A peça íntima que causou mortecasino bluemilharescasino bluemulheres na era vitoriana:casino blue
Seu pai, William, estava tão perturbado que seus "choros podiam ser ouvidos do ladocasino bluefora da casa", contou um amigo. Oscar, que aos 17 anos ainda morava com ele, ouvia o choro maiscasino blueperto.
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As irmãs Wilde ficaram para a história como duas das milharescasino bluefatalidadescasino blueuma das vestimentas mais amadas e ridicularizadascasino bluetodos os tempos: a crinolina, que são armações usadas sob as saias.
A crinolina é uma reencarnação da anágua, peça popular e criticada que havia sido usada no século 18 — mas com uma diferença.
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Enquanto a estrutura das anáguas era feitacasino blueossocasino bluebaleia, crinacasino bluecavalo, vime, madeira e até borracha inflável, a das crinolinas era feitacasino bluemetal.
E, com a invenção da máquinacasino bluecostura na décadacasino blue1850, eles puderam ser produzidascasino bluemassa.
Tal eracasino bluepopularidade que apenas um ano depois que a crinolina com armaçãocasino blueaço foi patenteadacasino blue1856, o Reino Unido importou 40 mil toneladascasino blueaço sueco para produzi-las.
Em uma fábricacasino blueSheffield, 800 mulheres produziam 8 mil crinolinas por dia, uma taxa que não acompanhava a demanda,casino blueacordo com o livro Crinoline, Fashion's Most Magnificent Disaster,casino blueBrian May e Denis Pellerin.
A vestimenta era criticada pela mais famosa das enfermeiras da época, Florence Nightingale, que chamou a crinolinacasino blue“um traje absurdo e hediondo”. Ela queria que as autoridades revelassem o númerocasino bluemortes que o traje havia causado.
Era — e ainda é — difícil saber realmente quantas mulheres morreram. Muitas publicações dão contacasino bluemilharescasino bluemortes só no Reino Unido causadascasino blueforma indireta pelo uso do apetrecho.
Além das crinolinas aproximaren perigosamente as saiascasino bluechamascasino bluevelas e brasascasino bluelareiras usadas para aquecer os ambientes, há registrocasino bluemulheres que foram arrastadas por carruagens depois que suas saias longas, vastas e extensas se enroscaram nas rodas dos veículos.
Histórias não confirmadas dizem que algumas moças que passeavam por praias no sul da Inglaterracasino bluediacasino blueforte ventania teriam sido erguidas pelo vento como pipas e arremessadas no mar onde moreram afogadas.
Na imprensa, as notícias sobre essas mortes eram frequentes e muitas vezes apresentadas com manchetes sensacionalistas.
Uma deles, por exemplo, recebeu o título "Outro holocausto por crinolina" (1864). O texto cita o legista londrino e crítico da vestimenta, Edwin Lankester:
"Ao longocasino bluetrês anos, tantas mulheres perderam suas vidascasino blueLondres para o fogo, principalmente por usar crinolinas, quanto as que foram sacrificadascasino blueSantiago."
Ele se referia ao trágico incêndio da Iglesiacasino bluela Compañía, no Chile,casino blue1863, no qual morreram cercacasino blue2 mil mulheres, cujos vestidos volumosos, segundo alguns relatos, dificultaram a fuga.
Mas estatísticas confiáveis são raras: os números mais citados estimam cercacasino blue3 mil mortes somente no Reino Unido nos dez anoscasino blueque a vestimenta esteve maiscasino bluevoga, a partir do final da décadacasino blue1850.
Quando o The New York Times relatou pela primeira vez o fenômeno das mortes relacionadas à crinolinacasino blue1858, o jornal americano observou que o Court Journalcasino blueLondres havia registrado "nada menos que 19 mortes por essa causa na Inglaterra entre 1ºcasino bluejaneiro e meadoscasino bluefevereiro".
"Certamente uma médiacasino bluetrês mortes por semana devido à queimacasino bluecrinolinas deve assustar a mais imprudente do sexo privilegiado."
Mas por que, apesarcasino bluetudo, as roupas íntimas femininas eram tão populares?
O perigo
Primeiro, vamos contextualizar tudo.
Como conta a historiadora Alison Matthews Davidcasino blueseu livro Vítimas da Moda (2015), essa era uma épocacasino blueque os chapéus eram feitos com mercúrio e os tecidos tingidos com corantes que continham quantidades assustadorascasino bluearsênico.
Esses venenos, porém, afetavam mais quem fabricava os artigos do que quem os usava.
Além disso, essas mortes não foram tão espetaculares ou rápidas quanto as das mulherescasino bluechamas.
No entanto, como a revista satírica Anti-Teapot Review apontoucasino blue1864, o problema não começou com crinolinas.
“As anáguas antigas (...) eram imóveis se pegassem fogo. E elas pegaram fogo com mais frequência do que muitos imaginam, só que naqueles dias não havia dezenascasino bluejornaiscasino blueLondres, famintos para relatar acidentes domésticos nas épocascasino bluefaltacasino bluenotícia."
Mas, mesmo assim, é difícil entender por que tantas mulheres iriam querer usar algo tão obviamente pouco prático, que quando não pegava fogo, se enroscavacasino bluetudo pelo caminho, atrapalhava espaços estreitos, causava quedascasino bluerajadascasino bluevento vento.
E, como mostram essas fotos, eram extremamente difíceiscasino bluevestir.
Eis o erro
Apesar das imagens, e do fatocasino blueno seu pico as crinolinas atingirem quase dois metroscasino bluecircunferência, a verdade é que o seu tamanho não costumava ser tão exagerado.
Muitas das fotos e charges que chegaram até nós faziam partecasino blueuma campanha implacável da opinião pública majoritariamente masculina que ridicularizava as vestimentas.
E enquanto para alguns era uma vestimenta que, como disse a historiadora Helene Roberts, "ajudou a moldar o comportamento feminino no papelcasino blue'escrava primorosa'" e "literalmente transformou as mulherescasino bluepássaros enjaulados cercados por aroscasino blueaço", curiosamente, as escritoras da época descreviam a crinolina como libertadora.
As saias estilo Império que eram usadas no início daquele século eram tão estreitas que era difícil andar.
"Eram calças com apenas uma pernacasino bluevezcasino blueduas", observou uma escritora do The Examiner semanalmentecasino blue1863.
Nas décadas seguintes, mais e mais anáguas foram adicionadas para alargá-las, até que se tornaram pesadas, imanejáveis e anti-higiênicas.
É por isso que quando a crinolina chegou, ela foi aplaudida como um avanço tecnológico bem-vindo e prático: todas aquelas camadas que ancoravam as mulheres ao chão foram substituídas por uma única infraestrutura.
"A crinolina é outra palavra para liberdade", disse a mesma escritora.
Isso as camponesas já haviam descoberto há muitos séculos, quando foram criadas as primeiras versõescasino bluearmações que levantavam as saias e deixavam as pernas livres.
E essa era também a opiniãocasino bluemuitas das mulheres sufragistas, que anos depois lutaram pelo direito feminino ao voto, para surpresacasino blueFlorence Nightingale, que achava "alarmantemente peculiar" que aquelas que defendiam a utilidade geral das mulheres para o mundo se vestissemcasino blueuma maneira que as tornasse inúteis para qualquer tarefa.
Mas essa opiniãocasino blueNightingale era contrário à percepçãocasino bluemuitascasino blueseu tempo.
"Para os próprios vitorianos, a crinolina tinha pouco a ver com submissão, parecendo mais uma trama monstruosa para aumentar o tamanho das mulheres e fazer os homens parecerem insignificantes", observou a historiadora da moda Christina Walkley.
Essas saias ocupavam "mais espaço público do que uma mulher tinha direito", comentou a especialistacasino blueilustração vitoriana Lorraine Janzen Kooistra.
"A ansiedade masculina da época diante da agitação pelos direitos das mulheres foi capturada na imprensa popular na imagem visual da crinolina."
Isso explica a veemência e tenacidade da oposição a essa vestimenta.
Alémcasino bluemelhor mobilidade, ventilação e espaço, a crinolina deu às mulheres um lugar que elas poderiam controlar, evitando avanços físicos indesejados e permitindo que elas escolhessem o que revelar e o que esconder.
Ela tinha potencial para guardar segredos, desde amantes proibidos até gravidez e contrabando.
Tudo isso sem esquecer que, para desgostocasino bluealguns, a crinolina era usada por mulherescasino bluetodas as classes sociais, até mesmo por ex-escravas recém-libertas, que, ao usá-las, demonstravam fisicamente a luta pela igualdade social.
Em 1869, quando a tendência continuava, mas a forma e o tamanho dessas roupas começaram a mudar, surgiu um artigo intitulado "Quem matou a crinolina?".
"Alguns dizem que a crinolina foi varrida por um grande maremotocasino bluebom senso."
E talvez eles estivessem certos. Mas por mais complicado e perigoso que fosse, aquela controversa roupa íntima feminina foi um prenúnciocasino blueousadas mudanças culturais, apesarcasino bluesua aparente frivolidade.