Como fértil terra preta da Amazônia está revelando segredos da floresta:esportbet net

Depois, veio uma longa caminhada através da densa floresta tropical, passando por raízes nodosas e exércitosesportbet netformigas devastadoras.

"É quente, é úmido, você é picado constantemente", conta Robinson, professoresportbet netarqueologia da Universidadeesportbet netExeter, no Reino Unido.

Mas a viagem valeu a pena. A missão dos pesquisadores era importante. Eles estavam procurando a terra preta da Amazônia, às vezes chamadaesportbet net"ouro negro".

Essa camadaesportbet netsolo preto como carvão pode ter até 3,80 metrosesportbet netespessura. Ela é encontradaesportbet nettrechos isolados, espalhados por toda a bacia amazônica.

A terra preta é intensamente fértil, ricaesportbet netmatéria orgânicaesportbet netdecomposição e nutrientes como nitrogênio, potássio e fósforo, essenciais para a agricultura.

Mas, ao contrário do solo fino e arenoso da floresta tropical, esta camada não foi depositada naturalmente. Ela é o resultado do trabalhoesportbet netseres humanos que viveram muito tempo atrás.

O solo ricoesportbet netnutrientes é uma relíquiaesportbet netuma época muito diferente, quando grupos indígenas estabeleceram uma próspera redeesportbet netassentamentos ao longo da floresta tropical.

Em janeiroesportbet net2024, cientistas anunciaram a redescobertaesportbet netuma "cidade-jardim" há muito tempo esquecida. Escondido embaixo da folhagem florestal no valeesportbet netUpano, no Equador, eles encontraram um centro urbanoesportbet net2.000 anos atrás — completo, com praças, ruas e plataformas cerimoniais.

A descoberta levantou questões sobre a possibilidadeesportbet netexistirem outros assentamentos antigos escondidos na Amazônia. E é aqui que entra a terra preta.

Acredita-se que a cidade-jardim só conseguiu sustentar tantas pessoas devido ao solo vulcânico fértil da região. Mas,esportbet netoutras partes da Amazônia, as comunidades indígenas dependiam da terra preta para aumentaresportbet netprodutividade.

Agora, existe interesse cada vez maior pelas lições que seus métodos antigos podem ensinar às sociedades atuais, seja para melhorar a produção agrícola ou para combater as mudanças climáticas.

Influência oculta

Rodeado pelos aromas e sons da floresta tropicalesportbet netVersalles, um local remoto da Amazônia boliviana, Robinson conta sobre a tentaçãoesportbet netimaginar que ele estáesportbet netuma região selvagem e intocada. Mas não é verdade.

"Quanto mais descobrimos, [mais claro fica que esta] não é necessariamente uma floresta primária", explica ele. "Em todos os lugares para onde olhamos, por mais que a viagem possa ter sido realmente difícil para nós e o lugar pareça muito remoto, simplesmente encontramos evidênciasesportbet netcomunidades antigasesportbet nettoda parte."

Em 2017, pesquisas revelaram que é cinco vezes mais provável que as árvores domesticadas pelo homem pré-colombiano sejam dominantes na Amazônia,esportbet netcomparação com asesportbet netorigem natural. E, quanto mais perto chegamos dos assentamentos antigos, maior é o número dessas espécies.

Embora, atualmente, muitas das comunidades indígenas da Amazônia tenham desaparecido (varridas pelos colonizadores europeus e pelas doenças que eles trouxeram), as práticas agrícolas dos povos originários continuam a modelar a floresta tropical.

E outro elemento fundamental dessa influência oculta é a terra preta da Amazônia, encontrada na floresta por toda parte.

"Isso é o que fascina — ela realmente é pan-amazônica, estamos encontrando [a terra preta]esportbet nettoda parte", conta Robinson.

Esta preciosa camadaesportbet netsolo contém uma potente combinaçãoesportbet netmateriais inorgânicos, como cinzas, argila, ossos e conchas, alémesportbet netmaterial orgânico como restosesportbet netalimentos, esterco e urina.

Ela é, ao mesmo tempo, uma coleçãoesportbet nettesourosesportbet netresíduos antigos, extremamente empolgante para arqueólogos como Robinson, e uma parte funcional do solo da Amazônia.

A terra preta continua a enriquecer a floresta tropical e permitir que as comunidades indígenas plantem naqueles locais até hoje.

"É realmente uma minaesportbet netouro", exclama Robinson.

Ao lado das sementes fossilizadas e artefatosesportbet netcerâmicaesportbet netmilênios atrás, existem indicações microscópicasesportbet netqual seria a aparência da floresta tropical há milharesesportbet netanos.

Um exemplo são os esferólitos fecais — cristais minúsculos encontrados no esterco animal, que indicam os tiposesportbet netanimais que costumavam andar pela região no passado e defecar no local.

História viva

A terra preta despertou o interesse dos europeus pela primeira vez nos anos 1870, quando diversos cientistas da época observaram independentemente camadas pretasesportbet netsolo, que contrastavam com a terra clara ou avermelhada àesportbet netvolta.

Um antigo explorador a descreveu como "argila fina e preta". Ele observou que "espalhados sobre elaesportbet nettoda parte, encontramos fragmentosesportbet netcerâmica indígena, tão abundantesesportbet netalguns lugares que quase cobrem o chão".

Mas a formaesportbet netcriação da terra preta da Amazônia é rodeadaesportbet netum certo mistério.

Cientistas questionaram se esse tipoesportbet netsolo teria sido produzido por acidente (como subproduto do descarteesportbet netresíduos por geraçõesesportbet netpovos indígenas) ou por um processo intencionalesportbet netenriquecimento da floresta tropical, tornando seu solo mais apropriado para a agricultura.

Em 2023, uma equipe internacionalesportbet netcientistas abordou essa questão. Combinando uma análise da estrutura e da composição da terra preta com observações e entrevistas com a comunidade indígena kuikuro (no sudeste da Amazônia, região central do Brasil), os pesquisadores concluíram que essas camadasesportbet netsolo,esportbet netfato, foram produzidasesportbet netforma proposital.

A idade e a distribuição desses depósitosesportbet netsolo contam a história da ascensão e quedaesportbet netantigas civilizações indígenasesportbet nettoda a Amazônia.

Enquanto as camadas mais antigas desse solo preto têm cercaesportbet net5.000 anosesportbet netidade, "observamos muito mais [evidências da produçãoesportbet netterra preta] cercaesportbet net4.000 anos atrás", explica Robinson. "Existe muito mais atividade, muitas mudanças culturais."

O pico da produção só foi atingido há cercaesportbet net2.000 anos, segundo o arqueólogo. Esta é a idade média dos depósitos pretos encontrados ao longoesportbet netuma ampla área da bacia amazônica.

Naquela época, as comunidades eram maiores e formavam vastas redes. Mas os assentamentos onde as pessoas produziam a terra preta tipicamente não eram da mesma escala que a cidade recentemente descoberta no Equador.

Uma razão pode ser o próprio poder da terra preta da Amazônia.

No ambienteesportbet netum habitat florestal abundante, enriquecido pelos povos indígenas com tudo o que eles precisam — árvores frutíferas e solo fértil para o cultivo —, Robinson acredita que as pessoas podem não ter precisado se dedicar à agriculturaesportbet netlarga escala.

"Por isso, [é possível que] você realmente não precise do nível hierárquico adicional [que tende a se desenvolver nos assentamentos maiores]", explica ele.

Mas, cercaesportbet net500 anos atrás, algo claramente deu muito errado. "É quando realmente vemos a queda [da produção da terra preta]", segundo o professor.

Acredita-se que esta redução seja uma das consequências da chegadaesportbet netCristóvão Colombo à América do Sul,esportbet net1ºesportbet netagostoesportbet net1498. Quando o navegador genovês desfraldou a bandeira vermelha e amarela da Espanha na penínsulaesportbet netParia, na Venezuela, ele marcou o inícioesportbet netuma "grande mortandade".

Estima-se que 56 milhõesesportbet netpessoas indígenas tenham sido mortasesportbet nettodo o continente americano até o anoesportbet net1600. Os mortos foram tantos que o clima da Terra esfriou.

Sifãoesportbet netcarbono

Embora grande parte dos antigos povos habitantes da Amazônia tenha desaparecido há muito tempo, o seu legado permanece.

O curioso é que nem toda a terra preta que eles deixaram para trás tem a mesma composição. Na verdade, ela apresenta amplas variações, dependendo dos ingredientes específicos empregados nos diferentes locais.

"Mas o mecanismo básicoesportbet netcriação do solo e seu enriquecimento parece ser similar", ensina Robinson. "Eles [os povos originários] investem diretamente no solo, a partir dos seus próprios produtos residuais."

A base do solo é composta principalmenteesportbet netrestosesportbet netalimentos, com adiçãoesportbet netfezes e carvão. E este último ingrediente é o que chama cada vez mais a atenção.

A terra preta da Amazônia não é apenas extraordinariamente ricaesportbet netnutrientes. Ela também age como um poderoso sifãoesportbet netcarbono.

A terra preta contém até 7,5 vezes mais carbono,esportbet netcomparação com o solo das suas proximidades.

À medida que a terra preta se acumula, o carbono fica preso no subsolo, onde permanece estável por centenasesportbet netanos. Ele fica retido, o que retardaesportbet netentrada na atmosfera.

Não sabemos ao certo por que o carbono da terra preta da Amazônia se comporta desta maneira. Os cientistas suspeitam que exista alguma relação com o "carvão preto", também conhecido como "biochar", ou biocarvão.

Este ingrediente básico é produzido com material orgânico que foi transformadoesportbet netcarbono quase puro sob altas temperaturas, na presençaesportbet netbaixos níveisesportbet netoxigênio.

O processo emite menos dióxidoesportbet netcarbono que a produçãoesportbet netcarvão e gera um produto preto fino e quebradiço, que é encontrado na terra pretaesportbet nettoda a região amazônica.

Agora, as empresas estão tentando capitalizar esse método antigo. O objetivo é ajudar os agricultores a melhorar o solo e, ao mesmo tempo, combater as mudanças climáticas.

Um exemplo é a empresa Carbon Gold, que produz biocarvão para uso como auxiliar orgânico do plantio, sem o usoesportbet netturfa.

Fundadaesportbet net2007 pelo criadoresportbet netuma marcaesportbet netchocolate, a empresa baseou seus métodos nos produtoresesportbet netcacau maiasesportbet netBelize, na América Central. Eles usam o biocarvão há milênios.

Alémesportbet netreter o carbono, "o biocarvão melhora a estrutura, aeração, capacidadeesportbet netretençãoesportbet netágua eesportbet netnutrientes", o que pode sustentar o crescimento saudável das plantas, segundo Sue Rawlings, diretora-gerente da Carbon Gold.

Ela conta que, atualmente, seus clientes incluem produtores orgânicos, jardineiros, estádios esportivos, clubesesportbet netfutebol da primeira divisão inglesa, importantes camposesportbet netgolfe e pistasesportbet netturfe, além dos jardins e parques reais britânicos.

Robinson acredita que copiar os métodos dos antigos povos indígenas da Amazônia será essencial para as gerações futuras. Ele destaca as previsõesesportbet netque,esportbet net2050, cercaesportbet netmetade da população mundial viverá nos trópicos, com grandes contingentesesportbet netmigração para as florestas tropicais.

"Acho que é essencial encontrar formas para que as comunidades sejam mais sustentáveis", segundo ele.

"E podemos aprender sobre isso com o passado. Acho que estamos à beiraesportbet netcompreender este ponto."

Leia a versão desta reportagemesportbet netinglês no site BBC Future.