Distância e pragmatismo: o que esperar da relaçãocbet paga mesmoLula e Trump? :cbet paga mesmo

Mas e agora que Trump governará o país por mais quatro anos? O que esperar da relação entre os presidentes das duas maiores democracias e economias do continente americano?

Será que as diferenças entre os dois falarão mais alto a pontocbet paga mesmoprejudicar as relações exteriores entre os dois países que, neste ano, completaram 200 anos?

Especialistas e diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que a tendência é que a relação entre Lula e Trump sejacbet paga mesmodistanciamento político,cbet paga mesmoum lado, e pragmatismocbet paga mesmooutro.

Eles afirmam que a futura relação entre Lula e Trump dificilmente será marcada pelo tom amistoso, ainda que distante, da relação que se criou entre o petista e o atual presidente Joe Biden.

Pesaria, segundo eles, o fatocbet paga mesmoque Trump, assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), serem vistos como liderançascbet paga mesmouma direita radical responsável por questionamentos aos resultados das eleiçõescbet paga mesmo2020, nos Estados Unidos, ecbet paga mesmo2022, no Brasil.

Os especialistas dizem acreditar que o Brasil pode enfrentar problemas concretos se Trump cumprir a promessacbet paga mesmoaumentar tarifas sobre produtos importados, uma das duas principais bandeirascbet paga mesmocampanha, o que poderia prejudicar as exportações do país.

Além disso, eles pontuam que se prevalecer a política externa anteriorcbet paga mesmoTrump, a tendência é que os Estados Unidos se isolem e passem a cooperar menoscbet paga mesmotemas que são considerados importantes para o Brasil como as mudanças climáticas.

Também há o receiocbet paga mesmoque a ascensãocbet paga mesmoTrump dê um novo ânimo a movimentoscbet paga mesmodireita que tentam reabilitar o ex-presidente Bolsonaro, inelegível até 2030, ecbet paga mesmoquem Trump é relativamente próximo.

Por outro lado, eles afirmam que a antiguidade da ligação entre os dois países e a complexidade com a qual Brasil e Estados Unidos se relacionam fazem com que o relacionamento interpessoal entre Lula e Trump tenda a interferircbet paga mesmoforma apenas limitada nas relações entre as duas nações.

Protecionismo comercial à vista

"Nós vamos ser uma naçãocbet paga mesmotarifas. Não vai ser um custo para você. Vai ser um custo para outro país", disse Trump a uma plateia empolgada durante um comíciocbet paga mesmosetembro deste ano.

A frase sintetiza uma das principais propostas do republicano ao longo da campanha: aumentar as tarifas sobre produtos importados.

Trump argumenta que o "tarifaço" incentivaria as empresas a produzirem mais nos Estados Unidos e a criar empregos no país.

A promessa écbet paga mesmoque ele imponha tarifascbet paga mesmo10% a 20% para a maioria dos parceiros comerciais americanos ecbet paga mesmo60% sobre produtos chineses. Em casos específicos, essa taxação poderia chegar a até 100%.

E é justamente por promessas como essas que especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que a tendência écbet paga mesmoque a economia americana entrecbet paga mesmouma fase ainda mais protecionista sob Trump, o que poderia ter impacto direto sobre a economia brasileira.

Os Estados Unidos são um dos maiores parceiros comerciais do Brasil.

Segundo dados do governo federal, o país é o segundo principal destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China. Além disso, os Estados Unidos são o terceiro maior fornecedorcbet paga mesmoprodutos importados ao Brasil.

Historicamente, o Brasil tem um déficit nacbet paga mesmobalança comercial com os americanos.

Entre 2014 e novembrocbet paga mesmo2024, o Brasil exportou US$ 315 bilhõescbet paga mesmoprodutos para os Estados Unidos. No mesmo período, o Brasil importou US$ 367 bilhões daquele país. Isso representa um déficitcbet paga mesmoUS$ 52 bilhões.

Novas tarifas, apontam os especialistas, poderiam aumentar ainda mais esse déficit.

"É bem provável que haja uma ampliação do protecionismo, com impacto para as exportações brasileiras e um aumento da pressãocbet paga mesmorelação aos países da América Latina", diz à BBC News Brasil o professor do Institutocbet paga mesmoRelações Internacionais da Universidadecbet paga mesmoBrasília (UnB) Haroldo Ramanzini Júnior.

O professor explica que o impactocbet paga mesmoum "tarifaço" como o prometido por Trump pode ser ainda mais agudo por conta da natureza da pautacbet paga mesmoexportações brasileiras aos Estados Unidos.

Segundo ele, parte significativa dos produtos brasileiros exportados para aquele país é composta por produtoscbet paga mesmomaior volume agregado ou semimanufaturados.

A imposiçãocbet paga mesmotarifas deixaria esses produtos mais caros para o consumidor americano, o que poderia impactar cadeias produtivas e industriais no Brasil.

Segundo o professorcbet paga mesmoRelações Internacionais da Universidade Federalcbet paga mesmoMinas Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes, esse temorcbet paga mesmouma política econômica protecionista seria um dos motivos pelos quais o presidente Lula se manifestoucbet paga mesmoforma crítica a Trump e favorável a Kamala Harris.

"​​A posturacbet paga mesmoLula se justifica por temorescbet paga mesmoque uma vitóriacbet paga mesmoTrump possa significar alguns prejuízos ao Brasil no campo da economia", disse o professor.

Outro que também vê a vitóriacbet paga mesmoTrump com um possível problema para as exportações brasileiras é o professorcbet paga mesmoRelações Internacionais da Universidadecbet paga mesmoHarvard e ex-secretáriocbet paga mesmoAssuntos Estratégicos do governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) Houssein Kalout.

"O Trump sabe que o Brasil vai ter que amortizar [suportar] algumas pressões. A questão é saber se o Brasil vai conseguir. Acho que, com Trump, pode haver políticas protecionistas, elevaçãocbet paga mesmotarifas, estabelecimentocbet paga mesmocotascbet paga mesmovários itens da pauta exportadora brasileira como aço e carne [...] como é que o Brasil vai reagir? Isso pode ser um pontocbet paga mesmoinflexão", diz Kalout à BBC News Brasil.

O professor Haroldo Ramanzini Júnior, da UnB, destaca uma outra promessacbet paga mesmoTrump que pode afetar o Brasil diretamente: o estabelecimentocbet paga mesmotarifascbet paga mesmoimportação para países que esteja tentando depender menos do dólarcbet paga mesmosuas transações comerciais internacionais.

"Isso eventualmente pode impactar ou causar uma pressão ao Brasil e às posições brasileiras", afirma o professor.

A redução da dependência do dólar tem sido uma das principais bandeiras do governo do presidente Lulacbet paga mesmoseu terceiro mandato.

A ideia é que o Brasil e outros países estabeleçam mecanismoscbet paga mesmotrocas comerciaiscbet paga mesmosuas moedas locais para não ficarem à mercê das flutuações do dólar oucbet paga mesmoproblemas como a faltacbet paga mesmoreservas cambiais.

Em outubrocbet paga mesmo2023, Brasil e China realizaram a primeira transação comercial entre os dois países usando, exclusivamente, real e yuan.

Isolacionismo e mudanças climáticas

Outra consequência provável da eleiçãocbet paga mesmoTrump, segundo os especialistas, é a adoçãocbet paga mesmouma postura unilateralista e isolacionista da política externa dos Estados Unidos.

Esse padrão, eles apontam, foi observado durante o primeiro mandatocbet paga mesmoTrump e permanece fortecbet paga mesmoseus discursos atuais.

O isolacionismocbet paga mesmopolítica externa é a adoçãocbet paga mesmouma postura que foca mais nos interesses imediatos do próprio país e menos na possibilidadecbet paga mesmocooperação internacional para o enfrentamentocbet paga mesmotemas comuns.

Um exemplo dessa prática durante o governo Trump aconteceucbet paga mesmo2017, quando ele retirou os Estados Unidos do Acordocbet paga mesmoParis sobre mudanças climáticas.

Outro exemplo foi a adoçãocbet paga mesmoum tom mais críticocbet paga mesmorelação aos parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para que eles destinassem mais verbas ao funcionamento da aliança militar.

Na avaliação dos especialistas, uma postura mais unilateralista dos Estados Unidos iria na direção contrária da defendida pelo Brasil.

"A promessa écbet paga mesmoque Trump tenha uma visão e uma postura mais unilateralista, o que prejudica o modocbet paga mesmoinserção do Brasil nas relações internacionais. O Brasil aposta, historicamente, no multilateralismo, e nos foros diplomáticos. Isso seria outro elemento complicador nas relações entre os dois paísescbet paga mesmouma eventual vitóriacbet paga mesmoTrump", diz Dawisson Belém Lopes.

Ramanzini Júnior aponta que uma das áreascbet paga mesmoque o isolacionismo americano pode afetar mais o Brasil é, justamente, no combate às mudanças climáticas.

"Sob Trump, os Estados Unidos tendem a assumir uma posição mais autocentrada ou isolacionista. Um dos temascbet paga mesmoque isso deve ter impactos diretos é na questão climática, que demanda cooperação internacional e que nenhum país consegue caminhar sozinho. Sem os Estados Unidos, avançar vai ser muito mais desafiador", diz o professor.

Um dos pontos destacados por Belém Lopes é a possibilidadecbet paga mesmoque o isolacionismocbet paga mesmoTrump possa ter um efeito colateral que, ironicamente, contribuiria com uma posição brasileira.

Trata-se do conflito entre Rússia e Ucrânia. Biden declarou apoio à Ucrânia desde o início do conflito e enviou bilhõescbet paga mesmodólarescbet paga mesmoarmamentos e assistência ao governo ucraniano.

Desde que assumiu o governo, porém, Lula vem criticando a atuação dos Estados Unidos na disputa e defendendo um planocbet paga mesmopaz entre os dois países. O petista chegou a dizer que os Estados Unidos estariam incentivando a guerra.

"É preciso que os Estados Unidos paremcbet paga mesmoincentivar a guerra e comecem a falarcbet paga mesmopaz", disse o presidentecbet paga mesmoabrilcbet paga mesmo2023.

Por contacbet paga mesmodeclarações sobre o assunto, Lula chegou a ser criticado por um suposto alinhamento à Rússia.

Para o professor da UFMG, a chegadacbet paga mesmoTrump ao poder pode levar a um menor engajamento dos Estados Unidos no conflito.

"Eu acho que com o Trump no poder, a posição do Brasil passa a ser uma posição que não incomodará tanto", afirma.

Novo fôlego ao bolsonarismo?

Um dos pontos destacados por Ramanzini Júnior e Belém Lopes é o possível impacto simbólico que a vitóriacbet paga mesmoTrump pode ter sobre a política doméstica brasileira.

Como principal líder da direita americana, Trump tem a simpatia do ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a declarar seu apoio ao republicano na reta final das eleições americanas.

Segundo Ramanzini, a vitóriacbet paga mesmoTrump pode energizar setores do bolsonarismo que tentam reabilitar Bolsonaro politicamente.

"A vitóriacbet paga mesmoTrump tem um efeito, sim, na política doméstica do Brasil ecbet paga mesmooutros países porque fortalece as forças políticascbet paga mesmoextrema-direita. Esses atores no Brasil veem Donald Trump como uma espéciecbet paga mesmoreferência seja do pontocbet paga mesmovista discursivo, seja do pontocbet paga mesmovista das estratégiascbet paga mesmoatuação política", afirma Ramanzini Júnior.

Belém Lopes segue a mesma linhacbet paga mesmoraciocínio.

"A vitóriacbet paga mesmoTrump joga água no moinho do bolsonarismo no Brasil. Isto é evidente. Ainda que seja apenas do pontocbet paga mesmovista simbólico, isso vai gerar uma energização desse movimento", diz o professor da UFMG.

Ramanzini Júnior diz avaliar que, apesar dessa energização, é difícil imaginar que esse processo possa gerar uma reabilitação políticacbet paga mesmoBolsonarocbet paga mesmoforma automática.

"Acho que eles [atores da direita brasileira] vão tentar [reverter a inelegibilidadecbet paga mesmoBolsonaro], mas não dá para garantir que eles terão sucesso. O Brasil tem outro presidente atualmente que tem não apenas legitimidade doméstica, mas internacional", afirma o professor.

Belém Lopes argumenta que o Brasil já teria dado mostrascbet paga mesmoque seria capazcbet paga mesmolidar com uma eventual pressão oriundacbet paga mesmoliderançascbet paga mesmodireita dos Estados Unidos.

Ele citou como exemplo a decisão tomada e mantida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu o funcionamento da plataforma X (antigo Twitter), comandado por um dos maiores apoiadorescbet paga mesmoTrump, o bilionário Elon Musk,cbet paga mesmoagosto deste ano.

“​​O Brasil tem poderes independentes entre si e, recentemente, um expoente da ultradireita global, o Elon Musk, atentou contra o STF e perdeu”, diz o professor.