Os tapa-sexos masculinos medievais que caíramdesuso:

Réplicas armadura feita para Henrique 8º

Crédito, Getty Images

Um relato da época afirma que a pintura final deixava todos que a viam "envergonhados e aniquilados".

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Por um breve momento na Renascença, entre a invenção do microscópio, da imprensa e dos lápis (entre tantas outras tecnologias que sustentaram a sociedade moderna), homens da classe superior estavam mais preocupadospromover outra inovação: o tapa-sexo.

Esses "belos palácios pessoais para o pênis", como chamou certa vez um escritor, consistiambolsostecido costurados sobre a genitália e almofadados para formar uma série bizarraformatos sugestivos: espirais, esferas e linguiças voltadas para cima. Alguns tinham até rostos estampados.

Era uma oportunidade rara para que os homens dessem um toquecharme às suas partes íntimas. E muitos optavam por confecçõestecidos suntuosos, como seda, veludo e cetim, embelezados com joias, ouro e belos arcos – a verdadeira expressão da fertilidade masculina.

Mas para que serviam os tapa-sexos? E por que eles desapareceram?

Henrique 8º

Crédito, Alamy

Legenda da foto, Henrique 8º apareceseu retrato mais famoso cobertopeles, ouro e rubis. Mas o seu tapa-sexo é o que realmente chama a atenção

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No princípio, os tapa-sexos eram feitosaço e acrescentados às armaduras, para ajudar a proteger a fertilidade dos cavaleiros no campobatalha. Mas eles logo representaram uma solução prática para um problema constrangedor do dia a dia da época.

Até o final do século 15, era comum que os homens usassem uma longa túnica ou gibão – essencialmente, um vestido – com meias-calças cobrindo as pernas. Mas a moda logo mudou.

Os gibões gradualmente diminuíramtamanho ao longo dos anos, até ficarem tão curtos que não cobriam mais a virilha. Isso era particularmente perigoso, já que as meias-calças que os homens vestiam na época eram separadas por perna, deixando espaços abertos que poderiam ser bastante reveladores.

"Basicamente, você colocava uma pernauma das meias e a amarrava ao gibão. E, depois, fazia o mesmo com a outra perna", explica a historiadora da Itália do início da Era Moderna Victoria Bartels, do Centro da UniversidadeSyracuseFlorença, na Itália.

Mas, com a moda das novas versões mais curtasroupa, "meio que ficou uma área que precisava ser coberta", segundo ela.

O problema foi particularmente ilustrado no poema medieval Contos da Cantuária. No prólogo da história, um personagem conhecido como "a pessoa", reclama:

"Infelizmente, alguns deles mostram o volume das suas formas e os horríveis membros dilatados, que parecem a enfermidade da hérnia."

Os vãos abertos geraram um pânico moral. Padres recearam que a nova moda se tornasse irresistível para os "sodomitas" e levasse à corrupção dos jovens.

Tapa-sexo brancohomem vestidoazul marinho

Crédito, Alamy

Legenda da foto, Tapa-sexoscores contrastantes ajudavam os homens a fazer dos seus genitais o centro das atenções

Os primeiros tapa-sexos eram triângulostecido soltos que eram introduzidos para cobrir as aberturas entre cada uma das pernas das roupas. Mas não demorou muito para que os homens aproveitassem essa nova vestimenta e começassem a incluir enchimentos.

Duas décadas depois, os triângulos soltos haviam se transformadoobjetos fálicosproporções gigantescas.

Os primeiros aspirantes a conquistadores recheavam seus tapa-sexos com peloscavalos, tecido e palha. Às vezes, eles escondiam objetos úteis, como lenços e dinheiro.

Bartels chegou a encontrar relatos do seu uso para armazenar flores secas, mas apenastextos satíricos.

Das ruasFlorença, onde eram conhecidos como sacco, até Paris, onde receberam o nome francês braguettes, os jovens se exibiam comgenitália postiça, atraindo olhares para baixo aonde quer que fossem.

O que havia começado como um instrumento recatado passou a ser usado com o efeito oposto.

E o simbolismo dessa peçaroupa protuberante não se restringiu aos homens renascentistas que a usaram. A própria palavrainglês para designá-la – codpiece – vem"cod", que,inglês arcaico, significava "escroto".

Um texto satírico encontrado por Bartels comparava a proteção oferecida pelos tapa-sexos (especialmente nas armaduras) com a fornecida pelas cascasnozes e sementes. Afinal, da mesma forma que as "braguettes naturelles" (tapa-sexos naturais), eles ajudavam a garantir a propagação da nova geração.

Alguns homens da Renascença gostavamenfeitar suas virilhas com pequenos laços

Crédito, Alamy

Legenda da foto, Alguns homens da Renascença gostavamenfeitar suas virilhas com pequenos laços

O dramaHenrique 8º para ter um herdeiro legítimo o levou a criar um novo ramo do Cristianismo. Sua busca pela fertilidade também fazia com que o rei inglês usasse as associações figurativas do tapa-sexo ao máximo.

O mural no PalácioWhitehall foi destruídoum incêndio1698, mas o desenho original sobreviveu e levou outros artistas a copiá-lo. Por isso, o tapa-sexo usado pelo rei pode ser visto até hojedezenaspinturas, transmitindo a quem o observa a mensagemque Henrique 8º era mais do que capazproduzir um herdeiro.

Duzentos anos depois damorte, admiradores ainda podiam visitar a estátuaHenrique 8º na TorreLondres e se maravilhar com afertilidade.

Na obra, uma efígiemadeira pintada era ornada com um mantotecido flutuante e possuía um mecanismo secreto que revelava um tapa-sexo oscilante.

"Se você pressionar um ponto no chão com os pés, irá ver algo surpreendenterelação a essa figura, mas não vou dizer mais do que isso", escreveu um visitante, segundo o livro Thrust: A Spasmodic Pictorial History of the Codpiece in Art ("Impulso: uma história pictórica espasmódica do tapa-sexo na arte",tradução livre).

As mulheres costumavam até inserir alfinetes na efígie,uma espécieritual para as ajudar a ter filhos.

Naquela época, essas atrevidas exibiçõesvirilidade não eram algo incomum.

No portão frontalferro fundido da Capela ColleoniBérgamo, na Itália, construída no final do século 15, fica o brasão dos Colleoni. Sobre ele, existem três formas parecidas com vírgulas.

Estas formas representam testículos. Acredita-se que eles tenham sido incluídos para exibir a força masculina da linhagem.

Também há uma similaridade entre o nome da família Colleoni e a expressãoitaliano coglioni, que faz referência aos testículos.

ArmaduraHenrique 8º

Crédito, Alamy

Legenda da foto, As próprias armadurasHenrique 8º contavam com sugestivas protuberâncias

Os homens também usavam adornos na região da virilha para transmitirbravura militar.

Inicialmente, os tapa-sexos realmente costumavam ser acrescentados às armaduras. Mas Bartels explica que a ascensão dessas peças coincidiu com as Guerras Italianas (1494-1559).

Durante esses conflitos, mercenários do norte da Europa saírambatalhanome da Espanha, França e Itália.

Um dos benefícios recebidos pelos soldados era a isenção das Leis Suntuárias, que determinavam até que ponto poderia chegar o desregramentocada grupo social. E eles aproveitaram essa oportunidade no vestuário.

"Eles se vestiamforma superchamativa... eles usavam esses enormes tapa-sexos", segundo Bartels. E assim se formou mais um laço entre o tapa-sexo e a cultura militar.

Mesmo para os seus contemporâneos, essas abertas e declaradas exibiçõesmasculinidade, muitas vezes, eram objetogrande ridicularização.

Segundo o historiador Will Fisher, no livro Materializing Gender in Early Modern English Literature and Culture ("Materialização do gênero na cultura e literatura inglesa do início da idade moderna",tradução livre), os humoristas da época entusiasmavam seu público com cenas sugestivasque um personagem parecia estar a pontorevelar seus genitais... até que eles retiravam algo inesperado das calças, como uma laranja.

Outros objetos incomuns encontradostapa-sexos fictícios incluíam "poemas, garrafas, guardanapos, pistolas, cabelos e até espelhos".

Homem com tapa-sexo laranja

Crédito, ALAMY

Legenda da foto, Alguns tapa-sexos eram mais provocativos que outros

O tapa-sexo já estavadeclínio no final do século 16. Nessa época, as fontes disponíveis começam a se referir a ele como algo foramoda, segundo Victoria Bartels.

Curiosamente, pouco antes desses volumosos acessórios começarem a desaparecer, eles passaram a ser reduzidos para assumir proporções diminutas.

"Você começa a ver outra tendênciamoda chamada 'barrigaervilha'", explica Bartels. Eram jaquetas distendidas e sem enchimento, que eram vestidas sobre a camisa, criando uma pretuberância na região da barriga. "Parece ridículo aos olhos modernos."

Elas costumavam ser acompanhadascalções almofadados ou atéformasaias. Bartels explica que essa combinação ressaltava a mesma região do corpo que o tapa-sexo, já que ambos incorporavam os genitais.

Atualmente, poucas 'barrigaservilha' ainda sobrevivem.

Entre as que foram conservadas estão bojos metálicosarmaduras, um conjuntolã e veludo que pertenceu a um conde sueco e seus filhos e um conjuntopeças que fazem parte do MuseuLondres, inicialmente classificadas como almofadasombro por um curador vitoriano, segundo a historiadora Lucy Worsley.

Além desses objetos remanescentes, podemos apenas observar a grandeza priápica dessa vestimenta perdidapinturas e esculturas da época.

Mas, embora os tapa-sexos renascentistas autênticos agora sejam raros, o entusiasmo do público por eles não desapareceu por completo.

Nos anos 1970 e 1980, bandasrock como Jethro Tull e Kiss começaram a surpreender o público com versõestapa-sexo com estampasleopardo,couro, cravejadas ou enfeitadas com rostosdemônios.

A banda Kiss chegou a terprópria costureiratapa-sexos, até o encerramento da banda, no ano passado.

Os tapa-sexos também vêm marcando seu retorno na alta costura, como parteuma tendência chamada "power dressing dos Tudor", esériesTV históricas, como a britânica Wolf Hall.

Mas os produtores modernos ainda não conseguiram fazer tapa-sexos grandes como osantigamente.