Como linhasport x santa cruztransporte virou a obra inacabada mais cara da Copa do Mundo no Brasil:sport x santa cruz
Aposta alta
Em 2009, pouco após o anúncio da cidade como uma das sedes da Copa, era dado como certo que a obrasport x santa cruzmobilidade urbana seria o Bus Rapid Transit (BRT) – sistemasport x santa cruzônibus rápidos. O meiosport x santa cruztransporte era visto como o mais adequado,sport x santa cruzcustos e benefícios, para a região metropolitanasport x santa cruzCuiabá.
Em 2011, porém, logo após ser eleito governadorsport x santa cruzMato Grosso, Silval Barbosa mudou os planos e determinou a construção do VLT. As obras foram orçadassport x santa cruzR$ 1,2 bilhão – posteriormente, o valor subiu para R$ 1,4 bilhão –, cercasport x santa cruzR$ 700 milhões a mais do que o estimado com o BRT.
Tratava-se então da terceira obrasport x santa cruzinfraestrutura para o evento mais cara do país. À frente, estavam apenas a construção do BRT carioca, que custou R$ 1,6 bilhão, e a reforma do Aeroporto Internacionalsport x santa cruzGuarulhos, avaliadasport x santa cruzR$ 2,3 bilhões, ambas entregues antes do evento.
Para o engenheiro civil Miguel Miranda, doutorsport x santa cruztransporte, o Veículo Leve sobre Trilhos tornou-se um problema difícilsport x santa cruzser solucionado.
"O VLT começou errado e vai dar errado até o fim. É um projetosport x santa cruzmodal incompatível com o custosport x santa cruzmanutenção. Ele tem uma capacidade muito maior que a da cidade. Para a região metropolitanasport x santa cruzCuiabá, o ideal seria o BRT", afirmou à BBC Brasil.
Segundo o projeto, o modal deveria ter duas linhas – uma delas ligando o aeroporto ao Centro Político Administrativo, onde estão concentrados os Poderes do Estado. A outra levaria do bairro Coxipó ao Porto, região tradicionalsport x santa cruzCuiabá. Ao todo, seriam 22 quilômetrossport x santa cruztrilhos. No trajeto, foram planejadas 33 estaçõessport x santa cruzembarque e desembarque, alémsport x santa cruztrês terminaissport x santa cruzintegração.
A estimativa erasport x santa cruzque o veículo transportasse 160 mil pessoas por dia – segundo estimativa do IBGE, toda a região metropolitana tem cercasport x santa cruz1 milhãosport x santa cruzhabitantes.
Os recursos para as obras vieram do Estado, que obteve empréstimo na Caixa Econômica Federal. Hoje, o governo diz pagar parcelassport x santa cruzaproximadamente R$ 13,9 milhões mensais, valor que inclui juros e correção monetária.
Atrasos sucessivos
Após licitação, as obras ficaram a cargo do Consórcio VLT, formado pelas empresas CR Almeida, Santa Bárbara, CAF Brasil Indústria e Comércio, Magna Engenharia Ltda e Astep Engenharia Ltda.
A construção foi iniciadasport x santa cruzjunhosport x santa cruz2012. Os 280 vagões do veículo, divididossport x santa cruz40 composições, começaram a chegar à cidadesport x santa cruznovembro do ano seguinte. A expectativa erasport x santa cruzque as obras fossem concluídassport x santa cruzmarçosport x santa cruz2014 e que o veículo estivessesport x santa cruzcirculação antes do início da Copa.
Meses antes do megaevento, no entanto, a construção havia avançado pouco. Diante disso, o governo estadual chegou a cobrir os canteirossport x santa cruzobras com grama para, segundo a gestão da época, melhorar o aspecto visual das avenidas no períodosport x santa cruzque a capital sediaria quatro jogos do Mundial.
Silval Barbosa sabia desde meadossport x santa cruz2013 que o modal não estariasport x santa cruzfuncionamento durante a Copa, mas continuou dizendo que as obras estavam dentro do cronograma. Apenas nos primeiros mesessport x santa cruz2014 ele confirmaria que o veículo não ficaria pronto antes do Mundial – prometeu, então, que a inauguração ocorreria até o fim daquele ano.
Em marçosport x santa cruz2014, o Estado concedeu um aditivosport x santa cruz12 meses para a conclusão da obra e implantação do modal. Massport x santa cruzmeados do mesmo ano, o consórcio passou a enviar ofícios ao governo informando que os repasses estavam atrasados. Mais tarde, notificou a gestãosport x santa cruzque pararia as obras caso os pagamentos não fossem feitos.
Diante do imbróglio, Silval determinou ele mesmo a paralisação da construção antessport x santa cruzdeixar o governo. Desde então, elas nunca mais avançaram. Apenas nove quilômetrossport x santa cruztrilhos haviam sido implantados, e os vagões permanecem no estacionamento onde foram colocados desde que chegaram a Mato Grosso, sob os cuidados do Consórcio VLT.
Segundo o atual governo, comandado por Pedro Taques (PSDB), os veículos ainda estão novos esport x santa cruzbom estadosport x santa cruzconservação. Mas para especialistas, como o engenheiro civil Miguel Miranda, eles representarão mais custos caso o modal sejasport x santa cruzfato concluído. "Em dois anos, pelo menos a parte eletroeletrônica deverá ser quase toda reformada", diz.
Longa negociação
O atual governadorsport x santa cruzMato Grosso era um ferrenho crítico à implantação do VLT. Mas nas eleiçõessport x santa cruz2014, que acabaria vencendo, prometeu concluí-lo emsport x santa cruzgestão. Em janeiro seguinte, ao assumir o cargo, determinou a aberturasport x santa cruznegociações com o Consórcio VLT para a retomada das obras.
Em abril do mesmo ano, o contrato acabou suspenso pela Justiça por causa da faltasport x santa cruzentendimento entre as partes. Durante as negociações, o consórcio apresentou quatro propostas diferentessport x santa cruzreajuste entre abrilsport x santa cruz2015 e dezembrosport x santa cruz2016 – os valores foramsport x santa cruzR$ 993 milhões, R$ 1,04 bilhão, R$ 1,494 bilhão e, por último, R$ 977 milhões.
Em agostosport x santa cruz2015, o governo obteve autorização da Justiça Federal para contratar uma auditoria independente para investigar o contrato e apontar o valor correto para a retomada. Um dos entraves nas negociações eram as cinco ações judiciais movidas pelo Estado contra o consórcio, incluindo processos por improbidade administrativa e pedindo indenização à sociedade.
Em março do ano passado, as duas partes finalmente chegaram a um acordo. Ficou determinado que as obras seriam retomadas três meses depois e concluídassport x santa cruz24 meses, sob o valorsport x santa cruzR$ 922 milhões, sendo R$ 327,2 milhões referentes a passivos do contrato original – com isso, o VLT teria um custo finalsport x santa cruzR$ 1,988 bilhão. Além disso, o Estado deveria extinguir as ações judiciais que envolvessem o Consórcio VLT.
Mas o novo acordo acabaria não indo adiante. Os Ministérios Públicos Estadual e Federal apontaram diversas irregularidades no contrato e determinaram a suspensão do acordo.
A BBC Brasil tentou, por um mês, entrevistar o governadorsport x santa cruzMato Grosso sobre o VLT. A princípio,sport x santa cruzassessoria informou que Taques não tinha horário emsport x santa cruzagenda. Posteriormente, a equipe do tucano afirmou que ele não comentaria o assunto neste momento.
Procurado pela BBC Brasil, o Consórcio VLT informou que está à disposição do Estado para chegar a uma conciliação. O gruposport x santa cruzempresas informou que está impedidosport x santa cruzfalar sobre a questão, pois o caso está na Justiça.
"O Consórcio segue à disposição das autoridades, como sempre o fez, para quaisquer esclarecimentos que vise o objetivo público maior e legítimo: a retomada e conclusão das obras do VLT, para uso da população", disse,sport x santa cruznota.
Ex-governador na prisão
Em agosto passado, a obra do VLT foi alvosport x santa cruzuma operação da Polícia Federal baseadasport x santa cruzinvestigações do Ministério Público Federal.
A ação, denominada Descarrilho, teve como partida depoimentos do ex-governador Silval Barbosa à PF. O político havia sido presosport x santa cruzsetembrosport x santa cruz2015 pela operação Sodoma, que apura a existênciasport x santa cruzuma organização criminosa que cobrava propinasport x santa cruzempresários para manter contratos com o Estado durantesport x santa cruzgestão.
Barbosa ficou um ano e nove meses na cadeia. Em junho do ano passado, obteve o direito à prisão domiciliar, mediante usosport x santa cruztornozeleira eletrônica, após confessar diversos crimes que cometeu enquanto era governador. Ele também entregou R$ 46 milhõessport x santa cruzbens e, mais tarde, deixou o MDB.
Ele é alvosport x santa cruzmaissport x santa cruzdez ações na Justiça por crimes contra os cofres públicos. Em uma delas,sport x santa cruzdezembro, acabou condenado a 13 anos e 7 mesessport x santa cruzprisão por comandar um grupo que desviou maissport x santa cruzR$ 2,5 milhões por meiosport x santa cruzfraudessport x santa cruzincentivos fiscais. No mês passado, sofreu nova condenação, desta vez a 14 anos e 2 meses, por fraudes na comprasport x santa cruzum terrenosport x santa cruzR$ 13 milhões, adquirido por meiosport x santa cruzpropinas.
Nos depoimentos à PF, o ex-governador confessou que a troca do BRT pelo VLT foi uma formasport x santa cruzconseguir desviar dinheiro. Ele negou que tenha havido direcionamento na licitação referente ao VLT, mas afirmou que "independentementesport x santa cruzquem vencesse, o grupo político procuraria o consórcio vencedor para negociar um 'retorno'".
Segundo as apurações da Procuradoria, propina foi paga ainda durante as obras. Na fala aos investigadores, Barbosa disse que seu grupo político recebeu cercasport x santa cruzR$ 18 milhões.
A operação Descarrilho não teve nenhum desdobramento até o momento. Procurado pela BBC Brasil, o Ministério Público Federalsport x santa cruzMato Grosso informou que não poderia dar detalhes porque as investigações seguemsport x santa cruzsegredosport x santa cruzJustiça. O Consórcio VLT, porsport x santa cruzvez, diz que não comenta mais o caso. Na época da ação policial, negousport x santa cruznota ter participadosport x santa cruzqualquer esquema criminoso, "mantendo-se à disposição da Justiça e autoridades competentes para quaisquer esclarecimentos".
Em outubro passado, o atual governador anunciou a quebra unilateral do contrato, para "acautelar e resguardar o Estadosport x santa cruzmais prejuízos". Em janeiro, o Tribunalsport x santa cruzJustiçasport x santa cruzMato Grosso concedeu liminar ao Consórcio VLT e suspendeu essa rescisão, mas Taques manteve a suspensão. O caso segue na Justiça.
Na Justiça Federal, tramita uma ação proposta pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual com pedidosport x santa cruzindenizaçãosport x santa cruzR$ 148 milhões ao Estado por dano moral coletivo causado pela troca do BRT pelo VLT e pela demora para a conclusão da obra. São alvos Barbosa, o ex-secretário estadual da Copa, Maurício Guimarães, o Consórcio VLT e as empresas o compõem.
Em depoimento à Justiça Federal, o ex-governador afirmou que tinha a boa intençãosport x santa cruzentregar todas as obras da Copa, mas que os procedimentos da gestão pública são muito difíceis e dificultaram a conclusão do VLT.
Procurada pela reportagem, a defesa do político informou que não comentará o caso e disse que as afirmaçõessport x santa cruzseu cliente sobre o VLT estão nas declarações dele à Polícia Federal.
Conclusão incerta
Diante do impasse com o Consórcio VLT, não há data para que uma nova licitação seja lançada.
O secretário-adjuntosport x santa cruzobras do VLT, José Piccolli Neto, prefere não estipular um prazosport x santa cruzentrega do serviço à população.
"Se começar a construir hoje, o prazo para terminar seria, no máximo,sport x santa cruz24 meses. E depois teria o tempo para entrarsport x santa cruzoperação. Porém, ainda não sabemos quando será lançada a nova licitação, mas esperamos que seja o mais rápido possível."
A expectativa ésport x santa cruzque, caso entresport x santa cruzfuncionamento, o modal seja gerido por meiosport x santa cruzparceria público-privada (PPP). Cada passagem deve custar o mesmo valor cobrado nos ônibussport x santa cruzCuiabá, R$ 3,80.
Segundo Piccolli, o Estado prefere não divulgar quanto deve custar a conclusão da obras. "Como estamossport x santa cruzum processosport x santa cruzlicitação, isso pode ficar como parâmetro para colocarem esse valor como base", disse.
"Mas é importante destacar que o valor das obras iniciais incluía o fornecimentosport x santa cruztrem,sport x santa cruztrilhos,sport x santa cruzcabos,sport x santa cruzpostes esport x santa cruzsubestações. Esses equipamentos já estão todos no canteirosport x santa cruzobras. Você não precisa comprar nada. O que precisamos agora ésport x santa cruzmãosport x santa cruzobra. É montar. Além disso, as estações, os centrossport x santa cruzcomando, os viadutos já estão prontos."
Piccolli garante que a possibilidadesport x santa cruzo Estado desistir do VLT e retomar a ideiasport x santa cruzconstruir o BRT, como já chegou a ser cogitado por Taques, não faz parte dos planos do governo.
"Nós temos, ali, maissport x santa cruz300 milhõessport x santa cruzeurossport x santa cruzequipamentos. Não somos loucossport x santa cruzdeixá-los parados. Estamos procurando fazer um negócio com seriedade e responsabilidade. Não queremos fazer lambança igual foi feito anteriormente, não. Muito pelo contrário", afirma.
Mas, na avaliação do engenheiro Miguel Miranda, o alto custo poderá levar o Estado a desistir do modal.
"Com correções cambiais, reajustes e itens que ainda faltam ser pagos, como desapropriações, a obra não sai por menossport x santa cruzR$ 2,1 bilhões. Ou seja, o preço inicial aumentou, praticamente, 70%. Quem é o governador que vai ter coragemsport x santa cruztirar esse projeto do papel e fazer isso a esse preço?"