ouvir que ele estava muito mal, ouvia o barulho que ele fazia, tentando respirar. 'Dá a adrenalina. Tal, tal e tal pessoas sabem aplicar', falei. 'Não tem ninguém aqui agora', responderam. O pessoal treinado por mim tinha ido embora.
No medicamento tem a instruçãosite playbondsinglês, com figuras. A coordenadora começou a perguntar como fazia. Fechei o olho para tentar me concentrar, expliquei uma vez. Ela voltou a fazer perguntas. 'Não dá mais para responder, não dá mais tempo. Lê e aplica.' Desliguei o telefone e saí dirigindo. Cheguei na escola, não sabia o que ia encontrar. Ele estava sentado. Todo roxo, parecia que tinha se afogado.
Esboçou um choro. 'Não chora', pedi. Achava que ele não aguentaria, se chorasse.
No hospital, tevesite playbondstomar outra injeçãosite playbondsadrenalina. Tinham demorado muito para dar a primeira, quase não fez efeito. Se demorassem um pouco mais, ele poderia ter morrido.
Quando a reação acontece, você temsite playbondsagir rápido. Se demora para medicar, a adrenalina não faz efeito."
site playbonds Helena Colonelli, administradorasite playbondsempresas, mãesite playbondsJoão Pedro,site playbondssete anos.
"Meu filho tem alergia grave a ovo e peixe. Está aprendendo a lidar, mas tem vergonhasite playbondscontar para os colegas.
Nossa sociedade trata a alergia como frescura. Dizem: 'Agora está na moda alergia alimentar'. Pensam que é escolha não querer comer certo ingrediente. Mas o caso do meu filho é grave. Tem doença séria.
Sou privilegiada porque consigo comprar a adrenalinasite playbondscaneta. O preço depende, entre R$ 1 mil e R$ 2 mil por unidade. Se ele tiver contato com o alergênico, precisa ser medicado dentrosite playbondsminutos e levado para o hospital imediatamente.
A escola tinha políticasite playbondsnão aplicar medicamento nas crianças. Eu não podia correr o riscosite playbondsum contato acidental. Então, na hora do almoço, ia para a porta da escola. Fiz isso durante dois anos, para protegê-lo. Exagero? Como não vou proteger meu filho?
Eu trabalhava, mas tivesite playbondspedir licença médica no emprego. Tive uma depressão. Ficou muito estressante viver com essa sensaçãosite playbondsque seu filho não está seguro."
site playbonds Rebeca, mãe do adolescente Gustavo (os nomes são fictícios)
Os depoimentos acima revelam um pouco do que vivem famíliassite playbondscrianças com alergias alimentares no Brasil.
A situação é ainda pior na populaçãosite playbondsbaixa renda, com pouca instrução e sem acesso à informação. A legislação sobre o assunto é incipiente e oferece pouca proteção a alérgicos. E medicamentos que poderiam salvar vidas não estão à venda no mercado, segundo pessoas ouvidas pela BBC Brasil.
A alergia é uma resposta exagerada do sistema imunológico a uma substância estranha ao organismo. No caso da alimentar, as substâncias estranhas são certas proteínas presentes nos alimentos.
Há poucos estudos sobre o problema no Brasil, mas segundo dados da Associação Brasileirasite playbondsAlergia e Imunologia (ASBAI), entre 6 e 8% das crianças e entre 2 e 3% dos adultos têm alergias alimentares.
No Reino Unido, país com populaçãosite playbonds65 milhões e meiosite playbondspessoas, cercasite playbonds5 mil recebem tratamento no hospital por causasite playbondsreações alérgicas graves a cada ano. Por voltasite playbondsdez morrem anualmente vítimassite playbondsreações alérgicas.
Dados coletados entre 1997 e 2007 pelos Centers for Disease Control and Prevention (Centros para o Controle e Prevençãosite playbondsDoenças) nos Estados Unidos revelaram um aumentosite playbonds18% nos casossite playbondsalergias alimentares entre menoressite playbonds18 anos no país. O crescimento do númerosite playbondsalérgicos, no entanto, é um fenômeno global, dizem especialistas.
"Na prática clínica vemos que a alergia está aumentandosite playbondsfrequência, nasite playbondsgravidade e na persistência", disse à BBC Brasil a médica Jackeline Motta, coordenadora do Núcleosite playbondsAlergia Alimentar da Universidade Federalsite playbondsSergipe,site playbondsAracaju.
A razão para o aumento? "Não sabemos", diz a médica. "Mas há várias hipóteses."
Os especialistas suspeitamsite playbondsque alergias sejam resultadosite playbondsuma interação entre fatores genéticos e ambientais. Alguns sugerem que a carênciasite playbondsvitamina D (que,site playbondsteoria, protegeria indivíduos contra as alergias) esteja na raiz desse aumento. Outros apontam, por exemplo, o uso excessivosite playbondsdetergentes. Ou o tiposite playbondsparto da mãe (nascidossite playbondspartos cesarianos teriam mais tendência a desenvolver alergias).
A hereditariedade é um fator importante. Segundo a ASBAI, estudos indicam quesite playbonds50 a 70% dos pacientes com alergia alimentar possuem história familiarsite playbondsalergia. Se o pai e a mãe apresentam alergia, a probabilidadesite playbondsterem filhos alérgicos ésite playbonds75%.
Mecanismo da alergia
Qualquer alimento pode desencadear reação alérgica. No Brasil, aquelas à proteína do leitesite playbondsvaca, ao ovo, peixe e crustáceos estão entre as mais frequentes.
Falando à BBC Brasil, a médica alergista Renata Cocco, pesquisadora da Universidade Federalsite playbondsSão Paulo (Unifesp) explicou o mecanismo desencadeador da alergia à proteína do leite - cuja incidência vem crescendo entre crianças brasileiras.
"Ela começa na infância. No desmame, a mãe que volta a trabalhar passa a substituir o leite materno pelo da vaca. O sistema imunológico do bebê reconhece aquela proteína do leite da vaca como um inimigo. Na tentativasite playbondsexpulsar esse inimigo, o organismo pode produzir sintomas variáveis, desde a presençasite playbondsdiarreia com sangue até urticária e vermelhidão generalizada, inchaçosite playbondsboca e olhos, culminando,site playbondscasos mais graves, na anafilaxia", disse.
"A anafilaxia é o quadro mais grave que uma alergia alimentar produz. Nesse quadro, há comprometimentosite playbondsdois ou mais sistemas - respiratório (crisesite playbondsfaltasite playbondsar, espirros, rouquidão), gastrintestinal (diarreia ou vômitos imediatos) ou pele (coceira, vermelhidão, inchaço). Além disso, a presençasite playbondssintomas cardiovasculares isoladamente (desmaio, arroxeamento dos lábios, queda da pressão arterial) também caracteriza uma reação anafilática. Se não for tratada, pode levar ao óbito."
Vidasite playbondsestadosite playbondsalerta
Diantesite playbondsriscos como esse, como proteger crianças do contato acidental com alimentos tão onipresentes quanto leite, ovo e peixe?
Na Grã-Bretanha, por exemplo, a lei determina que restaurantes e estabelecimentos que vendem comida para viagem informem consumidores sobre a presençasite playbonds14 tipossite playbondsalérgenos (entre eles, castanhas, leite, glúten, soja e trigo) na comida. A regra também se aplica a comida pronta vendida por supermercados.
Nas escolas do país, crianças alérgicas devem ter sempre à mão a chamada "canetasite playbondsadrenalina". A injeção,site playbondsfácil aplicação, contém a dose exata do medicamento necessária para retardar a reação alérgica até que a criança chegue ao hospital.
A caneta é oferecida gratuitamente pelo sistema nacionalsite playbondssaúde britânico, o National Health Service (NHS).
Escolas também podem manter canetassite playbondsadrenalinasite playbondsreserva,site playbondscasosite playbondsemergência.
A lei inglesa ainda obriga escolas a terem pessoal treinado para aplicar o medicamento nas crianças.
Sem lei e sem remédio
A situação britânica contrasta bastante com a do Brasil, onde alérgicos têm pouco ou quase nenhum amparo da lei. E, crucialmente, a canetasite playbondsadrenalina não está à venda no país. Pacientes ou famíliassite playbondspacientes alérgicos são obrigados a importar o produto, que pode custar até R$ 2 mil (no Reino Unido a caneta é vendida por cercasite playbondstrinta libras - ou R$ 127).
Desde julhosite playbonds2016, uma nova lei obriga fabricantessite playbondsalimentos no Brasil a incluírem no rótulo informações sobre a presençasite playbondsalergênicos.
"Houve progresso", disse à BBC Brasil a advogada Cecília Cury, mãesite playbondscriança com alergia alimentar e coordenadora do movimento Põe no Rótulo, que oferece suporte e esclarecimentos a pessoas que vivem com alergias alimentares.
"Mas o país parece não ter acordado para a seriedade do problema", acrescenta.
Em restaurantes, por exemplo, não existe a obrigatoriedade - nem conscientização, explica.
"Cardápios não têm informação sobre alergênicos, garçons e chefssite playbondscozinha não têm a menor ideia do que estamos falando. Comer fora no Brasil é uma roleta russa, não há segurança."
Escolas
Para criançassite playbondsidade escolar, no entanto, comer fora nem sempre é uma questãosite playbondsescolha. E segundo Cury, para alunos com alergias alimentares o cenário nas escolas brasileiras não é bom.
"Nas escolas públicas, a lei é nova e obriga o acolhimentosite playbondsalunos com necessidades alimentares especiais. Caso a escola não respeite a lei, cabe denúncia", disse Cury.
A lei,site playbondsvigor desde 2009, trata do repassesite playbondsverbas públicas para a comprasite playbondsmerenda escolar. Ela exige que colégios públicos ofereçam cardápios alternativos com basesite playbondsrecomendações médicas.
Já nas particulares, explica a advogada, "o assunto está mais cru. Aqui não há a coerção, a lei não obriga a escola a acolher as necessidades dessa criança".
"Algumas respeitam, oferecem o bolo sem o alérgeno para a criança alérgica. No entanto, no Dia da Criança, por exemplo, decidem comemorar com uma sorvetada, excluindo a criança com alergia", disse.
"Outras dizem: 'não temos vagas, não temos como atender às necessidades da criança'."
Emergência na Escola
Falta proteção tambémsite playbondscasossite playbondscontato acidental com alérgenos - tantosite playbondsescolas públicas quanto privadas.
Isso porque os colégios não são obrigados a receber a canetasite playbondsadrenalina para medicar a criançasite playbondscasosite playbondsemergência (lembrando que o medicamento nem sequer está disponível para compra no Brasil).
"Mesmo quando os pais oferecem o medicamento, muitas escolas se recusam a guardar e ministrar medicamentos", diz Cury.
A advogada reconhece que falta no país uma lei que cuide do assunto.
"O caminho é fazer uma minutasite playbondsprojetosite playbondslei e batalhar, ou seja, fazer lobby, advocacy."
Analfabetismo
Enquanto isso, no outro canto do Brasil, a médica Jackeline Motta,site playbondsAracaju, enfrenta o problema da alergia alimentarsite playbondscondições bem mais precárias.
"Coordeno o núcleosite playbondsalergia alimentar, onde recebo mães que não sabem ler. Às vezes não é suficiente colocar (o alérgeno) no rótulo", diz Motta.
"Para pacientes que são filhossite playbondsmães analfabetas, distribuímos às mães os rótulos dos produtos que o filho pode consumir."
No casosite playbondsalguns pacientes alérgicos, no entanto, existe uma esperança, diz a médica.
"Para alguns alimentos, a evolução natural da alergia alimentar é no sentido da cura. É o caso da alergia ao leite e ao ovo. Mas para castanhas, amendoim, camarão e crustáceos, ela tende a ser persistente e durar o resto da vida."
A BBC Brasil perguntou ao Ministério da Saúde que medidas estavam sendo tomadas para a disponibilização da canetasite playbondsadrenalina no país. a pasta informou que a incorporaçãosite playbondstecnologias ao Sistema Únicosite playbondsSaúde (SUS) precisa ser analisada por uma comissão. Segundo a assessoriasite playbondsimprensa, o ministério não recebeu pedidos para a incorporação desse produto.
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