'Maconha sintética': quais os efeitos das drogas K no organismo?:bot bet365 python

Pessoa preparando cigarro com K2

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Os canabinoides sintéticos imitam a ação da maconha ebot bet365 pythonneutrotransmissores produzidos pelo nosso corpo — só que numa potência 'massiva e brutal'

A origem das drogas K

O toxicologista Maurício Yonamine, da Faculdadebot bet365 pythonCiências Farmacêuticas da Universidadebot bet365 pythonSão Paulo (USP), explica que os canabinoides sintéticos são um grupobot bet365 pythonnovas drogas que tem conquistado um espaço importante no mercado ilícito mundial.

"Para ter ideia, até hoje foram identificados maisbot bet365 python300 canabinoides sintéticos diferentes por polícias do mundo inteiro", calcula.

Como explicado anteriormente, a ideia inicial dos cientistas era sintetizar, ou reproduzir quimicamentebot bet365 pythonlaboratório, a fórmula dos principais componentes da Cannabis sativa, a maconha. Um dos principais alvos nessa busca por novos tratamentos era o Tetrahidrocanabinol, conhecido pela sigla THC.

Pule Novo podcast investigativo: A Raposa e continue lendo
Novo podcast investigativo: A Raposa

Uma toneladabot bet365 pythoncocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês

Episódios

Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa

O objetivo dessas pesquisas científicas era minimizar ou extinguir os efeitos psicotrópicos dessas moléculas, preservando as possíveis aplicações terapêuticas delas.

Os canabinoides sintéticos foram então construídosbot bet365 pythonlaboratório para imitar uma estrutura química parecida com a do THC — com pequenos ajustes nas cadeiasbot bet365 pythoncarbono, oxigênio, hidrogênio e assim por diante.

Todos esses trabalhos foram fundamentadosbot bet365 pythonestudos realizados a partir dos anos 1960, que descobriram os sistemas endocanabinoides do nosso corpo.

Em resumo, as células que compõem o sistema nervoso no cérebro, na medula e nos nervos periféricos possuem receptores específicos, onde se encaixam algumas moléculas.

Esse mecanismo se assemelha mais ou menos aobot bet365 pythonuma porta: os receptores são as fechaduras e as moléculas são as chaves.

O encontro dessas duas coisas — chave e fechadura; moléculas e receptores — representa o gatilho para uma sériebot bet365 pythonreações que virão na sequência.

"E nós temos três possíveis componentes que interagem com esses receptores das células do sistema nervoso", conta o psiquiatra Dartiu Xavier, professor da Universidade Federalbot bet365 pythonSão Paulo (Unifesp).

Os primeiros deles são os endocanabinoides, neurotransmissores produzidos pelo próprio organismo, como é o caso da anandamida.

"Os segundos são os fitocanabinoides, provenientes da maconha. E os terceiros são os canabinoides sintéticos, feitosbot bet365 pythonlaboratório", complementa o médico, que pesquisa dependência química há 40 anos.

E esse encontro entre moléculas e receptores pode ter as mais variadas consequências. No caso dos endocanabinoides, fabricados pelo próprio corpo, esse processo é fundamental para regular o humor e o comportamento emocional, entre várias outras coisas.

Já a Cannabis, segundo Xavier, provoca "modificaçõesbot bet365 pythonpercepção e nas sensações subjetivasbot bet365 pythonrelaxamento".

"Os resultados vão depender da pessoa e do subtipobot bet365 pythonmaconha utilizada, mas alguns dos efeitos são mais ou menos ansiedade, sensaçãobot bet365 pythontranquilidade, lentificação do pensamento e um certo empobrecimento da resposta aos estímulos ambientais", lista.

"Alguns usuários também podem experimentar dificuldadebot bet365 pythonconcentração e ideias paranoicas ou persecutórias", complementa.

Já nos canabinoides sintéticos, esses efeitos são muito mais intensos e imprevisíveis. Isso porque eles têm uma potência maior, como você vai entender nos próximos parágrafos.

"Usuários das drogas K podem sentir um grande prazer e relaxamento, mas que depois geralmente é seguido por confusão mental, aumento da ansiedade, taquicardia, faltabot bet365 pythoncoordenação motora, psicose e convulsões", detalha Yonamine.

"Existem casos, inclusive, que o desfecho é fatal", acrescenta o toxicologista.

A grande dificuldade aqui está na diversidadebot bet365 pythontiposbot bet365 pythoncanabinoides sintéticos: como se tratabot bet365 pythonum mercado sem regulação alguma e há uma facilidadebot bet365 pythonmanipular as fórmulas químicasbot bet365 pythonlaboratórios, a simples modificação da substância pode gerar um entorpecente novo com efeitos graves ou desconhecidos.

Pacotesbot bet365 pythoncanabinoides sintéticos vendidos nas ruasbot bet365 pythonNova York

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Pacotesbot bet365 pythoncanabinoides sintéticos vendidos nas ruasbot bet365 pythonNova York, nos EUA

Do pulmão à cabeça

Os canabinoides sintéticos são comercializadosbot bet365 pythonvárias formas. Após o preparo do entorpecentebot bet365 pythonlaboratório, esse líquido geralmente é pulverizadobot bet365 pythonqualquer tipobot bet365 pythonerva seca, como o capim comum, oubot bet365 pythonpedaçosbot bet365 pythonpapel.

Alguns produtores acrescentam ervas aromatizadas e incensos no produto final, que é embaladobot bet365 pythonsachês antesbot bet365 pythonchegar ao consumidor com os nomes comerciaisbot bet365 pythonK2, K9, spice...

"Os usuários colocam essa misturabot bet365 pythoncachimbos ou cigarros para conseguir fumar", detalha Yonamine.

Há versões usadas especificamentebot bet365 pythoncigarros eletrônicos.

A droga é tragada pela boca e chega aos pulmões, onde é absorvida e cai na corrente sanguínea. "Daí ela é transportada rapidamente para o cérebro do indivíduo, onde vai causar os efeitos", pontua o toxicologista.

Você já deve ter ouvido falar que as drogas K são "100 vezes mais potentes que a maconha". Mas o que isso significa na prática?

"Os canabinoides sintéticos produzem um fenômeno químico que a gente chamabot bet365 pythonagonista total do receptor. Falamos aquibot bet365 pythonmoléculas que ocupam o receptor das célulasbot bet365 pythonforma maciça e brutal", caracteriza Xavier.

Ou seja: a ligação entre as drogas K e os receptores endocanabinoides das células nervosas é muito mais forte e intensobot bet365 pythoncomparação com o que ocorre com os neurotransmissores naturais do corpo ou com a maconha.

Em termos químicos, os cientistas calculam essa força atravésbot bet365 pythonum conceito chamadobot bet365 python"afinidadebot bet365 pythonligação". Eles medem o quanto uma molécula "se gruda" a um receptor — quanto mais forte é essa conexão, menor é o número obtido nessa fórmula.

Segundo o Centro Europeubot bet365 pythonMonitoramentobot bet365 pythonDrogas e Adição, a afinidadebot bet365 pythonligação do THC (um dos compostos da maconha) aos receptores das células nervosas ébot bet365 python10,2 nM (nanomolares).

Já no HU-210, um dos canabinoides sintéticos que integram o grupo das drogas K, esse número ficabot bet365 python0,06 nM.

Isso, na prática, significa que ele se encaixa aos receptores nervososbot bet365 pythonuma forma 100 vezes mais intensa quando comparado à maconha.

"E essa ligação vai levar àquela sériebot bet365 pythonefeitos descritos pela mídia,bot bet365 pythonque a pessoa fica num profundo estado alteradobot bet365 pythonconsciência e perde a noçãobot bet365 pythonsi mesma", complementa Xavier.

Segundo o psiquiatra, a diferença entre os efeitos da maconha e das drogas K, guardadas as devidas proporções, é a mesma entre tomar um copobot bet365 pythoncerveja ou meio litrobot bet365 pythonabsinto. "Mesmo que a substância seja similar, o efeito dela no organismo pode ser diferente e gerar comportamentos completamente disruptivos."

Xavier, que trabalhou alguns anosbot bet365 pythonserviçosbot bet365 pythonatendimentobot bet365 pythonemergência, diz que o uso das drogas K deve levar a um aumento nos casosbot bet365 pythonadolescentes e adultos jovens vítimasbot bet365 pythoninfarto, por conta das alterações no corpo que causam taquicardia (aceleração das batidas do coração) e outros eventos adversos.

Os ataques cardíacos costumam ocorrer com mais frequência a partir dos 50 anos e estão tradicionalmente relacionados ao estilobot bet365 pythonvida e às doenças crônicas, como colesterol alto, obesidade, diabetes e hipertensão.

Yonamine, por fim, pontua que todos esses efeitos dos canabinoides sintéticos podem durarbot bet365 pythonuma a seis horas, a dependerbot bet365 pythoncada formulação.

Homem caminha pelas ruasbot bet365 pythonNova York após consumir canabinoide sintético

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Homem caminha pelas ruasbot bet365 pythonNova York após consumir canabinoide sintético; droga causa um estadobot bet365 pythontorpor e alteraçãobot bet365 pythonconsciência muito fortes

Como resolver esse problema?

Xavier observa que, ao longo da história, a intensificação do proibicionismobot bet365 pythonalgumas drogas tem como efeito colateral o surgimentobot bet365 pythonformas mais perigosasbot bet365 pythonconsumobot bet365 pythonentorpecentes.

"No final do século 19, as farmacêuticas desenvolverambot bet365 pythonlaboratório uma droga que acabaria com o problema do ópio: a morfina", destaca.

"Dez anos depois, a morfina havia se tornado uma questãobot bet365 pythonsaúde ainda mais grave. Daí os laboratórios criaram uma solução para a dependência da morfina: a heroína, que hoje ainda representa um grande problemabot bet365 pythonpartes do Hemisfério Norte."

O médico cita outro exemplo: a Lei Seca dos Estados Unidos, que proibiu a vendabot bet365 pythonbebidas alcoólicas no início do século 20.

"Esse foi o único momento da história da humanidadebot bet365 pythonque foram registrados casosbot bet365 pythonpessoas que injetaram álcool na veia", observa ele.

"Isso acontecia porque, se você tem uma compulsão para o usobot bet365 pythonálcool e havia uma proibição, tentava-se tirar o máximo proveitobot bet365 pythonqualquer quantidade disponível."

Por fim, o psiquiatra aponta que o grande boom do crack esteve relacionado à proibição da cocaínabot bet365 pythonanos mais recentes.

"E a história se repete agora com os canabinoides sintéticos: o proibicionismo relacionado à maconha fez surgir uma formabot bet365 pythonconsumo mais perigosa e com alto riscobot bet365 pythonletalidade."

Na visãobot bet365 pythonXavier, o caminho para lidar com o abuso e a dependência química não envolve a proibição. "É preciso trabalhar com os subgruposbot bet365 pythonmaior vulnerabilidade, como os adolescentes, e pensarbot bet365 pythonações voltadas para eles", sugere.

"Mas não adianta partir para um discurso mentiroso, no estilo 'maconha pode matar'. Os jovens não vão ouvir."

"A boa comunicação sobre as drogas envolve o respeito à inteligência das pessoas, conversando abertamente com elas e falando sempre a verdade", conclui o pesquisador.