Suicídio: como falar sobre o ato sem promovê-lo:blaze bet
Falar sem promover
Para a psicóloga Karen Scavacini, coordenadora do Instituto Vita Alereblaze betPrevenção e Posvenção do Suicídio, não falar sobre suicídio pode ter um efeito tão devastador quanto falarblaze betmaneira inadequada.
"Quanto maior o silêncio e segredoblaze bettornoblaze betum assunto tabu, pior para quem lida com ele. Poder falar e contar a história pode ter um efeito curativoblaze betquem lê eblaze betquem escreve", defende Karen.
Autorablaze betMentes Depressivas - As Três Dimensões da Doença do Século (editora Globo), a psiquiatra Ana Beatriz Silva menciona a ondablaze betsuicídios atribuída ao lançamento do livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, obrablaze betGoetheblaze bet1774blaze betque o protagonista se mata após um amor não correspondido.
Como reação, o livro foi recolhido e proibiu-se a discussão sobre o suicídio por acreditar que seria algo que incitasse a prática.
"Estima-se que 90% dos suicídios poderiam ser prevenidos. Isso faz pensar que esse preconceito históricoblaze betfalar sobre suicídio não ajudou a prevenir essas mortes", diz Silva, citando estimativa da Organização Mundialblaze betSaúde (OMS).
Silva avalia que os padrões da mídia ao relatar casosblaze betsuicídio também não contribuem para resolver esse problema social.
"Só falamosblaze betsuicídio quando um famoso se mata. Não se pode glamorizar um suicídio, transformar o suicidablaze betherói. Um suicídio é um atoblaze betdesespero", diz ela, para quem relatar a trajetóriablaze betsofrimento da pessoa é mais relevante do que informar, por exemplo, métodos empregados no ato.
Para Scavacini, do Instituto Vita Alere, apresentar alternativas e divulgar locais ou formasblaze betse obter ajuda é outro meioblaze betfalarblaze betsuicídio com maior atenção à prevenção.
"Se o relato indica ao final onde a pessoa pode receber ajuda, isso se transforma numa redeblaze betcuidado. Muitas pessoas estão tão perdidas e impactadas que mesmo uma sugestãoblaze betcaminho a seguir faz grande diferença", orienta.
Catarse coletiva
Para a professorablaze betComunicação da Universidade Federal Fluminense Renata Rezende, o excessoblaze betreferências sobre suicídio, com aumento repentino na circulaçãoblaze betrelatos na internet, é exemploblaze betuma "catarse coletiva": impacto amplificado, nas redes sociais,blaze betassuntos e práticas que são objetoblaze bettabu.
São assuntos, diz ela, geralmente ligados à esfera do segredo, do proibido e que, por isso, despertam a curiosidade.
Rezende afirma que o aumento do interesse pelo suicídio não significa que a prática esteja sendo mais estudada. Pode ser, por exemplo, que a tendência seja apenas um desabafoblaze betpessoas tocadasblaze betalgum modo pelo assunto.
Daí, diz a professora, a importânciablaze betobservar como essas catarses se manifestam.
"Muitas vezes, na faltablaze betconversar com um amigo ou procurar tratamento psicológico, o usuário fazblaze betcatarse no espaço que tem: seu perfil nas redes sociais", afirma.
Algo semelhante, considera Rezende, ocorre com a relação com a morte. "Com as redes sociais, as pessoas começaram a falar mais sobre morte, a fazer memoriais digitais para amigos e parentes, falar das suas dores", diz.
'Gatilhos'
Para a psicoterapeuta Alessandra Ramasine, voluntária há sete anos do Centroblaze betValorização da Vida (CVV), serviçoblaze betapoio emocional e prevenção do suicídio, usar as redes sociais como "mural"blaze betdesabafos nem sempre é uma boa ideia, seja para quem relata ou lê.
"Para relatosblaze betexperiências, especialmente as doloridas e violentas, é necessário um ambiente seguro,blaze betacolhimento para dores e memórias", afirma Ramasine. "Do mesmo modo, esses relatos causarão impactos e consequências que nem sempre poderão ser administradas individualmente."
Impactos negativosblaze betquem lê, ouve ou assiste a reproduçõesblaze betviolência, sexo ou morte, desencadeando fortes processos emocionais complexos, são chamadosblaze bet"gatilhos".
"Uma cenablaze betsuicídio pode causar muitos impactos na vidablaze betum jovem por meio do gatilho, especialmente quando esses jovens estão fragilizados, angustiados e perdidos nas questões cotidianas, sem apoio e orientação, desconectados com a vida", afirma Ramasine.
Segundo ela, jovens que enfrentam faltablaze betoportunidadesblaze betdesenvolver um projetoblaze betvida,blaze betplanejar o futuro e construir identidade por meioblaze betautoconhecimento, autoestima e autoconfiança podem ser os mais afetados.
Nesse sentido, a psicoterapeuta diz ver aspectos positivos e negativos na série da Netflix sobre suicídio. É útil ao lançar um alerta sobre o problema a pais, professores e amigos, mas prejudicial ao retratar o atoblaze betforma extremamente realista.
Renata Rezende, da UFF, sugere que quem publique relatosblaze betredes sociais sobre suicídio também tome cuidados com o leitor.
O termo "Trigger warning" (avisoblaze betgatilho,blaze betportuguês), por exemplo, tem sido usado na internet, comoblaze betblogs feministas, na introduçãoblaze bettextos com relatosblaze betvítimasblaze betestupro.
"A importância desse aviso é prevenir e avisar que os assuntos abordados podem desencadear processos emocionais complexos, dependendo do modoblaze betrecepçãoblaze betquem os assiste ou consome", afirma a professora.
Mostrar ou não?
No Brasil, a taxablaze betsuicídios na populaçãoblaze bet15 a 29 anos subiublaze bet5,1 por 100 mil habitantesblaze bet2002 para 5,6blaze bet2014 - um aumentoblaze betquase 10%, segundo dados do Mapa da Violência 2017. O estudo é publicado anualmente a partirblaze betdados oficiais do Sistemablaze betInformaçõesblaze betMortalidade (SIM) do Ministério da Saúde.
Para Ana Beatriz Silva, como o suicídio normalmente está associado a múltiplos fatores, físicos, sociais eblaze betpersonalidade, uma cena só será um fator desencadeante caso a pessoa apresente "um quadroblaze betalteraçãoblaze betcomportamento, principalmente a depressão."
A psiquiatra disse ter notado um aumento na procura por serviços psicológicos emblaze betclínica após a "catarse coletiva" motivada pela discussão cultural sobre suicídio. Segundo ela, a maior parteblaze betseus pacientes adolescentes fez questionamentos sobre suicídio motivados pela série da Netflix.
"Eles me perguntavam: 'Qualquer um pode se suicidar?' 'Como uma pessoa se deprime?'. Ou seja, para aqueles que tem contato com uma ajuda psicológica ou que não apresentam uma alteração comportamental, a série foi capazblaze betdespertar uma curiosidade positiva", diz.