'Elite da elite', governo Temer não entende o que é estar desempregado no Brasil, diz economista:baixar betnacional atualizado

Temer durante a posse,baixar betnacional atualizadomaiobaixar betnacional atualizado2016

Crédito, Valter Campanato/Agência Brasil

Legenda da foto, Governo Temer é pouco diverso e distante da realidade do brasileiro comum, diz economista

Autora do livro Como matar a borboleta-azul: Uma crônica da Era Dilma, muito crítico à gestão da petista, a economista diz que a separação entre Brasília e o resto do país já era grande no governo Dilma, mas aumentou devido ao perfil dos ministros e assessoresbaixar betnacional atualizadoTemer: bem menos diverso do quebaixar betnacional atualizadoanos anteriores.

Monicabaixar betnacional atualizadoBolle

Crédito, Peterson Institute for International Economics

Legenda da foto, 'Fazer (reforma) meia-boca significa dizer que daqui a pouquíssimos anos estaremos discutindo a mesma coisa outra vez', opina economista

"Este governo é formado por gente que sempre esteve muito afastada do dia a dia do brasileiro comum. O governo Dilma tinha vários defeitos, mas havia muita gentebaixar betnacional atualizadocargos técnicos ebaixar betnacional atualizadoassessoria que entendia o que é serbaixar betnacional atualizadoclasse média baixa no Brasil. Este governo não tem isso. É um governo que vêm da elite da elite."

Leia abaixo os principais trechos da entrevistabaixar betnacional atualizadoDe Bolle à BBC Brasil.

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - Você costuma dizer que o governo Temer está apresentando "fatos alternativos" sobre a economia, falandobaixar betnacional atualizadorecuperação enquanto a crise se aprofunda. Como identificou esse comportamento?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Não é estranho que isso esteja acontecendo no governo Temer porque temos um histórico ricobaixar betnacional atualizadodesconexão entre os governantesbaixar betnacional atualizadoBrasília e a realidade. Atravessamos os anos Dilma com uma torcida feita pelo ministro da Fazenda quando qualquer número saía. E a realidade se revelava sempre pior. Isso agora está ainda mais forte porque existe uma ansiedade por parte do governobaixar betnacional atualizadocontar boas notícias. Por várias razões, inclusive por questõesbaixar betnacional atualizadosobrevivência políticabaixar betnacional atualizadoTemer.

É incrível como ganhou corpo a históriabaixar betnacional atualizadoo governo usar qualquer indicadorzinho para dizer que a recuperação está vindo. A função do presidente é um pouco essa. O que me surpreende é o (ministro da Fazenda, Henrique) Meirelles estar fazendo esse papel. Estamos vendo o presidente e o ministro da Fazenda, que era para ter um perfil técnico, fazendo exatamente a mesma coisa que o (ex-ministrobaixar betnacional atualizadoDilma) Guido Mantega fazia quando estava nessa posição.

A coisa mais surpreendente para mim, reveladora da desconexão com a realidade, é a discussão introduzida na semana passada sobre o FGTS (bancar os gastos com) o seguro-desemprego.

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - Por quê?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Você pegar a poupança forçada do trabalhador para cobrir o que deveria gastar com seguro-desemprego, numa situaçãobaixar betnacional atualizadoque o desemprego está subindo…

Isso mostra uma desconexão da realidade porque desemprego está aumentando e você tira a única redebaixar betnacional atualizadoapoio que o trabalhador tem.

Você pode interpretar essa medidabaixar betnacional atualizadoduas formas: ou é um confisco do FGTS ou é uma extinção temporária do seguro-desemprego.

O simples fatobaixar betnacional atualizadoterem considerado a proposta mostra uma completa faltabaixar betnacional atualizadonoção do que é a vida das pessoas desempregadas e abaixar betnacional atualizadotantas outras que têm medobaixar betnacional atualizadoperder seu emprego.

Temer ao ladobaixar betnacional atualizadoseu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Para De Bolle, Meirelles e Temer estão ansiosos para divulgar "boas notícias" sobre a economia

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - Quais são as origens dessa desconexão com a realidade?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Da parte do governo, a faltabaixar betnacional atualizadoconexão vem um pouco do desesperobaixar betnacional atualizadonão entregar nada do que havia sido prometido. A (reforma da) Previdência está indo por água abaixo, a trabalhista já teve um resultado surpreendente na Comissãobaixar betnacional atualizadoAssuntos Sociais do Senado, onde foi rejeitada. Isso vai dando um certo desespero no Ministério da Fazenda. Também tem o desespero político do Temer, tendobaixar betnacional atualizadovista a denúncia do (procurador-geral da República Rodrigo) Janot.

Por outro lado, existe uma faltabaixar betnacional atualizadopercepção dos integrantes do governobaixar betnacional atualizadoqual é a realidade cotidiana das pessoas. Este governo é formado por gente que sempre esteve muito afastada do dia a dia do brasileiro comum. O governo Dilma tinha vários defeitos, mas havia muita gentebaixar betnacional atualizadocargos técnicos ebaixar betnacional atualizadoassessoria que tinha um entendimento do que é ser uma pessoabaixar betnacional atualizadoclasse média baixa no Brasil. Este governo não tem isso. É um governobaixar betnacional atualizadopessoas que vêm da elite da elite.

O ministro da Fazenda foi o presidente mundial do BankBoston e ocupou cargos altíssimos. Isso não o descreditabaixar betnacional atualizadonenhuma maneira, mas também faz com que essas pessoas não tenham muito entendimento do que é a realidade do país. O próprio presidente já revelou isso.

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - No casobaixar betnacional atualizadousar o FGTS para bancar o seguro-desemprego, o governo não entenderia completamente a importância do seguro-desemprego para os brasileiros?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Falta uma noçãobaixar betnacional atualizadocomo fica a vidabaixar betnacional atualizadopessoas que são tão impactadas por desemprego. Eu, por exemplo, tenho parentes próximos, pessoas com anosbaixar betnacional atualizadoestudo, que ficaram recentemente desempregadas.

Parece que o governo não consegue entender a realidade dessas pessoas. Você, nesta situação, falarbaixar betnacional atualizadotirar o seguro-desemprego ébaixar betnacional atualizadoum absurdo completo.

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - Qual é a importância da composição da equipe nesse cenário? O fatobaixar betnacional atualizadonão haver mulheres atrapalha?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Por mais que o governo Dilma tenha sido, no final, uma catástrofe para o Brasil, ele podia não ter as melhores pessoas nem as mais competentes, mas o ministério era muito diverso. No governo Temer, não tem diversidade. Não é possível que não existam mulheres e negros extremamente capazesbaixar betnacional atualizadoocupar cargos neste governo. Mas a verdade é que é um governobaixar betnacional atualizadohomens brancos.

Senadores da oposição festejam rejeição,baixar betnacional atualizadocomissão,baixar betnacional atualizadorelatório da reforma trabalhista

Crédito, Marcos Oliveira/Agência Senado

Legenda da foto, Reforma trabalhista é rejeitadabaixar betnacional atualizadocomissão do Senado; para economista, é difícil que propostas passem

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - Antes da delação da JBS, você já falava que o sucesso das reformas não era garantido. E agora? Como fica a aprovação das medidas?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Com o Temer no olho do furacão das denúncias, haverá um ruído enormebaixar betnacional atualizadotorno dele, uma mobilização dentro do Congresso e um gastobaixar betnacional atualizadocapital político tão grande por parte do presidente que não vai sobrar nada para continuar a tocar as reformas. Na melhor da hipóteses, o que vai acontecer com a reforma da Previdência é a aprovaçãobaixar betnacional atualizadouma idade mínimabaixar betnacional atualizadoaposentadoria. Só. Porque vai estar todo mundo mobilizado decidindo o que fazer com o Temer.

Ele vai tentar manter a basebaixar betnacional atualizadoapoio e a base fará cada vez mais cobranças para ver se vale a pena apoiá-lo.

O fato é que não importa o acontecido no primeiro trimestre (quando a economia cresceu), no pós-Joesley (Batista) tudo isso já era. Com o graubaixar betnacional atualizadoincerteza que há no Brasil, vamos ver o mesmo que aconteceu no final no governo Dilma: os planosbaixar betnacional atualizadoinvestimento vão ser postergados, as empresas vão ficar esperando. Nesse quadro não tem melhora econômica.

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - Você falou que Meirelles está adotando um discursobaixar betnacional atualizadomarketing, diferente do que se esperava dele. Há uma decepçãobaixar betnacional atualizadorelação ao ministro?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Sim, com certeza. Pelo menos não se esperava que ele fizesse a mesma coisa que o Guido Mantega fazia. (Imaginei) o Mantega quando o Meirelles falou sobre o PIB, logo depois que ele foi divulgado no Brasil. Toda vez que tem tuíte no ministério da Fazenda, vejo o Mantega na minha frente, porque (vende-se a ideiabaixar betnacional atualizadoque) tudo está bom, tudo está uma beleza. 'Olha só, agora a gente teve a rebimboca da parafuseta melhorando, sinalbaixar betnacional atualizadoque a economia está bem!'

Joesley Batista após depoimento à Polícia Federalbaixar betnacional atualizado21baixar betnacional atualizadojunho

Crédito, EPA

Legenda da foto, Chancebaixar betnacional atualizadorecuperação da economia após delaçãobaixar betnacional atualizadoJoesley é muito menor, diz De Bolle

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - Em uma entrevista anterior, você falou que a proposta da reforma trabalhista enfraquecia as relaçõesbaixar betnacional atualizadotrabalho e tirava garantias do trabalhador. Mantém a mesma posição?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Continuo com a mesma sensaçãobaixar betnacional atualizadoque o Brasil precisa discutir e começar a fazer essas reformas, mas tudo está sendo feito a toquebaixar betnacional atualizadocaixa só para o governo dizer que é reformista. Não tenho segurançabaixar betnacional atualizadoque a reforma trabalhista que estamos fazendo é a melhor possível.

Tem um clichê que ouçobaixar betnacional atualizadovários economistas do Brasil quando faço essa críticas: o perfeito é inimigo do bom. Odeio esse clichê. Não podemos nos satisfazer só com o bom, porque o bom não dábaixar betnacional atualizadonada, como a gente viu tantas vezes. Fazer uma coisa meia-boca significa dizer que daqui a pouquíssimos anos estaremos discutindo a mesma coisa outra vez. Então, ou a gente faz uma coisa para realmente consertar o sistema ou espera para fazer direito.

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - Essa situação tem a ver com a necessidade dos governos brasileirosbaixar betnacional atualizadodeixarbaixar betnacional atualizadomarca? Falamos da reforma da Previdência como uma medida do governo Temer, por exemplo, e não como um projeto para o país.

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Exato. E não é uma reforma do governo Temer, a reforma tem que ser para a Previdência do Brasil, para todos os brasileiros. Não é para Temer poder dizer depois 'olha, conseguimos fazer a reforma X'. Isso é uma cabeça subdesenvolvida. Não importa qual é o governo que fez a reforma da Previdência, importa que a reforma seja feita da melhor forma possível.

Ah, as pessoas que estão trabalhando na proposta querem colocar seus nomes na reforma? Então elas já têm uma agenda que não é a agenda do país. A agenda é fazer o melhor para o Brasil, não colocar seu nome na reforma.

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - Mas isso aconteceubaixar betnacional atualizadovários governos, não?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Tivemos a experiência do Plano Real, que foi feito por um governo e por um determinado timebaixar betnacional atualizadoeconomistas que até hoje são citados pela imprensa como 'os pais do real'. Todos são grandes economistas e merecem esse rótulos, mas essa experiência é reveladorabaixar betnacional atualizadocomo as pessoas ainda se sentem no Brasil nesse aspecto.

Por exemplo, logo no início do governo Temer, teve gente no Ministério da Fazenda dizendo que eles queriam fazer o 'Plano Real do fiscal'. Por quê? Eles querem ser identificados depois como os pais do Plano Real do fiscal? Ou querem fazer diferença no país? Quais são os objetivos? Não fica claro, porque os governos se apropriam das reformas. A sociedade não quer mais isso, claramente. Aliás, o governo se apropriar das reformas é a maneira mais certabaixar betnacional atualizadohaver uma enorme pressão contra elas.

Dilma com algumasbaixar betnacional atualizadosuas ex-ministras

Crédito, ROBERTO STUCKERT FILHO

Legenda da foto, Para economista, apesarbaixar betnacional atualizadoproblemático, governo Dilma era muito mais diverso do que obaixar betnacional atualizadoTemer

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - Nesse cenário, as reformas se tornam ideológicas? Reformas da direita, como muitos se referem hoje às medidas do governo Temer?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - A reformabaixar betnacional atualizadosi não deveria ter nada a ver com o governo que a implementa, principalmentebaixar betnacional atualizadoáreas nas quais estamos tão atrasados. As nossas leis trabalhistas precisam ser modernizadas, ninguém discute isso. Nosso sistema previdenciário está quebrado. Essas questões são técnicas, não deveriam ter carga ideológica. Agora, quando o governo se apropria disso, acaba tendo uma carga ideológica.

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - No caso da reforma trabalhista, essa apropriação influenciou o desenho da proposta?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Com certeza. Quando você vê esse tema sendo discutidobaixar betnacional atualizadooutros países, existe uma preocupaçãobaixar betnacional atualizadointroduzir mais flexibilidade no mercado sem retirar a redebaixar betnacional atualizadoproteção ao trabalhador. Essa rede pode não ser a que temos no Brasil hoje, que gera incentivos perversos no sistema, mas você precisa ter uma redebaixar betnacional atualizadoamparo ao trabalhador. Não pode ser só sobre ganhosbaixar betnacional atualizadoeficiência, tem que haver equilíbrio. O trabalhador que perde a redebaixar betnacional atualizadoproteção futuramente estará numa situação mais precária.

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - A proposta brasileira atinge esse equilíbrio?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Ela me parece tender muito mais para o lado flexibilidade e eficiência do que para o lado proteção ao trabalhador.

baixar betnacional atualizado BBC Brasil - Com a apresentaçãobaixar betnacional atualizadodenúncia por Janot, como vê o futuro do governo Temer?

baixar betnacional atualizado Monicabaixar betnacional atualizadoBolle - Se Temer fizerbaixar betnacional atualizadofato o jogo do 'fico a qualquer custo e vou até o fim', vai levar a economia para o buraco junto com ele, porque tudo ficarábaixar betnacional atualizadofunção do presidente. A briga institucional que já existe entre Executivo, Legislativo e Judiciário vai continuar, e paralisar o país inteiro.