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A luta pela sobrevivência das onças da Caatinga:aposta libertadores hoje
Crédito, Roland Brack/Getty Images
Conservação x energia eólica
Há dois anos, uma áreaaposta libertadores hoje347 mil hectares do Boqueirão da Onça foi transformadaaposta libertadores hojeparque nacional por um decreto do então presidente Michel Temer (MDB). Isso significa que a fauna e a flora dentro dos limites do parque devem ser conservadas sem nenhum tipoaposta libertadores hojeexploração.
A criação do parque foi vista como boa notícia para as espéciesaposta libertadores hojeextinção na Caatinga, como a própria onça, a arara-azul-de-lear e o tatu-bola.
Por outro lado, uma área maior,aposta libertadores hoje505 mil hectares, foi transformadaaposta libertadores hojeÁreaaposta libertadores hojeProteção Ambiental (APA) do Boqueirão. Diferente do que acontece com o parque, essa classificação permite exploração comercial desde que os planosaposta libertadores hojemanejo sustentável sejam respeitados.
Crédito, Roland Brack/Divulgação
Inicialmente, a esperança dos ambientalistas eraaposta libertadores hojeque todo o Boqueirão da Onça virasse um parque nacional — ou seja, isso garantiria mais espaço para a preservação total do bioma e dos animais.
Mas a região é muito visada por empresasaposta libertadores hojegeraçãoaposta libertadores hojeenergia eólica, que têm cada vez mais instalado fazendas por ali. Portanto, a criação da APA foi benéfica para as companhias, que agora podem explorar o potencial energético da área.
"O Boqueirão é um filé mignon para essas empresas, pois ele tem um grande potencialaposta libertadores hojegeraçãoaposta libertadores hojeenergia. Há muitos pontosaposta libertadores hojemorro, onde há uma incidência constanteaposta libertadores hojeventosaposta libertadores hojeboa velocidade", explica Felipe Melo, pesquisadoraposta libertadores hojeEcologia da Universidade Federalaposta libertadores hojePernambuco, que estuda os impactos ambientais da energia eólica na Caatinga.
Para se instalaraposta libertadores hojeuma APA, as companhias precisamaposta libertadores hojelicenças ambientais e relatóriosaposta libertadores hojeimpactos, embora estudos mais aprofundados sobre como as onças são afetadas pelas torres e linhasaposta libertadores hojetransmissão ainda estejamaposta libertadores hojeestágio inicial.
Porém, pesquisadores já têm notado que a proliferação das fazendasaposta libertadores hojeenergia e a maior presençaaposta libertadores hojeseres humanos no habitat estão diminuindo o espaço disponível para as onças caçarem suas presas naturais — obviamente, os animais não respeitam os limites burocráticos que separam a APA do parque nacionalaposta libertadores hojeconservação. A longo prazo, dizem biólogos, o encurtamento do território pode afetar o bem-estar e até a sobrevivência desses grandes felinos.
"As onças da Caatinga são muito sensíveis a qualquer alteraçãoaposta libertadores hojeseu habitat", explica a bióloga Claudia B. Campos, ex-coordenadora e atual colaboradora do projeto Amigos da Onça. "A parda até tolera um pouco mais a presença humana. Já a pintada, não. Ela dificilmente vai até pontos onde há intervenção ou presença do homem."
Crédito, Marilia Barros
A bióloga Carolina Franco Esteves, também pesquisadora do Programa Amigos da Onça, conta que o projeto conseguiu monitorar as andançasaposta libertadores hojeuma onça-parda, apelidadaaposta libertadores hojeVitória, por meioaposta libertadores hojecoleirasaposta libertadores hojerastreamento.
"Em 10 mesesaposta libertadores hojemonitoramento, percebemos queaposta libertadores hojenenhum momento ela se aproximou das torresaposta libertadores hojegeraçãoaposta libertadores hojeenergia", afirmou à BBC News Brasil. "Quando queria chegaraposta libertadores hojealgum ponto para caçar ou beber água, ela dava uma volta por fora das torres, mesmo que não houvesse ninguém por ali."
Para Melo, esses impactos negativos "poderiam ser minimizados" se as empresas que atuam na Caatinga "dialogassem" mais com entidades e órgãosaposta libertadores hojeconservação. "A energia eólica tem menos impacto ambiental, mas não significa que não exista. É preciso saber exatamente como áreas sensíveis são afetadas e tentar diminuir esses impactos, e não escondê-los", diz.
Em nota, a Associação Brasileiraaposta libertadores hojeEnergia Eólica (Abeeólica) afirmou que "tem monitorado constantemente" comunidadesaposta libertadores hojeanimais silvestres nas região do Boqueirão.
"Isso ajudará,aposta libertadores hojeforma bastante significativa a médio e longo prazo, a monitorar e compreender os reais fatores que podem contribuir com quaisquer alteraçõesaposta libertadores hojeriqueza das espécies", diz a entidade.
A associação também afirma que as fazendasaposta libertadores hojegeraçãoaposta libertadores hojeenergia, alémaposta libertadores hojeevitar incêndios e gerar renda para produtores rurais, também "inibem a presençaaposta libertadores hojecaçadores e a supressão ilegal (de vegetação), ameaças concretas à preservação destes animais".
Onças x rebanhos
Além das torresaposta libertadores hojeenergia, as onças da Caatinga enfrentam outro desafio, segundo pesquisadores: o conflito direto com o homem. A caça ilegal para a vendaaposta libertadores hojepele, por exemplo, já matou muitos indivíduos, principalmente nos anos 1970, segundo a bióloga Claudia B. Campos.
Crédito, Roland Brack/Divulgação
Já a caçaaposta libertadores hojeoutros animais, como veados e porcos do mato, continua afetando os felinos diretamente, pois eles ficam com menos recursos para se alimentar.
Outro tipoaposta libertadores hojeconflito também tem atrapalhado a sobrevivência das onças na Caatinga: a competição com criadoresaposta libertadores hojeovinos e caprinosaposta libertadores hojeseis pequenas cidades que estão dentro do perímetro do Boqueirão.
"A Caatinga tem praticamente duas estações no ano: chuva e seca. Na época da seca, os criadores têm dificuldade para alimentar e prover água para o rebanho. Por isso, os animais ficam soltos para encontrar alimento", explica Campos. "Então, há o encontro entre a onça e o rebanho. E, obviamente, o predador vai atacar os animais."
Os pesquisadores notaram que a perda dos bichos fazia com que alguns criadores procurassem os felinos para abatê-los — muitas vezes com sucesso. A esperança deles eraaposta libertadores hojeque, sem onças por perto, o rebanho ficasse livreaposta libertadores hojeinfortúnios.
A caça ilegal e o abate frequente são trágicos para a preservação das duas espécies, pois a população não consegue se reproduzir no mesmo ritmo das mortes. Cada fêmea só procria a cada dois anos, e tem uma gestaçãoaposta libertadores hojetrês meses — depois, ela ainda fica até um ano e meio cuidando do filhote.
Para tentar diminuir esses conflitos, o Programa Amigos da Onça procurou os moradores para explicar a importância da conservação das espécies — parte deles já se engajou na proteção aos felinos. Nos últimos anos, a ONG construiu 18 currais para agricultoresaposta libertadores hojeduas comunidades da região.
Crédito, Roland Brack/Divulgação
"A ideia é diminuir o tempoaposta libertadores hojeque os rebanhos ficam expostos na Caatinga, principalmente à noite, quando as onças normalmente saem para caçar", explica a bióloga Carolina Franco Esteves.
Um estudo da ONG apontou que as estruturas construídas conseguiram reduziraposta libertadores hojeaté 23% o númeroaposta libertadores hojeperdasaposta libertadores hojeanimaisaposta libertadores hojerebanhos — o que acaba tirando os felinos do foco dos agricultores.
Por outro lado, a pobreza e a faltaaposta libertadores hojeserviços públicos na região do Boqueirão da Onça, como ocorreaposta libertadores hojepraticamente toda a Caatinga, tornou-se um empecilho para a conservação do bioma.
"Percebemos que, muitas vezes, a revolta dos moradores não era necessariamente contra o bicho, mas contra a condiçãoaposta libertadores hojevida precária e com pouca assistência do Estado. A onça acaba virando uma espécieaposta libertadores hojebode-expiatório para outras mazelas", explica Claudia Martins, agrônoma do Instituto Pró-Carnívoros e pesquisadora da Universidade Federal do Vale do São Francisco.
Crédito, Amigos da Onça/Divulgação
"É um grande desafio você chegaraposta libertadores hojeum lugar bastante carente e falar: 'pessoal, vamos pensar na onça'. As pessoas estão mais preocupadas com as necessidades básicas: se vão ter o que comer, se vão conseguir passar no médico, se terá escola para o filho. Esse diálogo é difícil, mas aos poucos temos conseguido o apoioaposta libertadores hojemuitos moradores", diz Martins.
'Exercícioaposta libertadores hojepaciência'
Estudar o comportamento das onças e como elas são afetadas por esses problemas também não é tarefa fácil. A capturaaposta libertadores hojeum animal para monitoramento, por exemplo, exige uma equipe formada por biólogos, veterinários e mateiros. Eles chegam a ficar 30 dias acampados na Caatinga.
"O Boqueirão é uma área muito grande com poucos indivíduosaposta libertadores hojeonça. Em média, uma campanhaaposta libertadores hoje30 dias consegue capturar apenas um animal, usando armadilhas", diz Claudia B. Campos.
Segundo ela, um acampamento desses chega a custar R$ 60 milaposta libertadores hojeestrutura e pegamentoaposta libertadores hojepessoal. "É um exercícioaposta libertadores hojepaciência, e nem sempre dá certo. É preciso conhecer bem a região e ter um poucoaposta libertadores hojesorte, também", afirma a bióloga.
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