O que está por trás do aumentobrabet minescasosbrabet minesHIV entre idosos brasileiros:brabet mines
Esse trabalho, aliás, reflete um fenômeno que fica cada vez mais aparente no Brasil: nos últimos dez anos, o númerobrabet minesindivíduos com 60 anos ou mais que testaram positivo para o HIV subiu maisbrabet minesquatro vezes.
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"E as causas desse crescimento estão relacionadas a muitos fatores", aponta Gosuen, que também coordena o Comitêbrabet minesComorbidades da Sociedade Brasileirabrabet minesInfectologia.
O que dizem os números
Todos os anos, o Ministério da Saúde publica o Boletim Epidemiológico HIV/Aids, que compila todas as estatísticas sobre essa epidemia no país.
O documento é fundamental para guiar as políticas públicas do setor e saberbrabet minesquais áreas ou problemas o governo deve concentrar os esforços.
A última edição, divulgadabrabet minesdezembrobrabet mines2022, reforça a tendênciabrabet minessubida nos casosbrabet minesHIV entre idosos — apesar da queda geral nos diagnósticosbrabet mines2020 e 2021, por causa da pandemiabrabet minescovid-19.
Para se ter ideia, 360 brasileiros com maisbrabet mines60 anos testaram positivo para o HIVbrabet mines2011. Essa taxa subiu ano após ano e chegou a 1.738brabet mines2019.
Mesmo com toda a crise pandêmica dos últimos anos, foram 1.517 diagnósticosbrabet minesHIV entre os brasileiros mais velhosbrabet mines2021. Isso representa um saltobrabet minesquatro vezesbrabet minesuma década, como você conferebrabet minesdetalhes no gráfico a seguir.
A participação relativa dos idosos na porcentagem totalbrabet minesnovos casos também cresceu. Em 2011, 2,6%brabet minestodos os diagnósticos ocorreram no grupo com maisbrabet mines60 anos. Atualmente, eles representam 3,7% dos testes positivos para esse vírus.
A infectologista Marília Bordignon, do Serviçobrabet minesExtensão ao Atendimentobrabet minesPacientes HIV/Aids do Hospital das Clínicasbrabet minesSão Paulo, chama a atenção para outro indício que mostra o impacto desse vírus na população mais velha: ao longo da última década, a taxabrabet minescasos por 100 mil habitantes caiu menos nessa faixa etária.
"Entre pessoas com 60 anos ou mais, até tivemos uma redução na taxabrabet minesdiagnósticosbrabet minesaids. Mas essa queda é muito menor do que o observado com os demais grupos", destaca.
E esse fenômeno pode ser observado tantobrabet mineshomens quantobrabet minesmulheres, como mostram os dois gráficos a seguir.
Um fenômenobrabet minesmúltiplas causas
O médico Marco Túlio Cintra, vice-presidente da Sociedade Brasileirabrabet minesGeriatria e Gerontologia, acredita que, "assim como tudo o que envolve os idosos, o aumento da detecçãobrabet minesHIV não tem uma explicação única".
"O primeiro fator está relacionado ao baixo usobrabet minespreservativos nessa faixa etária, pois não há mais a preocupação com a gravidez", aponta.
As mulheres que já passaram da menopausa, que ocorre por volta da quinta décadabrabet minesvida, deixambrabet minesovular. Com isso, não há mais como elas gerarem um bebê.
Vale ressaltar, claro, que o usobrabet minespreservativos não serve apenas como um método contraceptivo, para evitar uma gestação indesejada: eles também são alternativas eficazes para evitar muitas das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como o próprio HIV.
O segundo ingrediente da lista é a popularizaçãobrabet minesremédios contra a disfunção erétil, como o Viagra e o Cialis. Graças a esses fármacos, os homens mais velhos — que costumam apresentar mais problemas para iniciar ou manter uma ereção — encontraram uma saída para prolongar a vida sexual.
"Muitos indivíduos mais velhos também passam pela experiência do divórcio ou da viuvez. Com isso, eles se sentem mais livres para ter outras relações", acrescenta Gosuen.
Nessa seara, os aplicativosbrabet minesrelacionamento — alguns deles criados especificamente para quem tem maisbrabet mines60 anos — facilitaram os contatos e as novas experiências.
Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil também pontuam que várias pessoas dessa faixa etária constituíram famílias heterossexuais quando jovens, mas agora se descobrem homossexuais ou bissexuais — e alguns também se sentem mais à vontade para ter experiências com parceiros do mesmo sexo nessa fase da vida.
Em quarto lugar, Bordignon explica que há uma razão fisiológica que amplia os riscosbrabet minesinfecçãobrabet minesidades mais avançadas. "Temos questões biológicas que levam a uma maior fragilidade da mucosa [da vagina ou do ânus] e a uma redução do sistemabrabet minesdefesa nesses locais", diz.
A pouca lubrificação e a fragilidade das barreiras do organismo, que se tornam mais comuns com o envelhecimento, portanto, facilitam a entrada do HIV — caso o parceiro tenha o vírus e não sejam usadas as estratégias preventivas, claro.
Um quinto aspecto levantado pelos pesquisadores é o aumento nos esforçosbrabet minestestagem. Ou seja, será que um aumento nos pedidosbrabet minesexames para flagrar o vírus gerou uma subida nos diagnósticos?
As informações são um pouco difusas nessa seara. Por um lado, há sim um crescimento nos testesbrabet minesHIVbrabet minestodo o país, o que contribui para a subida nos boletins epidemiológicos. Por outro, os idosos nem sempre são contemplados nesses esforçosbrabet minesrastreamento e detecção precoce.
"Mesmo quando a pessoa idosa já apresenta sintomas, como um emagrecimento acentuado, os médicos sempre vão suspeitarbrabet minescâncer, mas nunca do vírus HIV", lamenta Cintra, que também é professor da Universidade Federalbrabet minesMinas Gerais (UFMG).
"Esse assunto ainda é um tabu dentro dos consultórios, como se os mais velhos não tivessem vida sexual e libido. Isso é um mito", admite o geriatra.
"Com isso, perdemos a oportunidadebrabet minesdar uma orientação adequada sobre a prevenção ou fazer um diagnóstico precoce", lamenta.
"A questão é que, há dez anos, era incomum encontrarmos uma pessoa idosa HIV positivo. Hoje, não é mais tão raro assim."
O cientista social Alexandre Grangeiro, pesquisador da Faculdadebrabet minesMedicina da Universidadebrabet minesSão Paulo (FMUSP), aponta que a questão geracional também deve entrar nessa equação.
"As gerações que antecederam o início da epidemiabrabet minesaids nos anos 1980, ou seja, que começaram a transar antes disso, nasceram e foram educadas dentrobrabet minesum processo muito mais liberal do pontobrabet minesvista das relações sexuais e com poucos hábitosbrabet minescuidados preventivos", analisa.
"As gerações posteriores, que começaram a vida sexual nos anos 1980 ou depois, vão naturalmente pensar mais nesse autocuidado", compara ele.
Grangeiro também lembra que, com o envelhecimento, é comum que as pessoas tenham mais contato com os serviçosbrabet minessaúde — o quebrabet minescerto modo facilita o diagnósticobrabet minesdoenças.
Por fim, os especialistas listam um oitavo fator que aglutina todos os anteriores: a faltabrabet minescampanhasbrabet minesconscientização específicas para esse público.
"A comunicação sempre foi voltada a grupos específicos, como os mais jovens, ou aos eventos, como o carnaval. Com isso, os idosos nem sempre se veem representados nas campanhasbrabet minesprevenção do HIV", aponta Cintra.
O primeiro impacto
Gosuen relata que,brabet mineslinhas gerais, a reação diantebrabet minesum teste positivo para o HIV pode variar conforme o sexo.
"As mulheres mais velhas costumam ser infectadas pelo marido, que tiveram alguma relação extraconjugal e trouxeram o vírus para casa. Há também aquelas que se separaram ou ficaram viúvas e começaram a sair com uma outra pessoa", observa ela.
"A reação ébrabet minessusto e tristeza profunda, pois elas não enxergavam qualquer risco", complementa.
Já entre os homens, Gosuen relata que testemunha com mais frequência sentimentosbrabet minesvergonha.
"Isso ocorre principalmente quando o paciente está juntobrabet minesalgum familiar ou precisa compartilhar a notícia com parentes próximos."
A infectologista destaca que, não raro, o círculo social descarta automaticamente qualquer possibilidadebrabet minesa pessoa mais velha ter uma vida sexual ativa.
"Alguns familiares questionam: mas como o meu pai está com HIV se ele ficou viúvo há 20 ou 30 anos?"
"Em ambos os sexos, persiste aquele pensamento do 'comigo isso nunca vai acontecer'."
A boa notícia é que hoje existem tratamentos bastante eficazes: as chamadas terapias antirretrovirais permitem controlar a cargabrabet minesvírus, embora ainda não sejam capazesbrabet mineseliminá-lobrabet minesvez do organismo.
Mas o uso desses remédios tem algumas particularidades nessa faixa etária. "É comum que a pessoa idosa tenha comorbidades e doenças crônicas", detalha Cintra. Com isso, os médicos adaptam o tratamento e escolhem certas drogas que não prejudicam o funcionamento dos rins, do coração ou dos ossos.
Às vezes, também é necessário ajustar as dosagens ou os princípios ativos usados para controlar outras enfermidades, como hipertensão, colesterol alto, diabetes…
"O objetivo disso é não afetar a efetividade da terapia antirretroviral, o que faria o paciente voltar a ter uma carga viral maior", complementa o geriatra.
A mandalabrabet minesprevenção do HIV
Foi-se o tempobrabet minesque a camisinha era o único foco para evitar o HIV ou outras ISTs. A forma mais modernabrabet mineslidar com o assunto é a "mandala da prevenção combinada".
O método, que tem o aval do próprio Ministério da Saúde, aponta que existem várias estratégias para prevenir a infecção por esse vírus — e pode ser que uma pessoa se adapte melhor a um método ou outro (eventualmente, é necessário fazer uma combinaçãobrabet minesvários deles).
Os componentes dessa mandala incluem:
- Usar preservativo masculino, feminino ou gel lubrificante;
- Profilaxia pré-exposição (PrEP);
- Profilaxia pós-exposição (PEP);
- Testagem regular para o HIV e outras ISTs;
- Tratar todas as pessoas vivendo com HIV/aids;
- Reduçãobrabet minesdanos;
- Prevenir a transmissão vertical (da mãe para o filho durante a gestação ou parto).
Mas e para os idosos? Nos últimos anos, um timebrabet minespesquisadores brasileiros criou uma mandalabrabet minesprevenção específica para os mais velhos — o estudo que fundamentou a iniciativa foi publicadobrabet minessetembrobrabet mines2021 no periódico acadêmico The Lancet Healthy Longevity.
Alémbrabet mineschamar a atenção para os métodos que servem a todas as idades — como a camisinha, a PrEP, a PEP e a disponibilidadebrabet minestestes — os pesquisadores deram bastante ênfase a dois aspectos que se tornam mais preponderantes a partir da sexta décadabrabet minesvida.
"O acesso aos lubrificantes é fundamental para contrapor aquela fragilidade da mucosa", cita Bordignon.
"O outro ponto é a síndrome genitourinária da menopausa, que deixa a região genital da mulher mais ressecada e com microfragilidades que facilitam a transmissão", complementa a infectologista.
Portanto, quando falamos nos mais velhos, o usobrabet mineslubrificantes durante as relações sexuais é algo indispensável — não só do pontobrabet minesvista do prazer, mas também da prevenção das ISTs.
Além dos cuidados individuais, Grangeiro reforça a necessidadebrabet minescampanhas mais inclusivas. "Elas precisam ter esse caráter geracional, porque falamosbrabet minespúblicos muito diferentes", considera.
O especialista também acredita na importânciabrabet minesajustar certos aspectos dos aplicativosbrabet minesrelacionamento.
"Eles se tornaram uma grande praça pública para o encontrobrabet minesparceiros. E esses sistemas precisam cumprir a responsabilidade e o papel social que têm por cuidar da saúde das pessoas e trazer informações mais claras sobre as ISTs", opina.
"Também deveríamos ter políticas mais claras e que ofereçam o melhor método preventivo a cada pessoabrabet minesacordo com as necessidades delas", avalia Grangeiro.
"Ou seja, precisamos dizer com mais clareza que as pessoas que não conseguem ou não querem usar preservativo adequadamente deveriam procurar a PrEP, por exemplo. Isso não é feito da forma mais adequada e deveria incluir todos os públicos, independentemente da faixa etária", conclui.
- Este texto foi publicadobrabet mineshttp://vesser.net/articles/cjr1qelll11o