Coronavírus: o velórioesporte bet aplicativobebê indígena morto com covid-19 que pode ter espalhado o vírusesporte bet aplicativoaldeiasesporte bet aplicativoMT:esporte bet aplicativo
Os indígenas, assim como a equipeesporte bet aplicativosaúde que acompanha os moradores da aldeia, alegam que não foram informados sobre a suspeitaesporte bet aplicativocovid-19.
A Opan aponta que o velório e o enterro da criança podem ter causado "transmissão descontrolada"esporte bet aplicativocovid-19 na aldeia. A situação pode dificultar ainda mais o combate ao vírus entre os indígenas xavante, que possuem uma estrutura precáriaesporte bet aplicativoatendimento à saúde.
Depois da morte do bebê, maisesporte bet aplicativo12 moradores da Marãiwatsédé testaram positivo para a covid-19.
Casosesporte bet aplicativoavanço do coronavírus, como na Marãiwatsédé, se tornaram comunsesporte bet aplicativodiversas etnias. Em meio ao crescimento exponencialesporte bet aplicativoregistros da covid-19 no país, que tem maisesporte bet aplicativo500 mil casos e maisesporte bet aplicativo32 mil mortes, entidades sociais buscam alternativas para proteger os indígenas.
Dados da Articulaçãoesporte bet aplicativoPovos Indígenas do Brasil (Apib) apontam que, até o momento, foram registradas cercaesporte bet aplicativo180 mortes por covid-19 entre indígenas e maisesporte bet aplicativo1,8 mil infecções no Brasil. Já a Secretaria Especialesporte bet aplicativoSaúde Indígena (Sesai) afirma que há 1,6 mil casos e 60 indígenas mortos pela covid-19.
Entre os mortos, há ao menos outros dois bebês, além do xavante que faleceuesporte bet aplicativo11esporte bet aplicativomaio. Dias antes, uma recém-nascida, com três diasesporte bet aplicativovida, faleceu com a covid-19, após apresentar dificuldades para respirar. Ela era da comunidade indígena da etnia pipipã, no municípioesporte bet aplicativoFloresta, no sertãoesporte bet aplicativoPernambuco.
Em Parelheiros, no extremo sulesporte bet aplicativoSão Paulo, um bebêesporte bet aplicativoum ano, da etnia guarani, morreuesporte bet aplicativodecorrência da covid-19 na Terra Indígena Tenondé Porã. Ele faleceu no fimesporte bet aplicativomarço, mas o resultado que apontou que o garoto tinha a covid-19 ficou pronto somente no inícioesporte bet aplicativomaio.
O povo Marãiwatsédé
A Terra Indígena Marãiwatsédé, que ficaesporte bet aplicativouma regiãoesporte bet aplicativotransição entre Cerrado e Amazônia, é marcada por conflitos. Em 1966, os indígenas foram retiradosesporte bet aplicativosuas propriedades. Posteriormente, teve início um imbróglio judicial para permitir que eles retornassem às suas terras. Em 2004, sem respostas concretas, os indígenas ocuparam parte das terras, que haviam sido tomadas por produtores rurais. Esse retorno dos indígenas foi regulamentado na Justiça somenteesporte bet aplicativo2012.
Hoje, a área da Terra Indígena Marãiwatsédé tem 165 mil hectares, divididosesporte bet aplicativonove aldeias. Ao todo, são 1.057 habitantes. Mais da metade dos moradores vive na aldeia central, onde o bebêesporte bet aplicativooito meses morava com a família.
Segundo relatosesporte bet aplicativoindigenistas que acompanham a aldeia, a criança apresentava problemasesporte bet aplicativosaúde havia semanas. O garoto estavaesporte bet aplicativoestado críticoesporte bet aplicativodesnutrição e desidratação — problema recorrente entre crianças xavante.
A mortalidade infantil é uma característica que marca diversos povos indígenas, entre eles os xavante. A situação piorou após a saídaesporte bet aplicativoprofissionais do Programa Mais Médicos da região. Uma reportagem da BBC News Brasil, publicadaesporte bet aplicativomarço deste ano, mostrou que o povo xavante registrou 47 mortesesporte bet aplicativobebês entre 2018 e 2019.
Para especialistas, o Sars-Cov-2, nome oficial do novo coronavírus, se torna um novo empecilho para as crianças das aldeias. Isso porque muitos podem ser mais suscetíveis ao vírusesporte bet aplicativodecorrênciaesporte bet aplicativofragilidades como a desnutrição. Para os mais velhos, segundo a Opan, os riscos são doenças pré-existente como diabetes e hipertensão.
Em meio ao avanço do novo coronavírus, a saúde indígena enfrenta precariedades. Na Marãiwatsédé, por exemplo, há uma Unidade Básicaesporte bet aplicativoSaúde Indígena que ficou quase um ano sem médico — um novo profissional chegou à região no início desta semana. No local há um dentista, uma enfermeira, quatro técnicosesporte bet aplicativoenfermagem — sendo que um estáesporte bet aplicativolicença — e quatro Agentes Indígenasesporte bet aplicativoSaúde (AIS). Os profissionais, que acompanham as nove aldeias Marãiwatsédé, atendemesporte bet aplicativoesquemaesporte bet aplicativoplantão.
"Se considerarmos que o totalesporte bet aplicativoprofissionais deve ser divididoesporte bet aplicativodois grupos com escalasesporte bet aplicativo20 diasesporte bet aplicativotrabalho por 10esporte bet aplicativodescanso, existem indíciosesporte bet aplicativoque, ao menos por um período, a equipeesporte bet aplicativoMarãiwatsédé fica mais incompleta ainda", aponta relatório da Opan.
O caso do bebê
O indigenista Marcos Ramires, da Opan, relata que os pais do bebêesporte bet aplicativooito meses decidiram levá-lo a uma unidadeesporte bet aplicativosaúdeesporte bet aplicativoBom Jesus do Araguaia somente quando os problemas da criança se agravaram. "Ele deu entrada na unidadeesporte bet aplicativosaúdeesporte bet aplicativoestado grave", diz Ramires.
A mãe e um parente acompanharam o garoto, que foi transferido para o Hospital Regionalesporte bet aplicativoÁgua Boa para que pudesse ser intubado. Ele passou por exames iniciais que apontaram a suspeitaesporte bet aplicativocovid-19. Os profissionaisesporte bet aplicativosaúde fizeram o teste molecular RT-PCR, utilizado para identificar o Sars-Cov-2.
A criança não resistiu às complicações causadas pela covid-19. Segundo Ramires, o corpo do menino foi liberado para a famíliaesporte bet aplicativoum caixão.
Na aldeia, o caixão foi aberto. Representantes da Opan relatam que os indígenas e a equipeesporte bet aplicativosaúde que atua no local não sabiam da suspeitaesporte bet aplicativocovid-19. "Pode ter havido esse aviso por parte dos profissionais do hospital para a mãe do bebê. Mas o problema é que muitos indígenas da região não compreendem perfeitamente o português. Era fundamental terem avisado ao DSei (Distrito Sanitário Especial Indígena) da região, para que fossem tomados os cuidados necessários", diz Ivar Luiz Busatto, coordenador-geral da Opan.
O velório do bebê reuniu diversas pessoas na residência da família, como é tradição entre os moradores da Marãiwatsédé. Marcos Ramires relata que os indígenas têm o hábitoesporte bet aplicativoter muita proximidade e até encostar brevemente no morto, como formaesporte bet aplicativorespeito. "Quando o morto é mais jovem, não costuma reunir muitas pessoas no velório. Mas quando é um ancião, é normal que venham pessoasesporte bet aplicativooutras aldeias para prestar solidariedade", diz o indigenista.
Ramires conta que parentes e conhecidos da família foram ao velório do garoto. Não há estimativasesporte bet aplicativoquantas pessoas participaram da cerimôniaesporte bet aplicativodespedida. Em seguida, o corpo do bebê foi enterrado no caixão,esporte bet aplicativouma área nas proximidades da aldeia.
O resultado do exame do garoto, que atestou que ele tinha a covid-19, ficou prontoesporte bet aplicativo19esporte bet aplicativomaio. Foi somente na data, segundo a Opan, que o DSei da região foi informado sobre a suspeitaesporte bet aplicativocoronavírus e sobre o resultado do exame. "Deveriam ter avisado sobre a suspeita desde o princípio. Não ter informado claramente sobre isso à equipeesporte bet aplicativosaúde que atende os indígenas é muito grave", critica Ramires.
"Estamos fazendo a investigação epidemiológica para identificar a fonteesporte bet aplicativoinfecção e adotando as medidasesporte bet aplicativoorientação, conscientização e busca ativa que são necessárias ao combate à covid-19", afirmou nota da Secretaria Especialesporte bet aplicativoSaúde Indígena (Sesai), subordinada ao Ministério da Saúde, logo após a divulgação do resultado do exame da criança.
A Secretariaesporte bet aplicativoSaúdeesporte bet aplicativoMato Grosso diz,esporte bet aplicativonota à BBC News Brasil, que foi informada sobre o caso da criança somente no diaesporte bet aplicativoque o resultado deu positivo. A pasta não comentou se o hospital informou os indígenas ou o DSei da região sobre a suspeitaesporte bet aplicativocovid-19.
A propagação do vírus
Após o resultado do exame, os xavante negaram que o bebê tivesse o vírus. Eles alegaram que a criança morreuesporte bet aplicativodecorrência da desnutrição e desidratação e por ter nascido prematura, aos seis meses.
Os pensamentos negacionistasesporte bet aplicativomuitos indígenas da região sobre o novo coronavírus podem ser ilustrados por um evento realizado dias antes da morte do garoto. Entre os dias 7 e 9esporte bet aplicativomaio, os indígenas realizaram um torneioesporte bet aplicativofutebolesporte bet aplicativoBarra do Garças (MT). O evento reuniu cercaesporte bet aplicativomil pessoas.
O Ministério Público Federal (MPF)esporte bet aplicativoBarra do Garças, que havia orientado que o evento não fosse realizado, abriu um procedimento para apurar o caso. A entidade também investiga se familiares do bebê que morreu com a covid-19 estiveram no local, para apurar possível origem da infecção do garoto.
O modo como a criança contraiu o vírus ainda é considerado um mistério. A principal suspeita éesporte bet aplicativoque o bebê, que não havia saído da aldeia semanas antesesporte bet aplicativomorrer, tenha sido infectado por um indígena ou não indígena que tinha sintomas leves.
Dias depois do falecimento da criança, um idosoesporte bet aplicativo70 anos, da mesma aldeia, foi internado com a covid-19 e permaneceesporte bet aplicativoestado grave. Posteriormente, o avô materno do bebê também testou positivo para a covid-19 — o homem já recebeu alta e retornou para a aldeia.
No início desta semana, 10 indígenasesporte bet aplicativodiferentes aldeias da Marãiwatsédé também tiveram exames positivos para o novo coronavírus.
Os casos acenderam alerta na região. Entre as principais dificuldades no combate ao novo coronavírus entre os indígenas estão: a proximidade entre as moradias nas aldeias, o hábitoesporte bet aplicativoaglomeração entre os povos e as diversas gerações que moramesporte bet aplicativouma única casa.
Entidades que auxiliam os indígenas buscam formasesporte bet aplicativoconscientizá-los sobre o tema. Nas aldeias, há diversas ações nesse sentido, principalmente por meio das equipesesporte bet aplicativosaúde que atuam nos locais.
"Os comunicados para os indígenas existem desde o começo da pandemia. Uma coisa é a informação chegar, a outra é eles compreenderem e incorporar aqueles cuidados. Existe muita resistência, mas isso está diminuindo com o aumentoesporte bet aplicativocasos", afirma Ramires.
O crescimentoesporte bet aplicativonúmerosesporte bet aplicativocasos na região, segundo o indigenista, fez com que os habitantes da Terra Indígena Marãiwatsédé compreendessem a importância dos cuidados durante o períodoesporte bet aplicativopandemia.
"Teoricamente, eles estãoesporte bet aplicativoisolamento. Mas, na prática, as coisas não estão assim. Muitos ainda vão para as cidades. Recentemente, começaram a usar máscaras. Mas noto que estão mais preocupados com o assunto desde a semana passada. Parece que com os casos aumentando, estão entendendo o que estamos vivendo", acrescenta Ramires.
Após a publicação da reportagem, a Sesai disse,esporte bet aplicativonota à BBC News Brasil, que o DSei da região realiza investigação epidemiológica para identificar como a criança xavante foi infectada. A pasta afirmou ainda que está adotando todas as medidasesporte bet aplicativoorientação e conscientização necessárias para o combate à covid-19.
Também depois da publicação da reportagem, a Fundação Nacional do Índio (Funai) encaminhou nota na qual afirma que recomendou o isolamento social para as comunidades indígenas desde o começo da expansão da covid-19.
"No dia 18esporte bet aplicativomarço deste ano, o presidente da fundação, Marcelo Xavier, suspendeu provisoriamente a autorização para a entradaesporte bet aplicativopessoas não indígenas nas Terras Indígenas", diz a entidade. A Funai afirma que tem apoiado barreiras sanitárias para impedir a entradaesporte bet aplicativonão indígenasesporte bet aplicativoaldeias e auxiliadoesporte bet aplicativoaçõesesporte bet aplicativoconscientização sobre os riscos do coronavírus nessas regiões,esporte bet aplicativoparceria com governos locais.
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