Apicultor faz etanol a partirde quem é a f12 betmel e dribla crise dos combustíveis:de quem é a f12 bet

Crédito, Mário Bittencourt/ BBC Brasil

Legenda da foto, Luiz Jordans abastece seu carro com etanol à basede quem é a f12 betmel desde 2015

O mel vemde quem é a f12 betseus apiários ede quem é a f12 bet10 cidades da Bahia, Estado cuja produção éde quem é a f12 bet3,5 mil toneladas ao ano, ou 9% da produção nacional, segundo dados referentes a 2016, os mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileirode quem é a f12 betGeografia e Estatística (IBGE).

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Legenda da foto, Apicultor usa etanol produzido à basede quem é a f12 betmelde quem é a f12 betseus veículos

Reaproveitamento

O mel que chega ao entrepostode quem é a f12 betJordans é comercializadode quem é a f12 betmercadosde quem é a f12 betcidades da região sudoeste da Bahia, e do volume produzido sempre acaba voltando para o apicultor entre 0,5 e 1%de quem é a f12 betmel, chamadode quem é a f12 betdescarte.

"Eles voltam por pequenos defeitos, como uma embalagem que trincou e gerou riscode quem é a f12 betcontaminação, então, recolhemos para manter o controlede quem é a f12 betqualidade do mel", disse.

Descartar mel no meio ambiente, conta o apicultor, é um risco às próprias abelhas, pois elas podem consumir o produto fermentado e acabar morrendo, o que prejudicaria a atividade.

Jordans é apicultor há quase 30 anos, mas o descarte só virou preocupação maior nos últimos dez anos, quando no entreposto aumentou seu movimento para 10 toneladas mensais.

Em 2012, ele contratou uma consultoria que o auxiliou a montar um projeto sobre aproveitamento do descarte para produzir extratosde quem é a f12 betmel, como álcool etílico (conhecido como alimentício ou nobre) e, com isso, fazer cachaça ou aguardentede quem é a f12 betmel.

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Legenda da foto, Jordans não pensade quem é a f12 betproduzir para vender e diz que seu objetivo é apenas aproveitar todo o descarte do mel

Enviado para a Fundaçãode quem é a f12 betAmparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), o projeto foi aprovado com verbade quem é a f12 betR$ 185.052,40 para o apicultor, que usou o dinheiro para comprar os equipamentos necessários ao processode quem é a f12 betprodução do álcool etílico.

O financiamento público ocorreu por meiode quem é a f12 betuma proposta da fundaçãode quem é a f12 betabrir a pesquisa para empresas. A consultoria entrou como responsável técnica da pesquisa, já que o apicultor não é da área - é especialistade quem é a f12 betapicultura, com diversos cursos realizados, e tem formação técnicade quem é a f12 betadministração.

Produção caseira

Depois que conseguiu o financiamento da Fapesb, Jordans montou no entrepostode quem é a f12 betmel,de quem é a f12 betsegunda casa, um pequeno laboratório para obtenção da aguardente. No processo químico, o descarte entrade quem é a f12 betfermentação num tanquede quem é a f12 bet250 litros durante 5 a 15 dias.

Nesse período, ocorre a primeira destilação do álcool, que dura 24 horas. É daí que surge o álcool etílico, que rende por ano maisde quem é a f12 bet600 litros, usado por Jordans para fazer aguardentede quem é a f12 betmel e comercializar por R$ 60 a garrafade quem é a f12 betmeio litro - valor cobrado ainda hoje.

Ele ainda usa a mesma aguardente para fazer licoresde quem é a f12 betcafé e chocolate, o que lhe rende uma renda extra neste mêsde quem é a f12 betjunho,de quem é a f12 betmuitos festejos relacionados ao São Joãode quem é a f12 bettodo o Nordeste.

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Legenda da foto, "O desempenho diminui um pouco, mas dá para andar tranquilo", relatou o apicultor sobre o álcoolde quem é a f12 betmel

O financiamento da Fapesb durou até 2014, mas, apesarde quem é a f12 betsatisfeito por estar produzindo álcool etílico e faturando mais, Jordans se sentia incomodado por ver que 30% do descarte não estava sendo aproveitado para nada. Ele decidiu continuar as pesquisas por conta própria, fazendo aguardente e estocando o que restava.

Até que,de quem é a f12 bet2015, teve a ideiade quem é a f12 betenviar o produto restante para testes num laboratóriode quem é a f12 betSalvador, que apontou que o líquido tinha graduação alcoólicade quem é a f12 bet80%, próximo às normas da ANP (Agência Nacionalde quem é a f12 betPetróleo) para o etanol hidratado, utilizadode quem é a f12 betveículos - que deve ter 94,5%de quem é a f12 betálcool.

"Fiz um teste com meu carro e funcionou", disse Jordans, informandode quem é a f12 betseguida que notou redução da potência do motor do veículo enquanto rodava.

"Ele perde força, sobretudode quem é a f12 betladeiras ou durante ultrapassagens, aí temde quem é a f12 betpisar mais no acelerador. Com o álcool hidratado, da cana-de-açúcar, o carro faz 7 km com um litro, e com esse meu álcoolde quem é a f12 betmel chega a 5 km", ele contou.

Por semana, Jordans produz cercade quem é a f12 bet50 litrosde quem é a f12 betetanol, mas não vende nenhum - e nem poderia, porque seu produto não atende às normas da ANP. "Mas o que temde quem é a f12 betamigo querendo que eu venda não dá nem pra contar. Para usode quem é a f12 betveículo, só no meu", declarou.

Mercado potencial

Se estivesse dentro das normas, Jordans até poderia comercializar seu álcool como produtor independente. Isso é permitido pela Resolução Nº 19,de quem é a f12 bet15de quem é a f12 betabrilde quem é a f12 bet2015, da ANP, sobre as regras da produção, comercialização e especificação do etanol hidratado e o anidro, misturado à gasolina.

Mas oapiculto não pensade quem é a f12 betproduzir para vender. O objetivo dele, aproveitar todo o descarte do mel, já foi alcançado. O produto, que é uma fontede quem é a f12 betenergia limpa, vem sendo utilizado no carro que ele divide com a esposa ede quem é a f12 betoutros dois da empresa, todos flex.

Durante a greve dos caminhoneiros, enquantode quem é a f12 betVitória da Conquista, assim comode quem é a f12 betoutras cidades do Brasil, já não havia combustível na maioria dos postos, Jordans "ostentava" 200 litrosde quem é a f12 betetanolde quem é a f12 betmelde quem é a f12 betcasa - e levou parte do estoque às ruas para gravar um vídeo abastecendo seu veículo.

"Nós estamos aqui nesse momentode quem é a f12 betcrise no abastecimento, nós também temos essa dificuldade, mas estamos encontrando parcialmente a solução", dizia ele, antesde quem é a f12 betdespejar 20 litros no tanque. "Dá até para sentir o cheirinhode quem é a f12 betmel."

A satisfação maior do apicultor é saber que o mel está sendo todo aproveitado. "É uma responsabilidade ecológica minha não realizar mais o descarte, não quero parar nunca mais com isso", acrescentou.

Aperfeiçoamentos

O etanol que o apicultor produz pode ser melhorado com algumas técnicas não muito difíceis para atender ao nívelde quem é a f12 betexigência da ANP, no que se refere à graduação alcoólica, informa a engenheira química Sabrina Neves Silva.

"No casode quem é a f12 betprocessos físicos, uma redestilação poderia aumentar um pouco o rendimento", ela diz. "Contudo, o mais indicado seria uma destilação azeotrópica, diferente da destilação comum."

Em termos simples, a destilação azeotrópica consistede quem é a f12 betadicionar um terceiro componente à mistura álcool/água, que teria mais afinidade química com a água, extraindo esta substância do etanol.

"Jáde quem é a f12 betprocessosde quem é a f12 betseparação químicos, seria possível utilizar óxidode quem é a f12 betcálcio ou carbonatode quem é a f12 betpotássio, por exemplo", completa Sabrina, doutorade quem é a f12 betengenharia e professora do curso da Engenhariade quem é a f12 betEnergia da Universidade Federal do Pampa, no Rio Grande do Sul.

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Legenda da foto, Mel descartado durante o controlede quem é a f12 betqualidade é usado para fazer o combustível

O engenheiro mecânico Lourenço Gobira Alves, doutorde quem é a f12 betEngenharia Mecânica e professor e chefe do departamento do mesmo curso na Universidade Federal da Bahia (Ufba), acredita que o etanolde quem é a f12 betmel funcione bem caso passe, antes, por esse processode quem é a f12 betmelhoria.

"Nas condições atuais, provoca redução da potência do motor e opera com maior dificuldadede quem é a f12 betcombustão", acrescenta, atestando o que o apicultor já vem sentindo na prática.

Outro problema que Gobira observa no etanolde quem é a f12 betmel feito atualmente é a porcentagem altade quem é a f12 betágua, que faz o carro ter problemas na partida, principalmentede quem é a f12 betlocais com baixas temperaturas, como é o casode quem é a f12 betVitória da Conquista, conhecida pelo apelidode quem é a f12 bet"Suíça baiana", devido ao rigoroso frio.

"Talvez haja dificuldade para dar partida no motor pela manhã", comenta o engenheiro, para quem "uma iniciativa como esta,de quem é a f12 betproduzir etanol a partir do mel, é muito mais que bem-vinda, temde quem é a f12 betser explorada e conhecidos os seus limites."

"Quem sabe", reflete Gobira, "não vamos ter o meltanol".