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Morcego 'brasileiro' é reencontrado depoischeirinho flamengoficar maischeirinho flamengoum século desaparecido:cheirinho flamengo
Crédito, Vinícius C. Cláudio/Fiocruz/Promasto
Conheça a seguir todos os detalhes do Histiotus alienus e como foi possível reencontrá-lo na natureza após um "sumiço"cheirinho flamengomaischeirinho flamengo100 anos.
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O primeiro encontro
O zoólogo inglês Michael Rogers Oldfield Thomas (1858–1929) é reconhecido como um dos maiores especialistascheirinho flamengomamíferos e um dos mais habilidosos taxidermistascheirinho flamengoseu tempo.
Ao longo das décadascheirinho flamengocarreira, ele descreveu maischeirinho flamengo2 mil espécies diferentescheirinho flamengoanimais. Sua vida profissional foi dedicada a preservar e construir a vasta coleção do Museucheirinho flamengoHistória Naturalcheirinho flamengoLondres, no Reino Unido.
Em 1916, ele fez uma excursão pelo Brasil. Na cidadecheirinho flamengoJoinville,cheirinho flamengoSanta Catarina, Thomas fez a capturacheirinho flamengoum morcego pequeno, com cercacheirinho flamengo12 centímetros da cabeça aos pés.
Thomas descreveu o achado e deu o nome Histiotus alienus à nova espécie.
Mas, como mencionado anteriormente, essa foi a única ocasiãocheirinho flamengoque esse tipocheirinho flamengomorcego foi observado por especialistas.
Durante 102 anos, o Histiotus alienus não foi mais visto. Até que um grupocheirinho flamengopesquisadores brasileiros entroucheirinho flamengocenacheirinho flamengo2018.
Crédito, Domínio Público
A redescoberta
Uma toneladacheirinho flamengococaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
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A bióloga Liliani Marilia Tiepolo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que o projeto começoucheirinho flamengo2017 a partircheirinho flamengoum edital lançado pelo Conselho Nacionalcheirinho flamengoDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Instituto Chico Mendescheirinho flamengoConservação da Biodiversidade (ICMBio), órgãos vinculados ao Governo Federal.
A proposta do edital era usar o dinheiro obtido a partircheirinho flamengomultas ambientais para financiar pesquisas sobre áreascheirinho flamengoconservação brasileiras sobre as quais há pouco conhecimento científico.
Um dos locais escolhidos foi o Refúgiocheirinho flamengoVida Silvestre dos Camposcheirinho flamengoPalmas, que fica entre os municípioscheirinho flamengoPalmas e General Carneiro, no Paraná.
"O objetivo era fazer ciência básica, construir um inventário da biodiversidade local e colher algumas informações na áreacheirinho flamengosaúde pública", descreve Tiepolo. A especialista acrescenta que, além da UFPR, o trabalho envolveu a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e a Universidade Federal do Riocheirinho flamengoJaneiro (UFRJ).
Nesse tipocheirinho flamengopesquisa, os especialistas armam redes e outros sistemascheirinho flamengocapturacheirinho flamengoanimais. A ideia é observarcheirinho flamengoperto as espécies, para entender quais são os seres que vivem ali e como eles interagem naquele ecossistema.
É aí que entracheirinho flamengocena o biólogo Vinícius Cardoso Cláudio, pesquisador da Fiocruz Mata Atlântica e especialistacheirinho flamengomorcegos.
Durante uma incursão pelo territóriocheirinho flamengo2018, o especialista armou as tais redes e capturou alguns animais.
"Sempre que armo as redescheirinho flamengoneblina para morcegos, fico com aquela expectativa e curiosidade sobre o que vou capturar e descobrir", diz ele.
Ao analisar um desses morcegos — justamente o personagem principal desta reportagem —, Cláudio logo identificou que ele pertencia ao gênero Histiotus, que abrange 11 espécies diferentes.
Esse grupo possui algumas características marcantes, como as orelhascheirinho flamengoformatocheirinho flamengovela e o corpo revestido por pêlos marrons. Todos eles se alimentamcheirinho flamengoinsetos e vivemcheirinho flamengoboa parte da América do Sul.
Crédito, Vinícius C. Cláudio/Fiocruz/Promasto
A princípio, os pesquisadores classificaram o ser alado como um Histiotus montanus. Mas algumas características físicas dele não batiam um representante deste grupo.
Daí veio a dúvida: qual era a espécie exata do pequeno mamífero voador? Será que ele poderia ser o raríssimo Histiotus alienus?
Para responder a questão, Cláudio levou quase cinco anos e precisou realizar algumas viagens Brasil adentro e mundo afora.
"Afinal, sabíamos muito pouco sobre essa espécie. Tudo o que imaginávamos sobre ela era uma extrapolação baseada nos hábitos e nas característicascheirinho flamengoespécies semelhantes", contextualiza ele.
A primeira parada do biólogo foi o Museucheirinho flamengoHistória Naturalcheirinho flamengoLondres. O local abriga o único exemplar do Histiotus alienus catalogado, aquele mesmo que foi capturadocheirinho flamengo1916 na cidadecheirinho flamengoJoinville por Michael Rogers Oldfield Thomas.
Cláudio pode comparar os dois indivíduos capturados com maischeirinho flamengo100 anoscheirinho flamengodiferença para fazer comparações entre as características físicas deles.
Mas o trabalho não acabou ali. "Também precisei analisar indivíduoscheirinho flamengooutras coleçõescheirinho flamengomuseus para realmente ter certeza que estava diantecheirinho flamengoum Histiotus alienus, e nãocheirinho flamengooutra espécie", relata ele.
Com base nessas análises, o biólogo finalmente conseguiu concluir que estava diantecheirinho flamengoum Histiotus alienus mesmo. Um indivíduo da espécie foi finalmente encontrado, após a pioneira (e centenária) observação original.
A descoberta foi oficializada num artigo científico, publicado no periódico acadêmico ZooKeyscheirinho flamengoagostocheirinho flamengo2023.
Crédito, Getty Images
O que a redescoberta representa?
Um primeiro detalhe que chama a atenção no trabalho recente é a diferençacheirinho flamengolocalização entre a primeira e a segunda observação do Histiotus alienus. Em 1916, ele foi capturadocheirinho flamengoJoinville, Santa Catarina. Jácheirinho flamengo2018, a detecção ocorreucheirinho flamengoPalmas, no Paraná.
"Se traçarmos uma linha reta, Joinville e Palmas não são distantes. Mas, do pontocheirinho flamengovistacheirinho flamengoambiente e ecossistema, falamoscheirinho flamengolugares bem distintos", observa Tiepolo.
"Joinville é uma cidade próxima da costa, cuja coberturacheirinho flamengoflorestas original era a Mata Atlântica propriamente dita, que se espalha desde o Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte."
"Já Palmas está a maischeirinho flamengomil metroscheirinho flamengoaltitude e tem outro tipocheirinho flamengoformação florestal, conhecida pelas matascheirinho flamengoaraucárias", diferencia a bióloga.
Mas o que isso significa para o Histiotus alienus?
"Se a espécie consegue viver do nível do mar até o alto da montanha, com um inverno bem rigoroso, ela também pode ocorrercheirinho flamengooutras regiões do país", especula Tiepolo.
"Pelo menos é isso o que a gente espera", complementa ela.
A esperança dos pesquisadores também se renova pelo fatocheirinho flamengoo Histiotus alienus estar entre as espécies criticamente ameaçadascheirinho flamengoextinção.
Mais que isso, a redescoberta sinaliza o quanto a Mata Atlântica — um bioma severamente impactado pelas mudanças climáticas e pelas transformações causadas pelo uso da terra e pela ocupação humana — tem a oferecer.
"Poxa, como pode uma região tão ameaçada como a Mata Atlântica render tanta satisfação pra gente?", questiona Tiepolo.
"Essa não foi a primeira descoberta que fizemos na região da pesquisa — e certamente não será a última."
Segundo a pesquisadora, as incursões realizadascheirinho flamengoPalmas a partircheirinho flamengo2017 renderam muitos dados, que agora precisam ser analisados e organizados com calma, a exemplo do que ocorreu no estudo com essa espécie raracheirinho flamengomorcego.
"Atualmente, sobrou menoscheirinho flamengo14% da Mata Atlântica original e ela está extremamente fragmentada", calcula a bióloga.
"Portanto, registros como o do Histiotus alienus representam uma enorme alegria", conclui ela.
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