'Vi corpos trazidosapostas grátisuma caçamba': a trágica história dos indígenas hostilizados por deputadoapostas grátisRoraima:apostas grátis

Waimiri-Atroari

Crédito, Tribunalapostas grátisJustiça do Amazonas

Legenda da foto, Hoje, os índios Waimiri-Atroari são apenas 2.009 pessoasapostas grátisseu território original

No ato, transmitido pela internet, Alves diz que vai livrar seu Estado da corrente, que restringe o acesso entre as cidadesapostas grátisManaus (AM) e Boa Vista (RR).

"Se dependerapostas grátismim essa corrente nunca mais vai deixar meu Estado isolado", afirma no vídeo. São os indígenas que fazem a manutenção diária do bloqueio, necessário para evitar acidentes com animais e pessoas dentro da reserva.

As hostilidades entre poder público e a etnia, entretanto, datamapostas grátismuito antes. Segundo o Comitê Estadual da Verdade do Amazonas, a região contém centenasapostas grátisvítimas da ditadura enterradas clandestinamente.

Os Waimiri-Atroari quase desapareceram durante a abertura da rodovia BR-174:apostas grátispouco maisapostas grátis3.000 indivíduos nos anos 1960, segundo dados da Funai, a população caiu drasticamente para 332 indígenasapostas grátis1982,apostas grátisacordo com Stephen Baines, que percorreu todas as aldeias no início da década.

Hoje, são 2.009, segundo dados do Instituto Socioambiental (ISA).

Na décadaapostas grátis1970, o posto do Jundiá,apostas grátisRorainópolis, era parteapostas grátisuma região conhecida como "Terraplanagem" — graças à técnica usada ali na construção da BR-174.

Manoel Paulino foi chefeapostas grátiscampo da Funai durante a abertura do trecho: suas memórias revelam o que a BR-174 esconde no local.

"Eu vi corpos dos índios trazidosapostas grátisuma caçamba e serem jogados no buraco da terraplanagem [em Jundiá, Rorainópolis]. Vi cinco caçambas com índios. Eu vim embora porque adoeci e pedi para ir embora", disse Paulino ao Comitê Estadual da Verdade do Amazonas,apostas grátis2012.

O comitê teve acesso a relatórios da Funai que reforçam a hipótese. Só entre 1972 e 1975, na primeira fase das obras, pelo menos 10 aldeias Waimiri-Atroari teriam desaparecido entre Santo Antônioapostas grátisAbonari e as margens do rio Alalaú.

Tanto o Exército quanto a Polícia Federal não responderam à BBC News Brasil sobre o envioapostas grátishomens à região. O deputado estadual Jeferson Alves não respondeu às solicitações da reportagem até a publicação do texto.

Em nota, a Funai afirmou que, "por meio da Frenteapostas grátisProteção Etno Ambiental Waimiri Atroari, atua permanentemente no local prestando apoio ao indígenas da região,apostas grátisconstante contato com a Polícia Rodoviária Federal e com a Polícia Federal".

Waimiri-Atroari

Crédito, Casaapostas grátisCultura Urubuí

Legenda da foto, Por defenderem suas terras, os Waimiri-Atroari foram chamadosapostas grátishostis, o que legitimou uma sérieapostas grátisabusos

Da 'pacificação' às incursões armadas

A relação dos Kinja — modo como os Waimiri-Atroari se denominam — com não indígenas nunca foi das melhores. Desde o século 19, eles batalharam com invasores interessados nas riquezasapostas grátissuas terras.

A reserva tem maisapostas grátis2,5 mil hectares oficialmente demarcados, mais que o dobro do municípioapostas grátisSão Paulo, com castanhais, espéciesapostas grátismadeiras nobres e, acimaapostas grátistudo, muitos minérios estratégicos como cassiterita, nióbio e pedras preciosas.

Por resistirem, os Kinja foram tachadosapostas grátisagressivos e hostis. A má fama serviu para legitimar abusos, como revela o indigenista José Apoena Soaresapostas grátisMeireles. Ele foi um dos que conduziu os trabalhos da Funai durante a construção da BR-174.

Apoena escreveu uma carta à presidência da autarquiaapostas grátis1975, relatando dificuldades. Nela, diz: "índios bandoleiros, maus, perversos, assim são hoje vistos os Waimiri-Atroari. Mas a verdade é que nós os tornamos assim aos olhos da opinião pública para justificarmos uma sérieapostas grátiserros".

Era um momentoapostas grátisforte tensão entre os Kinja e os militares.

O episódio mais grave ocorreuapostas grátisnovembroapostas grátis1974, quando o sertanista Gilberto Figueiredo e outros três servidores federais morreram no posto avançadoapostas grátisSanto Antônioapostas grátisAbonari.

A partir dali, os militares subiram o tom: acionado, o 1º Batalhãoapostas grátisInfantariaapostas grátisSelva (BIS) foi encarregadoapostas grátisabrir caminho a qualquer custo.

Hoje professor na Universidadeapostas grátisBrasília (UnB), o antropólogo Stephen Baines foi um dos que testemunharam os conflitos. Ele foi à regiãoapostas grátis1975 seguindo a trilha do rio Alalaú, interessado no que acontecia durante a abertura da rodovia.

À BBC News Brasil, o professor lembra que havia uma políticaapostas grátis"portas fechadas"apostas grátisrelação a civis, afastando-os dos pontos por onde o 1º BIS passava.

"Era muito difícil conseguir autorização para acompanhar [os Waimiri-Atroari]. Chefes da Funai e dos batalhões me criaram muitos problemas, tive atéapostas grátissair do Brasil, e só voltei à regiãoapostas grátis1982, quando os Waimiri-Atroari haviam quase desaparecido", afirma Baines.

À época, o 6º Batalhãoapostas grátisEngenhariaapostas grátisCombate (BEC) e outros trabalhadores aguardavam enquanto o 1º BIS abria caminho.

Raimundo Pereira da Silva foi um dos que trabalhou na área,apostas grátis1971 a 1977. Ao Comitê Estadual da Verdade do Amazonas, relatou: "Um dia, vi passando 43 carros do [1º] BIS, cheioapostas grátissoldados, jipes, carros camuflados. Lembro que eram 43 porque contei. Passaram dois aviões do BIS".

"Eu fiquei impressionado porque, antes do Exército entrar, a gente viu muito índio. Depois que [o BIS] entrou, nós não vimos mais índios", disse Silva.

O Comando Militar da Amazônia, responsável pelos batalhões que atuaram ali durante a abertura da rodovia, também não se posicionou sobre os possíveis crimes cometidos nos anos 1970.

Waimiri-Atroari

Crédito, Egydio Schwade

Legenda da foto, Foto do acervo do indigenista Egydio Schwade que, ao lado da mulher, Dorothy, reuniu-se com frequência com os Waimiri-Atroari no início dos anos 1980

Bombardeios

O depoimentoapostas grátisViana Womé Atroari, um dos sobreviventes da repressão, narra também bombardeios feitos pelo 1º BIS na região.

"Foi assim, tipo bomba, lá na aldeia. O índio que estava na aldeia não escapou ninguém. Ele veio no avião eapostas grátisrepente esquentou tudinho, aí morreu muita gente", disse Viana no documentário AmazôniAdentro, exibido pela TV Brasil.

Os indigenistas Dorothy e Egydio Schwade, logo no início dos anos 1980, também ouviram relatos parecidos. O casal foi pioneiro na alfabetização dos Waimiri-Atroari, utilizando métodos inspiradosapostas grátisPaulo Freire, por meio dos quais conheceram detalhes dos bombardeios.

"Tão logo tiveram confiançaapostas grátisaula, as perguntas se sucediam: 'Por que kamña (civilizado) matou Kiña (Kinja, os Waimiri-Atroari)?', 'O que é que kamña jogou do avião e matou Kiña?'", disse Egydio ao Comitê Estadual da Verdade do Amazonas.

À BBC News Brasil, o indigenista conta que os militares e a Funai dificultavam o acesso ao território. "Assim que soubemos dos massacres, documentamos tudo que pudemos, mas nossa presença deixouapostas grátisser bem vinda", afirma Egydio.

Ao divulgarem suas descobertas, os dois foram expulsos da reserva pela Funai,apostas grátisdezembroapostas grátis1986.

Os relatos ao longo dos anos levantaram suspeitas, nunca comprovadas, da utilização da arma química napalm (um conjuntoapostas grátislíquidos inflamáveis, conhecido após seu uso durante a Guerra do Vietnã) contra os indígenas.

Décadas depois, a jornalista Memélia Moreira revelou mais detalhes. Em depoimento à Comissão Estadual da Verdadeapostas grátisSão Paulo, narrouapostas grátisviagem pelos igarapés amazônicos até o postoapostas grátisSanto Antônio do Abonari, nos anos 1970.

"Eu vi que tinha uma coisa não natural, boiando... não era bem um tubo, mas parecia que eraapostas grátisnapalm. E eu vi a marca, eu conhecia a marcaapostas grátisum dos fabricantesapostas grátisnapalm, era Tordon", afirmou a jornalista.

"Peguei e botei na minha mochila e vim-me embora, não troquei uma palavra sobre, porqueapostas grátis1974 a gente já sabia que eles [militares] tinham usado napalm no Vale do Ribeira, na Guerrilha do Araguaia, e nos Nambikwaras", disse Memélia à Comissão da Verdade paulista.

Pela gravidade das denúncias, o Ministério Público Federal intercedeu. O MPF no Amazonas entrou com uma ação civil pública contra o Estado brasileiro pelos crimes contra os Waimiri-Atroari. Em 1ª instância, a Justiça Federal reconheceu,apostas grátisdecisão liminar, os crimes contra os indígenas.

A decisão ainda determinou que a União enviasse cópiasapostas grátisarquivos do 6º Batalhãoapostas grátisEngenhariaapostas grátisConstrução e do 1º BIS "que digam respeito aos fatos discutidos no processo, relativos ao períodoapostas grátis1967 a 1977".

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região derrubou esta primeira decisão e mandou o casoapostas grátisvolta à 1ª instância. O processo estáapostas grátisandamento na 3ª Vara Federal do Amazonas, com a convocaçãoapostas grátistestemunhas, coletaapostas grátisprovas e oitivas com os indígenas, sem nova sentença pela Justiça.

Procurada pela BBC News Brasil, a Funai disse que a Advocacia-Geral da União (AGU) é quem responde ao caso. A AGU, porapostas grátisvez, disse que a União e a Funai ainda não foram intimadas no processo.

A espera por um desfecho se soma ao recente casoapostas grátisagressão contra a etnia, pelo deputado Jeferson Alves. A Justiça Federal determinou o envioapostas grátisreforço do Exército e da Polícia Federal às terras Waimiri-Atroari, para proteção dos indígenas.

Após o fechamento da reportagem, o deputado Jeferson Alves enviou nota à BBC News Brasil,apostas grátisque afirma que a BR-174 "é responsável pelo tráfegoapostas grátispessoas e logístico entre o Brasil e a Venezuelaapostas grátisforma direta, bem como, por escoamento, entre o Brasil e a Guiana Inglesa e demais países do norte da América do Sul".

"Tendoapostas grátisvista à singularidade da malha rodoviáriaapostas grátiscomento, toda e qualquer turbação ou soluçãoapostas grátiscontinuidade no seu trecho, por obra das intempéries climáticas ou através da ação humana, é fatorapostas grátisefetivo prejuízo para os cidadãos, acarretados pela demora na já penosa viagem."

O deputado afirmou ainda queapostas grátisnenhum momento ele ou qualquer membroapostas grátissua equipe, agrediu ou usouapostas grátisviolência contra os Waimiri-Atroari.

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