Golpe a nacionalismo e impulso a cooperação: como crise do coronavírus pode afetar futuro global:h2bet instalar
Essas foram algumas das questões levantadas a partirh2bet instalarum artigo escrito no fimh2bet instalarfevereiro pelo filófoso italiano Giorgio Agamben.
Nas últimas décadas, Agamben se notabilizou por obrash2bet instalarque analisou medidash2bet instalar"estadoh2bet instalarexceção" adotadas por governos ocidentais sob a justificativah2bet instalarcombater o terrorismo.
Segundo o filósofo, essas medidas — como a difusãoh2bet instalardispositivosh2bet instalarcontroleh2bet instalarmídias digitais e o escaneamentoh2bet instalaraeroportos — acabaram se aplicando a todos os cidadãos, fazendo com que o estadoh2bet instalarexceção se tornasse a norma e abarcasse toda a sociedade.
Estadoh2bet instalarexceção como normal
Em um texto publicadoh2bet instalar25h2bet instalarfevereiro no jornal italiano Il Manifesto, Agamben avaliou que a pandemia do novo coronavírus estava reforçando a tendência "de se utilizar o estadoh2bet instalarexceção como paradigma normalh2bet instalargoverno".
Ele criticou um decreto-lei publicado pelo governo italiano com uma sérieh2bet instalarmedidas para tentar conter a doença, como o fechamentoh2bet instalarescolas, a proibiçãoh2bet instalareventos e o bloqueio a áreas afetadas.
Segundo Agamben, as medidas haviam promovido uma "verdadeira militarização" do país, embora, segundo ele, a covid-19 fosse equivalente a uma "gripe normal".
Para o filósofo, autoridades e meiosh2bet instalarcomunicação italianos estavam espalhando "um climah2bet instalarpânico" sobre a pandemia para justificar a adoçãoh2bet instalarmedidas restritivas.
"Parece que, por ter se esgotado o terrorismo como causah2bet instalarmedidas emergenciais, a invençãoh2bet instalaruma epidemia poderia oferecer o pretexto ideal para estendê-las alémh2bet instalartodos os limites", escreveu o filósofo.
Solidariedade global
O texto foi rebatido por vários acadêmicos, que discordaram da análiseh2bet instalarAgamben sobre a baixa periculosidade da pandemia.
Em um artigo no site The Philosophical Salon, mantido pela revista literária Los Angeles Review of Books, o filósofo esloveno Slavoj Žižek disse que a criaçãoh2bet instalarum pânico artificialh2bet instalartorno da pandemia não seria do interesseh2bet instalargovernos, pois perturbaria a economia e ampliaria o desgaste das autoridades perante a população.
"São claros os sinaish2bet instalarque, não apenas as pessoas comuns, mas também os poderes estatais estãoh2bet instalarpânico, plenamente conscientesh2bet instalarnão serem capazesh2bet instalarcontrolar a situação", afirmou o esloveno.
Žižek reconhece que as quarentenas impostas pelos governos limitaram a liberdade, mas aponta para um possível desdobramento positivo da crise atual.
Segundo ele, "a ameaçah2bet instalarinfecção viral também deu um tremendo impulso a novas formash2bet instalarsolidariedade local e global, alémh2bet instalardeixar clara a necessidadeh2bet instalarcontrole sobre o próprio poder".
O filósofo cita, como prova da necessidadeh2bet instalarcontrole do poder, a atitudeh2bet instalarautoridadesh2bet instalarWuhan — cidade chinesa onde a doença surgiu — que omitiram informações iniciais sobre o surto, atrasando a adoçãoh2bet instalarmedidash2bet instalarcontenção.
Resposta global
Žižek diz que a pandemia também pôsh2bet instalarxeque governos que tratam a soberania nacional como valor supremo e dão pouca atenção ao que ocorre forah2bet instalarsuas fronteiras.
Afinal, diz ele, a Organização Mundialh2bet instalarSaúde (OMS) tem dito que somente uma resposta articulada globalmente permitirá um combate eficiente contra a pandemia.
"Esta epidemia pode ser evitada, mas apenas com uma abordagem coletiva, coordenada e abrangente que envolva todo o mecanismo do governo ", disse,h2bet instalar5h2bet instalarmarço, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Segundo Žižek, um dos governos mais pressionados pela pandemia é oh2bet instalarDonald Trump, que se elegeu com o slogan "América primeiro" e vinha dando pouca atenção a organismos internacionais, mas agora é cobrado a participar dos esforços globais para conter a pandemia.
Žižek diz que "a presente crise demonstra claramente como a solidariedade e a cooperação globais são do interesse da sobrevivênciah2bet instalarcada umh2bet instalarnós, que é a única coisa racionalmente egoísta a se fazer."
Fim da globalização?
Em 8h2bet instalarmarço o economista Will Huton, diretor do Hertford College, da Universidadeh2bet instalarOxford, publicou no jornal britânico The Guardian um artigo intitulado "O coronavírus não acabará com a globalização, mas a mudará para muito melhor".
Nele, ele diz que, com a pandemia, "uma formah2bet instalarglobalização não regulamentada eh2bet instalarlivre mercado, comh2bet instalarpropensão a crises e pandemias, certamente está morrendo".
"Mas outra forma que reconhece a interdependência e a primazia da ação coletiva baseadah2bet instalarevidências está nascendo", afirmou.
Para Huton, haverá mais pandemias no futuro, e elas forçarão os governos a investir na saúde pública e a respeitar a ciência — assim como adotar providências semelhantes quanto às mudanças climáticas, ao cuidado dos oceanos, às finanças e à cybersegurança.
Compartilhamentoh2bet instalarinformações
Autor dos bestsellers Sapiens e Homo Deus, o historiador e filósofo israelense Yurval Harari publicou um artigo com conclusões semelhantes na revista Time,h2bet instalar15h2bet instalarmarço.
Nele, Harari afirma que muitas pessoas têm culpado a globalização pela pandemia do coronavírus e defendido "desglobalizar" o mundo — construindo muros, restringindo viagens e limitando o comércio — para evitar novas ocorrências desse tipo.
Porém, diz ele, embora restriçõesh2bet instalarcurto prazo sejam essenciais para limitar a propagação do vírus, "o isolacionismo no longo prazo só levará ao colapso econômico, sem oferecer nenhuma proteção real contra doenças infecciosas".
"O real antídoto contra a epidemia não é segregação, mas cooperação", defende.
Segundo Harari, a história mostra que o compartilhamentoh2bet instalarinformações científicas e a solidariedade global são as principais armas para combater crises como esta.
Para o israelense, "a coisa mais importante que as pessoas precisam entender sobre essas epidemias é que a propagação da epidemiah2bet instalarqualquer país ameaça a espécie humana inteira".
Ele afirma que, se pandemia ampliar as divisões e desconfianças entre os humanos, "será a maior vitória do vírus".
Já se ela provocar uma maior cooperação global, "será uma vitória não só contra o coronavírus, mas contra todos patógenos futuros".
EUA X China
As formas como a China e os EUA têm reagido à pandemia também têm sido analisadas por pensadores, que tentam prever como a crise atual afetará a disputa entre os dois países mais poderosos do mundo.
Gideon Rachman, principal colunistah2bet instalarpolítica externa do jornal britânico Financial Times, publicouh2bet instalar16h2bet instalarmarço um artigo no qual diz que a China tem conseguido mudar as percepções sobreh2bet instalarreação à pandemia.
Inicialmente criticada por ter censurado e punido médicos que alertaram sobre a gravidade da covid-19, a China tem conseguido conter novas infecções após medidas drásticas adotadas pelo governo.
Por outro lado, a doença vem avançando rapidamente na Europa e nos EUA, gerando dúvidas sobre a capacidadeh2bet instalarreação dos governos ocidentais.
O númeroh2bet instalarmortos pela covid-19 na Itália, país europeu mais afetado pela pandemia, ultrapassouh2bet instalarmuito o totalh2bet instalarmortos na China, embora o país asiático tenha 23 vezes mais habitantes que o europeu e esteja exposto ao vírus há mais tempo.
Rachman afirma que,h2bet instalarparte, a relutânciah2bet instalareuropeush2bet instalaradotar medidas duras contra a epidemia, permitindo que os casos se multiplicassem rapidamente, reflete "as dificuldades que democracias terãoh2bet instalarmanter restriçõesh2bet instalarestilo chinês por longos períodos".
"Com a Espanha, a Itália e a França impondo duros controles sobre o movimento das pessoas, as capacidades administrativas e sociais da democracia europeia estão enfrentando um testeh2bet instalarestresse extraordinário", diz.
Para Rachman, os resultados distintosh2bet instalarchineses e países ocidentais no enfrentamento da epidemia farão com que "a crençah2bet instalarque a China estáh2bet instalarascenção eh2bet instalarque o Ocidente estáh2bet instalarinexorável declínio ganhe novos adeptos".
O cenário também encorojará argumentos pró- autoritarismo e anti-democracia tanto na China quanto no Ocidente, diz ele.
"A última crise global - o colapso financeiroh2bet instalar2008 — desencadeou uma perda da autoconfiança ocidental e uma mudança do poder político e econômico para a China. A crise do coronavírush2bet instalar2020 poderá forçar uma mudança muito maior na mesma direção", diz o analista.
Democracias bem-sucedidas na resposta
Racham ressalva, no entanto, que países democráticos na Ásia — como a Coreia do Sul, Singapura e Taiwan — também têm tido sucesso na contenção do vírus sem recorrer à paralisação total.
Esses países, diz o analista, aplicaram examesh2bet instalardetecçãoh2bet instalarlarga escala e foram rápidosh2bet instalaradotar o distanciamento social - medidas que, segundo ele, os EUA e a União Europeia provavelmente levaram muito tempo para encampar.
Outra ressalva feita por Rachman é que, apesar do aparente sucesso chinêsh2bet instalarconter o vírus, o país ainda teráh2bet instalarresponder "como deixaram o vírus fugir do controleh2bet instalarprimeiro lugar, e o que vai acontecer quando as restriçõesh2bet instalarmovimento forem aliviadas".
Resposta dos EUA
Outro elemento a se considerar nos desdobramentos da crise é como os EUA reagirão, escrevem Kurt Campbell e Rush Doshih2bet instalarartigo para a revista Foreign Affairs,h2bet instalar18h2bet instalarmarço.
Eles argumentam que a posição dos EUA como um líder global nas últimas sete décadas foi construída não sóh2bet instalarcimah2bet instalarriqueza e poder, mas também nah2bet instalarcapacidade e disposiçãoh2bet instalarcoordenar reações a crises globais, na legitimidadeh2bet instalarsua governança doméstica e nah2bet instalarofertah2bet instalarbens para outras nações.
"A pandemia do coronavírus está testando todos os três elementos da liderança dos EUA. Até agora, Washington está sendo reprovada no teste", afirmam.
Eles dizem que os EUA têm evitado assumir um papelh2bet instalarliderança global no enfrentamento da pandemia — postura distinta da adotada no governo Barack Obama durante a crise do ebola, na África,h2bet instalar2014.
Afirmam ainda que os EUA hoje dependemh2bet instalarimportações para suprir suas necessidadesh2bet instalarequipamentos e medicamentos contra a covid-19 e têm fracassadoh2bet instalarexaminar casos suspeitos.
"A China,h2bet instalarcontraste, tem promovido uma campanha diplomática intensa para reunir dúziash2bet instalarpaíses e centenash2bet instalarautoridades, geralmente por videoconferência, para compartilhar informações sobre a pandemia e lições da experiência da própria China no combate à doença", argumentam.
O país asiático é ainda o maior produtorh2bet instalarmáscaras e outros equipamentos usados contra a pandemia.
"Quando nenhum país europeu respondeu ao pedido urgente da Itália por equipamentos médicos eh2bet instalarproteção, a China publicamente se comprometeu a enviar mil ventiladores, 2 milhõesh2bet instalarmáscaras, 100 mil respiradores, 20 mil aventaish2bet instalarproteção, e 50 mil kitsh2bet instalarexame", dizem.
A China também enviou equipes médicas e 250 mil máscaras ao Irã, alémh2bet instalarenviar equipamentos para a Sérvia. O fundador da Alibaba, gigante chinesah2bet instalarcomércio eletrônico, se comprometeu a enviar kitsh2bet instalarexame e máscaras para os EUA, alémh2bet instalar20 mil kitsh2bet instalarexame e 100 mil máscaras para cada um dos 54 países africanos.
Os autores defendem que,h2bet instalarvezh2bet instalarse contrapor aos chineses na reação à pandemia, os EUA deveriam coordenar seus esforços com Pequim para desenvolver uma vacina contra a covid-19, socorrer a economia global, compartilhar informações, mobilizar indústrias para produzir equipamentos médicos e oferecer ajuda a outros países.
"No fim das contas, o coronavírus pode até servir como um alerta, promovendo o progresssoh2bet instalaroutros desafios globais que requerem a cooperação EUA-China, como as mudanças climáticas", diz o artigo.
"Esse passo não deve ser visto — e não seria visto pelo resto do mundo — como uma concessão ao poder chinês. Em vez disso, ele ajudaria a restaurar a fé no futuro da liderança americana."
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