O que é electroma, rede do corpo humano recém-descoberta que pode revolucionar tratamento do câncer:frança copa do mundo 2024
Algumas pessoas atribuem a Adee a criação do neologismo “electroma”. Ela afirma que “não podemos subestimar a forma total e absolutafrança copa do mundo 2024que todos os seus movimentos, percepções e pensamentos – e os meus – são controlados pela eletricidade”.
Ela destaca que compreender o electroma é fundamental porque, se interviermos no processo bioelétrico do corpo, poderemos “consertá-lo quando houver algofrança copa do mundo 2024errado, seja por trauma, defeitosfrança copa do mundo 2024nascimento ou câncer”.
Como funciona
O professor eméritofrança copa do mundo 2024biologia do câncer Mustafa Djamgoz, do Imperial Collegefrança copa do mundo 2024Londres, é um dos primeiros cientistas a aplicar a bioeletricidade no tratamento desta doença.
Djamgoz também leciona neurobiologia na mesma universidade e estuda os processos bioelétricos do corpo há décadas. Desde 2019, ele é coeditor-chefefrança copa do mundo 2024Bioelectricity, a única revista científica dedicada a este campo.
Mas, antesfrança copa do mundo 2024entender como usar a bioeletricidade para tratar do câncer, a BBC News Mundo – o serviçofrança copa do mundo 2024espanhol da BBC – pediu a Djamgoz que explicasse o que é essa corrente e como ela é gerada dentro do nosso corpo.
“Todos os elementos que temos no nosso corpo, como o sódio, potássio, cálcio, magnésio e zinco, passam por uma reação química que causa a separação dos seus átomos, formando o que se conhece como íons, que são partículas eletricamente carregadas”, explica o professor.

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“Os fluidos do nosso corpo estão repletos destes íons. Osfrança copa do mundo 2024carga oposta se atraem e os que possuem a mesma carga se repelem”, prossegue ele. “E, quando circulam pelo nosso corpo, eles geram uma corrente.”
Djamgoz ressalta que é uma corrente com potência muito baixa: apenas 70 milivolts. Como termofrança copa do mundo 2024comparação, uma pilha AA comum tem 1,5 mil milivolts. Mas a bioeletricidade do corpo é fundamental para seu funcionamento, segundo ele, já que é através desses sinais elétricos que as diferentes partes do corpo se comunicam.
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Djamgoz destaca que a rede bioelétrica do corpo funciona sob os mesmos princípios fundamentais aplicados a qualquer circuito elétrico, incluindo a leifrança copa do mundo 2024Ohm, que estabelece que a tensão é igual à corrente, multiplicada pela resistência.
A grande diferença é que, enquanto a eletricidade tradicional se move ao longo do núcleo condutor dentrofrança copa do mundo 2024um cabo, a bioeletricidade é gerada por íons que fluem através da membrana celular (a cobertura da célula).
Como a membrana tem funçãofrança copa do mundo 2024vedação, os íons, para penetrar na célula, devem atravessar uma espéciefrança copa do mundo 2024comporta – proteínas chamadasfrança copa do mundo 2024“canais iônicos”, incrustadas na membrana. Quando os íons fluem por esses canais, produz-se a condução elétrica.
Para o especialista, é um paradoxo que o sistema bioelétrico tenha sido muito menos estudado que outros sistemas que regem o corpo, como o genoma, já quefrança copa do mundo 2024compreensão apresenta muito menos dificuldade.
“Temos 22 mil genes e cada pessoa tem uma composição genética diferente. Por isso é que temos medicina personalizada”, segundo ele. “Mas, na bioeletricidade, existe uma única lei fundamental, aplicada a todos.”
Djamgoz também destaca que todas as células e tecidos do nosso corpo – neurônios, nervos, músculos, cartilagens, intestino etc. – utilizam o mesmo processo para se comunicar.
“Quando pensamos nas propriedades elétricas do corpo, pensamosfrança copa do mundo 2024primeiro lugar no cérebro, no coração e nos músculos, mas a realidade é que até os micróbios do nosso intestino, o sistema imunológico e as células cancerígenas geram sinais elétricos”, afirma ele.
Para o professor, “a bioeletricidade realmente é uma das forças ou mecanismos mais fundamentais da natureza”.

Crédito, MUSTAFA DJAMGOZ
O câncer
Voltando à aplicação da bioeletricidade para impedir o avanço do câncer, o tratamento revolucionário sendo desenvolvido por Djamgoz está relacionado com a formafrança copa do mundo 2024transmissão dos sinais elétricos dentro do corpo.
Já mencionamos que, para entrar e sair das células, os íons (átomos com carga elétrica) utilizam canais iônicos, que são proteínas presentes nas membranas celulares. Elas funcionam como comportas – quando elas se abrem, o íon pode passar.
No caso do câncer, que é basicamente uma doença que ocorre quando as células crescem e se propagamfrança copa do mundo 2024forma descontrolada, o professor explica que esses canais iônicos desempenham papel fundamental, já que “são eles que controlam a proliferação e a migração das células”.
Graças às pesquisas iniciadas pelo especialista na décadafrança copa do mundo 20241990, ele efrança copa do mundo 2024equipe descobriram um dado revelador: as células cancerígenas ficam agressivas – ou seja, elas tendem a se multiplicar e propagar – quando são “eletricamente excitáveis”.
“As células cancerígenas geram um zumbidofrança copa do mundo 2024atividade elétrica e isso as torna hiperativas”, explica Djamgoz.
Este dado é muito importante, segundo o professor, porque “o problema do câncer não é ter um tumor. Você pode viver com um tumor, desde que seja local. O problema aumenta quando o câncer se propaga,frança copa do mundo 2024um processo que chamamosfrança copa do mundo 2024metástase.”
Djamgoz descobriu que a chave para interromper esse crescimento hiperativo é fechar as comportas elétricas das células – ou seja, bloquear os canais iônicos, mais especificamente os canaisfrança copa do mundo 2024íonsfrança copa do mundo 2024sódio, que são os responsáveis por causar a “excitação eletrônica” que promove o crescimento do câncer.
Utilizando produtos farmacêuticos para bloquear esses canais, o professor conseguiu interromper a proliferação e a propagaçãofrança copa do mundo 2024células cancerígenasfrança copa do mundo 2024animais. Seu próximo desafio é realizar testesfrança copa do mundo 2024seres humanos, o que é um processo muito mais complexo.
Mas ele diz já ter indíciosfrança copa do mundo 2024que a técnica também poderá funcionarfrança copa do mundo 2024pessoas.

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O especialistafrança copa do mundo 2024ciências biomédicas William Brackenbury, da Universidadefrança copa do mundo 2024York, no Reino Unido, é ex-estudantefrança copa do mundo 2024doutoradofrança copa do mundo 2024Djamgoz. No finalfrança copa do mundo 20242022, ele publicou os resultadosfrança copa do mundo 2024um estudo epidemiológico que analisou informaçõesfrança copa do mundo 202453 mil pacientes com câncerfrança copa do mundo 2024três tipos: mama, próstata e cólon.
Cercafrança copa do mundo 2024150 desses pacientes também tinham angina crônica, uma doença coronariana que é tratada utilizando um medicamento chamado ranolazina, que bloqueia os canaisfrança copa do mundo 2024íonsfrança copa do mundo 2024sódiofrança copa do mundo 2024condiçõesfrança copa do mundo 2024baixo nívelfrança copa do mundo 2024oxigênio, que também são produzidas nos tumoresfrança copa do mundo 2024crescimento.
O estudo demonstrou que as pessoas que tomaram o bloqueador sobreviviam,frança copa do mundo 2024média, por 60% mais tempo que os demais pacientesfrança copa do mundo 2024câncer que não estavam tomando esse produto.
“Medicamentos como a ranolazina podem transformar os cânceres agressivosfrança copa do mundo 2024estado benigno, ou seja, sem metástase, permitindo que os pacientes vivam com o câncerfrança copa do mundo 2024forma crônica, como no casofrança copa do mundo 2024diabetes”, segundo o especialista. “Isso também elimina os efeitos secundários tóxicos e indesejáveisfrança copa do mundo 2024tratamentos como a quimioterapia.”
Djamgoz patenteou seu tratamento contra o câncer usando o bloqueadorfrança copa do mundo 2024canaisfrança copa do mundo 2024íonsfrança copa do mundo 2024sódiofrança copa do mundo 2024vários países, incluindo o Reino Unido, Japão, Canadá, Austrália e Estados Unidos.
Outros usos médicos
Mas a bioeletricidade não tem potencial apenas para a cura do câncer. A mesma “excitação eletrônica” que faz com que as células cancerígenas se multipliquem pode ser usada com outro objetivo positivo: a curafrança copa do mundo 2024feridas.
Sally Adee explica que já foi descoberto que as células da pele “geram um campo elétrico quando são lesionadas”.
“A corrente da ferida chama o tecido vizinho, atraindo ajudantes como agentes curativos, macrófagos para limpar a desordem e células reparadorasfrança copa do mundo 2024tecidofrança copa do mundo 2024colágeno, chamadas fibroblastos”, explica ela.
Em 2012, o cientista Richard Nuccitelli conseguiu medir a corrente elétrica das feridas e concluiu que ela aumenta quando há a lesão, é reduzida à medida que a ferida sara e volta a ser indetectável quando a cura está completa.

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Adee também descobriu que as pessoas cuja correntefrança copa do mundo 2024tensão era fraca se curavam mais lentamente do que aquelas cuja correntefrança copa do mundo 2024lesão era “mais forte”. Além disso, a força da corrente da ferida é reduzida com a idade, emitindo um sinal com a metade da força nas pessoas maioresfrança copa do mundo 202465 anos,frança copa do mundo 2024relação aos menoresfrança copa do mundo 202425 anosfrança copa do mundo 2024idade, segundo detalha a especialista no seu artigo.
Esta descoberta levou alguns cientistas a tentar estimular a eletricidade natural do corpo para acelerar a curafrança copa do mundo 2024feridas.
Dois estudos publicados na última década sobre o tratamentofrança copa do mundo 2024uma das feridas mais difíceisfrança copa do mundo 2024curar (as escaras, que afetam principalmente as pessoas acamadas), demonstraram que o estímulo elétrico “quase duplicoufrança copa do mundo 2024taxafrança copa do mundo 2024cura”, segundo Adee, mencionando os trabalhosfrança copa do mundo 2024Koel e Hoghton,frança copa do mundo 20242014, efrança copa do mundo 2024Girgis e Duarte,frança copa do mundo 20242018.
A divulgadora científica destaca que existem até evidênciasfrança copa do mundo 2024que a mesma técnica pode acelerar a curafrança copa do mundo 2024ossos fraturados.
Por que não é utilizada?
A grande pergunta é: se já existem pesquisas que demonstram que a bioeletricidade do corpo pode ser alterada para ajudar na nossa cura, por que os médicos não estão aplicando estas técnicas?
Djamgoz aponta três motivos principais.
“Primeiro, a profissão médica é muito conservadora”, afirma ele. “Leva muito tempo para que as ideias mudem.”
“Se você pegar, por exemplo, o caso do câncer, nós ainda o tratamos usando quimioterapia, radioterapia e técnicas e métodosfrança copa do mundo 2024tratamento que têm maisfrança copa do mundo 202450 anos”, explica o professor.

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Parte deste conservadorismo está relacionada ao fatofrança copa do mundo 2024que “estamos lidando com a vida humana”, segundo ele, e há o medofrança copa do mundo 2024cometer erros. Mas, na prática, quando alguém quer testar “algo que está fora do convencional, a reação instintiva é se opor”.
“Um dos motivos por que não há mais pessoas assumindo riscos é que não existe financiamento. As pessoas querem se ater ao seguro”, destaca Djamgoz.
A segunda razão da faltafrança copa do mundo 2024investimento neste campo é o fator comercial. “As grandes empresas farmacêuticas que desenvolvem medicamentos caros não querem necessariamente este tipofrança copa do mundo 2024medicação, que é barata”, explica o especialista.
Já o terceiro e último motivo indicado pelo professor Djamgoz é mais curioso: para usar a bioeletricidade, é preciso conhecer um poucofrança copa do mundo 2024física e, segundo ele, “o médico ou biólogo comum tem medo” desta disciplina científica.
“Existe quase que um preconceito... eles dizem ‘meu Deus, isso é física, não entendo’.”
Adee menciona um estudofrança copa do mundo 20242019, realizado pela Universidade Goethe, da Alemanha, e pela Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, que “concluiu que a ideiafrança copa do mundo 2024que a eletricidade é relevante na biologia ainda é muito nova e contraria a intuição para que tenha ampla aceitação”.
“Até quando os médicos já ouviram falar dela, eles não sabem como usá-la”, destaca.
Dois dos cientistas que participaram deste estudo, que analisou os motivos por que poucos cirurgiões ortopédicos utilizam o estímulo elétrico para curar fraturas, “embora funcione tão bem”, concordaram com o professor do Imperial College sobre os dois primeiros motivos apontados por ele.
Mas a especialista russafrança copa do mundo 2024medicina regenerativa Liudmila Leppik e o cirurgião plástico e especialistafrança copa do mundo 2024ortopedia argentino-americano John Barker afirmaram à BBC News Mundo que não acreditam que a faltafrança copa do mundo 2024conhecimento dos médicos sobre física seja um dos problemas.

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“Não acredito que nenhumfrança copa do mundo 2024nós, médicos, compreenda profundamente os mecanismosfrança copa do mundo 2024funcionamentofrança copa do mundo 2024nenhuma das drogas que administramos aos pacientes e, mesmo assim, nós as administramos todos os dias”, afirma Barker, que trabalhou por décadas com estímulos elétricos e hoje é aposentado.
Leppik acha que “o médico e o biólogo médio estudaram física na universidade e acredito que eles entendam os conceitos básicos da eletricidade. Mas eles também entendem que se sabe pouco sobre reações celulares à eletricidade.”
Neste sentido, o trabalho no qual ambos colaboraram demonstrou que não existem diretrizes claras que especifiquem como utilizar a eletricidadefrança copa do mundo 2024um consultório ou mesafrança copa do mundo 2024operações.
Também não está claro se a corrente a ser usada deve ser direta ou alternada, qual deve ser o tempofrança copa do mundo 2024aplicação e qual tensão deve ser empregada. E outro fator fundamental demonstrado pelo estudo é que ainda não existem ferramentas padronizadas para serem usadas pelos médicosfrança copa do mundo 2024seus pacientes.
'Questãofrança copa do mundo 2024tempo'
Apesar das limitações, os especialistas estãofrança copa do mundo 2024acordo sobre o enorme potencial do campo da bioeletricidade.
Mustafa Djamgoz destaca que o financiamento desta área da ciência está crescendo. “É um dos principais desenvolvimentos que estão por acontecer. É apenas questãofrança copa do mundo 2024tempo”, prevê o professor.
Já John Barker adverte que, embora o potencial seja inquestionável, a ciência não costuma avançarfrança copa do mundo 2024forma linear.
Para ele, “a eletricidade serve para curar. Ponto. Existem muitas pesquisas que o comprovam”.
“Mas, 40 ou 50 anos atrás, também sabíamos que os carros eletrônicos tinham muitas vantagens e, mesmo assim, foi preciso chegar alguém como o Elon Musk, que se jogoufrança copa do mundo 2024corpo e alma nessa indústria, para mudar o status quo”, destaca Barker.
O especialista acredita que o interesse pelo uso da eletricidade na medicina certamente irá aumentar, agora que “o campo da microeletrônica está sendo explorado. Não tenho dúvidafrança copa do mundo 2024que será um grande avanço. Falta apenas desenvolver um dispositivo que seja fácilfrança copa do mundo 2024usar.”