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Genômica social, a polêmica análiseapostas rocketpropensão a traços como estresse ou introversão:apostas rocket
Há uma década, já é possível calcular nosso riscoapostas rocketcontrair certas doenças a partirapostas rocketuma amostraapostas rocketsaliva. A novidade é que agora podemos também conhecer nossa propensão genética, por exemplo, ao estresse, à ansiedade, ao isolamento ou aos anosapostas rocketescolaridade.
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A genômica social pode beneficiar as pessoas e, no futuro, poderá orientar políticas sociais mais eficazes, segundo os especialistas.
Mas esses mesmos cientistas advertem sobre o riscoapostas rocketmau uso dessas ferramentas, até com motivações racistas.
As “promessas e perigos da genômica social e do comportamento” foram o temaapostas rocketum recente encontro do Instituto Nacionalapostas rocketPesquisa do Genoma Humano dos Estados Unidos (NHGRI, na siglaapostas rocketinglês).
A BBC News Mundo falou com especialistasapostas rocketgenética sobre as aplicações da genômica social, seus riscos e os avanços revolucionários que levaram ao desenvolvimento deste novo campo da ciência.
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Dois avanços paralelos possibilitaram o surgimento da genômica social, segundo Pérez Alonso.
“De um lado, tivemos um avanço tecnológico muito importante, que foi a reduçãoapostas rocketcustos do sequenciamento do DNA para ter acesso às informações genômicas. A queda dos custos foi espetacular.”
“E, por outro lado, houve também uma explosão no desenvolvimentoapostas rocketferramentasapostas rocketinformáticaapostas rocketúltima geração que permitem processar grande quantidadeapostas rocketdados”, afirma o geneticista. “A combinação destes fatores levou a uma explosãoapostas rocketinformações, fazendo com que estudos que antes eram muito complexos agora sejam relativamente simples.”
Essas duas inovações – o sequenciamento do DNA e a informática – possibilitaram o que se conhece hoje como “estudosapostas rocketassociação do genoma completo” (GWAS, na siglaapostas rocketinglês).
Os GWAS são estudosapostas rocketexploração global do genoma “nos quais se pode ler cercaapostas rocketum milhãoapostas rocketpontos do genoma que apresentam variações naturais entre as pessoas. Em genética, chamamos estes pontos variáveisapostas rocketpolimorfismos”, explica Pérez Alonso.
As novas ferramentasapostas rocketinformática, porapostas rocketvez, permitem procurar correlações entre essas variações naturais e uma determinada característica visívelapostas rocketuma pessoa, o que é conhecido como fenótipo.
“Em GWAS, estima-se a relação entre um fenótipo e cada uma dentre milhõesapostas rocketvariantes genéticas. O fenótipo poderia ser uma doença ou alguma outra característica, incluindo uma função social ouapostas rocketcomportamento”, explica Daniel Benjamin, professorapostas rocketeconomia do comportamento e genoeconomia (o estudo dos vínculos entre os dados genômicos e o comportamento) da Universidade da Califórniaapostas rocketLos Angeles, nos Estados Unidos.
Mas como é possível conseguir todas essas informações com uma simples amostraapostas rocketsaliva?
Com base nos estudos GWAS, é calculado um número que expressa o riscoapostas rocketuma pessoa padecerapostas rocketuma certa doença ou ter uma certa característica social ou psicológica. Este número é conhecido como “avaliação do risco poligênico” (“polygenic score” ou “polygenic index”,apostas rocketinglês).
Segundo Benjamin, a avaliação do risco poligênico “reúne as relaçõesapostas rocketmilhõesapostas rocketvariantes genéticasapostas rocketuma única variável resumida” e mede a capacidadeapostas rocketpropensão genética para uma determinada característica.
O cientista acrescentou que “na última década, passou a ser possível criar índicesapostas rocketrisco poligênico porque o GWAS pode ser realizadoapostas rocketestudosapostas rocketcentenasapostas rocketmilhares ou milhõesapostas rocketpessoas”.
Testes genéticos para o consumidor
Conhecer nosso risco poligênico custa atualmente menosapostas rocketUS$ 200 (cercaapostas rocketR$ 1.050).
No casoapostas rocketdoenças físicas, as avaliações poligênicas são usadas para avaliar o risco genéticoapostas rocketdoenças como a hipertensão, diabetes, obesidade e alguns tiposapostas rocketcâncer.
A hipertensão, por exemplo, tem um componente genético, segundo Pérez Alonso. Mas o professor adverte que “não há um gene causador da hipertensão, nem dois, nem três. Existem centenasapostas rocketgenes que contribuem para o nosso riscoapostas rockethipertensão e, por isso, falamosapostas rocketgenética complexa ou genética multifatorial.”
“A empresa pioneira neste campo é a 23andMe. Qualquer pessoa, com uma amostraapostas rocketsaliva, pode ter acesso ao teste e conhecer seu risco poligênico para uma sérieapostas rocketdoenças. Isso já é uma realidade.”
Da mesma forma, diversas empresas começaram, nos últimos dois anos, a usar testes GWAS e calcular avaliaçõesapostas rocketrisco poligênico para características sociais ou psicológicas.
“Nos Estados Unidos, existem inúmeros exemplosapostas rocketusosapostas rocketdados genômicos sociais eapostas rocketcomportamento pelas empresas”, afirma a professora Daphne Martschenko, do Centroapostas rocketÉtica Biomédica da Universidadeapostas rocketStanford, na Califórnia (Estados Unidos).
“Os consumidores podem ter acesso fácil e relativamente econômico a testes genéticos diretos para o consumidor sobre capacidade matemática, nível educacional e capacidade cognitiva”, acrescenta ela. “Existem também empresasapostas rocketencontros que pretendem utilizar o DNA da pessoa para determinar o perfil mais compatível. Falta regulamentação nos Estados Unidos.”
A BBC News Mundo explorou três casos concretosapostas rocketusos, possíveis benefícios e riscos da genômica social.
Exemplo 1: tendência ao estresse ou ansiedade
O professor Pérez Alonso é sócio-fundadorapostas rocketuma startup do Parque Científico da Universidadeapostas rocketValência, chamada Mendel Brain. A empresa desenvolveu um teste genéticoapostas rocket54 características da psicologia humana, segundo explicou Aitor García, CEO (diretor-executivo) da startup.
Segundo García, “entre essas características, o usuário pode conhecerapostas rocketsensibilidade ao estresse ou à ansiedade,apostas rocketpredisposição a ser uma pessoa introvertida ou extrovertida e outras características que fazem com que cada umapostas rocketnós seja uma pessoa única”.
Ele acrescentou que a Mendel Brain baseia-seapostas rocketmaisapostas rocket150 artigos científicos que identificaram variações genéticas associadas à maior predisposiçãoapostas rocketmanifestar determinadas características, como, por exemplo, a ansiedade.
Com os estudos GWAS, essas variações genéticas são identificadas e são definidos dois gruposapostas rocketpessoas: as que apresentam uma característica como a ansiedade e as que não apresentam.
Aplicando métodos estatísticos, “são identificadas variantes genéticas que aparecem no grupoapostas rocketinteresse [com ansiedade] com valor estatístico significativo e que se encontramapostas rocketproporção muito baixa ou nula no grupo sem a característica”, explica García.
A empresa compila então essas variações genéticas para gerar um cálculoapostas rocketrisco poligênico e determinar qual é a predisposiçãoapostas rocketuma pessoa com relação à média da população.
García reconhece que saber nossa propensão ao estresse ou ansiedade traz o risco da “profecia autorrealizadora”, ou seja, que conhecer nossa predisposição ao desenvolvimentoapostas rocketuma característica facilitaapostas rockettransformaçãoapostas rocketrealidade.
“É por este motivo que somos metódicos nas informações que incluímos nos relatórios elaborados pelos psicólogos”, segundo ele.
“Estes relatórios fornecem não só a pontuação genética, mas também quanto das características manifestadas é regulado pela genética, indicando a todo momento que tanto a genética quanto o ambiente intervêm no desenvolvimento da característica e que a pessoa tem capacidadeapostas rocketadaptar-se”, explica ele.
Pérez Alonso acredita que conhecer nossa propensão ao estresse ou à ansiedade pode ser benéfico.
“Há duas décadas, houve um debate similar, quando se pensava que informar a uma pessoa seu riscoapostas rocketsofrerapostas rocketcâncer era,apostas rocketalguma forma, condená-la a viver no sofrimento. Mas vimos claramente que não é assim”, relembra ele.
“Se sou informado que tenho risco maior, por exemplo,apostas rocketmelanoma hereditário, vou ser mais cuidadoso na horaapostas rockettomar sol e,apostas rocketcasoapostas rocketqualquer dúvida, vou visitar o dermatologista.”
“Acredito que, no caso da psicologia, ocorre algo similar”, segundo o professor. “Se uma pessoa souber que tem risco mais alto que a médiaapostas rocketter estresse ou ansiedade, ela irá tomar precauções especiais para não acumular muitas tarefas e lutar contra o estresseapostas rocketforma mais ativa.”
Exemplo 2: educação
“Um fenótipo que meus colegas e eu estudamos é o númeroapostas rocketanos cursadosapostas rocketeducação formal”, afirma Daniel Benjamin.
O cientista da Universidade da Califórnia explica que a genética não permite prever sozinha os anosapostas rocketeducação formal, já que existem outros fatoresapostas rocketinfluência.
“O índice poligênico para anosapostas rocketeducação formal explica cercaapostas rocket15% da variação entre os indivíduos. Este nívelapostas rocketpoderapostas rocketprevisão é muito baixo para prever com precisão qual será o resultado para cada pessoa.”
“Como comparação, a previsão do tempo dos meteorologistas profissionais prevê corretamente cercaapostas rocket95% da variação das temperaturas diárias”, afirma ele.
Embora seu poderapostas rocketprevisão seja baixo, Benjamin destaca que conhecer o índice poligênico para anosapostas rocketeducação formal completados é algo valioso para finsapostas rocketpesquisa.
Identificar a importância do fator genético permite estudar com mais precisão a influênciaapostas rocketoutros fatores, como a situação socioeconômica dos pais ou a assistência pré-escolar. Mas Benjamin adverte sobre o riscoapostas rocketque “as pessoas possam interpretar mal o índice poligênico e considerar que ele prevê muito mais do que a realidade”.
Por outro lado,apostas rocketmuitos casos, as pessoas que enviam uma amostraapostas rocketsaliva para uma empresa recebem não só os resultados para uma característica específica, mas seus dados genéticos “brutos”, ou seja, todas as informações obtidas ao ler o seu genoma. E, no futuro, qualquer pessoa pode carregar essas informações para plataformas online que ofereçam o cálculoapostas rocketavaliaçõesapostas rocketrisco poligênico.
Para Pérez Alonso, “o principal risco é que uma pessoa sem o assessoramento devido possa acreditar que tudo isso representaapostas rocketvida e seu futuro”.
“Isso não é uma bolaapostas rocketcristal que nos diz o que vai acontecer nos próximos anos. Ela somente nos oferece, no melhor dos casos, certas tendências. A contribuição genética nunca é 100 por cento.”
Exemplo 3: a ameaça do racismo
Um dos maiores riscos da genômica, segundo os especialistas, é que estudos legítimos sejam mal interpretados ou manipulados maliciosamente com propósitos racistas.
“Um dos exemplos mais terríveisapostas rocketcomo a pesquisa genômica social e do comportamento está sendo utilizada como arma é o caso do ‘assassinoapostas rocketBuffalo’”, destaca Daphne Martschenko.
O massacreapostas rocketBuffalo ocorreuapostas rocket14apostas rocketmaioapostas rocket2022. Um indivíduo branco assassinou, por motivos racistas, 10 pessoas afro-americanasapostas rocketum supermercado na cidadeapostas rocketBuffalo, no Estado norte-americanoapostas rocketNova York.
O criminoso transmitiu o ataque ao vivo e publicou um manifesto na internet. No documento, ele se descreveu como supremacista branco e citou, como justificativa do ataque, estudos genômicos revisados por pares e publicadosapostas rocketrevistas científicasapostas rocketprestígio.
Esses estudos referem-se, por exemplo, à influência genética sobre características como a aptidão cognitiva. Eles não falamapostas rocketdiferenças raciais, mas foram mal interpretados e distorcidosapostas rocketfóruns racistas.
“O pesquisador Jedidiah Carlson e seus colegas realizaram um excelente trabalho, demonstrando como a direita alternativa [movimento nacionalista brancoapostas rocketextrema-direita] está invocando materiais extraídos da pesquisa científica convencional”, destaca Martschenko.
As promessas da genômica social
Apesar dos possíveis riscos, os pesquisadores consultados pela BBC News Mundo concordam que a genômica social pode fornecer importantes benefícios.
“O que mais me entusiasma é que a genômica social e do comportamento promete melhorar a forma como podemos fazer ciências sociais”, destaca Daniel Benjamin.
Distinguir a influência genética no casoapostas rocketanosapostas rocketeducação formal completados, por exemplo, pode ajudar a identificarapostas rocketquais outros fatores as políticas sociais devem se concentrar para que tenham maior impacto, como a assistência pré-escolar ou merendas gratuitas nas escolas.
A genômica também poderia ajudar a estudar problemas como o isolamento social, segundo Pérez Alonso. Para ele, a genômica social e do comportamento “abre o caminho”.
“Ninguém sabe até onde se pode chegar porque é algo realmente muito novo, mas o que se começa a ver é que ela pode ajudar a encontrar respostas a algumas perguntas”, afirma o geneticista espanhol.
Desafio para todos
Com o avanço da genética, haverá cada vez mais informações disponíveis sobre os vínculos entre o genoma e as características psicológicas ou do comportamento, segundo Pérez Alonso. “Mas, ante essa revolução e a avalancheapostas rocketinformações e avanços, acredito que o importante é que os cidadãos tenham mais formaçãoapostas rocketgenética.”
Martschenko destaca que “é imensamente importante comunicar ao público as limitações das avaliações do risco poligênico”.
“Um exemplo do trabalho sendo realizado para explicar as limitações dos estudosapostas rocketgenômica social e do comportamento é a publicação pelos pesquisadoresapostas rocket‘perguntas frequentes’ sobre o alcance dos seus estudos”, acrescenta a pesquisadora da Universidadeapostas rocketStanford.
Em conjunto com outros colegas, Martschenko reuniu,apostas rocketum repositório público, os documentos nos quais os próprios cientistas explicam,apostas rockettermos mais acessíveis, como interpretar os seus estudos.
A pesquisadora destaca que também existem iniciativas nos Estados Unidos para transformar a formaapostas rocketensino da biologia,apostas rocketforma a refletir os avanços da genética multifatorial.
Para Pérez Alonso, é importantíssimo que os professoresapostas rockettodos os níveis educacionais recebam atualizações sobre o que está acontecendo na área da genética. Ele afirma que “um país não pode dar as costas para esses avanços, que são verdadeiras revoluções”.
“Falo também das universidades. Um professor que, no melhor dos casos, atualizou seus conhecimentos dez anos atrás, não pode continuar falando apenas da genética como características determinadas por um único gene. É triste que isso continue ocorrendoapostas rocketuniversidades da Europa.”
“Sim, existem doenças determinadas por um único gene, como a fibrose cística. Mas, no caso da psicologia, todas as características são poligênicas.”
“Estamos agora dianteapostas rocketuma genética muito mais complexa, na qual existe uma infinidadeapostas rocketcaracterísticas determinadas ou influenciadas por centenasapostas rocketgenes e o risco poligênico precisará ser convertido para todosapostas rocketlinguagem comum e habitual”, conclui o professor.
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