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Como descobertagaroto escravizado12 anos ajudou a popularizar a baunilha no mundo:
Durante as primeiras décadasconquista, os espanhóis levaram dezenasfrutas, vegetais e outras culturas - incluindo baunilha - para cultivá-las e se exibir do outro lado do Atlântico. Os historiadores chamam esse movimentoalimentos e bensIntercâmbio Colombiano.
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"A baunilha e o cacau sempre viajaram juntos", disse o especialistaorquídeas Adam Karrenmans, professor da Universidade da Costa Rica e diretor do Jardim BotânicoLankester, um dos principais centrospesquisaorquídeas, com sede na Costa Rica. Os europeus gostaram da bebida cremosa, e ela se espalhou, chegando à França pela Espanha no início1600, após o casamento entre Luís 13 e Ana da Áustria, filha do rei espanhol.
Uma vez do outro lado do Atlântico, a baunilha logo fez seu próprio caminho. Próximo ao finalseu reinado,1602, o médico da rainha Elizabeth começou a adicionar a especiaria aos pratos da monarca, pois acreditava ser um poderoso afrodisíaco, escreve Rosa Abreu-JunkelVanilla: A Global History. Do outro lado do Canal da Mancha, a poderosa MadamePompadour adicionou baunilha à dieta quando tentou atrairvolta seu amante, o rei Luís 15 da França, por volta1750.
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A baunilha tinha, assim, entrado no comércio globalespeciarias que redesenhava fronteiras e mudava economiastodo o mundo, com as potências coloniais europeias lutando para garantir favas. Chefs testavamsobremesas, fabricantes produziam novos perfumes e os aristocratas só queriam se exibir - mas a produção globalbaunilha estava estrangulada na mesma faixaterra costeira nas Américas, onde prosperou por séculos.
Outras potências coloniais começaram a explorar a ideiacultivar baunilha fora das colônias espanholas, escreveu Tim EcottVanilla: Travels in Search of the Luscious Substance. Os britânicos na Índia, os franceses nas colônias do Oceano Índico, os holandesesJava e até os espanhóis nas Filipinas tentaram plantá-la nos anos 1600 e 1700, mas ninguém obteve sucesso.
Karremans parece se divertir com as tentativas. "Sempre que os europeus pegavam as plantas e as plantavamoutrassuas colônias, descobriam que elas podiam crescer e florescer lá, mas nunca produziam frutos", disse o especialista, que estuda as interações ecológicas entre orquídeas e seus polinizadores e dispersoressementes.
As orquídeas têm polinizadores especializados, explicou Karremans, e a baunilha requer um tipo específicoabelha que só é encontrada nas regiões tropicais das Américas. Até hoje, nenhum produtor no mundo conseguiu encontrar um polinizador natural para substituí-las.
Entre aqueles que se propuseram a quebrar o monopólio espanhol da baunilha produzida no México estavam os plantadores brancos franceses na ilhaBourbon, agora chamada Reunião, no Oceano Índico. Em 1822, a colônia recebeu um loteplantasbaunilha, cortadas da primeira a sobreviver e florescer na Europa. Embora a expectativa fosse alta, nenhuma fruta nasceu e os plantadores eventualmente resignaram-se.
Menchaca García explica que cada espécieorquídea prosperacondições muito específicas. "Eu sempre digo que as orquídeas são muito sociáveis. Paragerminação, eles precisamum fungo, para crescer, precisamuma árvore e, para a polinização, precisamuma abelha ou polinizador específico que se adapte àanatomia."
Mas, no final1841, algo aconteceuBourbon que desafiou essas suposições. O agricultor Ferréol Bellier-Beaumont andavasuas terras com um garoto escravizado12 anos chamado Edmond quando o menino notou duas frutasbaunilhauma planta trepadeira, escreveu Ecottseu livro.
Como poderia ser? Os agricultores já tinham tentado, sem sucesso, e agora essa trepadeira solitária tinha dado frutos. Edmond disse que ele era o responsável, mas,início, Bellier-Beaumont não acreditou. Foi só quando alguns dias depois ele viu outra flor polinizada que pediu para o garoto contar o que havia feito.
Edmond mostrou a ele. Cada orquídeabaunilha (vanilla planifolia) tem partes masculina e feminina divididas por uma membrana, para evitar a autopolinização. O menino pegou uma flor próxima e descascou o lábio da orquídea com o dedo, levantou a membrana com um graveto e pressionou as partes feminina e masculina juntas - uma manobra não totalmente diferente da polinizaçãouma melancia que ele tinha visto algum tempo antes.
Bellier-Beaumont ficou chocado e encantado e não conseguiu guardar a notícia. Logo Edmond estava passeando pela ilha mostrando seu truque a outros agricultores.
"Depois disso, era possível começar a cultivar baunilha na Reunião,Madagascar eoutros lugares", disse Karremans. "Isso foi no meio1800, três séculos depois que os europeus souberam pela primeira vez que a baunilha poderia ser usada. Eles levaram 300 anos para saber como obter frutos da planta."
Os agricultoresbaunilhaReunião realizaram seu sonho:1848, eles conseguiram exportar 50 kgfavasbaunilha para a França e,1898, quando produziram 200 toneladasbaunilha seca, ultrapassaram o México como fornecedor global.
Edmond não compartilhou dessa bonança. Embora ele tenha sido libertado junto com todos os escravos franceses1848,1852 ele foi acusadorealizar um assalto e condenado a cinco anosprisão com trabalhos forçados. Um botânico francês tentou levar o crédito pela invençãoEdmond, alegando ter visitado Reunião1838 e mostrado a um grupoagricultores a técnica para polinizar a baunilha.
Edmond foi eventualmente libertado edescoberta reconhecida (graçasparte ao apoio vigorososeu ex-dono), mas ele morreu pobre, aos 51 anos. "O mesmo homem que gerou grande lucro para esta colônia ao descobrir como polinizar floresbaunilha morreu no hospital públicoSainte-Suzanne", foi como o jornal local Moniteur registroumorte1852,acordo com o livroEcott. "Foi um final pobre e miserável."
Apósmorte, a descoberta feita por Edmond Albius (seu nome completo como homem livre e cidadão) mudou radicalmente o mercado globalbaunilha. Poucas partes do mundo sofreram as repercussões como a região costeiraVeracruz, no México, onde a maior parte da baunilha era produzida antes da polinização manual ser descoberta.
Na época do momento eurekaReunião, os produtores no México ainda dependiamabelhas locais para polinizar as flores. Quando o mercado global foi dominado por baunilhaoutros lugares - inicialmente apenas Reunião, mas depois Madagascar, Indonésia e outros países - a indústria local não conseguiu competir. Hoje, a produção do México é responsável por apenas 5% do comérciofavas naturaisbaunilha.
A indústria ficou ainda mais complicada com o desenvolvimento da baunilha artificial, no final1800, que agora abastece a maior parte do mercado. Apenas 1% do mercado é servido por baunilha natural, que pode atingir preçosarder os olhos:2018, atingiu um recorde£445 (cercaR$ 2.800) por kg, tornando-a mais valiosapeso que a prata.
Aqueles que comercializam baunilha natural - mesmo no México - adotaram o métodopolinização manual, que é muito mais confiável do que esperar por polinizadores naturais. Na verdade, todas as plantasbaunilha cultivadas no mundo agora são polinizadas manualmente, tornando a tarefa extremamente trabalhosa.
"As flores podem abrir no espaçoum mês, mas cada uma abre apenas por algumas horas por dia. Então, todos os dias você tem que caminhar pelos campos para polinizá-las manualmente. É extraordinário", disse Menchaca García. "Toda vez que vejo uma favabaunilha, digo para mim mesmo 'Este é um produto feito à mão'."
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