Os profissionais que abandonaram indústria da carne para abrir negócios veganos:sportsbetio app

Alguns meses depois, a namoradasportsbetio appShovel mostrou a ele um vídeo com pintinhos sendo abatidos na indústriasportsbetio appproduçãosportsbetio appovos.

"Achei que fosse algum tiposportsbetio appvídeo alarmista e que eu não deveria assistir", ele conta. "Acho que, como muitas pessoas, eu tinha o que é chamadosportsbetio appdissonância cognitiva."

A dissonância cognitiva é um viés psicológico que surge quando as pessoas tentam defender duas ou mais crenças contraditórias ao mesmo tempo – neste caso, "eu gostosportsbetio appanimais" e "eu gostosportsbetio appcomer carne".

"Ou seja, eu basicamente tinha uma espéciesportsbetio appdesconhecimento deliberadamente autoinfligido sobre o que acontece nos bastidores da nossa indústria alimentícia", explica Shovel. E o vídeo dos pintinhos, para ele, trouxe uma reviravolta.

Enquanto trabalhava nos planos para o novo negócio com bases vegetais, "parti naquela época para uma jornada pessoal". E foi assim que,sportsbetio appamante do KFC e ex-funcionário do McDonald's, Shovel passou a ser vegetariano, depois vegano, e defensor apaixonado do bem-estar animal.

Essas jornadas paralelas, pessoal e profissional, levaram vários anos. Shovel e Sharman acabaram fundando a THIS, uma marcasportsbetio appproteína vegetal que pretende atingir as pessoas que comem carne, com seu marketing provocador, mas sem julgamento.

"Determinei logo no começo que, basicamente, a melhor formasportsbetio appdesarmar a defensiva das pessoas... é tentar fazê-las rir", conta Shovel.

Andy Shovel não é o único empreendedor vegano com passagem pela indústria da carne. A empresa produtorasportsbetio appfrango vegetal TiNDLE foi fundada pelo alemão Timo Recker e por um brasileiro, André Menezes. Recker vemsportsbetio appuma família do setorsportsbetio appcarne processada e Menezes trabalhou para distribuidoressportsbetio appcarne.

As marcas The Vegetarian Butcher e Those Vegan Cowboys foram fundadas pelo fazendeiro holandêssportsbetio appnona geração Jaap Korteweg. Ele decidiu abandonar a criaçãosportsbetio appanimais depois que a febre suína e a doença da vaca louca atingiram a Holanda.

E estes empresários não são os únicos a reavaliar seu trabalho com animais para alimentação. Existem criadoressportsbetio appgado que também estão mudandosportsbetio appideia – como o criador britânico que passou a cultivar vegetais com métodossportsbetio appprodução totalmente veganos.

Mas, para mergulharsportsbetio appcabeça nos chamados "empregos humanos" – que beneficiam tanto as pessoas, quanto os animais – é preciso encontrar apoio social e financeiro.

Substituindo animais por plantas

Para a americana Morgan Salis-Deany, "muitas vezes as mudanças vêmsportsbetio appum acontecimento traumático".

Foi o que aconteceu nasportsbetio appfamília. Uma combinaçãosportsbetio appdependência, suicídio e ainda outra morte fez com que eles enfrentassem decisões difíceis sobre o que fazer comsportsbetio appfazendasportsbetio app323 hectares, ou cercasportsbetio app3,2 km², no Texas (EUA).

O avô e os tiossportsbetio appSalis-Deany criavam vacas e galinhassportsbetio appníveis industriais. Eram cercasportsbetio app1 mil cabeçassportsbetio appgado e 12 aviários com maissportsbetio app55 mil galinhassportsbetio appcada um.

A escala "é quase inimaginável", ela conta. E as memórias sensoriais dasportsbetio appinfância permanecem nítidas até hoje.

"Eu me lembrosportsbetio appandar por aqueles aviários com dificuldade para respirar, devido aos níveissportsbetio appamônia", ela conta, "esportsbetio appver as aves no chão sem poderem se levantar porque o peso do corpo era grande demais."

Para ela, a mudançasportsbetio appmoradia para cursar a universidade na Califórnia foi como entrarsportsbetio appum mundo novo.

Depois da morte do avô, seus tios não conseguiram dar conta da cargasportsbetio apptrabalho. E também surgiram dificuldades financeiras.

Por isso,sportsbetio appmãe e a própria Salis-Deany decidiram voltar para o Texas entre 2017 e 2019. Mas elas queriam que tudo fosse diferente.

A família já se considerava amiga dos animais há muito tempo. Mas havia uma distinção entre o amor aos seus cães e cavalos e o trabalho que elas desempenhavam para viver.

Salis-Deany esportsbetio appmãe haviam viajado e dedicado algum tempo ao resgatesportsbetio appanimais. E a combinação das suas convicções, pressões financeiras e as dificuldades da criaçãosportsbetio appgalinhas fizeram com que a família decidisse abandonar a pecuária.

Para isso, elas precisaram fazer um empréstimo, mas também tiveram aliados para apoiá-las.

Durante o processo, Salis-Deany contou com o auxílio da ONG Mercy for Animals. A organização administra o programa chamado Transfarmation, nome que mistura a palavra farm (fazenda,sportsbetio appinglês) com a palavra transformation (que significa transformação), sugerindo assim a transformaçãosportsbetio appfazendas.

O programa oferece assistência técnica e financeira para a transiçãosportsbetio appfazendas que praticam a pecuária industrial nos Estados Unidos.

Existem projetos similaressportsbetio appoutros países. Na Suíça, por exemplo, os fazendeiros estão ajudando uns aos outros para substituir a pecuária leiteira pelo cultivosportsbetio appaveia.

Mas os programassportsbetio apptransiçãosportsbetio appfazendas costumam ser realizadossportsbetio apppequena escala. Muitas vezes, é difícil atrair fazendeiros interessadossportsbetio appquantidade suficiente ou fazer com que o trabalho seja economicamente viável.

O projeto Transfarmation trabalhou com 12 fazendeirossportsbetio appum períodosportsbetio appcinco anos, segundo seu diretor, Tyler Whitley. "Trabalhamos com um pequeno númerosportsbetio appfazendeiros,sportsbetio appforma muito, muito intensa."

Para isso, é preciso gerenciar com cuidado as expectativas.

"Quando você faz a transiçãosportsbetio appum negócio que já dura 20 anos para fazer algo totalmente novo, esta mudança pode ser muito assustadora", reconhece Whitley. E mudar para um tiposportsbetio appfazenda totalmente diferente é um processo complexo.

Os fazendeiros geralmente entramsportsbetio appcontato com o programa depoissportsbetio appconversar com suas famílias, quando já estão cansados do que estão fazendo.

Seus motivos podem ser diversos, segundo Whitley. Eles incluem problemas financeiros; desejosportsbetio appmelhor qualidadesportsbetio appvida; a buscasportsbetio appmais autonomiasportsbetio apprelação aos contratossportsbetio appprodução, nos quais as grandes empresas fornecem os animais; e preocupações com o impacto ambiental ou as condições dos animais.

O projeto Transfarmation fornece informações sobre diversas possibilidadessportsbetio appsubsistência e ajuda a testar diferentes usos da infraestrutura já existente nas fazendas, como cultivar cogumelossportsbetio appaviários.

O programa também costuma conceder pequenos financiamentos,sportsbetio appUS$ 10 mil a US$ 20 mil (cercasportsbetio appR$ 53,5 mil a R$ 107 mil), para ajudar na transição.

A manutenção das dívidas é um problema importante e encontrar mercado para produtos especializados pode ser difícil. Mas Whitley relata que "todos os produtores com quem trabalhamos estão tendo lucro com suas empreitadas".

Ele também acredita que continuar produzindo alimentos permite que os fazendeiros mantenham seu sensosportsbetio apporgulho relacionado àsportsbetio appidentidade.

Salis-Deany certamente sente orgulho quando descreve as novas atividades desenvolvidas na fazenda da família. Agora, ela trabalha no resgatesportsbetio appanimais do centrosportsbetio appresgate Let Love Life, destinado principalmente aos cães.

A fazenda começou a produzir cânhamo, que agora é seco nos antigos aviários, para ser transformadosportsbetio appóleosportsbetio appcanabidiol. E ela também está transformando outro aviáriosportsbetio appuma operaçãosportsbetio appcultivosportsbetio appflores.

Salis-Deany também tem um planosportsbetio applongo prazosportsbetio apphospedagem na fazenda.

Ela reconhece que existem riscos nesses planos tão diversificados, como a redução da lucratividade. Mas também haveria riscos se eles continuassem a gerenciar a fazenda como faziam anteriormente.

Ela tenta viver um diasportsbetio appcada vez. E, a cada dia na fazenda, ela sente o cheirosportsbetio appmadressilva, sálvia e outras plantas,sportsbetio appvez dos odores da amônia das galinhas confinadas.

Salis-Deany vem observando cada vez mais aves e borboletas na fazenda. "Não vejo nada alémsportsbetio apppossibilidades."

Como superar os obstáculos

No casosportsbetio appAndy Shovel, a transição da indústria da carne para produtossportsbetio apporigem vegetal foi acompanhada por uma mudança radicalsportsbetio appideologia, o que o ajudou a também compreender a psicologia dos seus clientes.

Esta é uma das razões por trás da abordagem irreverente da THIS. Shovel acredita que ela pode ajudar a romper as defesas das pessoassportsbetio apprelação ao consumosportsbetio appcarne.

"Talvez todos nós aceitemos bem o terrível comportamento do nosso sistema alimentar porque achamos que é normal", afirma ele.

Para Shovel, o poder da normalização é enorme. Por isso, "é importante observar com novos olhos e simplesmente redefinir as normas".

Mas uma lição dessas transições para alimentossportsbetio apporigem vegetal é que apenas a ética das pessoas costuma ser suficiente. Ela normalmente ajuda se houver também uma razão prática para a mudança.

Uma dessas razões pode ser financeira. As dificuldades criadas pelas dívidas crônicas entre os fazendeiros "facilita muito o trabalhosportsbetio apptentar idealizar uma opção competitiva", segundo Tyler Whitley.

Shovel conta que o impulso inicial para mudar para produtos alternativos à carne foi o seu enorme potencialsportsbetio appmercado.

Outra questão é a importânciasportsbetio appmanter o sensosportsbetio appcomunidade depoissportsbetio appuma transição importante. Uma mudança radical que envolva a atividadesportsbetio appcriaçãosportsbetio appanimais,sportsbetio appque a identidade dos produtores é tão intimamente relacionada com asportsbetio appformasportsbetio appvida, pode ser algo especialmente perturbador.

Morgan Salis-Deany conta que faz partesportsbetio appum grande gruposportsbetio appvoluntários e funcionários no resgatesportsbetio appanimais, mas tambémsportsbetio appuma comunidade maior para conseguir encontrar alguma basesportsbetio appcomum.

Mas não tem sido fácil. Ela nunca se sentiu pertencente à região leste do Texas, onde ela percebe que "ainda existem muitas formas antigassportsbetio apppensamento, muitos ideais conservadores".

Mas, mesmo nos Estados Unidos, até grupos politicamente polarizados podem se unirsportsbetio apptorno da proteção dos animaissportsbetio appestimação.

Durante o processosportsbetio apptransição dasportsbetio appfamília para abandonar a pecuária, Salis-Deany encontrou conforto no sensosportsbetio appcomunidade existentesportsbetio appsuas outras atividades, como o resgatesportsbetio appcães.

Tudo isso ajuda a evitar o riscosportsbetio appmergulhar demaissportsbetio appcomunidadessportsbetio appnicho. Shovel tem consciência deste risco.

"O veganismo é uma áreasportsbetio appque, eu acho, as câmarassportsbetio appeco são extremamente frequentes."

Como muitos outros veganos, Shovel recebe muitas críticas por suas opiniões sobre os produtossportsbetio apporigem animal.

"Eu me sinto muito isolado, às vezes, quando o assunto é minha ideologia"sportsbetio appnão usar produtos animais, explica ele. "É uma dissonância muito forte deixarsportsbetio appseguir as ideologias relativamente comuns para,sportsbetio apprepente, passar a se sentir um alienígena."

Mas existem espaços onde Shovel pode se sentir um pouco menos solitário. Ele estima que cercasportsbetio app10% dos funcionários da THIS sejam veganos – mais do que o índice médio do Reino Unido,sportsbetio appcercasportsbetio app4%. E ele também fundou recentemente uma ONG dedicada ao bem-estar animal.

Como parte da pequena redesportsbetio appfazendeiros que trabalharam com o projeto Transfarmation, Salis-Deany também encontrou uma comunidade que consegue ajudá-la a se sentir menos isolada, embora seus participantes estejam espalhados pelos Estados Unidos.

"As comunidadessportsbetio appprodutores podem ser muito pequenas", afirma Whitley. Por isso, para os fazendeiros participantes, a equipe do projeto Transfarmation "tenta fazer com que eles tenham possibilidadesportsbetio appacesso a conferências e outras oportunidadessportsbetio appformaçãosportsbetio appredes, para que não se sintam tão isolados".

Aqui, o elemento social é fundamental, como enfatiza a cientista da conservação Anne Toomey, da Universidade Pacesportsbetio appNova York, nos Estados Unidos.

Para ela, "se houver formassportsbetio apppermitir que a comunidade ambiental demonstre que ser ambientalista é fazer partesportsbetio appuma comunidade social, acho que pode ser algo muito poderoso".

Essas comunidades podem ser criadas online, como as redessportsbetio appapoio a produtores orgânicos na internet.

Toomey acredita que "se as pessoas sentirem que fazem partesportsbetio appalgo e tiverem outras pessoas que possam encontrar para testar isso e aquilo", elas terão ajuda para superar as dificuldades.

Mas tudo isso envolve ouvir além das cisões sem fazer julgamentos, o que nem sempre é fácil colocarsportsbetio appprática.

Como diz Whitley, "esta é uma épocasportsbetio appgrandes mudanças e, por isso, ésportsbetio appgrande auxílio se conseguirmos nos aproximar dos demais, buscando maior compreensão para podermos enfrentar juntos essas mudanças".

sportsbetio app Leia a sportsbetio app versão original desta reportagem sportsbetio app (em inglês) no site sportsbetio app BBC Future sportsbetio app .