Por que japoneses são obcecados por regras e manuais pra tudo:f12bets

Crédito, Fátima Kamata/BBC

Legenda da foto, Cartazes são afixadosf12betspontos estratégicos da cidade para reforçar as regras da separação e descarte correto do lixo doméstico

Eles praticavam suas habilidades linguísticas fazendo cópiasf12betsleis, informativos e escrituras sagradas do budismo.

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Segundo Onuki,f12betsse tratandof12betssistemaf12betseducação, o Brasil valoriza muito a flexibilidade no ensinof12betsportuguês.

“A BNCC [Base Nacional Comum Curricular], por exemplo, lembra repetidamente os educadores que o português não é um idioma uniformizado e que a variedade e a mobilidade é algo bom", afirma o professor.

"Já as diretrizes curricularesf12betsaprendizagem no Japão enfatizam a importânciaf12betsensinar a ler e a escrever a língua nacional conforme regras já estabelecidas. O contraste entre o povo japonês (marcado pela organização) e o povo brasileiro (flexibilidade) vem da escrituralidade e da oralidade dos dois povos."

Crédito, Fátima Kamata/BBC

Legenda da foto, Escadas rolantes trazem orientações sobre seu uso correto

Manuais, manuais e mais manuais

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Desde pequenos, os japoneses são treinados a seguir regras.

Quando estão sendo alfabetizados, uma das primeiras coisas que eles aprendem é a ordem e a contagem dos traços dos ideogramas (kanji).

A padronização na escrita permite a qualquer pessoa reconhecer os caracteres mesmo quando escritos na forma cursiva ou corrida.

O importante é entender bem a regra básica, e isso vale para quase tudo no Japão.

Ou se aprende na escola, ou com a ajudaf12betsdiversos manuais vendidosf12betslivrarias. Quando se trataf12betsambientef12betstrabalho, a bibliografia é extensa.

Além dos livros fundamentaisf12betsetiqueta empresarial com ensinamentosf12betscomo atender o telefone ou onde se sentar numa salaf12betsreunião conforme a posição hierárquica, por exemplo, há os manuais internosf12betscada empresa com outras inúmeras instruções e procedimentos operacionais.

Quanto mais detalhes tiver, mais indispensável será o manual para reduzir riscosf12betsinterpretações errôneas, segundo o empresário Ryo Nakayama, autorf12betsChefe, você quer nos transformarf12betsrobôs? (em tradução livre, lançadof12bets2020).

As palavras que formam o título do livro foram ditas a ele por um funcionáriof12betsuma empresa.

“Quando algumas pessoas ouvem a palavra 'manual', podem ter a impressãof12betsque estão sendo instruídas a seguir uma fórmula. Mas isso é um grande mal-entendido”, afirma Nakayama à BBC News Brasil.

“Um manual nada mais é do que uma ferramenta para o desenvolvimento dos recursos humanos e o crescimento da empresa, e não para construir robôs. Se você deseja criar pessoas que possam quebrar o molde, você precisa criar o molde.”

Dez anos atrás, Nakayama fundou a empresa 2.1 (Nitenichi), especializada na criaçãof12betsmanuais para revitalizar empresas.

Ele diz que a falta desse tipof12betsmaterial prejudica a produtividade, alémf12betsgerar estresse por mal-entendidos na transmissãof12betsmensagens.

Na prática, o trabalho nem sempre ocorre 100%f12betsacordo com o esperado.

“Contudo, se os procedimentos básicos estiverem resumidosf12betsum manual, o conhecimento empresarial pode ser partilhado entre várias pessoas e como resultado, você pode prosseguir com seu trabalhof12betsmaneira tranquila e eficiente”, afirma.

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Ryo Nakayama é autorf12bets'Chefe, você quer nos transformarf12betsrobôs?'

A origem da cultura dos manuais

Desde os tempos antigos, já havia algo semelhante a manuais, como códigosf12betsconduta, regras e explicações, mas as bases do que conhecemos hoje como manual teriam surgido do “método científicof12betsgestão” criado por Frederick Winslow Taylor, no final do século 19, nos Estados Unidos.

Engenheiro mecânico da Filadélfia, ele acreditava que oferecendo instruções sistemáticas e adequadas aos trabalhadores, haveria a possibilidadef12betsfazê-los produzir mais e com melhor qualidade.

Na época, o taylorismo recebeu críticas por transformar o homemf12betsuma espéciaf12betsmáquina.

Ao abrir af12betsprimeira loja no Japão,f12bets1971, a redef12betsfast food McDonald 's teria introduzido o conceitof12betsmanual como existe atualmente no país, detalhando procedimentos e também como deveria ser o atendimento ao cliente.

Esse formatof12betsmaterial foi se multiplicando e adicionando características locais.

Há muitos outros elementos sociais e culturais japoneses que se encontram nas entrelinhas dos manuais,f12betsdifícil compreensão para os estrangeiros.

A maneira corretaf12betsse dirigir a alguém, as expressões básicasf12betscortesia e polidez, tudo isso se aprendef12betsum cursof12betsidioma japonês, além do tomf12betsvoz e o jeitof12betsfalar que também são considerados essenciaisf12betsum ambientef12betstrabalho, porque refletem respeito e educação.

Esse tipof12betsinformação é o óbvio que nem sempre é incluído nos manuais.

“Se entender tudo isso é difícil para um japonês, imagine então para um estrangeiro”, diz Kazue Matsushita, especialistaf12betsrecursos humanos que treinou vários profissionais para ingressarf12betsempresas do Japão.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Kazue Matsushita ressalta a importânciaf12betsentender as regras locais para ganhar respeito e subirf12betsposição

Ela diz que o Japão dá muita importância a manuais, que contêm informações detalhadas para serem seguidas, enquanto no exterior prevalecem os guias, com recomendações apenas para o estritamente necessário.

"Cada um deve entender suas funções plenamente e saber executá-las bem. Só depois disso, terá espaço para propor mudanças", diz Kazue.

Ela cita o casof12betsum engenheiro contratado do exterior, que passou dois anos trabalhando com CAD (desenhos feitos com auxíliof12betscomputador).

Ao reclamar que estaria sendo subaproveitado porque teria qualificação para mais, recebeu como resposta que precisaria antes compreender a importânciaf12betsdesenhar a peça com perfeição, sem um milímetrof12betserro, e só depois poderia passar para a etapa seguinte.

O aprendizado se dáf12betsforma cumulativa. Desde cedo, a criança japonesa aprende a usar uniforme, onde se posicionarf12betsuma fila, como falar determinadas coisas e agirf12betsdiversas situações.

Esse treinamento contínuo é importantef12betsum país vulnerável a desastres naturais como terremoto, tsunami e tufão, e ajudou muito durante a pandemia do coronavírus.

Kazue lembra que não houve resistência da população japonesa às medidas tomadas pelo governo, porque faz parte da cultura local pensar no coletivo e agir conforme a maioria.

'Nem tudo tem lógica'

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Eliza Yuka Sato diz que a faltaf12betsflexibilidade pode atrapalharf12betscasosf12betsassuntos pessoais

Quem éf12betsfora do país aprende observando e copiando ou buscando respostas nos manuais.

“Mas nem tudo tem lógica”, afirma a brasileira Eliza Yuka Sato,f12bets56 anos, que vive na Provínciaf12betsAichi.

Quando trabalhavaf12betsuma fábrica, ela costumava andar como um caranguejo ao redorf12betsuma mesa com caixas contendo várias peças, fazendo como os colegas.

Não entendia o porquê daquilo, já que mesmo estando parada conseguiria fazer aquele trabalho. Só depois descobriu que os japoneses andavam para combater o sono.

Por muitos anos, Eliza também trabalhou como consultoraf12betsórgão público para ajudar residentes estrangeiros, e a regra era “tudo o que acontecesse tinha que passar pela chefia”.

Porém, até chegar ao topo da hierarquia, havia um longo caminho a percorrer.

"O manual ajuda a organizar o trabalho, mas também pode virar uma camisaf12betsforça", diz Eliza.

"Para problemas pessoais, é preciso ter flexibilidade, mas a hierarquia e a burocracia acabam atrapalhando. E alguns casos eram urgentes."

Nilton Funabashi, que vive na cidadef12betsIida, na Provínciaf12betsNagano, não se incomoda com a expressão manyuaru doori (agirf12betsacordo com o manual), que diz admirar.

“Quem estevef12betschãof12betsfábrica sabe o quanto o Japão é rigoroso com disciplina e exigente com a qualidade do produto”, diz Nilton.

"Sabendo o que cada um deve fazer, fica mais fácil trabalhar."

Crédito, Fátima Kamata/BBC

Legenda da foto, Em muitos banheiros públicos há cartazes explicando como utilizar o espaço e a funçãof12betscada botão

Ele lembra que, quando necessário, há espaço para qualquer pessoa contestar e opinar.

Porém, é preciso primeiro entender as regras, ter argumentos e ver o momento certo para questionar e propor mudanças nos manuais.

“Só não dá para ir com nosso jeitinho brasileiro e sugerir apenas uma maneira mais fácil e cômodaf12betstrabalhar, sem contexto e nem propósito”, diz Nilton.

De todas as regras do cotidiano japonês, as mais rigorosas que devem ser seguidas à risca estão relacionadas ao lixo e ao barulho.

Esses temas são os que mais geram conflitos entre japoneses e estrangeiros. Muitas cidades têm manuais bem ilustrados e detalhados sobre quando e como descartar cada tipof12betslixo.

Por exemplo, a tampa e a etiqueta das garrafas PET devem ser removidas antesf12betsdescartadas, porque os diasf12betscoleta para cada item costumam ser diferentes.

Misturar ou depositar determinado tipof12betslixof12betsdata errada é o motivof12betsbriga entre vizinhos.

Crédito, Fátima Kamata/BBC

Legenda da foto, Guiasf12betsjaponês ef12betsportuguês ensinam como descartar o lixo doméstico

No entanto, cada cidade tem seu próprio manual. Nilton lembra que chegou a ser insultado por um japonês porque havia usado um tipof12betssaco plástico diferente do permitido na região para a qual tinha acabadof12betsse mudar.

“E como saber, se ninguém fala? Foi por isso que depois me dispus a preparar um manualzinhof12betsportuguês para ajudar outros brasileiros da minha cidade.”

Barulho é outro temaf12betsdesavenças, por isso as regras relacionadas a isso costumam fazer parte dos “guiasf12betsconvivência” produzidosf12betsvários idiomas e distribuídos por prefeiturasf12betscidades com concentraçãof12betsestrangeiros.

“Conforme o tipof12betsconstrução, as paredes são tão finas que deixam vazar até o barulho dos passos, invadindo o espaço alheio”, conta Kazue Matsushita.

“A cultura japonesa é peculiar, então só entendendo para não ter problemas. Ou fazendo tudo conforme os manuais."