Tim Vickery: mito da democracia racial no Brasil é propaganda enganosa, mas alivia dureza do mundo:betfair 300

Tim Vickery

Crédito, Eduardo Martino

Ansiosos para se livrarbetfair 300velhos rótulos e limitações, esses jovens criaram abetfair 300própria identidade e o seu próprio mundo. Amavam o jazz moderno dos negros americanos, ficavam alucinados diantebetfair 300ternos italianos ou cortes francesesbetfair 300cabelo.

Abraçavam um futurobetfair 300que era possível ser, ao mesmo tempo, inglês e cosmopolita. Era o nascimento, muito bem observado por MacInnes,betfair 300um movimentobetfair 300modernismo popular. Aquele admirável mundo novo é descrito com tanta vividez que me arrependobetfair 300ter nascidobetfair 3001965.

Mas nem tudo são flores. E há um espinho nessa rosa concreta da Londres pós-guerra. Durante os anos 1950, o perfil do país comecou a mudar com o processobetfair 300imigração, especialmente do Caribe e do subcontinente indiano.

A reação veiobetfair 3001958, com imigrantes sendo atacados por racistas, primeiro na cidadebetfair 300Nottingham e depois no bairro londrinobetfair 300Notting Hill - foibetfair 300resposta a este triste evento que logo depois foi lançado o carnavalbetfair 300Notting Hill, hoje a maior festabetfair 300rua da Europa.

Carnavalbetfair 300Notting Hill

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Visão da multidão na edição 2016 no carnavalbetfair 300Notting Hill,betfair 300Londres; evento foi criado por imigrantes da comunidade afrocaribenha e hoje é a maior festabetfair 300rua da Europa, e celebra a diversidade étnica do país

Com enorme fidelidade aos fatos, MacInnes relata os acontecimentosbetfair 300Notting Hill, e o seu livro aplica um teste básico a todos seus personagens: como eles pensam e reagem sobre a questãobetfair 300raça e imigração. Salvam-se, na visão do livro, aqueles dispostos a acolher e defender os imigrantes - entre eles, claro, o narrador.

Enojado pelas cenasbetfair 300racismo que testemunha, o narrador esbarra com um conhecido, um diplomata latino-americano. "Eu perguntei ao Micky (o conhecido)betfair 300quais dos países que visitou a cor menos importava, e ele respondeu prontamente: Brasil."

O final do livro descreve a tentativa - fracassada - do narradorbetfair 300embarcarbetfair 300um avião rumo ao Brasil.

Após 22 anos vivendo no Brasil, não consigo fugirbetfair 300uma pergunta fascinante: e se o narradorbetfair 300Absolute Beginners tivesse conseguido chegar por aqui? O que ia achar?

Aposto que seria uma surpresa negativa. A rigidez das hierarquias e a pobreza iriam lembrá-lo das reclamaçõesbetfair 300seu pai sobre os anos 1930. E, no aspecto racial, logo se chocaria com as dificuldadesbetfair 300superar o legado da escravidão.

O livrobetfair 300Colin MacInnes é uma amostra da força do mito brasileiro da democracia racial, que às vezes parece tão longe da realidade que serve como propaganda enganosa. Nunca encontrei nenhum negro brasileiro que comprasse tal mito - todos são sempre bem cientes das barreiras que têm que enfrentar.

Mesmo assim, não vejo esse mito como um fenômeno totalmente negativo. Pode incluir uma dose considerávelbetfair 300cinismo - é impressionante como a figura do negro brasileiro fica mais integrada na imaginação durante dois momentos históricos bastante autoritários: os sambistas durante o Estado Novo (1937-1945) e o Pelé no auge da ditadura militar,betfair 3001970.

Pode ser que exista valor na construçãobetfair 300uma identidade nacional não-racial. Até se a realidade deixa a desejar, pelo menos a ideia existe como um contraponto a tantos conflitos étnicos no mundo.

Mas pode ser também que o assunto seja tão complexo que começo a soar como um "principiante absoluto".

*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formadobetfair 300História e Política pela Universidadebetfair 300Warwick

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