A ideiamelhores jogos onlineque 'prender todo mundo' acaba com a corrupção é ingênua, diz cientista político:melhores jogos online
"A leitura aí é que você prende os corruptos, e então vão ficar só os não-corruptos. Isso é conversa fiada, uma bobagem", afirma.
"É ingenuidade achar que a Lava Jato vai extinguir a corrupção", acrescenta.
Reis compara a corrupção aos vírusmelhores jogos onlinecomputador - por mais que se criem antivírus, eles não vão ser capazesmelhores jogos onlineextinguir todos os vírus existentes.
"Você tem que combater corrupção, sim, é uma tarefa permanente do Estado, mas é mais ou menos como empresamelhores jogos onlinecomputação criando antivírus. Ela não vai conseguir extinguir os vírus. Ela vai fazer antivírus o tempo todo. Isso não tem um pontomelhores jogos onlinechegada", exemplifica.
Reis diz ainda que o desafio do Brasil não é descobrir como se livrarmelhores jogos onlinepolíticos corruptos, mas sim como proteger o político da corrupção ativa praticada pela sociedade.
Para o professor na UFMG e pesquisador do estudo Dinheiro e Política: A Influência do Poder Econômico no Congresso Nacional, no Institutomelhores jogos onlinePesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a corrupção na política brasileira "não é mais fator desviante, e sim comportamento padrão".
E a solução, ele garante, não estámelhores jogos online"prender todo mundo", masmelhores jogos onlineuma boa reforma do atual sistema político - que,melhores jogos onlinesuas palavras, "é corrupto por lei".
Leia os principais trechos da entrevista com Bruno Pinheiro Wanderley Reis.
melhores jogos online BBC Brasil: O senhor costuma dizer que a "condutamelhores jogos onlinecorrupção na política brasileira não é mais fator desviante, mas comportamento-padrão". Como e por que se chegou a essa situação?
melhores jogos online Bruno P. W. Reis: No Brasil, o dispositivo específico, que só incide aqui, é que o tetomelhores jogos onlinedoação (de campanha) tem que ser proporcional ao do doador. Até 2014 (quando doaçõesmelhores jogos onlineempresas eram permitidas), era no máximo 10% do rendimento da pessoa ou 2% do faturamento bruto da empresa. Qual é a lógica que isso cria? O candidato só ia pedir dinheiro às empresas que mais faturam, às pessoas mais ricas. Aí entram bancos, mineradoras, empreiteiras.
Então fica claro que você vai ter um jogo - porque só pouquíssimas empresas podiam doar bilhões dentro dessa regra.Obviamente isso vicia o sistema político e o jogo eleitoral. Vai arrecadar mais o candidato que tiver boas relações e bom fluxomelhores jogos onlinerecursos com as grandes empresas, bancos, empreiteiras, mineradoras. É uma anomalia, essa regra só existe aqui no Brasil.
A gente produz uma competiçãomelhores jogos onlinecentenasmelhores jogos onlinecandidaturas individuais disputando dezenasmelhores jogos onlinecadeirasmelhores jogos onlinedistritos com milhõesmelhores jogos onlineeleitores. E isso é muito difícilmelhores jogos onlinefiscalizar, os TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) são admiráveis, mas é impossível governar um sistemamelhores jogos onlineque concorrem maismelhores jogos onlinemil candidatos na mesma circunscrição.
Enquanto no resto do mundo você tem uma dezenamelhores jogos onlinechapas disputando favores e doaçõesmelhores jogos onlinemilharesmelhores jogos onlinedoadores, aqui no Brasil a gente faz uma competiçãomelhores jogos onlineque milharesmelhores jogos onlinecandidatos disputam os favores financeirosmelhores jogos onlineuma dúziamelhores jogos onlinedoadores potenciais.
Você vai ter uma elite parlamentar, tantomelhores jogos onlinevereadores quantomelhores jogos onlinedeputados, extremamente dependentemelhores jogos onlinepoucos grandes financiadores. Isso é um sistema que dá um poder sem igual a financiadores, a agentes privados que legitimamente têm seus interesses políticos e as suas prioridades próprias. Só que nenhum país deixa seu representante político tão vulnerável a seu financiador.
São as grandes empresas, as doadoras, quem dá as cartas nesse sistema (brasileiro).
O que significa que é um sistema propenso a captura do representante pelo financiador, portanto é um sistema que a gente pode querer chamarmelhores jogos onlinecorrupto por definição. Corrupto na lei, a lei o torna corrupto.
melhores jogos online BBC Brasil: Em 2014, o senhor fez uma análise sobre a Lava Jato dizendo que a estratégia adotada por ela com as delações premiadas seria "autodestrutiva" para a política e que ela estaria apenas "enxugando gelo". Por que o senhor acredita nisso?
melhores jogos online Reis: A delação premiada foi inventada pra pegar máfias, porque máfias têm uma redemelhores jogos onlinesilêncio. Então você pega um cara que esteja encrencado e oferece algomelhores jogos onlinetroca para pegar mais gente. E isso é eficaz. Você puxa um fio e chega até o topo. Mas para mim esse é o pecado crucial da Lava Jato. A gente quer desbaratar a máfia, mas a gente não quer desbaratar o sistema político todo.
Em vezmelhores jogos onlinea gente usar o sistemamelhores jogos onlinecontrole, que está cada vez melhor, canalizar as investigações para captar os problemas e solucionar mudando a legislação (do sistema eleitoral), a gente está querendo puxar o fio - e isso é extremamente destrutivo.
Eu não aplicaria a delação premiada. A exposição do (setor do) petróleo, com identificaçãomelhores jogos onlinediretores que estavam recebendo propinas, já é um mega choque no sistema, que provavelmente mudaria práticas. Agora, o que você tem é uma clara deterioração institucional, está um salve-se quem puder.
A capacidade da Lava Jatomelhores jogos onlineinvestigar pessoas tão poderosas deriva da estabilidade relativa do sistema políticomelhores jogos online1988 para cá. Essa é a parte mais triste. Esse sistema que está aí agora é o sistema menos malsucedido que esse país já foi capazmelhores jogos onlinepormelhores jogos onlinepémelhores jogos onlinetoda amelhores jogos onlinehistória. A ideiamelhores jogos onlineque o próximo vai ser melhor é só uma esperança.
melhores jogos online BBC Brasil: Como o Sr. vê o futuro da Lava Jato?
melhores jogos online Reis: Estamosmelhores jogos onlineuma situaçãomelhores jogos onlineque todo mundo que é preso a gente já começa a pensar, qual será a delação? É uma bolamelhores jogos onlineneve. Isso não vai acabar. Quando vai acabar? Quando o país todo estiver na cadeia, aí você joga a chave fora? Quando vier um "salvador da pátria"?
Nesse momento, ninguém consegue aprovar no Congresso medidas que limitem a atuação das investigações, mas vai acontecer. No momentomelhores jogos onlineque o sistema se reestabilizar, cedo ou tarde isso acontece, algum salvador da pátria que vai ser eleito vai ter que voltar a ter o dispositivomelhores jogos onlinepoder. Para fazê-lomelhores jogos onlinemaneira confiável, crível pelos atores, vai precisar pôr limite na atuação do Judiciário. E é aí que a ambiçãomelhores jogos onlinelimpeza se mostra destrutiva.
melhores jogos online BBC Brasil: Mas não seria tarefa do Estado combater a corrupçãomelhores jogos onlineoperações como a Lava Jato?
melhores jogos online Reis: Você tem que combater corrupção, sim, essa é uma tarefa permanente do Estado. Mas é mais ou menos como funcionamelhores jogos onlineuma empresamelhores jogos onlinecomputação que cria antivírus. Ela não vai conseguir extinguir os vírus, aboli-los. Ela vai fazer antivírus o tempo todo. Isso não tem um pontomelhores jogos onlinechegada. Para isso, você tem que ir aperfeiçoando por rotinas burocráticas, administrativas, etc. a capacidade do sistemamelhores jogos onlinecontrolar a corrupção. A gente vinha fazendo isso.
Nossa capacidademelhores jogos onlinecombater a corrupção hoje é muito maior do que há 30 anos. Agora, do jeito que vai, vai piorar. Porque o sistema está sendo desarticulado namelhores jogos onlineteiamelhores jogos onlineinteresses, namelhores jogos onlinecapacidademelhores jogos onlineautocontrole. A gente está num processomelhores jogos onlineautodestruição. O que poderia acontecermelhores jogos onlinepior seria o desmantelamento do sistema partidário, que foi o que aconteceu na Itália, algo catastrófico.
melhores jogos online BBC Brasil: Mas se a 'culpa' pela corrupção que toma conta da política hojemelhores jogos onlinedia é do sistema eleitoral, a Lava Jato não poderia ajudar a "consertá-lo"?
melhores jogos online Reis: Não é função da primeira instância, mas o Supremo tem um papel nisso. E nas declarações dos líderes da operação Lava Jato aparece essa intenção também,melhores jogos online"limpar o sistema". E nisso eles são precisamente ingênuos. Não é que você só pode investigar se for fulano, sicrano e beltrano, mas não pode pegar os graúdos. Não, não é isso. Se você está tocando a investigação e caiu no colo uma prova contra o presidente da República, você tem que denunciar. Agora, o que a gente está fazendo aqui é uma busca retóricamelhores jogos onlineincriminaçãomelhores jogos onlinepolíticos importantes, que é guiada por uma ambição ingênuamelhores jogos onlinepurificação do sistema - algo que eu entendo que é contraproducente.
A leitura da Lava Jato é amelhores jogos onlineque você prende os corruptos, e então você vai ter somente os não-corruptos. Mas isso é conversa fiada, uma bobagem. É demagogia.
O desafio não é como a gente se livramelhores jogos onlinepolítico corrupto, mas como a gente protege o político da corrupção ativa praticada pela sociedade.
Entãomelhores jogos onlinevezmelhores jogos onlinea gente reformar a lei, a gente prende os caras. Os representantes votados pelo eleitorado, induzidos por essa grana. Mas aí foi preso porque estava cheiomelhores jogos onlinedinheiro - e quem é o suplente? De onde ele recebeu dinheiro? Estamos enxugando gelo, desestabilizando um sistema que é estruturalmente viciado e mantido vigente. E ninguém falamelhores jogos onlinemudar a lei. A discussão não vai a lugar nenhum.
melhores jogos online BBC Brasil: Como, então, se combate a corrupção?
melhores jogos online Reis: O que me preocupa aí é a sustentabilidade desse combate à corrupção. Eu não vejo isso com bons olhos quando tenho a impressãomelhores jogos onlineque o lastro institucional que viabilizou com melhoria nítida o combate à corrupção estámelhores jogos onlinedesarranjo. Pode ser que dê certo? Pode ser, por acaso. O normal é ter conflito, o que se esperamelhores jogos onlineprocessos como o que a gente está metido é uma desorganização profunda do lastro partidário e subsequente comprometimento do controle da corrupção.
melhores jogos online BBC Brasil: Qual seria o sistema político mais viável para o Brasil - e que não "favoreça" a corrupção?
melhores jogos online Reis: Como meu diagnóstico está baseado numa interação infeliz entre o sistema eleitoral e as regrasmelhores jogos onlinefinanciamento, eu mudaria essas duas coisas, no que diz respeito ao início do processo. Quer dizer, você tem que ter tetos nominais para doações, emelhores jogos onlinenúmeros razoáveis, da ordemmelhores jogos onlinemilharesmelhores jogos onlinereais. Eu manteria empresa e pessoa física, desde que cada um esteja doando (até) R$ 10 mil, R$ 50 mil... Não resolve todos os problemas, mas fica menos ruim.
A primeira solução seria essa: tetos que não permitam que nenhum doador individual seja o donomelhores jogos onlineuma campanha. Isso já tenta induzir uma fragmentação da fontemelhores jogos onlinerecurso.
Do outro lado, se o sistema eleitoral produz uma demanda muito alta por recursos fragmentados, eu tenho que tentar concentrá-lo. O que eu faria? Fecharia a lista (votomelhores jogos onlinelista fechada significa votomelhores jogos onlinepartidos, e nãomelhores jogos onlinecandidatos a deputados). E diminuindo o númeromelhores jogos onlinecandidatos, a eleição fica mais controlável, mais fiscalizável. E por fim, eu subiria o quociente eleitoral, que automaticamente diminuiria o númeromelhores jogos onlinepartidos no plenário.
É simples, não é inventar a roda.