Por que o PT insiste que 'não há plano B', mesmo com Lula cada vez mais longe das urnas?:link da roleta

Reservadamente, petistas admitem que a argumentação é alimentada também por uma preocupação concreta: há o temorlink da roletaque uma eventual disputa pelo postolink da roletasucessorlink da roletaLula na corrida eleitoral possa dividir e enfraquecer ainda mais o PT, jogando o partidolink da roletauma luta interna similar à que ocorreu com o PSDB nos últimos meses.

Além disso, os principais nomes do partido dizem que não há nomes à altura do ex-presidente, e muitos mantêm a crençalink da roletaque os tribunais superiores (STF e STJ) garantirão a candidatura dele.

"Esta ideialink da roletaque 'não há plano B' tem dois motivos: o primeiro é que não tem mesmo, por agora. E essa tese, como fala pública, mantém a tropa animada e tem o papel pedagógicolink da roletanão alimentar as pretensõeslink da roletaquem queira ser candidato (presidencial). Ora é porque não tem mesmo, e ora é para evitar problemas internos", diz um petistalink da roletauma corrente à esquerda do partido, ouvido pela BBC.

Além disso, ungir desde já um "plano B" para o casolink da roletaLula ser impedidolink da roletaconcorrer também enfraqueceria a defesa do ex-presidente, pois a atenção da militância tenderia a se voltar para o candidato "de fato".

A condenação dos desembargadoreslink da roletaPorto Alegre diz respeito ao suposto pagamentolink da roletapropina a Lula pela construtora OAS. A vantagem teria sido dada por meiolink da roletaum apartamento tríplex no Guarujá (SP). Com a decisão do TRF, o petista tende ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa e a tornar-se inelegível. Uma decisão definitiva sobre a candidatura, porém, será dada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A realidade e o discurso oficial

O líder da bancada do partido na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS) ,disse que a decisão que está valendo neste momento foi tomada na última quinta-feira,link da roletauma reunião da Executiva Nacional da siglalink da roletaSão Paulo. "Vamos inscrever (no Tribunal Superior Eleitoral) a candidatura do presidente Lula (...). Não cogitamos nenhum outro nome diferente do dele", afirmou.

"Uma eleição sem Lula não tem legitimidade, é fraude. Então, se a gente indicasse outro nome, estaríamos dando um arlink da roletalegalidade a um processo (eleitoral) espúrio", disse o deputado gaúcho. Pimenta não admite a possibilidadelink da roletater que voltar atrás nesta argumentação: para ele, não há possibilidadelink da roletaLula não concorrer.

Para o deputado, o caso só transitarálink da roletajulgado (isto é, quando não cabe mais nenhum recurso) depois das eleições. O líder da bancada petista diz que, nas eleições municipaislink da roleta2016, houve 145 candidatos a prefeito que concorreram com o registro negado pelo TSE. "O STF não vai julgar a candidaturalink da roletaLula, e sim Lula eleito no primeiro turno. Precisará dizer se o Lula eleito tomará posse ou não", argumentou ele.

Por outro lado, a indefinição na candidatura presidencial pode prejudicar os demais candidatos do PT. Dos cinco governadores do partido, quatro estãolink da roletaprimeiro mandato e podem,link da roletatese, disputar a reeleição: Wellington Dias (PI), Rui Costa (BA), Camilo Santana (CE) e Fernando Pimentel (MG). Um candidato presidencial competitivo é importante ainda para tentar manter as bancadas na Câmara e no Senado.

A palavralink da roletaordemlink da roletaque "eleição sem Lula é fraude" terá consequências práticas no comportamento do PT nos próximos meses: a sigla está organizando comitês locais formados por militantes para defender o ex-presidente.

Enquanto não há uma definição sobre a situação jurídicalink da roletaLula, o cronograma do PT para a pré-campanha inclui uma caravana pelos três Estados da região Sul do país, entre os dias 27link da roletafevereiro e 5link da roletamarço; e participaçõeslink da roletaLula nos protestos no Dia Internacional da Mulher (8link da roletamarço) e na ediçãolink da roleta2018 do Fórum Social Mundial, que ocorrelink da roletameadoslink da roletamarçolink da roletaSalvador, na Bahia. As informações sobre o roteiro são da presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR).

O partido também resolveu antecipar o lançamento oficial da pré-candidaturalink da roletaLula: será no dia 7link da roletafevereiro,link da roletaBelo Horizonte (MG).

O aglutinador do PT

Mas e as falas do próprio Lula, que no passado indicou que poderia ser substituído por Jaques Wagner (ex-governador da Bahia) ou por Fernando Haddad (ex-prefeitolink da roletaSão Paulo)? Até agora, tanto o ex-governador quanto o ex-prefeito defendem a candidatura do presidentelink da roletahonra do PT nas redes sociais.

"Não tem plano A, B, C ou D. Nós só temos o plano L, é Lula", disse Wagner no dia 23link da roletajaneiro,link da roletaum evento no Rio Grande do Sul.

O ex-governador e o ex-prefeito também não mostraram bom desempenholink da roletapesquisas eleitorais. No último levantamento do Instituto Datafolha, da última quarta-feira, Jaques Wagner teve apenas 2%link da roletaintençãolink da roletavoto,link da roletatodos os cenários nos quais foi testado. Na pesquisa anterior da mesma empresa, publicadalink da roletadezembro, Haddad aparecia com 3% das intençõeslink da roletavoto.

Num cenário sem Lula, porém, há outros fatores que podem se transformarlink da roletaproblemas internos para o PT, além da definiçãolink da roletacandidaturas. A começar pela própria formação da sigla: o PT é a somalink da roletavárias correntes internas, como Democracia Socialista (DS), Articulaçãolink da roletaEsquerda (AE), O Trabalho (OT) e Construindo um Novo Brasil (CNB), que possui hoje maioria no partido. É senso comum entre petistas dizer que Lula é a argamassa que segura o conjunto.

"Siglas com posições ideológicas bem definidas,link da roletadireita ou esquerda, nunca tiveram bom desempenho eleitoral. Então, os gruposlink da roletaesquerda que criaram o PT no fim dos anos 1970 precisavamlink da roletauma liderança carismática que pudesse ser a cara daquele projeto. E aí surge o Lula, que acabou se tornando maior que o próprio PT", diz Antônio José Barbosa, especialistalink da roletahistória política brasileira.

"De certa forma, Lula se tornou um aglutinador (dos vários grupos)", diz Barbosa, que é professor do Departamentolink da roletaHistória da Universidadelink da roletaBrasília (UnB). Barbosa acredita que a coesão entre esses grupos corre risco caso Lula seja definitivamente afastado da vida pública.

Desde a condenaçãolink da roletaLula no TRF, alguns dos principais líderes do partido também bateram cabeçalink da roletapúblico: Gleisi Hoffmann (PR) tevelink da roletadeclaração sobre a necessidadelink da roleta"matar gente" minimizada por petistas como Paulo Okamotto (presidente do Instituto Lula) e os deputados Carlos Zarattini (SP) e o próprio Paulo Pimenta.

Gleisi disse à BBC Brasil ser "pacifista como (Mahatma) Gandhi e Martin Luther King", e afirmou que a expressão criou "um auê" desnecessário. "Ninguém faz esse auê quando é o (Jair) Bolsonaro ou (o juiz Marcelo) Bretas usando expressões violentas."

Até mesmo o motelink da roletaque "não há plano B" gera discordância: o ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, disse na semana passadalink da roletaentrevista ao jornal O Estadolink da roletaS. Paulo que o PT já deveria estar pensandolink da roletaalternativas a Lula, apesarlink da roletater defendido o direito do ex-presidentelink da roletaconcorrer.

Racha

Fora dos muros do PT, a provável saídalink da roletaLula da disputa também significa uma fragmentação maior no campo da esquerda.

Até mesmo o PC do B, sigla historicamente ligada aos petistas, terá candidatura própria, com a ex-deputada Manuela D'Ávila (RS). O mesmo ocorre no PDT, com o ex-ministrolink da roletaLula, Ciro Gomes (CE). PSOL e PSB também devem ter candidatoslink da roleta2018.

Ou seja: as legendas vêem agora uma oportunidadelink da roletadesbancar a hegemonia do PT dentro da esquerda.

Segundo Gleisi, o PT pode estar junto dos demais partidoslink da roletaesquerda "no primeiro ou no segundo turno". Mas, para ela, "a unidade da esquerda não se dá sólink da roletatornolink da roletacandidatura". "Cada um destes partidos têm legitimidade para disputar", disse.

Até o ex-ministro José Dirceu, que já foi um dos caciques mais importantes do PT anteslink da roletaser condenado e preso pelo mensalão e, depois, pela operação Lava Jato, publicou um vídeo no começo da semana apelando para a unidade da esquerda.

Segundo Dirceu, "é a hora da unidade. É preciso reunir os candidatos a presidente da esquerda, dos democratas, dos progressistas (...). Todos,link da roletadefesa da democracia,link da roletadefesa do direito do Lula ser candidato".

Dirceu está solto desde maiolink da roleta2017 graças a uma decisão provisória (liminar) do STF, depoislink da roletapassar dois anos presolink da roletaCuritiba.