Por que Ozempic virou símbolo da desigualdade no tratamento da obesidade no Brasil:jogo da caveira blaze

Ozempic

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Legenda da foto, Dose mensaljogo da caveira blazeOzempic sai ao redorjogo da caveira blazeR$ 1.000,00

De um lado, esse campo da Medicina vive uma espéciejogo da caveira blaze"erajogo da caveira blazeouro", com a aprovaçãojogo da caveira blazeremédios como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, que são capazesjogo da caveira blazereduzir o pesojogo da caveira blazeum indivíduojogo da caveira blazeaté 25%jogo da caveira blazealguns casos — algo impensável há poucos anos.

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O problema é que essas opções farmacêuticas precisam ser tomadasjogo da caveira blazeforma contínua e têm um preço elevado, o que as torna inacessíveis a boa parte da população (e difíceisjogo da caveira blazecaber no orçamento da saúde pública).

Do outro, a obesidade já atinge umjogo da caveira blazecada cinco brasileiros — com a tendênciajogo da caveira blazeque esses números continuarão a subir pelos próximos anos, especialmente entre os mais pobres.

E, para completar, o Sistema Únicojogo da caveira blazeSaúde (SUS) ainda não oferece nenhum tratamento medicamentoso contra a obesidade.

Mas como resolver essa equação? Será possível fechar essa conta e garantir o acesso aos remédios antiobesidade àqueles que mais precisam? A BBC News Brasil conversou com representantesjogo da caveira blazevários setores envolvidos neste debate para entender quais são as possíveis saídas diante deste dilema atual.

Uma transiçãojogo da caveira blazepeso

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Uma toneladajogo da caveira blazecocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês

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Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa

O nutricionista e epidemiologista Rafael Claro explica que as doenças crônicas (diabetes, hipertensão, colesterol alto…) e a obesidade são problemasjogo da caveira blazesaúde que estão historicamente ligados a grupos com condições socioeconômicas mais elevadas.

"E a lógica por trás disso é relativamente simples. Antigamente, o padrãojogo da caveira blazealimentação que conduz as pessoas à obesidade era caro. Para você ter acesso a alimentos ultraprocessados no passado, era preciso ter dinheiro", lembra o professor do Departamentojogo da caveira blazeNutrição da Escolajogo da caveira blazeEnfermagem da Universidade Federaljogo da caveira blazeMinas Gerais (UFMG).

"Além disso, o estilojogo da caveira blazevida mais sedentário estava ligado a ocupações específicas, como o trabalhojogo da caveira blazeescritório. E os lazeres sedentários, como a televisão e o videogame, só eram acessíveis aos mais ricos", continua ele.

Nessa época, os mais pobres se alimentavam majoritariamentejogo da caveira blazecomida in natura (como verduras, legumes, frutas ou grãos) e costumavam ter ocupações braçais, que exigem mais energia e esforço físico.

"À medida que o tempo passa, essa carga se desloca dos indivíduos mais ricos para aqueles que são mais pobres", observa Claro.

"Hojejogo da caveira blazedia, a alimentação que protege as pessoas da obesidade, ou seja, uma dieta baseadajogo da caveira blazealimentos in natura e minimamente processados, passou a custar mais caro que a comida ultraprocessada e não saudável."

"Para completar, todas as ocupações se tornaram sedentárias. Para você ter acesso a um lazer ativo nos dias atuais, é preciso morar num bairro bom, onde terá segurança e estrutura para andar numa calçada ou num parque. E o acesso a clubes e academias custa caro", complementa o epidemiologista.

Foto antigajogo da caveira blazefamília vendo TV

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Legenda da foto, No passado, lazeres sedentários (como assistir TV) estavam restritos às famílias mais abastadas

Na visão do especialista, essa transiçãojogo da caveira blazehábitosjogo da caveira blazeconsumo, trabalho e comportamento ocorridajogo da caveira blazepoucas décadas já gera resultados práticos, que são observadosjogo da caveira blazeestatísticas.

"Nos inquéritos populacionais realizados periodicamente no Brasil, é possível notar claramente que a carga da obesidade está se deslocando dos sujeitos mais ricos para aqueles que são mais pobres, especialmente para as mulheres com menos condições socioeconômicas", destaca ele.

A última Pesquisa Nacionaljogo da caveira blazeSaúde (PNS), realizadajogo da caveira blaze2019, aponta que 20,1% dos brasileiros estão obesos (ou seja, têm o IMC acimajogo da caveira blaze30).

Trocandojogo da caveira blazemiúdos,jogo da caveira blazeapenas seis anos um quartojogo da caveira blazetoda a população do país terá uma condição crônica que está diretamente relacionada com as principais causasjogo da caveira blazemorte no mundo, como as doenças cardiovasculares e o câncer.

Esse mesmo trabalho da FGV ainda destaca que a escolaridade e a renda são fatores associados a esse fenômeno: indivíduos que estudaram menos e apresentam condições econômicas desfavoráveis tendem a sofrer com maior intensidade as consequências do acúmulo excessivojogo da caveira blazegordura no organismo.

"Nos próximos 50 anos, a obesidade vai causar um grande estrago do pontojogo da caveira blazevista da saúde pública e da economia no Brasil", projeta o médico Fernando Gerchman, da Sociedade Brasileirajogo da caveira blazeEndocrinologia e Metabologia (SBEM).

"O prejuízo que o país terá por causa da obesidade será gigante se não começarmos a fazer uma mobilização adequada desde agora", acredita o especialista, que também é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Uma 'erajogo da caveira blazeouro' bate à porta

Embora a práticajogo da caveira blazeatividade física e alimentação saudável ainda sejam a base do tratamento da obesidade, os especialistas sempre ansiaram por opções farmacológicas que ajudassem os pacientes a perder os quilos necessários.

Mas, até recentemente, essas alternativas eram escassas e traziam resultados razoáveis — na melhor das hipóteses.

Remédios como a sibutramina, o orlistate e alguns antidepressivos levavam a uma perdajogo da caveira blaze5 a 10% do peso corporal.

A barreira aqui é que muitos portadoresjogo da caveira blazeobesidade necessitam enxugar mais as medidas para se aproximaremjogo da caveira blazeum IMC considerado saudável.

O cenário começou a mudar com a chegada da liraglutida, da farmacêutica Novo Nordisk,jogo da caveira blazemeadosjogo da caveira blaze2011. Essa medicação integra a classe dos análogosjogo da caveira blazeGLP-1 e é capazjogo da caveira blazeinfluenciar regiões do cérebro responsáveis por controlar a sensaçãojogo da caveira blazefome e o gastojogo da caveira blazeenergia.

Essa modificação gera uma sensaçãojogo da caveira blazesaciedade no indivíduo, que passa a comer menos (e consequentemente emagrece).

Alguns anos depois, o mesmo laboratório dinamarquês lançou a semaglutida. O mecanismojogo da caveira blazeação é o mesmo, com uma vantagem prática: essa versão só precisa ser injetada uma vez por semana (a liraglutida requer aplicações diárias).

A semaglutida ficou mais conhecida pelos nomes comerciais da formulação: Ozempic (injeçãojogo da caveira blaze1 miligrama, prescrita contra o diabetes tipo 2), Rybelsus (comprimidosjogo da caveira blaze3,7 ou 14 mg, também usados no diabetes) e Wegovy (injeçãojogo da caveira blaze2,4 mg, utilizada contra a obesidade).

Nos estudos que serviramjogo da caveira blazebase para a aprovação do Wegovy, a perdajogo da caveira blazepeso média entre os voluntários foijogo da caveira blaze17% — porcentagem que supera o obtido com as demais opções farmacológicas disponíveis.

Caixajogo da caveira blazeOzempic

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Legenda da foto, O Ozempic é usado no tratamento do diabetes tipo 2, mas alguns especialistas também o prescrevem contra a obesidade

Uma última novidade a chegar ao mercado foi a tirzepatida (Mounjaro), da farmacêutica Eli Lilly. Inicialmente ela foi aprovada como um tratamento contra o diabetes tipo 2, mas a expectativa é que essa droga também seja preconizadajogo da caveira blazebreve no contexto da obesidade.

Nos estudos Surmount-3 e 4, a tirzepatida foi comparada com o placebo (uma substância sem nenhum efeito terapêutico aparente) e permitiu uma reduçãojogo da caveira blazepesojogo da caveira blaze26% (ou 28 quilos,jogo da caveira blazemédia).

Nessas pesquisas foram avaliados voluntários com obesidade ou sobrepeso que tinham comorbidades (doenças crônicas), mas não eram portadoresjogo da caveira blazediabetes tipo 2.

Essa taxajogo da caveira blazeemagrecimento obtida com a tirzepatida fica bem próxima — ejogo da caveira blazealguns casos até é superior — aos resultados obtidos com a cirurgia bariátrica.

E, mesmo que o efeito emagrecedor dos medicamentos disponíveis tenha praticamente quintuplicado, a expectativa é que essa porcentagem cresça ainda mais no futuro, com a chegadajogo da caveira blazeremédios ainda mais modernos e eficazes.

"Nós vivemos uma erajogo da caveira blazeouro no tratamento da obesidade", acredita o cirurgião Ricardo Cohen, do Centro Especializadojogo da caveira blazeObesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz,jogo da caveira blazeSão Paulo.

"Com os remédios e as cirurgias disponíveis hoje, nós conseguimos tratar todo o espectrojogo da caveira blazepacientes, desde os casos mais leves até aqueles muito graves", observa ele.

"Isso significa a possibilidadejogo da caveira blazetirar pacientes da filasjogo da caveira blazetransplantes e evitar outras complicações, que poderiam levá-los à morte."

Detalhe importante: essas opções terapêuticas modernas, como semaglutida e tirzepatida, precisam ser aplicadasjogo da caveira blazemodo contínuo. Se o indivíduo deixajogo da caveira blazetomá-las, pode recuperar o peso que foi perdido durante o tratamento.

Esse raciocínio não difere muito do manejojogo da caveira blazeoutras doenças crônicas, como a hipertensão, o colesterol alto e o diabetes. Caso o paciente desistajogo da caveira blazetomar os fármacos, a tendência é que esses problemas fiquem descontrolados e gerem complicaçõesjogo da caveira blazeórgãos como o coração, os rins e o cérebro.

Uma barreira chamada custo

A continuidade no uso desses remédios é um dos fatores por trás da desigualdade no tratamento da obesidade — afinal, eles têm um valor relativamente alto.

Para ter ideia, a quantidade necessáriajogo da caveira blazeOzempic para passar um mês é vendida nas farmácias brasileiras por cercajogo da caveira blazeR$ 1.000,00.

O Wegovy, a versão da semaglutida específica para tratar a obesidade ainda não chegou às drogarias do país, mas os valores definidos pela Câmarajogo da caveira blazeRegulação do Mercadojogo da caveira blazeMedicamentos (CMED) recentemente indicam que ele custará entre R$ 1.220,00 e R$ 2.383,00, a depender da dosagem.

Esses preços ficam próximos — ou até ultrapassam — o salário mínimo estipulado para 2024, que éjogo da caveira blazeR$ 1.412,00.

E não custa reforçar: é necessário tomar esses remédiosjogo da caveira blazeforma contínua, o que significa que um indivíduo precisa despender esses valores todos os meses.

Na prática, a parcela mais pobre da população — justamente aquela sobre a qual a obesidade avança e gera os maiores impactos — não tem a menor chancejogo da caveira blazecomprar esses remédios por conta própria.

Mas e o governo? Será que o Ministério da Saúde teria capacidadejogo da caveira blazebancar esse valor e incluir esses tratamentos contra a obesidade no SUS?

Para que isso eventualmente aconteça, seria necessário que o novo remédio (ou qualquer outra tecnologiajogo da caveira blazesaúde, na verdade) passasse por uma extensa avaliação na Conitec, Comissão Nacionaljogo da caveira blazeIncorporaçãojogo da caveira blazeTecnologias no SUS.

"Os especialistas analisam qual o benefício da nova opção terapêutica quando comparada ao que já está disponível, bem como os eventos adversos, o custo, o impacto no orçamento, como se dará a distribuição pelo país, e realizam um monitoramentojogo da caveira blazehorizonte tecnológico, ou seja, a chegadajogo da caveira blazepossíveis tecnologias semelhantes nos próximos anos", resume a pesquisadora Verônica Colpani, metodologista e especialista nesse tipojogo da caveira blazeparecer técnico.

"E precisamos sempre lembrar que o orçamento é finito, com a necessidadejogo da caveira blazeatender todas as demandasjogo da caveira blazesaúde da população", destaca ela.

Se, após todo esse trabalho, os envolvidos apresentarem um parecer positivo, a nova opção chega à rede pública.

Médico medindo a cinturajogo da caveira blazeum paciente

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Legenda da foto, Até 2030, um quarto da população brasileira estará obesa

No ano passado, uma avaliação dessas foi realizada sobre a liraglutida, aquele análogojogo da caveira blazeGLP-1 da Novo Nordisk que precisa ser aplicado todos os dias. A ideia era avaliar a possível incorporação desse medicamento para ofertá-lo aos pacientes com obesidade cujo IMC supera 35, e que também tenham pré-diabetes e alto riscojogo da caveira blazedoença cardiovascular.

A Conitec, porém, foi contrária à incorporação da liraglutida no SUS.

Segundo a avaliação da comissão, a droga é eficaz e segura, mas não mostrou-se vantajosa do pontojogo da caveira blazevista do custo e da efetividade. Essa análise econômica levajogo da caveira blazeconta o preço da nova tecnologia e o resultado prático que ela é capazjogo da caveira blazesurtir na saúde pública.

À época, a Conitec avaliou que incorporar a liraglutida no SUS para oferecer esse tratamento a 2,8 milhõesjogo da caveira blazepessoas traria um impacto orçamentáriojogo da caveira blazeR$ 12,6 bilhõesjogo da caveira blaze5 anos.

E vale destacar aqui que, hojejogo da caveira blazedia, a liraglutida é vendida nas farmácias por voltajogo da caveira blazeR$ 500,00 a R$ 600,00 — metade do preço médio do Ozempic.

"Quando pensamosjogo da caveira blazetermosjogo da caveira blazesaúde pública, que precisa atender milhõesjogo da caveira blazepessoas, os custos ficam absurdos", classifica Gerchman.

"Estamos falando do cenáriojogo da caveira blazeque uma única medicação faria o Ministério da Saúde mobilizar entre 5 a 10%jogo da caveira blazeseu orçamento", estima ele.

O que dizem as autoridades

A BBC News Brasil entroujogo da caveira blazecontato com o Ministério da Saúde para questionar sobre a incorporaçãojogo da caveira blazenovas drogas contra a obesidade na rede pública.

Em nota enviada à reportagem, o ministério disse reconhecer "a obesidade como problemajogo da caveira blazesaúde pública desde o final da décadajogo da caveira blaze1990" e promover "esforços para a prevenção e o cuidado com essa formajogo da caveira blazemá nutrição [...] desde 2006, que englobam a promoção da alimentação adequada e saudável ejogo da caveira blazepráticas corporais e atividade física".

O texto também aponta que, além dos impactos na saúde e na qualidadejogo da caveira blazevida, os gastos com tratamentojogo da caveira blazeobesidade, hipertensão e diabetes no SUS foramjogo da caveira blazeR$ 3,45 bilhõesjogo da caveira blaze2018. O ministério estima que 11% desse valor se refere exclusivamente aos cuidados com a obesidade.

O Ministério da Saúde ainda informou que "não há atualmente demanda para avaliaçãojogo da caveira blazemedicamentos para obesidade" na Conitec.

Vale explicar aqui que esses pedidosjogo da caveira blazeavaliações da Conitec podem virjogo da caveira blazequalquer parte, como sociedades médicas, associaçõesjogo da caveira blazepacientes, farmacêuticas ou outros entes físicos e jurídicos.

"Embora não haja tratamento medicamentoso, pacientes com obesidade podem ser tratados no SUS", reforça o ministério.

De acordo com a nota, os principais pilares da rede pública continuam a ser "a ênfase na atividade física, a promoção da alimentação adequada e saudável e suporte psicológico".

"O tratamento prevê o alcancejogo da caveira blazeuma sériejogo da caveira blazeobjetivosjogo da caveira blazecurto e longo prazo que buscam a diminuição da gordura corporal, preservando a massa magra; a promoção da manutenção da perdajogo da caveira blazepeso; o impedimento do ganhojogo da caveira blazepeso; a educação alimentar e nutricional, por meiojogo da caveira blazeescolhas alimentares saudáveis; a reduçãojogo da caveira blazefatoresjogo da caveira blazerisco cardiovasculares associados à obesidade; a melhoriajogo da caveira blazeoutras comorbidades; a recuperação da autoestima; o aumento da capacidade funcional e da qualidadejogo da caveira blazevida. Em casos específicos, pode ser indicada a realizaçãojogo da caveira blazecirurgia bariátrica pelo SUS", completa o Ministério da Saúde.

Fachada do Ministério da Saúde

Crédito, Valter Campanato/Agência Brasil

Legenda da foto, Incorporaçãojogo da caveira blazenovas tecnologias no SUS passa por avaliaçõesjogo da caveira blazecomissões ligadas ao Ministério da Saúde

Já a Novo Nordisk, responsável por liraglutida e semaglutida, afirmou que "todo o processojogo da caveira blazesubmissão do Saxenda (liraglutida 3 mg) ao SUS foi realizadojogo da caveira blazeforma regularizada, seguindo todas as diretrizes estabelecidas pelo governo".

"A inclusão do medicamento no sistemajogo da caveira blazesaúde não avançou devido a questões orçamentárias, mesmo que seu custo tenha sido considerado viável", detalhou a farmacêuticajogo da caveira blazenota.

Por fim, a empresa disse que não faz comentários sobre custo-efetividadejogo da caveira blazesuas formulações.

Confusõesjogo da caveira blazeconceitos

Coutinho, da PUC-Rio, entende que a faltajogo da caveira blazeremédios para tratar a obesidade no SUS representa uma "situação dramática".

"É fundamental, praticamente uma questão humanitária, a gente batalhar pela incorporação dessas medicações", opina ele, que também é ex-presidente da Federação Mundialjogo da caveira blazeObesidade.

"Nós sabemos que basear o tratamento da obesidade apenasjogo da caveira blazedieta e exercício físico não funciona no longo prazo. Já temos muitas evidências que mostram que esse tipojogo da caveira blazeintervenção até pode dar um bom resultadojogo da caveira blazeinício, mas o paciente tende a recuperar todo o peso depoisjogo da caveira blazequatro a sete anos", calcula ele.

Já Cohen chama a atenção para uma espéciejogo da caveira blazepreconceito que existe nessa área da Medicina. Um editorial que ele escreveu e publicou no periódico especializado The Lancetjogo da caveira blazesetembrojogo da caveira blaze2023 juntojogo da caveira blazeoutros dois colegas, aponta que "a faltajogo da caveira blazeremédios contra a obesidade é sintomajogo da caveira blazeum mal maior".

"A chegadajogo da caveira blazenovos medicamentos revelou certas objeções, como a crençajogo da caveira blazeque a obesidade deve ser prevenidajogo da caveira blazevezjogo da caveira blazetratada. A prevenção e o tratamento não são mutuamente exclusivos. Eles representam as duas abordagens necessárias para resolverjogo da caveira blazeforma eficaz qualquer problemajogo da caveira blazesaúde pública", escrevem os especialistas.

"Quão absurdo seria propor não fazer o tratamento do câncer ou das doenças cardiovasculares porque estes problemas deveriam ser prevenidos?", questionam eles.

"É claro que a prevenção é crucial, mas até o momento, nenhuma estratégia populacional reduziu a prevalência da obesidadejogo da caveira blazequalquer país e, para os maisjogo da caveira blaze700 milhõesjogo da caveira blazepessoas já afetadasjogo da caveira blazetodo o mundo, a oportunidadejogo da caveira blazeprevenção já passou."

"O impacto da obesidade na morbidade, mortalidade, qualidadejogo da caveira blazevida e custosjogo da caveira blazecuidadosjogo da caveira blazesaúde é imenso — e não podemos optar por não tratá-lajogo da caveira blazeuma perspectivajogo da caveira blazesaúde, economia ou ética", defendem eles.

Canetasjogo da caveira blazeWegovy

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Legenda da foto, O Wegovy deve chegar ao mercado brasileiro aindajogo da caveira blaze2024 por valores que superam o salário mínimo

Luzes no fim do túnel?

A epidemiologista nutricional Rosely Sichieri, da Associação Brasileirajogo da caveira blazeSaúde Coletiva (Abrasco), acrescenta alguns outros elementos à discussão.

"De um lado, nós temos uma indústria alimentícia poderosíssima, que faz a gente comer um montejogo da caveira blazecoisas que não precisamos. Do outro, há a indústria farmacêutica, que deseja fazer todo mundo emagrecer por meiojogo da caveira blazeum remédio, algo que não se sustenta quando pensamosjogo da caveira blazetermosjogo da caveira blazesaúde pública", opina a especialista, que também é professora da Universidade do Estado do Riojogo da caveira blazeJaneiro (Uerj).

"O problema da obesidade tem que ser atacado na raiz. E infelizmente não vamos resolvê-lo enquanto não entendermos que a gente vive numa sociedade fadada a engordar", observa Sichieri.

Para Claro, da UFMG, esse problema virou tão complexo que é quase impossíveljogo da caveira blazeser resolvido sem mexer nas basesjogo da caveira blazecomo a sociedade está organizada.

"Isso é uma questão estrutural, que passa até pela política agrícola do país. É preciso pensarjogo da caveira blazemecanismos para investir dinheiro não apenasjogo da caveira blazecommodities, mas numa agricultura periurbana, que é responsável por trazer alimentos saudáveis para as cidades", exemplifica ele.

Especificamente sobre os remédios antiobesidade, os especialistas veem alguns caminhos para melhorar o acesso a quem mais precisa desses tratamentos no futuro.

O primeiro deles passa pela queda das patentes dessas moléculas. Atualmente, a liraglutida não é mais exclusiva da Novo Nordisk no Brasil — o que permite a outros laboratórios começarem a produzi-la.

A farmacêutica dinamarquesa diz que, "no entanto, existem ações judiciaisjogo da caveira blazeandamento com o objetivojogo da caveira blazerestituição do prazojogo da caveira blazevalidade da patente [da liraglutida] por conta da demora na análise do pedidojogo da caveira blazepatente pelo INPI [Instituto Nacional da Propriedade Industrial]".

Já o Ozempic tem patente válida no Brasil por mais dois anos, até 2026.

Com a chegadajogo da caveira blazenovos competidores nesse mercado, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil acreditam que os preços podem começar a cair.

Coutinho também destaca a necessidadejogo da caveira blazeexistir um diálogo constante entre os diversos interessados — governos, empresas, médicos e pacientes — para chegar a um denominador comum que seja favorável a todos.

"Claro que esse cenário representa um desafio, mas é preciso encontrar uma saída. No pior ano da pandemia, a covid-19 matoujogo da caveira blaze2 a 3 milhõesjogo da caveira blazepessoas no mundo. A obesidade mata 4 milhões todos os anos", compara o endocrinologista.

"Se encontramos um caminho para oferecer a vacina contra a covid-19 para todo mundo, precisamos também achar uma solução para ampliar o acesso aos agentes antiobesidade", conclui ele.