'Sem crescimento robusto, Brasil pode se tornar difícilblaze lgovernar', diz Goldman Sachs:blaze l

Escultura Touroblaze lOuro, instaladablaze lnovembroblaze l2021 na frente da bolsablaze lvaloresblaze lSão Paulo, com cartazblaze lprotesto escrito 'Fome'

Crédito, Reprodução/Twitter

Legenda da foto, Alberto Ramos, diretorblaze lpesquisa econômica para América Latina do segundo maior bancoblaze linvestimentos do mundo, vê boa vontadeblaze linvestidores com Lula. Mas avalia que país tem pouco tempo para mudar quadro econômico e social, sob riscoblaze lperder governabilidade

Nascidoblaze lPortugal, Ramos atua no Goldman Sachs desde 2003, tendo passado pelos cargosblaze lvice-presidente e diretor administrativo. Especializadoblaze lfinanças e com PhDblaze leconomia pela Universidadeblaze lChicago — considerada berço do liberalismo econômico —, foi antes economista sênior do Fundo Monetário Internacional (FMI), trabalhando com Argentina, Brasil e Turquia. Atualmente, ele liderablaze lequipeblaze lanalistas a partirblaze lNova York.

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{nn} são um tipo popular blaze l aposta desportiva onde um time ou jogador é concedido umhandicap( Handicap 2 blaze l {k0} nossos exemplos) como se tivesse marcado certa quantidade degoalsou pontos antes do início do jogo.

Nesse artigo, vamos entendercomo funciona o handicap 2e como se pode fazer uma aposta com handicap 2 usando exemplos concretos.

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Uma aposta com handicap 2 é um tipo especial blaze l aposta onde um time ou jogador tem doisgoalsadicionados ao seu total blaze l de pontos ougoalsno início do jogo. Isto é usado para nivelar o jogo, especialmente se um time for considerado o grande favorito.

Como fazer uma aposta com handicap 2?

Apostar comhandicap 2é muito fácil.

Aqui está um exemplo para ilustrar como funciona: imagine um jogo blaze l futebol entre o Bayern Munich e o MSV Duisburg.

Se um Fan do MSV Duisburg quisesse apostar no seu time, mas achava que o Bayern Munich era claramente um favorito, poderia escolher uma apostahandicap 0-2para o MSV Duisburg. Isto daria ao MSV duisburg uma vantagem artificial mental blaze l 2 goals antes do jogo.

  • Se o Bayern Munich ainda vencesse o jogo (digamos 1-0), o handicap o tornaria 1-2 (derrota para o MSV Duisburg), e.

Assim, mesmo que um time perca um jogo, ainda é possível ganhar a aposta.

Exemplos Práticos com Handicap 2

  • Example 1:SkyBet tem um mercadoHandicap 2com a Chelsea sendo favorecida sobre o Portsmouth.

Chelsea (-2): Se a Chelsea vencer por 2golsou mais, você bancou o time vitorioso.

Se a Chelsea ganhar com 1golde diferença ou perder, você não ganha, porque Portsmouth tem pontos "extras".

  • Example 2:Outra situação real na Bwin: apoiando MSV Duisburg com Handicap 0-2 contra Bayern Munich.

Duisburg com2-gols favor, significa que perder por 1< (...) ```scss gol, empatar ou vencer são todos ótimos resultados para esta aposta.”

Fim do Matérias recomendadas

O economista vê boa vontadeblaze linvestidores estrangeiros com o novo governo, mas alerta que, com a reabertura da China e uma Europa que administrou bem a crise do gás decorrente da guerra da Ucrânia, o país não está sozinho na disputa pelos fluxosblaze lcapitais internacionais.

Nesse cenário, o governo Lula tem como principal desafio este ano equacionar a questão fiscal, avalia Ramos. Mas precisa evitar a tentaçãoblaze lmedidas intervencionistas e populistas que não deram bons resultados no passado.

"Não é uma lei da natureza que a América Latina não cresça e que as condiçõesblaze lvida não melhorem. É um reflexoblaze lescolhas equivocadas dos últimos anos", diz Ramos. "Éblaze lfato inaceitável o crescimento ser tão medíocre, é preciso mudar isso, porque as condiçõesblaze lvida têm que melhorar. A América Latina está perdendo o trem do desenvolvimento."

Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Alberto Ramos

Crédito, Reprodução/Zoom

Legenda da foto, Ramos atua no Goldman Sachs desde 2003, tendo passado pelo cargosblaze lvice-presidente e diretor administrativo. Especializadoblaze lfinanças e com PhDblaze leconomia pela Universidadeblaze lChicago, foi antes economista sênior do FMI

blaze l BBC News Brasil - Como o senhor viu o episódio da depredação dos prédios públicosblaze lBrasília e como isso repercutiu entre os investidores internacionais?

blaze l Alberto Ramos - É um sinal da polarização profunda do pontoblaze lvista político e social que o Brasil tem vivido nos últimos anos. Foi uma campanha muito dividida e parece que essa polarização não se resolveu com a eleição. Sempre que tem esse ruído institucional, político e social, é algo que deixa o investidor um pouco mais defensivo.

blaze l BBC News Brasil - Mas esses ataques mudaramblaze lalguma forma o cenário que estava dado para o novo governo Lula? Isso pode afetar a governabilidade, na perspectiva do senhor?

blaze l Ramos - No meu cenário não mudou nada, porque a expectativa éblaze lque isso tenha sido um episódio isolado. Por mais triste que tenha sido, a expectativa éblaze lque não se repita, pelo menos à escala do que aconteceu.

Acredito que a polarização vai continuar, que o presidente Lula vai continuar a enfrentar uma oposição relativamente combativa e aguerrida. Estamos bem longe do consensoblaze lum presidente que tem uma popularidade extremamente alta. Então isso pode certamente limitar a governabilidade, mas isso já estava no nosso cenárioblaze lbase, não alteramos nada com os eventosblaze l8blaze ljaneiro.

blaze l BBC News Brasil - A possibilidadeblaze luma ruptura institucional está no seu radar e no radar dos investidores, ou a resposta do governo foi suficiente para afastar esse tipoblaze ltemor?

blaze l Ramos - Não falo por outros investidores, mas não está no meu cenário a possibilidadeblaze luma ruptura institucional. Me parece que as instituições no Brasil são suficientemente robustas para proteger o regime democrático. Há uma imprensa livre e vibrante, e as instituições têm performado o papel constitucional que se espera delas. Então não há um cenárioblaze lruptura institucional.

Bolsonaristasblaze lfrente ao Congresso durante invasãoblaze lBrasíliablaze l8blaze ljaneiroblaze l2023

Crédito, Reuters

Legenda da foto, 'Acredito que a polarização vai continuar, que o presidente Lula vai continuar a enfrentar uma oposição relativamente combativa e aguerrida', diz Ramos

blaze l BBC News Brasil - Qual é a perspectiva do senhor para o crescimento do PIB brasileiro esse ano?

blaze l Ramos - A expectativa éblaze lum crescimento modesto, por voltablaze l1%, que tem a ver um pouco com a diminuição do impulso relativo à reabertura da economia [após a pandemia], que estimulou bastante a atividadeblaze l2021 e 2022.

Tem também a ver com a própria restritividade da política monetária [isto é, a taxa básicablaze ljuros elevada, com a Selic atualmente a 13,75% ao ano], as condições financeiras bastante restritivas, que infelizmente é o que é necessário para trazer a inflaçãoblaze lvolta para a meta e reancorar as expectativasblaze linflação.

Também um mercadoblaze ltrabalho que está relativamente apertado, com uma taxablaze ldesemprego já próxima do nível neutro [quando o desemprego não é zero, mas está no ponto consideradoblaze lequilíbrio, sem acelerar a inflação], que é o reflexo do crescimento relativamente vigorosoblaze l2022.

Por fim, há também uma demanda externa mais limitada. Então teremosblaze l2023 uma desaceleração da atividade econômica que reflete o efeito combinadoblaze ltodos esses fatores.

blaze l BBC News Brasil - E quais são os principais desafios que o senhor vê para a economia brasileira esse ano?

blaze l Ramos - Para esse ano, o primeiro desafio é equacionar a questão fiscal. Principalmente, qual será a âncora fiscalblaze lmédio e longo prazo. Essa é a grande questão.

O tetoblaze lgastos, que teve um papel fundamentalblaze lancorar [as expectativas dos investidores com relação] a parte fiscal e a dinâmica da dívida vai ser substituído, e não há ainda indicação do que será esse substituto. Então esse é um ponto importante, manter as expectativas e o ancoramento do fiscal no médio e longo prazo.

blaze l BBC News Brasil - O senhor mencionou o crescimento vigoroso do ano passado que resultou nessa melhora do mercadoblaze ltrabalho. O senhor começou 2022 prevendo uma altablaze l0,8% para o PIB brasileiro e tinha gente prevendo até recessão. Mas o PIBblaze l2022 deve ter crescido próximoblaze l3%, segundo as expectativas mais recentes do boletim Focus. Por que os economistas erraram tanto as previsões no ano passado?

blaze l Ramos - Acho que todo mundo subestimou o impacto da reabertura da economia.

Depois teve o próprio efeito da guerra na Europa, entre Rússia e Ucrânia, que levou a um aumento significativo do preçoblaze lcommodities, o que alavancou a melhora dos termosblaze ltroca do Brasil [relação entre os preçosblaze lexportação e osblaze limportação do país], alavancando também o crescimento.

O crescimento global também foi bem maior do que se esperava.

E o quarto fator foi o impulso fiscal [as medidasblaze lestímulo à economia feitas pelo governo Bolsonaro, como o Auxílio Brasilblaze lR$ 600, entre outras], que foi bem maior do que se projetava no início do ano, embora parte disso tenha sido mitigada por uma política monetária mais restritiva e uma inflação mais alta. Então, no final, acho que essa foi a grande surpresa.

Pessoasblaze lrua comercial movimentada usando máscarasblaze lproteção contra a covid

Crédito, Tomaz Silva/Agência Brasil

Legenda da foto, 'Acho que todo mundo subestimou o impacto da reabertura da economia', diz Ramos, sobre por que economistas erraram previsões para o PIBblaze l2022

blaze l BBC News Brasil - A economia pode surpreenderblaze lnovo esse ano?

blaze l Ramos - Pode. Nossa visãoblaze lrelação à economia americana e global é um pouco mais construtiva do que a média do mercado. Achamos que não vai ter recessão nos EUA e temos projeções para crescimento da China, global e preçosblaze lcommodities acima da média.

Então pode surpreender, a depender do graublaze lestímulo fiscalblaze l2023. Não descarto a possibilidadeblaze lter um crescimento mais forte, como não descarto a possibilidadeblaze lum crescimento mais fraco. Nossa estimativablaze lum crescimento [do PIB brasileiroblaze l2023]blaze l1,2% tem risco para ambos os lados.

blaze l BBC News Brasil - Como o senhor viu o pacoteblaze lmedidas anunciadas na semana passada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para reduzir o déficit público, mirando um déficit entre 0,5% e 1% do PIB esse ano?

blaze l Ramos - Foi um passo importante. Mostra que o governo está preocupado com a dimensão do déficit como saiu com a aprovação do Orçamento, que era um déficitblaze lquase R$ 230 bilhões ou 2,3% do PIB. E que está comprometidoblaze lreduzir esse déficit.

O pacoteblaze lsi não impressionou tanto. É um pacote com um viés muito grande para medidasblaze laumento da receita, medidas tributárias. E medidas que são transitórias, há poucas medidas permanentes, algumas delasblaze lefeito duvidoso.

Gostariablaze lver um pacote mais centrado na racionalização e redução do gasto. Num país que gasta maisblaze lR$ 2 trilhões, certamente há gastos improdutivos, redundantes, mal alocados.

Seria importante que o pacote tivesse um viés mais focalizado no gasto do que na receita, porque teria uma implicação melhor para a inflação, com um componente permanente e acoplado à nova âncora fiscal, que é a discussão que vem pela frente.

Haddad durante discussãoblaze lpainel do Fórum Econômico Mundialblaze lDavos, na Suíça

Crédito, Reuters

Legenda da foto, 'Foi um passo importante. Mostra que o governo está preocupado com a dimensão do déficit', diz Ramos, sobre pacote do ministro da Fazenda Fernando Haddad para reduzir déficit fiscalblaze l2023

blaze l BBC News Brasil - Haddad tem prometido apresentar ainda esse semestre o novo arcabouço fiscal para o país, que deve substituir o tetoblaze lgastos. Qual é a expectativa dos investidores internacionais com relação a essas novas regras?

blaze l Ramos - Há uma expectativa grande. É muito, muito importante ter uma âncora fiscal, particularmente alguma coisa que limite uma expansão desenfreada do gasto, dado que o nívelblaze lendividamento público é bastante elevado, e dado o histórico do PT nos últimos anos.

Mesmo nos anos Lula, no inícioblaze lmandato, houve uma expansão do gasto muito elevada, mas nessa altura o preçoblaze lcommodities ajudou muito, a receita também aumentava. Quando a receita paroublaze lcrescer, isso levou a déficit crescente.

Eu pessoalmente não acho que a regra do tetoblaze lgasto tenha sido assim tão ruim, acho que ela teve um papel muito importanteblaze lancoramentoblaze lexpectativa e tambémblaze llimitar o gasto. E vai ter que ser por aí, pode ser uma regra com mais flexibilidade, que tenha um elemento contracíclico, que permita que não tenha que reduzir muito o déficit quando a economia está contraindo e a receita cai.

Infelizmente, acho que não há muitas alternativas a alguma regra que limite o gasto, só através disso é que você consegue ancorar as expectativasblaze lmédio e longo prazo. Vamos ver, é uma discussão que vem pela frente e o Congresso também terá papel importante nesse debate.

blaze l BBC News Brasil - Qual é a perspectiva que o senhor vê para o avanço das reformas estruturais nesse governo, particularmente a reforma tributária?

blaze l Ramos - Acredito que não vai haver grandes reformas estruturais, tirando a reforma tributária, que já está bastante avançada a discussão no Congresso.

Há uma proposta que já amadureceu bastante na Câmara, uma proposta que também já amadureceu bastante no Senado e o [secretário especial para a reforma tributária do Ministério da Fazenda] Bernard Appy é uma autoridade do pontoblaze lvista fiscal e tributário. Então acho que alguma coisa vai sair, agora dependeblaze lcomo for configurada essa reforma.

A ideia do governo, pelo menos durante a campanha, é que seria uma reforma neutra do pontoblaze lvistablaze larrecadação. Eu tenho minhas dúvidas.

Há dois componentes: o dos impostos indiretos e o do impostoblaze lrendablaze lpessoas físicas e jurídicas. Talvez aí [no impostoblaze lrenda] é que vai ter um sistema mais progressivo, que aumente a arrecadação. Vamos ver como é que fica. É um tema complexo, que claramente tem ganhadores e perdedores, que põeblaze llados contrários indústria versus serviços, Estados pobres contra Estados ricos. Sempre foi um tema muito espinhoso e difícil.

Mas eu acho que, dentro do temablaze lgrandes reformas estruturais, provavelmente ficamos por aí. Não estou muito otimista com outras reformas, como a administrativa, que possivelmente seriam necessárias para alavancar o crescimento.

blaze l BBC News Brasil - Num relatórioblaze l2019, o senhor declarou a décadablaze l2010 como "perdida" para o Brasil, assim como ablaze l1980. São duas décadas perdidas para a economia brasileirablaze l40 anos. E o senhor alertava para o riscoblaze la gente perder também a década atual. O senhor avalia que esse risco persiste ou algo mudou nablaze lvisão desde então?

blaze l Ramos - Olha, não mudou muito. Acho que esse risco segue latente. Tivemos a pandemia, que levou a uma contração violenta da atividade. Seguiu-se uma recuperaçãoblaze l"V" bastante rápida, mas a dinâmica do crescimento, o crescimento potencial do Brasil, continua relativamente baixo. Daí a importância das reformas estruturais, que tornem a economia mais competitiva, mais flexível. Que aumentem o investimento público e privado.

Há um Estado gigante, obeso e ineficiente no Brasil, se não for possível reduzir o tamanho do Estado, pelo menos que o Estado gaste melhor. Seria muito importante focar na qualidade do gasto, para que o efeito multiplicador do gasto que temos hoje seja maior, tenha maior impacto econômico e social do que tem sido o caso nos últimos anos.

Algumas declarações da ministra [do Planejamento] Simone Tebet vão um pouco nessa direção e seria muito importante aprofundar essa agenda.

Simone Tebet

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'Seria muito importante focar na qualidade do gasto', diz Ramos. 'Algumas declarações da ministra Simone Tebet vão um pouco nessa direção'

blaze l BBC News Brasil - O que o país precisa fazer então para sair desse cicloblaze lbaixo crescimento e da fome sempre à espreita?

blaze l Ramos - O problema já foi extensamente debatido, não precisa criar nenhuma comissão para analisar por que o Brasil cresce pouco. É um país que gasta muito e investe pouco, tem uma produtividade muito baixa, o nívelblaze linvestimentoblaze lcapital físico e capital humano é relativamente limitado. É um país pouco integrado na economia global, tem um sistema tributário muito oneroso, o déficitblaze linfraestrutura é significativo. Então a agenda é conhecida, agora é começar a trabalhar nela. Não precisa descobrir a pedra filosofal [substância lendária que transformaria qualquer metalblaze louro].

blaze l BBC New Brasil - Durante o governo Bolsonaro, vimos os investidores muito reticentes com o país, com alguns grandes fundosblaze linvestimento inclusive interrompendo aportesblaze ltítulos públicos brasileiros por conta da destruição da Amazônia. Parecia ter uma certa ansiedade pela volta à normalidade. O senhor acredita que estão dadas as condições para os investidores estrangeiros voltarem?

blaze l Ramos - Acho que sim, há uma boa vontade muito grande com relação ao governo Lula e acho que aí pode ser até onde se observe a maior diferenciação entre os governos Bolsonaro e Lula, nessa agenda ambiental, o impacto que isso tem fora do país e nos investidores. Pode e vai certamente alavancar os fundos que são mais sensíveis a esses temas e alguns fundos específicos, como o Fundo Amazônia e outros que foram interrompidos durante o governo Bolsonaro. Então vejo isso claramente como uma via, e até uma via mais rápida,blaze latraçãoblaze lcapital no curto prazo.

blaze l BBC News Brasil - E para os demais investidores, depende dessa agenda toda que o senhor falou, ou essa boa vontade é generalizada?

blaze l Ramos - Não, acredito que não há uma boa vontade generalizada. Até porque o Brasil não é a única oportunidadeblaze linvestimento no mundo. Há a reabertura da economia da China, com a saída da [política de] "covid zero". A Europa parece que vai conseguir evitar uma recessão, porque manejou a restrição do gásblaze lmaneira eficiente. Então o Brasil tem competidores nesse fluxoblaze lcapital global, talvez mais do que se imaginava há três meses.

E, alémblaze ltoda a questão da sustentabilidade fiscal, há a política micro [referente ao ambienteblaze lnegócios]. Isso me preocupa um pouco mais nesse começo um pouco atribulado do novo governo. O marco regulatórioblaze lsetores importantes da economia, o manejo das empresas públicas e dos bancos públicos, a tendênciablaze linterferirblaze lcertas variáveis da economia, por exemplo, a políticablaze lpreços da Petrobras, "campeões nacionais", crédito subsidiado.

Uma agenda que tem sido característica dos governos do PT e que não teve resultado muito favorável lá atrás, me parece estar voltando com força. Então eu acho que não vai ter nenhuma explosão fiscal, que o governo entendeblaze lalguma maneira a importânciablaze lconter a parte fiscal, mas vejo com alguma preocupação essa agenda micro.

Traseunte passando pela fachada da Petrobras

Crédito, Arquivo/Agência Brasil

Legenda da foto, Manejo das empresas públicas e bancos públicos e tendência do PTblaze linterferirblaze lvariáveis da economia como o preço da gasolina preocupam economista do Goldman Sachs

blaze l BBC News Brasil - Por fim, o senhor analisa toda a América Latina. Como avalia a posição do Brasil hojeblaze lrelação aos demais países da região?

blaze l Ramos - A América Latina está com um problemablaze lcrescimento parecido com o Brasil. Crescimento baixo, fricção política, ativismo social. Então parece um fenômeno um pouco mais abrangente do que só a realidade do Brasil.

Há problemas institucionais, políticos e algum receioblaze linvestidores no Chile, na Colômbia, na Argentina há 30 anos, no Peru com o impeachment do presidente [Pedro Castillo, que perdeu o cargoblaze ldezembro]. Então, dentro desse contexto, é um problema mais sistêmico da América Latina, o do baixo crescimento, crises institucionais, pressão social.

E olha, há que ter um poucoblaze lsimpatia por isso [o descontentamento popular], porque o progresso socioeconômico da América Latina na última década tem sido extraordinariamente baixo. As condiçõesblaze lvida não melhoraram, então o votante médio está insatisfeito. E ele vai, grita e com razão. Quer dizer, não é uma lei da natureza que a América Latina não cresça e que as condiçõesblaze lvida não melhorem. É um reflexoblaze lescolhas equivocadas dos últimos anos, então é importante que essa ansiedade, que esse sinal chegue à classe política.

O Congresso, o governo, o Judiciário, todo mundo tem ablaze lcotablaze lresponsabilidade na integridade institucional e no próprio crescimento. Éblaze lfato inaceitável o crescimento ser tão medíocre nos últimos anos, é preciso mudar isso, porque as condiçõesblaze lvida têm que melhorar. A América Latinablaze lgeral está perdendo o trem do desenvolvimento.

O que me preocupa é que, se [o Brasil] voltar a perder mais uma década, acaba perdendo meio século. E que, se a gente não encontrar um caminhoblaze lcrescimento mais robusto e socialmente inclusivo, fique muito difícilblaze lgovernar esse país. Que a governabilidade acabe se deteriorando muito, pela desestruturação do sistema institucional e pela própria pressão social. Então temos que encontrar uma resposta a esse anseio do votante médio, que é extremamente legítimo. Se não dermos uma resposta cabal, que mude esse quadro econômico e social, te garanto que a coisa pode piorar, essa é a parte que me preocupa.

Agora, é sempre possível tornar uma situação ruim pior. E me preocupa às vezes que alguns atalhos populistas, que parecem dar uma respostablaze lcurto prazo, mas não uma resposta estruturalblaze lmédio e longo prazo, possam potencialmente agravar um problema que é real.

Vamos ver, mas acho que o relógio está contando, o tempo está avançada. A gente não tem muitos anos para dar uma resposta um pouco mais abrangente sobre isso.

- Este texto foi publicadoblaze lhttp://vesser.net/brasil-64312369