A mórbida coleçãocabeças humanas que museu no Reino Unido decidiu deixarexibir:

Cabeça sendo retiradaexibição no museu

Crédito, Pitt Rivers Museum - University of Oxford

Legenda da foto, A retirada dos itensexibição é parte do processodescolonização do museu

"A questão é que muita coisa aconteceu aqui mesmo na nossa terra. Ingleses eram enforcados e esquartejados e nunca mostramos isso. Mulheres foram queimadas vivas e não mostramos isso. Então por que sempre estamos exibindo as chamadas atrocidadesoutras culturas e muito pouconossas próprias atrocidades?" diz Van Broekhoven à BBC.

Cabeças encolhidasexibição

Crédito, Pitt Rivers Museum, University of Oxford

Legenda da foto, As tsantsas eram feitas por povos indígenas da Amazônia peruana e equatoriana

Caçadorescabeças

A história das cabeças encolhidas é complexa — tanto quanto a decisãopararmostrá-las.

Tsantsas eram objetos feitos com cabeçasinimigos por alguns povos indígenas que viviam na Amazônia equatoriana e peruana, principalmente o povo Shuar. O crânio era removido e a pele fervida até encolher. O rosto era então moldado com pedras quentes e o cabelo era reimplantado.

Os exploradores europeus do século 19 que encontraram tsantsas as viram como "curiosidades exóticas" e as trocavam por objetos valiosos. Uma tsantsa valia uma arma: o preço mais alto que um objeto poderia obtertermostroca.

Portanto, embora as cabeças encolhidas não fossem originalmente um sinalriqueza, logo se tornaram mercadorias com valor monetário. E embora elas já existissem há muitos anos, foi o apetite dos colecionadores por eles na Europa que alimentou um comércio macabro dos itens.

Cabeça encolhida na Amazônia nos anos 1960

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O interesse dos europeus pelas cabeças alimentou guerras tribais na América

Com o tempo, a riqueza gerada por esse comércio tornou os Shuar muito mais poderosos do que seus inimigos, desencadeando guerras tribais e até episódioscaçacabeças que levaram a mais mortes,acordo com Van Broekhoven.

Também começaram a surgir tsantsas falsas, feitaspreguiças e macacos, conforme a demanda crescia na Europa.

"As pessoas começaram a fazer muitas falsificações. E não eram necessariamente [feitas pelos] Shuar, mas pessoas nas cidades que roubavam corposnecrotérios e encolhiam essas cabeças", diz ela.

Lady Richmond Brown observacoleçãocabeças encolhidas1925

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Colecionadores europeus acabaram comprando todas as tsantsas produzidas pelos Shuar

Práticas sagradas

Um dos problemas das falsificações é que tsantsas genuínas não erampessoas ou vizinhos assassinados ao caso, mas partepráticas cerimoniais sagradas, com um significado mais profundo, diz Van Broekhoven.

Era um tratamento concedido apenas aos mais ferozes líderes inimigos. O grupo indígena acreditava que com a prática poderia capturar o poderuma das múltiplas almas que acreditavam que as pessoas tinham. Os Shuar contemporâneos afirmam que seus ancestrais ocasionalmente encolhiam as cabeçasseus próprios líderes mortos como formahomenageá-los.

Os mortos tinham as pálpebras e a boca costuradas com fiosalgodão como formareter o espírito. Realizava-se então um ritual para pacificar o espírito da vítima e torná-la parte do grupo, "ligando assim os inimigos, os vivos e os mortos."

Mas na épocaque o governo equatoriano proibiu o comércio do item na década1960, o significado das cabeças encolhidas na Europa já tinha uma conotação muito diferente.

Poster do filme1933 "Ouro Selvagem" sobre uma expedição para a Amazônia, morta povo nativo como selvagem

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A cultura europeia e norte-americana apresentava povos nativos como 'selvagens'

O estereótipo do 'selvagem'

A essa altura, os Shuar já haviam negociado todas as suas tsantsastrocamercadorias. Na cultura popular ocidental, filmes e livros retratavam tanto os Shuar quanto outros povos amazônicos como assassinos bárbaros e incivilizados.

Van Broekhoven diz que a coleta dos restos mortais pelos europeus pode ser vista como "parte importante do projetocolonização", uma tentativamostrar superioridade sobre outros povos para justificar o colonialismo.

"As ideias da época giravamtornouma suposta 'evolução'povos selvagens, para bárbaros, para civilizados. No topo disso estariam os colonizadores", diz ela.

Líder Naga mostra coleçãocrânios humanos

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O povo Naga acreditava que cabeças humanas eram fontepoder

Troféusguerra

Tsantsas não são os únicos objetos da coleçãoPitt Rivers que ilustram essa questão, diz a diretora do museu. Crânios capturados pelos povos Naga do norte da Índia durante guerras também foram levados ao Reino Unidos como exemplo"barbárie" dos povos colonizados.

Os Nagas acreditavam no poder oculto da cabeça humana e os guerreiros Naga exibiam os crâniosseus inimigos caídos, acreditando que eles trariam prosperidade e abundância.

Acadêmicos coloniais britânicos descreveram os Nagas, que viviamrelativo isolamento, como "atrasados" e "muito abaixo na escala da civilização".

Mas Tezenlo Thong, um especialista com extensa pesquisa no assunto, diz que não havia evidênciasque os Nagas realmente caçavam cabeças. A decapitação só era aplicada no contextorituaisguerra, e parecia ser mais a exceção do que a regra. E também não era algo definidor da cultura Naga.

A invasão colonial do território Naga foi "um dos capítulos mais violentos da história da conquista britânica do subcontinente [indiano]". Mas a percepção que sobreviveu nas extensas escrituras coloniais e nas coleçõesobjetos da época é o estereótipo dos "caçadorescabeças" locais, que persiste até hoje.

"Há uma parte da sociedade que vê a história como um fato. Mas a história é escrita por indivíduos", afirma Van Broekhoven.

"A história das cabeças encolhidas, das cabeçastroféu Naga emuitos objetos que temosexibição foi escritanossos registros por colecionadoreselite, emmaioria brancos, que queriam provar suas ideiassuperioridade."

Áreaexibição do museu Pitt Rivers

Crédito, Pitts River Museum, University of Oxford

Legenda da foto, O museu Pitt Rivers tem uma coleçãocerca500 mil itens

Uma conversa difícil

Por enquanto, as tsantsas, os troféus Naga e outros restos mortais humanos presentes no museu serão trancados nos depósitos. A instituição afirma estar discutindo com representantes dos povos envolvidos que eles querem fazer uma curadoria dos objetos ou se seria o casorepatriar as peças.

A polêmica é tanto sobre os itenssi quanto sobre a visãooutras culturas que os museus oferecem ao público.

Embora muitos museus ocidentais, como Auschwitz e Sobibor, tenham sido planejados como memoriais para lembrar atrocidades, diz Dr. Van Broekhoven "o Pitt Rivers não foi concebido dessa forma, com esse objetivo. Então há uma grande diferença."

O Pitt Rivers é um dos maiores museusantropologia, etnografia e arqueologia do mundo, com maismeio milhãoitens — cerca10% dos quais estãoexibição. A instituição recebe 500 mil visitantes por ano.

Mas com 130 anoshistória e objetos intimamente ligados à expansão imperial britânica, Van Broekhoven diz que o museu não pode "fugirconversas difíceis".

Ela diz que a decisãoremover os itens da exibição teve reações mistas nas redes sociais. As gerações mais velhas são mais propensas a reagir negativamente, diz ela.

"Por que algumas pessoas sentem como se tivessem 'o direito'ver cabeças encolhidasOxford? E no direitovê-las apenas como uma coisa bizarra?"

Crânios sendo levados para o acervo

Crédito, Pitt Rivers Museum

Legenda da foto, Grande parte dos itens está ligada à expansão colonial britânica
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