Polêmica do Carnaval: usoaposta ganha baixacocar e adereços indígenas como fantasia divide indígenas:aposta ganha baixa
O uso do cocar eaposta ganha baixaoutros adereços da cultura indígena gerou polêmica e dividiu opiniões neste Carnaval.
Katú Mirim foi a primeira indígena a trazer ao tema à tona. Ela publicou um vídeo nas redes sociaisaposta ganha baixaque criticou a "posturaaposta ganha baixase fantasiaraposta ganha baixaíndio" e lançou a campanha #ÍndioNãoÉFantasia.
"Vocês estão ajudando a alimentar estereótipos. Vocês estão ajudando na hipersexualização, na violência, no estupro. Vocês estão ajudando a massacrar", diz ela no vídeo.
Em entrevista à BBC Brasil, Mirim afirmou ser contra ser "se fantasiaraposta ganha baixaíndioaposta ganha baixaqualquer período do ano".
"Meu vídeo é uma reflexão e um chamado para a visibilidade do indígena eaposta ganha baixasua cultura, o motivoaposta ganha baixater abordado agora é porque normalmente essa postura é mais recorrente no Carnaval e no Halloween, que são festas alegóricas", explica.
Ela ressalva que "expressão artística" é diferenteaposta ganha baixa"se fantasiar" e lembra que o debate já existe entre povos nativos na América do Norte.
No Brasil, a campanha contra o uso da "fantasiaaposta ganha baixaíndio" foi apoiada por personalidades indígenas, como a escritora Marcia Wayna Kambeba e Anapuaka Tupinambá, cofundador da rádio indígena Yande.
Segundo Mirim, "as pessoas não reagiram bem, e os comentários delas mostraram como o brasileiro desconhece o indígena,aposta ganha baixacultura e seus debates".
"Acho que 97% das pessoas que viram meu vídeo não gostaram do meu posicionamento, porque meu posicionamento os fazem refletiraposta ganha baixapleno Carnaval onde eles fariam isso novamente", diz.
"As pessoas estão ativadasaposta ganha baixauma posturaaposta ganha baixaesvaziar todo e qualquer debate político e transformar uma questão complexaaposta ganha baixa‘politicamente correto’, reduzindo também a 'mimimi'. As críticas, racismos e ataques vieram mais dos não indígenas, e só lamento essa atitude deles", acrescenta.
Mirim diz acreditar que os povos indígenas sofrem “uma limpeza étnica e racial por meioaposta ganha baixadiscursos coloniais que são racistas".
"Eles estão cristalizados no imaginário da população, que pouco sabe sobre as culturas indígenas do Brasil e suas realidades contemporâneas. Indígenas são assassinados por crimes pouco discutidos pela mídia", afirma.
"Claro que há um menosprezo contra o indígena, principalmente se ele levantar questionamentos e reivindicar seus direitos", conclui.
Mas nem todos concordaram com Mirim sobre o usoaposta ganha baixaelementos da cultura indígena no Carnaval.
Autoraaposta ganha baixaoutro vídeo que viralizou, Ysani Kalapalo, índigena da tribo Kalapalo, na região do Alto Xingu, no Mato Grosso, diz à BBC Brasil não considerar o usoaposta ganha baixafantasias "desrespeito, mas troca entre culturas".
Ela ressalvou, contudo, que cada povo tem cultura e opiniões diferentes.
"Eu vou falar da minha cultura. Eu sou do povo Kalapalo, natural do parque indígena do Xingu. Na minha cultura Kalapalo, pelo que eu vivi e vi, não tem nada demais usar cocar e adereços indígenas no carnaval", afirma ela no vídeo.
"Quando um branco vai para a nossa tribo, ele usar cocar e adereços e a gente não acha nadaaposta ganha baixaruim. E quando a gente vai para a cidade, a gente usa roupa, óculos, tênisaposta ganha baixamarca", completa, afirmando que o racismo é "quando o branco chama o índioaposta ganha baixabicho e incapaz” e tira “o índioaposta ganha baixasua terra".
Ysani Kalapalo critica a campanha pela proibição categóricaaposta ganha baixafantasiaaposta ganha baixaíndio, porque, para ela, isso soa como se fosse a opinião dos indígenas como um todo. E destaca que não existe apenas "uma população indígena", mas sim 305 etnias diferentes no Brasil.
Ela compara o usoaposta ganha baixafantasias no Carnaval ao usoaposta ganha baixaadereçosaposta ganha baixaoutros povos que os Kalapalos adotam numa cerimônia chamada Hagaka.
"A gente vive essa trocaaposta ganha baixacultura. A Hagaka é um momentoaposta ganha baixaque a gente se fantasiaaposta ganha baixavárias culturas,aposta ganha baixabichos eaposta ganha baixanão indígenas também. É parecido com o Carnaval. Se você for analisar na história da humanidade, o que a gente mais faz é troca. Trocaaposta ganha baixaobjeto,aposta ganha baixaconhecimento,aposta ganha baixacultura, entre pessoas e nações."
Ysani descreveu ainda outra cerimônia realizada entre tribos no Xingu que também envolve o que chamaaposta ganha baixa"troca cultural".
"O Uluki é uma cerimôniaaposta ganha baixaque fazemos trocas com outras tribos,aposta ganha baixabens eaposta ganha baixaconhecimentos. Isso faz parte", diz.
"Nós não achamos nada demais no uso dos cocares no Carnaval. Primeiro eu acho engraçado quando vejo, e legal ao mesmo tempo. As pessoas que discriminam o índio não vão usar cocar. Se está usando, é porque gosta e admira. Eu enxergaria dessa maneira."