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Como o incêndio no Museu Nacional foi explorado pelos dois lados do espectro político:estrela bet imagem
Crédito, Buda Mendes/Getty Images
De um lado, pessoas criticavam o governoestrela bet imagemMichel Temer e defensoresestrela bet imagempolíticasestrela bet imagemausteridade por reduçõesestrela bet imagemverbas para cultura e educação. De outro, grupos acusavam os governos Lula e Dilmaestrela bet imagempriorizar pautas culturais que os críticos consideravam ser "ideológicas".
Crédito, FGV/DAPP
Segundo os analistas, a questão da preservação da cultura não era um assunto prioritário até agora nas discussões eleitorais na internet. E também não era fora dela: apenas 2 dos 13 programas dos presidenciáveis citam museusestrela bet imagemsuas propostas.
No entanto, a questão partidária começou a ser levantada pelos grupos mais polarizados logo após o incêndio, com militantes e políticosestrela bet imagemdiversos partidos criticando os adversários.
"Assim comoestrela bet imagemtodos os debates, a polarização acontece quase imediatamente", explica o linguista Lucas Calil, pesquisador da FGV DAPP e um dos que trabalharam no estudo.
Grande comoção
"O valor simbólico dessa perda é enorme, é muito traumático. É um equipamento tem uma relação direta com a história do Brasil", diz Marco Ruediger, diretorestrela bet imagemAnáliseestrela bet imagemPolíticas Públicas da DAPP-FGV. "O incêndio simbolizou para as pessoas uma faltaestrela bet imagemvontadeestrela bet imagemconstruir uma naçãoestrela bet imagemque cultura e história são importantes."
"As pessoas estãoestrela bet imagemchoque, não apenas pelas perdas materiais da tragédia, mas porque isso é um símbolo da falência na tentativaestrela bet imagemconstruir o país. A perda ali foi imensa. Os políticos vêm atrás só porque sabem que o assunto vai ter mobilização", afirma Ruediger.
Crédito, AFP
Não houve discussão sobre a importância do museu – como muitas vezes acontece quando o assunto é cultura –, ambos os lados reconheceram o seu valor cultural, histórico e científico.
"A importância do Museu Nacional foi unanimidade", afirma Calil. "Também houve,estrela bet imagemtodos os grupos, uma associação entre a tragédia e a atuação da gestão pública."
As principais narrativas foramestrela bet imagemtorno do usoestrela bet imagemrecursos públicos para a área cultural, com a faltaestrela bet imagemverbas sendo associada à destruição do museu. As diferenças foram na questãoestrela bet imagemonde o poder público errou – e qual o melhor tipoestrela bet imagemgestão para equipamentos públicos.
Enquanto alguns criticavam políticasestrela bet imagemausteridade e do discursoestrela bet imagemdefesaestrela bet imageminvestimento privado, outros questionam decisõesestrela bet imageminvestimento na áreaestrela bet imagemculturaestrela bet imagemgovernosestrela bet imagemesquerda e a administração da UFRJ, que fazia o manejo do museu. Gastos do poder Judiciário com reajusteestrela bet imagemsalários também estiveram entre os assuntos mais comentados envolvendo recursos públicos.
Minoria barulhenta
Em uma análise com maisestrela bet imagem953 mil retuítes entre as 19hestrela bet imagemdomingo e 8h da segunda, a Salaestrela bet imagemDemocracia Digital constatou que os comentários se dividiam basicamenteestrela bet imagemtrês grandes grupos.
Um deles, com a maioria dos usuários (54%), falavaestrela bet imagemmaneira mais geral sobre o descaso da sociedade brasileira com a cultura. Mais identificado com a esquerda, o grupo que responsabilizava o governo Temer era cercaestrela bet imagem28% dos comentários. Outros 14,8% se identificavam mais com a direita e criticavam a política cultural dos governos Dilma e Lula.
Chama a atenção que a forte polarização na verdade esteja sendo puxada por menos da metade das pessoas.
"Seguramente é uma minoria barulhenta. Quando a gente medeestrela bet imagemgeral, não nesse caso específico, as pessoas polarizadas são cerca 15%, mas elas acabam moldando a discussão", afirma Ortellado. "Os outros 85% são pessoas que não debatem política frequentemente e são muito impactadas pelos usuários polarizados", conclui o especialista, cuja análise é voltada para o Facebook.
Crédito, FGV/DAPP
No Twitter, a discussão partidária foi puxada tanto por celebridades, como o apresentador Marcelo Tas, quanto por políticos.
No campo mais à direita houve diversos políticos culpando o PT e ideiasestrela bet imagemesquerda.
"Para estes usuários, o presidente Michel Temer deixaestrela bet imagemser o 'protagonista' da catástrofe e,estrela bet imagemseu lugar, a culpa do incêndio é atribuída aos governosestrela bet imagemesquerda que o antecederam", diz a análise da FGV. A principal linhaestrela bet imagemcrítica foiestrela bet imagemrelação às prioridades dos governos Dilma e Lula nos investimentos na área cultural e críticas à Lei Rouanet.
A análise da DAPP-FGV encontrou nesse grupo muitos retuítesestrela bet imagempostagensestrela bet imagemMarina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e João Amoêdo (Novo)estrela bet imagemque eles lamentam o incêndio, ao mesmo tempo que havia críticas ao uso político do desastre por outros candidatos à Presidência.
Crédito, Reuters
Já no campo mais à esquerda, diversos políticos criticaram o governo Temer, entre eles o presidenciável Guilherme Boulos (PSOL), que teve um dos posts mais retuitados. A ex-ministra Gleisi Hoffman (PT) fez um post criticando políticasestrela bet imagemausteridade defendidas pelo PSDB e pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL).
Bolsonaro foi bastante criticado por pessoas nesse grupo porestrela bet imagemdeclaraçãoestrela bet imagemque extinguiria o ministério da Cultura se fosse eleito.
O relatório da DAPP-FGV também aponta, nesse grupo mais à esquerda, muitas críticas à declaração do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, focada na relação do prédio com o império.
Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin (PSDB) foram os presidenciáveis mais citados no debate no Twitter, segundo a análise da FGV.
O presidente Michel Temer foi citadoestrela bet imagem86,8 mil publicações, sendo a maioria delesestrela bet imagemreclamações sobreestrela bet imagemgestão – embora tenha havido postagens afirmando que não se trataestrela bet imagemum único governo culpado, masestrela bet imagemum históricoestrela bet imagemdescasoestrela bet imagemdécadas.
Que tipoestrela bet imagemconteúdo?
Segundo Calil, o que mais viraliza são os tuítes "perspicazes": análises sintéticas com críticas, ironias, nuances. Também faz sucesso o ineditismo: os primeiros a falarem algo relevante que não tinha sido destacado antes.
Enquanto a polarização é puxada por minorias mais ativas, no grupo das pessoas não-alinhadas os conteúdos mais compartilhados não eram necessariamenteestrela bet imagemgrandes influenciadores. O mais compartilhado, inclusive – com 57 mil repostagens – foiestrela bet imagemum usuário que não tinha grande históricoestrela bet imagemcompartilhamentos. Ele falava sobre a diversidadeestrela bet imagemitens no acervo atingido pelo incêndio.
"Em um primeiro momento, o mais compartilhado são as opiniões e análises pessoas dos usuários", explica Calil.
"Depois, principalmenteestrela bet imagemsituaçõesestrela bet imagemluto eestrela bet imagemtragédia como essa, há o conteúdo com um componenteestrela bet imagemidentificação, com aspectos afetivos."
São os relatosestrela bet imagempessoas emocionadas com tudo o que se perdeu, lembrançasestrela bet imagemquem esteve no local, etc. Em um terceiro momento, mais no dia seguinte, os conteúdos jornalísticos passam a ser postados com mais força.
Nesse grupoestrela bet imagempessoas não tão alinhadas com um lado ou outro também houve reações negativas ao uso do incêndio como argumentoestrela bet imagemquestões partidárias.
"Não sei se foi endereçado aos políticos, masestrela bet imagemfato havia uma grande parte das atividades com a visãoestrela bet imagema tragédia tem maisestrela bet imagemum responsável, um pensamentoestrela bet imagemresponsabilização coletiva", diz Calil.
A análise do Facebook no Monitor do Debate Político no Meio Digital não conseguiu captar esse tipoestrela bet imagemtendência, pois é focadaestrela bet imagematividade das páginas, não dos usuários. "O Facebook não nos deixa mais monitorar os perfis individuais, e as páginas são mesmo mais polarizadas", explica Ortellado. "Mas observei com o meu perfil pessoal que havia uma rejeição da exploração política do que aconteceu."
"Há uma indignação que as pessoas têm com o rumo do Brasil que está tomando. Falta norte, falta projeto, e os candidatos querendo partidarizar pode ter um efeitoestrela bet imagemdesencanto. De dar uma certezaestrela bet imagemque os politicos não as representam", afirma Marco Ruediger, da DAPP-FGV.
Crédito, FGV DAPP
Ortellado diz que, apesar da discussão acirrada, é improvável que as discussões nas redes sociais levem as pessoas a questionar o posicionamento que já assumiramestrela bet imagemrelação ao assunto.
"O que essas páginas fazem é reinterpretar o fato do dia à luzestrela bet imagemseus posicionamentos. É traduzi-losestrela bet imagemmaneira que reafirme a visãoestrela bet imagemmundo que as pessoas já têm, assim elas podem ficar confortáveis na posição que já estão", afirma Pablo Ortellado. "É por isso que esse tipoestrela bet imagemdebate é completamente infrutífero."
Pessoas Reais, informações falsas
Para analisar o conteúdo da disputa, a Salaestrela bet imagemDemocracia Digital limpouestrela bet imagemsua pesquisa todos as postagens feitas por robôs – e constatou que o índiceestrela bet imagemcontas automatizadas tentando influenciar o debate foi baixo: menosestrela bet imagem0,5% do total.
"Os robôs normalmente usam agendas, propostas e discussões cotidianas. É difícil participaremestrela bet imagemum dabate que engaja voluntariamente muitas pessoas com um fato novo, precisamestrela bet imagemum direcionamento que demanda planejamento", afirma Calil.
O Monitor do Debate Político no Meio Digital faz a análise centradaestrela bet imagemcentenasestrela bet imagempáginas relevantes no Facebook, portantos perfis individuaisestrela bet imagemrobôs que atuam espalhando comentáriosestrela bet imagemdiversos locais também não entram emestrela bet imagemanálise.
Embora relativamente livreestrela bet imagemrobôs, o debate não ficou livreestrela bet imageminformações falsas, como aponta um segundo estudo da DAPP-FGV sobre a discussão.
A Agência Lupa, que é parceira da instituição na iniciativa Salaestrela bet imagemDemocracia Digital, checou as informaçõesestrela bet imagemuma mensagem que circulava no WhatsApp sobre valores arrecadados por projetos na Lei Rouanet. Dos 14 mencionados na corrente, que citava propostas autorizadas pelo MinC para captar recursos junto à iniciativa privada, oito jamais conseguiram arrecadar as verbas aprovadas.
A Lupa também checou uma lista que circulava com itens que estariam no Museu Nacional e descobriu que dez dos artefatos mencionados não faziam parte do acervo.
Ainda não há dados para dizer o quanto essa mobilização vai durar ou como vai afetar a discussão política fora das redes nas próximas semanas. Mas uma das possibilidades é que se fale maisestrela bet imagemcultura.
"O prejuízo foi tão grande, mobilizou tanto, que pode forçar esse assunto a ser levadoestrela bet imagemconsideração no debate eleitoral. Mas não deve ser suficiente pra dar centralidade", diz Ortellado.
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