Por que população brasileira fica mais feminina e idosa — e como isso molda futuro do país:sport x criciuma

Idosasport x criciumapraia do Rio,sport x criciumafotosport x criciuma2020

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Ao final do século 21, pessoas com maissport x criciuma60 anos devem ser 40% da população do Brasil; maioria serásport x criciumamulheres

Nesse período, a população brasileira cresceu maissport x criciuma45 vezes: passousport x criciumaestimados 4,7 milhõessport x criciuma1822 para os cercasport x criciuma215 milhões que terá no final deste ano.

Por décadas, o país recebeu um influxosport x criciumapessoas que eram majoritariamente do século masculino, desde pessoas escravizadas vindas da África até imigrantes vindossport x criciumapaíses como Japão e Itália,sport x criciumauma estratégia do governo para "branquear a população" após a abolição da escravidão.

O foco no fortalecimento da forçasport x criciumatrabalho, fosse ela escravizada ou livre, foi um dos principais motivos para que até meados do século 20, o pêndulo demográfico no Brasil pendesse numericamente para os homens.

O que aconteceria depois mudaria rapidamente esse cenário.

Mais anossport x criciumavida, menos filhos

Gráfico da população com 60 anos ou mais no Brasil

Com os avanços socioeconômicos do país, a mortalidade infantil caiu e a expectativa médiasport x criciumavida, que era apenassport x criciuma25 anos na época da Independência, subiu para 75.

Ao mesmo tempo, o númerosport x criciumafilhos por mulher,sport x criciumamédia 6,2sport x criciuma1940, caiu para 1,7sport x criciuma2020. Essa mudança, chamadasport x criciuma"transição da fecundidade", "é considerada uma das transformações sociais mais importantes e mais complexas", escreve Diniz Alves, cujos levantamentos embasam os gráficos desta reportagem.

"Durante a maior parte da história brasileira, as taxas (de natalidade) eram altas para se contrapor às elevadas taxassport x criciumamortalidade e porque as famílias desejavam muitos filhos, já que as crianças traziam mais benefícios do que custos para os pais. Porém, (...) os custos dos filhos subiram e os benefícios diminuíram. Os filhos deixaramsport x criciumaser um 'seguro' para os pais, que passaram a contar com o sistemasport x criciumaproteção social e previdência. Essa transição tem um grande impacto nas famílias e na sociedade, pois muda a relação entre as gerações e modifica a estrutura etária."

A combinaçãosport x criciumamenos bebês nascendo e pessoas vivendo mais significou o crescimento da proporçãosport x criciumaidosos no país. E a balança da longevidade pendeu para o lado das mulheres.

Em todo o mundo, segundo Diniz Alves, os homens são menos longevos: são proporcionalmente mais atingidos pela violência urbana e tendem a cuidar menos da saúde. Mas, na América Latinasport x criciumageral, Brasil incluído, o fenômeno é mais acentuado.

Mulhere e bebêsport x criciumaManaussport x criciumafotosport x criciuma2020

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Legenda da foto, Númerosport x criciumafilhos por mulher, que erasport x criciumamédia 6,2sport x criciuma1940, caiu para 1,7sport x criciuma2020 no Brasil

Um exemplo disso é o fatosport x criciumaque 90% das vítimassport x criciumahomicídio e latrocínio do paíssport x criciuma2021 foram do sexo masculino,sport x criciumaacordo com o mais recente Anuário Brasileirosport x criciumaSegurança Pública.

Homens também são a maioria das vítimas fatais dos acidentessport x criciumatrânsito. Um levantamento do Detran paulistasport x criciuma2020 apontou que 93% dos mortossport x criciumacolisões no Estado eram do sexo masculino.

O documento Dados da Morbidade Masculina no Brasil, elaboradosport x criciuma2015 pelo Ministério da Saúde, aponta que eles respondiam por 68% das mortes na faixa etária entre 20 a 59 anos.

As principais causassport x criciumamorte nessa faixa etária foram lesões, envenenamento e outras consequênciassport x criciumacausas externas; doenças do aparelho digestivo; doenças circulatórias, infecciosas, parasitárias e respiratórias.

"O sexo masculino possui os piores índicessport x criciumamorbimortalidade, e ainda assim não tem o hábitosport x criciumaprocurar os serviçossport x criciumasaúdesport x criciumaforma preventiva", diz o Ministériosport x criciumaum boletim epidemiológicosport x criciuma2022.

Como resultado dessa conjunturasport x criciumafatores, os homens brasileiros passaram a viver,sport x criciumamédia, 7,1 anos a menos do que as mulheres.

"O Brasil teve mais homenssport x criciumaboa parte dasport x criciumahistória, até cercasport x criciuma1940. Hoje, porém, temos cercasport x criciuma5 ou 6 milhõessport x criciumamulheres a mais", explica Diniz Alves à BBC News Brasil.

Os homens também foram mais impactados pela pandemiasport x criciumacovid-19, que reduziusport x criciumaquase dois anos a expectativasport x criciumavida média dos brasileiros.

Segundo um estudo da Faculdadesport x criciumaSaúde Pública da Universidade Harvard, nos EUA, coordenado pela demógrafa Márcia Castro, a pandemia ampliousport x criciumacercasport x criciuma9,1% a diferença na expectativasport x criciumavida entre homens e mulheres.

Com isso, homens estão vivendo cercasport x criciuma1,57 ano menos e mulheres, 0,9 por conta da pandemia.

Maioria nas eleições

Esse fenômeno demográfico já tem grandes implicações eleitorais.

Gráficosport x criciumamulheres no eleitorado

Se o país já tem 6 milhõessport x criciumamulheres a mais do que homens, a diferença fica ainda maior se leva-sesport x criciumaconta apenas o contingentesport x criciumapessoas aptas a votar.

Hoje, o eleitorado brasileiro é composto por 53%sport x criciumamulheres contra 47%sport x criciumahomens, uma diferençasport x criciumaquase 8 milhõessport x criciumapessoas.

Essa virada tardou cercasport x criciuma70 anossport x criciumaacontecer. "As mulheres brasileiras conquistaram o direitosport x criciumavotosport x criciuma1932. Porém, mesmo sendo maioria da população, continuaram minoria do eleitorado até a virada do século", explica Diniz Alves.

"Em 1974, maissport x criciumaquatro décadas depois dessa conquista, as mulheres ainda eram apenas um terço do eleitorado. A diferençasport x criciumagênero diminuiu aos poucos e,sport x criciuma1998, houve empate, com cercasport x criciuma53 milhõessport x criciumaeleitores para cada sexo. Já nas eleições do ano 2000, pela primeira vez, as mulheres superaram os homens no númerosport x criciumaeleitores registrados."

No cenário atual, um subgrupo femininosport x criciumaespecial, o das evangélicas, é apontado como um dos pêndulos da eleição presidencialsport x criciumaoutubro.

Esse eleitorado votousport x criciumapesosport x criciumaJair Bolsonaro (PL)sport x criciuma2018 e ainda apoia, emsport x criciumamaioria, o atual presidente, embora tenha ficado mais dividido entre ele e seu principal adversário no pleito, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Um futuro com 40% da população acimasport x criciuma60

Ao mesmo tempo, o fenômeno demográfico atual provoca um rápido processosport x criciumaenvelhecimento dos brasileiros, algo que Diniz Alves também destaca emsport x criciumapesquisa.

Em 1950, as pessoassport x criciuma60 anos ou mais eram apenas 5% da população total do país. No fim século 21, porém, devem chegar a 40%, prevê o demógrafo, a partir dos dados do Instituto Brasileirosport x criciumaGeografia e Estatística (IBGE) e das projeções populacionais da ONU.

Marcha das Mulheres Negras,sport x criciumajulho,sport x criciumaSão Paulo

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Marcha das Mulheres Negras,sport x criciumajulho,sport x criciumaSão Paulo; mulheres vivem mais, estudam mais e acumulam mais tarefas — mas ganham menos

É um caminho semelhante ao vistosport x criciumagrande parte da população mundial, mas com consequências importantes para a "cara" do país no futuro.

As estimativas da ONU indicam que, nos padrões atuais, o Brasil terá cercasport x criciuma184,5 milhõessport x criciumahabitantessport x criciuma2100, na entrada do século 22. Desse total, impressionantes 73,3 milhões — 40% da população — terão maissport x criciuma60 anos.

"E, entre a população no topo da pirâmide etária, as mulheres vão predominar durante todo o período" dessa transição demográfica, prevê Diniz Alves.

Dentro desse contingentesport x criciumapessoas com maissport x criciuma60 anos, haverá, segundo as previsões, quase 4 milhõessport x criciumamulheres a mais do que homens.

É por isso que o futuro do Brasil vai ser cada vez mais idoso, mais feminino e, seguindo a tendência atual,sport x criciumarenda mediana, antecipa o demógrafo. Provavelmente também crescerá a parcela que se autodeclara negra.

"No século 19, a maioria da população era negra (em decorrência da escravidão), e depois houve um processosport x criciumaembranquecimento, impulsionado pela imigração europeia e asiática. No século 20, a maior parte se autodeclarava branco. Agora, nos anos 2000, aumentou a autodeclaraçãosport x criciumapretos e pardos", diz o demógrafo.

De fato, segundo o IBGE, o númerosport x criciumapessoas que se autodeclaram pretos aumentousport x criciuma7,4%sport x criciuma2012 para 9,1%sport x criciuma2021 e os pardos foramsport x criciuma45,6% para 47% nos últimos dez anos. Os autodeclarados brancos caíram 46,3% para 43%.

Mulheres puxam 'bônus demográfico', mas enfrentam barreiras

Gráfico da população economicamente ativa

Diniz Alves ressalta ainda que, enquanto a transição a um país mais idoso não se completa, o país ainda está no período chamadosport x criciumabônus demográfico — janelasport x criciumaoportunidadesport x criciumaque a população economicamente ativa, mais jovem, ainda é bem mais numerosa do que a idosa, que depende maissport x criciumaaposentadorias.

Esse período, se aproveitado, ajuda a aumentar o Produto Interno Bruto (PIB)sport x criciumaum país esport x criciumaestruturasport x criciumaprevidência, poupança, investimento e bem-estar social, preparando-o para a mudança na população.

"Com certeza o bônus demográfico brasileiro é puxado totalmente pelas mulheres", afirma o demógrafo.

Isso porque a população economicamente ativa, quesport x criciumagrande parte do século passado foi predominantemente masculina, foi ganhando cada vez mais mulheres.

"E elas não só entraram no mercadosport x criciumatrabalho como passaram os homenssport x criciumatodos os níveis escolares no Brasil", do ensino médio até a pós-graduação. O problema é que elas ainda enfrentam muito mais obstáculossport x criciumasuas carreiras.

O relatóriosport x criciuma2019 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) "Education at Glance" apontou que, ao mesmo temposport x criciumaque as mulheres brasileiras tinham 34% mais probabilidadesport x criciumase formar no ensino superior do que seus pares do sexo masculino, também tinham menos chancesport x criciumaconseguir emprego.

"Embora a disparidadesport x criciumagênero na educação favoreça as mulheres, a situação no mercadosport x criciumatrabalho é ao revés", afirmou o relatório.

Os possíveis motivos para isso incluem as decisões sobre qual curso estudar — vieses que podem levar homens a profissões mais bem pagas — e desigualdades na progressãosport x criciumacarreira e na divisãosport x criciumatarefas não remuneradas.

O levantamento mais recente do IBGE mostra que,sport x criciuma2019, as mulheres gastavam 21,4 horas semanais com afazeres domésticos e cuidadosport x criciumapessoas, contra 11 horas gastas pelos homens.

Gráfico da população brasileira com educação superior

Hoje,sport x criciumamédia, as trabalhadoras brasileiras ganham cercasport x criciuma22% a menos do que os trabalhadores, uma diferença que se sustenta mesmo entre pessoas que ocupam cargos semelhantes e têm nível educacional parecido.

Mas esse percentual é diferentesport x criciumaregião para região — e é maior no Norte e no Nordeste.

Existem também diferenças que prejudicamsport x criciumaparticular as mulheres negras. Os dados do IBGE mostram que a cada real ganho por um homem branco, uma mulher negra recebe R$ 0,43 — isso é 57% menos do que o saláriosport x criciumahomens brancos, 42% menos do que osport x criciumamulheres brancas e 14% menos do que osport x criciumahomens negros recebem.

O Censo e a Pesquina Nacionalsport x criciumaDomicílios (Pnad) mostram ainda que a diferença nos rendimentossport x criciumahomens e mulheres aumenta conforme a faixa etária.

Se elas ganhamsport x criciumamédia 88% do que ganham os homens entre os 16 aos 24 anos, quando passam dos 60, ganham somente 64% do que recebem os homens desse mesmo gruposport x criciumaidade.

Por fim, as mulheres sofrem com taxas maioressport x criciumadesemprego e informalidade, segundo dados do IBGE citados por Diniz Alves.

Tudo isso indica que "a sociedade brasileira não faz justiça a essa contribuição feminina ao bônus demográfico" e não está aproveitando a oportunidadesport x criciumaenriquecer antes que a população envelheça, conclui o pesquisador.

"Uma parte dessa discriminação contra as mulheres é 'culpa' do mercadosport x criciumatrabalho, mas outra é da sociedade, que joga as responsabilidades da vida reprodutiva e o cuidado com idosos no ombro das mulheres. Entre as mulheres mais pobres, isso é ainda mais sério."

Observando historicamente, escreve Diniz Alves, "as mulheres brasileiras (...) adquiriram níveis crescentessport x criciumaeducação, aumentaram as taxassport x criciumaparticipação no mercadosport x criciumatrabalho e avançaram nas diversas áreas sociais. O desafio do século 21 será construir uma sociedade mais justa e com equidadesport x criciumagênero."

- Este texto foi publicado originalmentesport x criciumahttp://vesser.net/brasil-62632851

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