A doença confundida com dengue que é mais mortífera do que se imaginava:bet166 club

Crédito, Pilar Olivares/Reuters

Legenda da foto, Sintomas muito parecidos com a dengue dificultam diagnóstico, e númerobet166 clubmortes pela chikungunya já está acima da média histórica

Originalmente, a chikungunya foi reconhecida como uma doença pouco letal. Compilamos estudos realizados na última décadabet166 clubpaísesbet166 clubdiversas regiões do mundo e vimos que o vírus CHIKV, causador da febre chikungunya, leva a uma mortalidade muito maior que o vírus da dengue, inclusivebet166 clubpacientes jovens e previamente saudáveis.

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A disseminação do vírus

O CHIVK foi isolado pela primeira vez no Distritobet166 clubNewala, atual Tanzânia, na África.

Desdebet166 clubprimeira descrição, os autores relatavam que "era clinicamente indistinguível da dengue, se levarmosbet166 clubconta a variabilidade inerente dessa doença".

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Essa semelhança pode ser um dos motivos para que haja dificuldadebet166 clubdiagnóstico dos casos,bet166 clubespecial quando há circulação simultânea dos dois vírus.

Os primeiros óbitos por chikungunya foram descritos na Índia durante as epidemiasbet166 club1963bet166 clubCalcutá ebet166 club1964bet166 clubMadras (atual Chennai). Mais recentemente um número grandebet166 clubóbitos pode ser bem documentado durante a epidemia da Ilha da Reuniãobet166 club2006, departamento francês ultramarino localizado no Oceano Índico.

Naquela ocasião, o enfrentamento à epidemia envolveu o enviobet166 clubequipes especializadas da França Metropolitana, o que pode ter favorecido a identificação e melhor diagnóstico dos casos.

Houve relatobet166 club255 óbitos tendo a febre chikungunya como causa básica ou associada, um número extremamente alto para uma populaçãobet166 clubcerca 785 mil habitantes (taxabet166 clubmortalidade = 33,8/100.000 hab.). Alguns relatos detalhados sobre esses óbitos foram publicadosbet166 clubdiferentes artigos científicos.

Aindabet166 club2006, na cidadebet166 clubAhmedabad (Índia), houve uma grande epidemiabet166 clubchikungunya. Porém, nenhum óbito por este vírus foi registrado oficialmente, mesmo a localidade tendo uma populaçãobet166 club1,1 milhãobet166 clubpessoas. Essa discrepância levou os pesquisadores a analisar o excessobet166 clubmortes ocorrido naquela cidade durante a epidemia. O trabalho mostrou que morreram 2.944 pessoas além do que era esperado.

Crédito, André Borges/EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, Casosbet166 clubdengue explodiram nos últimos meses e têm sobrecarregado o sistemabet166 clubsaúde

Mortes demais

Excessobet166 clubmortes corresponde a um númerobet166 clubmortes que excede o esperado para um determinado períodobet166 clubtempo e localidade, com basebet166 clubdados históricos e padrõesbet166 clubmortalidade típicos.

Ou seja, avalia a quantidade a maisbet166 clubpessoas que morreram num determinado lugar durante uma epidemia ou catástrofes naturais.

Esse conceito tem sido muito usado para avaliar a mortalidade por COVID-19bet166 clubpaíses cuja vigilância não teve capacidade para diagnosticar todos os casos da doença.

Com a introdução do chikungunya nas Américas, o mesmo fenômeno pode ser observado. Em várias localidades do Caribe houve mortalidade elevada associada à ocorrênciabet166 clubchikungunya, sem que as vigilâncias epidemiológicas locais conseguissem diagnosticar a maioria destas mortes.

Na República Dominicana, com basebet166 clubanalisebet166 clubdados oficiais, nosso grupobet166 clubpesquisadores identificou um excessobet166 club4.925bet166 clubmortes durante a epidemiabet166 clubchikungunyabet166 club2014. No entanto, a vigilância epidemiológica local diagnosticou apenas 6 mortes por chikungunya.

Identificamos tambémbet166 clubPorto Rico, na América Central, um excessobet166 club1.310 mortes contra apenas 24 mortes diagnosticadas pela vigilância epidemiológica como provocadas pelo vírus CHIKV.

Na Jamaica, observamos um excessobet166 club2.499 mortes durante a epidemiabet166 club2014, mas a vigilância local não diagnosticou nenhuma morte por chikungunya.

No Brasil, identificamos um excessobet166 club6.346 mortes durante as epidemiasbet166 clubchikungunyabet166 club2015 e 2016bet166 clubPernambuco, Bahia e Rio Grande no Norte. Contudo, a vigilância oficial diagnosticou apenas 69 óbitos por chikungunya nestes estados.

Para efeitobet166 clubcomparação,bet166 clubuma das piores epidemiasbet166 clubdengue já vista nesses estados,bet166 club2011, foram notificadas 95 mortes por dengue. Em meio a esses casos, encontramos evidências das formas graves e fataisbet166 clubnecrópsias realizadasbet166 clubpacientes que morreram com chikungunya,bet166 clubestudosbet166 clubcasos controle e tambémbet166 clubestudos com dados secundários (obtidosbet166 clubdiversos bancosbet166 clubdados oficiais e agrupados).

A fimbet166 clubinvestigar o impacto dessa doença no organismo, nosso grupo também avaliou pacientes que morrerambet166 clubchikungunya no Ceará. Nós examinamos o material obtidobet166 clubnecrópsias e constatamos a presença do vírus CHIVKbet166 clubtecidosbet166 clubórgãos vitais, como cérebro, coração, pulmões e fígado. Isso mostra que esse vírus afeta vários locais vitais e pode levar o paciente à morte.

Um estudo com dados secundáriosbet166 club100 milhõesbet166 clubbrasileiros publicado recentemente na revista The Lancet Infectious Diseases, também enfatiza aspectos ligados a mortalidade por chikungunya

Outro trabalho feito com dados secundáriosbet166 club100 milhõesbet166 clubbrasileiros para identificar fatoresbet166 clubrisco que podem ter contribuído para a morte dos pacientes com chikungunya, publicado recentemente na revista The Lancet Infectious Diseases, destacou que os principais órgãos afetados por esse vírus são o pulmão, cérebro e sistema circulatório.

Mudança para salvar vidas

Diante dessas descobertas, podemos afirmar que é essencial reconhecer a chikungunya como uma ameaça à vida das pessoas e reforçar as medidas adequadas para vigilância, prevenção e tratamento desta doença.

Isso inclui investimentosbet166 clubpesquisa para conhecer melhor, quantificar as formas graves da doença e desenvolver vacinas eficazes, bem como campanhasbet166 clubconscientização pública para educar a população sobre os riscos associados à doença.

Os vários estudos mencionados mostram que há uma dificuldade dos órgãosbet166 clubvigilânciabet166 clubquantificar o poder dessa doençabet166 clublevar o paciente à morte. Essas dificuldades podem estar relacionadas à faltabet166 clubrecursos, dificuldadebet166 clubdiagnósticos,bet166 clubnotificação da causabet166 clubmorte e à percepção generalizadabet166 clubque a febre chikungunya é ainda vista como ameaçadora à vida.

A percepção equivocada sobre a baixa letalidade dessa doença ainda é propagada por organismos oficiais como o ECDC (Centro Europeubet166 clubPrevenção e Controlebet166 clubDoenças) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). A mudançabet166 clubparadigma do chikungunyabet166 clubuma doença não fatal para uma causabet166 clubmorte excessiva é fundamental para proteger a saúde pública e salvar vidas.

Ainda não existe tratamento específico contra a doença. O cuidado com o paciente é focado no usobet166 clubmedicamentos para alívio dos sintomas e suporte clínico para as complicações.

O reconhecimento das formas graves e fatais é fundamental inclusive para que a primeira vacina contra chikungunya, aprovadabet166 clubnovembro do ano passado pela agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), possa ser dada prioritariamente aos gruposbet166 clubmaior disco e incluída no nosso Programa Nacionalbet166 clubImunizações (PNI).

A vacina foi desenvolvida pelo Instituo Butantanbet166 clubparceria com a farmacêutica franco-suíça Valneva.

No Brasil, o pedidobet166 clubaprovação definitivo do imunizante foi enviado pelo Butantan à Agência Nacionalbet166 clubVigilância Sanitária (Anvisa)bet166 club12bet166 clubdezembro.

*Andre Ricardo Ribas Freitas é professorbet166 clubEpidemiologia e Bioestatística da Faculdade São Leopoldo Mandic,bet166 clubSão Paulo.

**Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.