A curiosa origem do Vovô Índio, personagem criado para substituir Papai Noel no Brasil:realsbet é confiável

O mesmo jornal,realsbet é confiável28realsbet é confiávelnovembro, havia publicado um verdadeiro manifestorealsbet é confiáveldefesa do Vovô Índio — sob o título "Vamos fazer um Natal brasileiro?" — e,realsbet é confiável20realsbet é confiáveldezembro, uma declaraçãorealsbet é confiávelguerra ao bom velhinho — "Pela deposiçãorealsbet é confiávelPapai Noel" era o nome do texto.

Na capital paulista, os ânimos não eram diferentes. Em 1935, conforme noticiou O Estadorealsbet é confiávelS. Paulo, foi o Vovô Índio quem levou presentes a órfãos paulistanosrealsbet é confiávelação promovida pela Força Pública — instituição antecessora da atual Polícia Militar.

Nos anos 1930 houve ainda um concurso nacional para escolher a imagem que melhor representasse o personagem. E,realsbet é confiável1939, uma peça infantilrealsbet é confiávelcartaz no Rio promoveu o inusitado encontro do Papai Noel com o Vovó Índio.

Presidente do Brasilrealsbet é confiável1930 a 1945 erealsbet é confiável1951 a 1954, Getúlio Vargas (1882-1954) nutria simpatia pela figura, atestam pesquisadores.

Há diversas históriasrealsbet é confiávelque ele pessoalmente tenha se empenhadorealsbet é confiáveltransformar o Vovó Índiorealsbet é confiávelsímbolo do Natal brasileiro — mas, diante da faltarealsbet é confiávelcomprovação documental, se confundem os limites entre o que realmente era engajamento do político populista e o que se tornou causo folclórico.

"Vargas tinha o compromissorealsbet é confiávelnacionalizar o país, criar um Estado nacional, criar uma estrutura nacional. Nesse esforço, ele reforçou a imagemrealsbet é confiávelTiradentes, por exemplo. E trouxe a ideia do Vovó Índio, deu apoio para difundi-la", explica o historiador e sociólogo Wesley Espinosa Santana, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

"Mas não pegou na população."

Com contornosrealsbet é confiávellenda e sem constarrealsbet é confiáveljornais da época, mas apenasrealsbet é confiávelhistórias publicadas décadas mais tarde sobre o assunto, o mais famoso desses episódios pode ter ocorrido há exatos 90 anos, no Natalrealsbet é confiável1931, quando o presidente teria sido anfitriãorealsbet é confiávelum evento natalino para apresentar o Vovô Índio para a criançadarealsbet é confiávelum estádio do Rio.

Segundo esses relatos, a plateia não aprovou a ideiarealsbet é confiávelreceber presentesrealsbet é confiávelum homem vestidorealsbet é confiáveltanga e com cocar na cabeça — a preferência recaía sob o internacional Papai Noel.

"A fábula do Vovô Índio dizia que ele era filhorealsbet é confiávelum escravo africano com uma índia. Foi criado por uma família branca e, por influênciarealsbet é confiávelseus irmãos, deixourealsbet é confiávelser escravo", explica o jornalista Marcelo Duarterealsbet é confiávelseus livro O Guia dos Curiosos - Forarealsbet é confiávelSérie.

"O presidente Getúlio Vargas chegou a pensarrealsbet é confiáveltransformá-lorealsbet é confiávelsímbolo nacional."

O historiador e sociólogo Santana vê paralelos entre esse mito e a teoria racial brasileira do antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997). Afinal, assim como povo o brasileiro, o Vovô Índio também seria a mistura das "três raças tristes".

"O Vovó Índio era o velhinho sábio, filhorealsbet é confiávelpreta com índio, criado por uma branca. A ideiarealsbet é confiávelmesclar, colocar o sincretismo cultural e étnico, as três raças tristes brasileiras: o preto porque foi escravizado, o índio porque foi explorado e invadido, o branco porque era obrigado a vir para cá", reflete o professor.

A origem do mito

Se as tentativasrealsbet é confiávelfazer o Vovô Índio emplacar no imaginário nacional datam dos anos 1930, não se sabe exatamente a origem do mito.

O que se sabe é querealsbet é confiávelversão mais bem-acabada terminou divulgada por obrarealsbet é confiávelsimpatizantes do integralismo, movimento nacionalista que ficou conhecido como uma espécierealsbet é confiávelfascismo brasileiro.

"Houve um grande esforço da intelectualidade nacionalista brasileira, principalmente uma intelectualidaderealsbet é confiáveldireita dos anos 1930, no sentidorealsbet é confiávelcriar essa fábula do Vovó Índio como contraponto ao Papai Noel", diz o historiador Leandro Pereira Gonçalves, professor na Universidade Federalrealsbet é confiávelJuizrealsbet é confiávelFora e autor de, entre outros, O Fascismorealsbet é confiávelCamisas Verdes: do Integralismo ao Neointegralismo.

Ele contextualiza, contudo, que se a simbologia nacional era muito importante ao movimento integralista, ele não foi criado pelos integralistas — foi, sim, utilizado por seus militantes.

"O chamado camisa verde acabou se apropriando daquela imagem, daquela simbologiarealsbet é confiávelaversão ao Papai Noel. E isso aparecerealsbet é confiáveljornais e revistas integralistas do período", explica.

Pesquisador vinculado à Universidaderealsbet é confiávelEstrasburgo, na França, o historiador Philippe Arthur dos Reis lembra que o personagem já aparecia anteriormente no cenário musical e artístico brasileiro.

"O JBrealsbet é confiávelCarvalho, por exemplo, poetarealsbet é confiávelmacumbas, já colocavarealsbet é confiávelperspectiva a ideia do Vovô Índio como defensor da cultura. Ele fazia isso da perspectivarealsbet é confiávelum músico colocandorealsbet é confiávelevidência a cultura negra e indígena", afirma.

"Acho que isso vai estarrealsbet é confiáveldiálogo com o integralismo e, então, pode ter ocorrido, sim, um processorealsbet é confiávelapropriaçãorealsbet é confiávelideias."

Autor do livro Fascismo à Brasileira, sobre o movimento integralista, o jornalista Pedro Doria acredita que o personagem seja resultado do caldo nacionalista que reverberava nas primeiras décadas do século 20.

Isso tem a ver com o movimento modernista, cujos expoentes começaram os anos 1920 reafirmando que não havia necessidaderealsbet é confiávelquerer ser europeu.

"E começa uma busca pelo que é ser brasileiro. Enquanto [os escritores] Mario [de Andrade] e Oswald [de Andrade] acabam tomando o caminho que ficaria mais famoso, há também o caminho do verde-amarelismo do Menotti [Del Picchia] e do Cassiano Ricardo, mais nacionalismo. É o caminho onde está Plínio Salgado [o fundador da Ação Integralista Brasileira, a AIB]", contextualiza Doria.

Sociologicamente, o Brasil dos anos 1930 pensava então os conceitosrealsbet é confiávelbrasilidade. E aí estão nomes como Sérgio Buarquerealsbet é confiávelHolanda (1902-1982) e Gilberto Freyre (1900-1987).

"Vem a ideiarealsbet é confiávelque o barato do Brasil é que somos a misturarealsbet é confiáveltrês raças", pontua Doria.

Na São Paulo prestes a comemorar seu quarto centenáriorealsbet é confiávelfundação, tomava forma o conceito do bandeirante como herói.

"Mas esse mito é do bandeirante caboclo, filho do português homem com a mulher indígena, herói que fala tupi, era pobre mas bravo e desbravava o Brasil", descreve o jornalista.

Plínio Salgado (1895-1975) ergueu as bases do integralismo misturando esse contexto a uma inspiração extremista: o fascismo italiano.

"Mas seu fascismo brasileiro é modernista, coloca o caboclo como mito fundador, como homem brasileiro ideal, o cara que se mete no mato sem medo, que é a cara do Brasil", diz Doria.

O Vovô Índio, assim, passou a ser valorizado dentro dessa narrativa.

"Para os integralistas, o Papai Noel era uma influência ianque. O Vovô Índio representava o caboclo, o cara que estava no mato como o brasileiro, essencialmente brasileiro", comenta Doria.

"É o resultado da busca que todo fascismo tem pela visão idealizada do que é o seu povo."

"Ele, assim, se consolidou na AIB e foi adotado por Getúlio [Vargas] porque fazia sentidorealsbet é confiávelacordo com essa visão", acrescenta.

Emissáriorealsbet é confiávelJesus

A fábula do Vovô Índio foi sacramentada pela lavra do jornalista Christovamrealsbet é confiávelCamargo — que era amigorealsbet é confiávelMáriorealsbet é confiávelAndrade e, ao que se sabe, não tinha nenhuma ligação com os integralistas. Ele publicou o contorealsbet é confiávellivrorealsbet é confiável1932 e, depois, no jornal Correio da Manhã, no Natalrealsbet é confiável1934.

Na históriarealsbet é confiávelCamargo, Vovó Índio era um senhor amigo da natureza que trajava penas coloridas e saía distribuindo presentes para os brasileiros. Expulsorealsbet é confiávelsua terra pelo homem branco, morreu —realsbet é confiável"puro desgosto" — e foi parar lá nas portasrealsbet é confiávelSão Pedro.

Não passou pelo crivo do paraíso, no entanto. Como não tinha sido batizado pela Igreja, o porteiro celestial precisou explica que ele não pode ingressar no céu.

Então apareceu Jesus tentando resolver a situação. Afirmou querealsbet é confiávelseu aniversário ele próprio tinha o hábitorealsbet é confiávelir ao Brasil levar mimos para as crianças bem-comportadas e que, se Vovô Índio se convertesse, pronto, ele bem que podia se tornar o emissário dos presentes.

E assim, pela narrativarealsbet é confiávelCamargo, Vovô Índio se tornou o "bom velhinho" brasileiro.

Essa narrativa assumiu importância também pela mensagem religiosa.

Gonçalves lembra que, afinal, "o movimento integralista é cristão, tem sob lema 'Deus, Pátria e Família'".

"O debate da simbologia natalina realmente presente no integralismo brasileiro não é necessariamente o Vovó Índio, mas a valorização do nascimentorealsbet é confiávelJesus", argumenta o historiador.

Ao mesmo tempo, os integralistas sempre ironizavam a figura do Papai Noel, considerando-a incompatível com o Natalrealsbet é confiávelverão brasileiro.

"Mas apesarrealsbet é confiáveltodas as tentativas, a imagem do Vovô Índio não deu certo, não foi enraizada. Naqueles anos 1930 o Papai Noel já estava com a imagem consolidada no imaginário ocidental", acredita Gonçalves.

"O Vovó Índio ficou reservado ao aspectorealsbet é confiáveluma intelectualidade, da utopia do militante nacionalistarealsbet é confiávelbuscarealsbet é confiáveluma alternativa ao capitalismo", comenta o historiador.