Quem compete com o Brasil pela liderança do 'Sul Global'?:sportingbet para ios
Historicamente, o Brasil foi reconhecido como país com potencialsportingbet para iosliderança na América Latina e um atorsportingbet para iosrelevânciasportingbet para iosfóruns multilaterais.
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Essa imagem, entretanto, tem sido desafiada por um cenário internacional marcado por guerras e disputas geopolíticas e um contexto doméstico que requer cada vez mais atenção.
E críticos apontam que posicionamentos recentessportingbet para iosLula,sportingbet para iosespecial sobre a guerra na Ucrânia, podem ser travas para a ambição do Brasilsportingbet para iosse tornar uma ponte entre os paísessportingbet para iosdesenvolvimento e as superpotências.
Nesse contexto, qual a força do Brasil nessa batalha pela liderança do 'Sul Global'? E quem são os outros concorrentes ao postosportingbet para ios'capitão' desse grupo tão heterogêneo e etéreo?
O que é o 'Sul Global'?
Apesar do nome, o 'Sul Global' nada tem a ver com uma divisão geográfica, mas sim com as estruturas socioeconômicas, aponta Sara Stevano, professora da Universidadesportingbet para iosLondres e economista especializadasportingbet para iosdesenvolvimento.
"Eu consideraria como parte do 'Sul Global' um país que tem uma estrutura econômica típicasportingbet para ioscontextos pós-coloniais, o que significa que a economia é normalmente baseada na exportaçãosportingbet para ioscommodities primárias ou mesmo bens manufaturados consideradossportingbet para iosmenor valor agregado", diz.
O conceito também inclui as nações consideradas parte da "periferia da economia global" ou que mantêm uma certa dependênciasportingbet para iosrelação aos países do 'Norte Global',sportingbet para iosespecial, Estados Unidos e Europa.
"O espaço que os tomadoressportingbet para iosdecisões políticas têm nos países do 'Sul Global' tende a ser mais estreito do que nos países do 'Norte Global'", afirma Stevano.
O termo é muito usado no contexto da mobilizaçãosportingbet para iosalguns paísessportingbet para iostornosportingbet para iospreocupações e interesses comuns, especialmente diante da relação com as grandes potênciassportingbet para iosquestões como comércio ou mudanças climáticas.
Na prática, atualmente tais interesses se manifestam principalmente por meio do Grupo dos 77 (G77) nas Nações Unidas.
Formado por 134 países, o grupo afirma fornecer os meios "para os países do Sul articularem e promoverem os seus interesses econômicos coletivos e reforçarem asportingbet para ioscapacidadesportingbet para iosnegociação conjuntasportingbet para iostodas as principais questões econômicas internacionais dentro do sistema das Nações Unidas e promover a cooperação Sul-Sul para o desenvolvimento".
China e Brasil, por exemplo, estão entre os que defendem uma reforma da ONU para aumentar a representatividade e o direito à voz das nações do 'Sul Global'.
Sara Stevano ressalta, porém, que há diferenças muito grandes entre os países que pertencem ao grupo que não devem ser ignoradas.
Brasil e Moçambique, por exemplo, são ambos considerados parte do 'Sul Global' e possuem economias baseadas na exportaçãosportingbet para ioscommodities.
Mas enquanto o Brasil é um atorsportingbet para iosinfluência no grupo, cujo PIB (produto interno bruto) chegou a US$ 2,17 trilhõessportingbet para ios2023, o país africano terminou o ano com US$ 20,8 bilhões, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Há países que estão na periferia da periferia", diz Stevano.
Da mesma forma, os interesses e as bases das relações cultivadas por cada uma das nações com seus parceiros do Sul — e as potências do Norte — diferem profundamente.
Essa heterogeneidade está no cerne dos argumentos dos críticos ao termo, que temem que seu uso possa reforçar dicotomias e estereótipos imprecisos e ultrapassados.
Antes do termo 'Sul Global', a expressão '3º Mundo' era usada com frequência.
O conceito surgiu durante a Guerra Fria e englobava as nações que não pertenciam nem ao chamado '1º Mundo' (nações ocidentais e desenvolvidas) nem ao '2º Mundo' (composto pelas nações socialistas e comunistas).
Outros conceitos, como 'país desenvolvido' ou 'em desenvolvimento', também ganharam mais espaço nas discussões internacionais.
No entanto, segundo Sara Stevano, são expressões associadas a uma ideiasportingbet para iosdesenvolvimento linear que raramente é verdadeira.
"Essa linguagem tem um ponto cego muito significativo, que é o fatosportingbet para iosexistirem relaçõessportingbet para iospodersportingbet para iosjogo na economia global", diz. "De certa forma, a terminologia 'Sul Global' deixa isso mais claro."
Quais são, então, os países que se destacam no 'Sul Global' — e por quê?
China: força econômica e política
A China, segunda maior economia do mundo, é um caso bastante único — e por isso está no focosportingbet para iosmuitos dos críticos da expressão 'Sul Global'.
O país passou por acelerado crescimento econômico a partir da décadasportingbet para ios80. Entre 1994 a 2022, teve uma alta média anualsportingbet para ios8,7% no PIB, com um picosportingbet para ios2007 (+14,2%).
Há quem aponte que não só a posição econômica da China diante da economia global, mas também os níveissportingbet para iosinfluência geopolítica exercidos pelo país atualmente, são incompatíveis com os conceitos do 'Sul Global'.
Mas para Nikita Sud, professora da Universidadesportingbet para iosOxford (Reino Unido) e especialista no tema, as experiências passadas com o imperialismo justificam a inclusão no grupo.
O grande períodosportingbet para iosinfluência europeia na China começou com as chamadas Guerras do Ópio entre 1839 e 1860, travadas contra o Império Britânico e motivadas principalmente pelo comércio do ópio.
"As ideias pregadas (pelo colonialismo)sportingbet para iosdominação racial e civilização continuam até hoje. E é por isso que a China se vê como parte do 'Sul Global' apesarsportingbet para ioscompetir economicamente com os EUA atualmente", diz Sud.
"Mas a política local, a origem do país e a hierarquia baseadas no racismo alinham a China mais com o Sul do que com o Norte."
O próprio governo chinês só passou a falar com mais frequência sobre o assunto e a se definir como parte do grupo recentemente (antes usava o termo "famíliasportingbet para iospaísessportingbet para iosdesenvolvimento").
Em setembrosportingbet para ios2023, durante o discurso anual na Assembleia Geral das Nações Unidas, o vice-presidente chinês, Han Zheng, disse que a China é um membro natural do Sul Global pois "respira o mesmo ar que outros paísessportingbet para iosdesenvolvimento e partilha com eles o mesmo futuro".
Há quem veja nesse posicionamento mais uma estratégia para se opor à "hegemonia do Oeste" e disseminar uma imagemsportingbet para iosgrandeza.
"Para concretizar o sonho do presidente Xisportingbet para iosrejuvenescer a grande nação chinesa, a China precisa assumir um papelsportingbet para iosliderança no mundo e o Sul Global servesportingbet para iosveículo para isso (...)", afirmou Robin Schindowski, analista do think tank Bruegel,sportingbet para iosum artigosportingbet para ios2023.
No entanto, segundo o especialistasportingbet para iosChina, "preocupações internas" do governo Xi também levaram o governante a impulsionar essa agenda.
"Embora os fatores estratégicos não devam ser negligenciados, as preocupações internas mais humildes desempenham um papel igualmente importante na procura da China por mais oportunidades nas economias emergentes, especificamente os problemassportingbet para ioslonga data do país com o excessosportingbet para ioscapacidade industrial."
Mas são justamente a força econômica e política da China que colocam o país como uma das lideranças do 'Sul Global'.
Em uma reportagem publicadasportingbet para iosabril, a revista inglesa The Economist utilizou um índice produzido pelo Centro Pardee para Futuros Internacionais (PCIF, na siglasportingbet para iosinglês), da Universidadesportingbet para iosDenver, nos Estados Unidos, para comparar o nívelsportingbet para iosinfluênciasportingbet para iosalguns países entre os membros do G77.
Os Estados Unidos têm se destacado como o país com maior influência nas nações do grupo desde a décadasportingbet para ios1970, mas a China aparece cada vez mais como um rivalsportingbet para iospeso,sportingbet para iosacordo com o levantamento.
Segundo o Índice Formalsportingbet para iosCapacidadesportingbet para iosInfluência Bilateral (FBIC) do PCIF, a influência chinesa começou a crescer a partir dos anos 2000 e deve ultrapassar a americana nas próximas décadas.
Aindasportingbet para iosacordo com o índice, a "capacidadesportingbet para iosinfluência" da China sobre o G77 é aproximadamente o dobro da exercida pela França, o terceiro país mais influente entre o grupo, e cercasportingbet para iostrês vezes a do Reino Unido, da Índia ou dos Emirados Árabes Unidos.
O índice é calculado com basesportingbet para iosdados que abrangem as dimensões econômica, política esportingbet para iossegurança da influência bilateral formal. Isso inclui interações como intercâmbio diplomático, transferênciassportingbet para iosarmas e comérciosportingbet para iosmercadorias, mas não ações menos transparentes, como o financiamentosportingbet para iosatores não estatais ou tentativassportingbet para iosinterferirsportingbet para ioseleições.
Os dados do FBIC apontam maior influência chinesasportingbet para ios31 países do G77, com destaque para Paquistão, Bangladesh, Rússia e outros Estados do Sudeste Asiático.
Outro foco da influência chinesa é a África.
A China apoiou vários movimentossportingbet para iosindependência africanos durante a Guerra Fria e, atualmente, a presença da potência asiática no continente se manifesta principalmente por meiosportingbet para iosinvestimentos externos diretos, ajuda financeira, projetossportingbet para iosinfraestrutura e empréstimos.
Em 2013, a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI) da China foi lançada por Xi Jinping, apresentando a ambiçãosportingbet para iosrevigorar a antiga rota comercial da seda ao longosportingbet para iosparte da costa da África Oriental.
Teoricamente, isso deveria ter concentrado o investimento chinês na África Oriental, mas muitos outros Estados africanos também procuraram oportunidades através da BRI, fazendo com que a iniciativa se expandisse rapidamente.
Desde então, a BRI assistiu à construçãosportingbet para iosinúmeros projetossportingbet para iosinfraestruturassportingbet para iostoda a Ásia e África, financiados por empréstimos chineses.
O projeto também chegou a países latino americanos: atualmente, 22 nações da América Latina e Caribe fazem parte da BRI.
O comércio entre a China e os países latino-americanos, aliás, bateu um recorde históricosportingbet para ios2023.
A trocasportingbet para iosmercadorias entre a região e o gigante asiático ultrapassou US$ 480 bilhões, segundo cálculos da BBC News Mundo, serviçosportingbet para iosnotíciassportingbet para iosespanhol da BBC, com basesportingbet para iosdados da Administração Aduaneira da República Popular da China (AGA, na siglasportingbet para iosinglês).
A balança comercial foi relativamente equilibrada, com um ligeiro superávit favorável à América Latina,sportingbet para iosUS$ 2 bilhões.
O novo recorde no comérciosportingbet para iosmercadorias com a China constitui mais um passosportingbet para iosuma tendência ascendente que tem sido registrada ao longo deste século.
O intercâmbio bilateral do país asiático com a América Latina e o Caribe (ALC) mal giravasportingbet para iostornosportingbet para iosUS$ 14 bilhões no ano 2000, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
A China também assinou nos últimos anos tratadossportingbet para ioslivre comércio com Chile, Costa Rica, Equador, Nicarágua e Peru, e já negocia com outras nações da região.
Índia e a 'ponte entre o Sul e o Ocidente'
No bloco informal, a Índia é a grande concorrente da China e aparece no Índice Formalsportingbet para iosCapacidadesportingbet para iosInfluência Bilateral (FBIC) como o país mais influente para seis nações do G77 — entre elas, vizinhos como Sri Lanka e Butão.
Mas assim como Pequim, Nova Déli também tem buscado expandirsportingbet para iosinfluência para alémsportingbet para iosseus arredores, com foco especial na África.
O númerosportingbet para iosembaixadas indianas no continente passousportingbet para ios25 para 43 entre 2012 e 2022, segundo a The Economist.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, afirma ainda que o país é o quarto maior parceiro comercial africano e a quinta maior fontesportingbet para iosinvestimento direto estrangeiro na região.
O país também se destaca na área da tecnologia, com importaçãosportingbet para iossistemas e plataformas digitais, incluindo tecnologiassportingbet para iosidentidade biométrica.
Segundo um relatório do Centrosportingbet para iosInvestigação Econômica e Empresarial (CEBR, na siglasportingbet para iosinglês), uma empresasportingbet para iosconsultoria com sedesportingbet para iosLondres, a Índia deverá manter um forte crescimentosportingbet para ioscercasportingbet para ios6,5% ao ano entre 2024 e 2028, e tornar-se a terceira maior economia do mundo até 2032, ultrapassando o Japão e a Alemanha.
Apesar da ascensão meteóricasportingbet para iossua economia, a Índiacontinua a se classificar como parte do 'Sul Global' e impulsionasportingbet para iosposiçãosportingbet para iosliderança no bloco informal.
O país organizou e presidiusportingbet para ios2023 dois encontros da cúpula Voz do Sul Global, criada por Modi para realizar encontros online sobre desenvolvimento financeiro, crise climática e outros temassportingbet para iosinteresse.
A abordagem indiana, porém, é distinta da chinesa.
Enquanto Pequim se projeta como uma alternativa clara aos Estados Unidos, Nova Déli busca angariar influência se posicionando como um intermediário ou uma ponte entre seus aliados do Sul e o Ocidente.
O governo Modi mantém uma relação especialmente próxima com os EUA, mas, ao mesmo tempo, adota posições bastante pragmáticassportingbet para iospolítica externa, se recusando, por exemplo, a condenar a Rússia pela invasão à Ucrânia.
"Só porque o país se identifica com o 'Sul Global' e é conveniente formar um blocosportingbet para iosaliados para negociar, por exemplo, questões climáticas, não significa que na horasportingbet para iosfazer comércio, atrair investimentos ou contrair empréstimos, ele não possa procurar um país do Norte", diz Nikita Sud.
Quando se trata da defesa por reformas no sistema internacional, a posição indiana também refletesportingbet para iospostura pragmática.
Na última reunião anual do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), realizadasportingbet para iosoutubro passado, China e Índia tomaram posições opostas na discussão sobre a reforma das instituições financeiras multilaterais e as cotassportingbet para iosvoto dos países-membros no FMI.
Enquanto o governo indiano apoiou a proposta dos EUA para um aumento "equiproporcional" das cotassportingbet para ioscontribuição financeira sem alteração no podersportingbet para iosvoto dos países-membros, a China defendeu um aumentosportingbet para iosambas as cotas como formasportingbet para iosrefletir a crescente participação dos paísessportingbet para iosdesenvolvimento na economia global.
Em tese, as cotas dos países no FMI estão relacionadas à participaçãosportingbet para ioscada um deles na economia mundial. Essas cotas determinam, entre outros fatores, o podersportingbet para iosvoto dos países dentro do organismo internacional e a possibilidadesportingbet para iosacesso a financiamentossportingbet para iosemergência.
Atualmente, China e Índia possuem, respectivamente, 6,4% e 2,75%. O Brasil detém 2,32% das cotas. Os Estados Unidos têm 17,43% das cotas, enquanto Alemanha e Reino Unido detêm 5,59% e 4,23%, respectivamente.
Brasil e as agendas prioritáriassportingbet para iosLula
Para muitos analistas, o Brasil também é um candidato forte ao postosportingbet para ios"líder" do 'Sul Global'.
A ideia foi bastante debatida durante os dois primeiros governos do presidente Lula, que sempre teve essa como umasportingbet para iossuas agendas prioritáriassportingbet para iostermossportingbet para iospolítica externa.
Com a volta do petista para um terceiro mandato, o país voltou a ser apontado pela imprensa internacional como uma voz nesse debate.
"Lula está se autodenominando o novo líder do Sul Global – e desviando a atenção do Ocidente", diz uma matériasportingbet para iosabril do jornal britânico The Guardian.
A reportagem afirma que 2024 será um teste para a ambição do presidente, já que o Brasil está na presidência rotativa do G20 e sediará a reuniãosportingbet para ioscúpula do gruposportingbet para iosnovembro (além da COP30sportingbet para ios2025).
Um dos pontos principais da políticasportingbet para iosLula para o 'Sul Global' é a reforma do Conselhosportingbet para iosSegurança da ONU, com a criaçãosportingbet para iosassentos permanentes para naçõessportingbet para iosdesenvolvimento, alémsportingbet para iosequilíbrio do podersportingbet para iosveto.
Em uma entrevista no início do mês, Lula advogou por uma ampla reforma nos organismos financeiros multilaterais, como o FMI. E que os países que têm grandes dívidas externas possam pagar apenas parte delas, usando o restantesportingbet para iosinvestimentossportingbet para iossuas infraestruturas nacionais.
"Uma coisa que queremos defender (no G20) é a mudança no sistema financeiro, criado após a Segunda Guerra. Aquelas instituições não funcionam mais. Elas sufocam os países", afirmou o presidente.
O petista também defende que os países mais ricos e desenvolvidos colaborem mais e financeiramente com os países pobres na luta contra o aquecimento global e desmatamento.
Essa ideia é apoiada por outras nações do 'Sul Global', mas tem encontrado obstáculos nas últimas negociações.
Os países industrializados têm se mostrado relutantessportingbet para iosse comprometer financeiramente, preocupados especialmente com a possibilidadesportingbet para iosserem responsabilizados legalmente pelos impactos da mudança climática no processo.
Em um artigo publicado no finalsportingbet para ios2023, os pesquisadores Christopher S. Chivvis e Beatrix Geaghan‑Breiner, do think tank Fundo Carnegie para a Paz Internacional, afirmaram que apesar da tradição brasileirasportingbet para iosindependência e não-alinhamentosportingbet para iostermossportingbet para iospolítica externa, a autonomia do país se fortalece à medida que o impasse entre EUA e a China se amplia e o peso político e econômico da nação cresce.
"O Brasil quer evitar uma ordem mundial estruturada apenas pela competição entre grandes potências e,sportingbet para iosvez disso, espera uma ordem multipolar onde os Estados do seu tamanho tenham mais voz nas instituições internacionais e maior influênciasportingbet para iosgeral. Na opinião do Brasil, o surgimentosportingbet para iosnovas potências, especialmente a China, promete uma erasportingbet para ios'multipolaridade benigna', na qual o poder do Ocidente será reduzido e a influência das naçõessportingbet para iosascensão será reforçada", argumentaram os pesquisadores.
Mas para Laura Trajber Waisbich, diretora do programasportingbet para iosEstudos Brasileiros da Universidadesportingbet para iosOxford, falta ao Brasil protagonismo e capacidadesportingbet para iosliderançasportingbet para iosalgumas áreas.
"O Brasil tem capacidadesportingbet para iosliderarsportingbet para iosalgumas agendas, massportingbet para iosoutras não", diz a especialista. "Esportingbet para iosquais áreas apostar deve ser uma decisão estratégica e pragmática".
Para Waisbich, o país se destaca quando o assunto é a agenda ambiental e a reforma das organizações ambientais, dois temas que fazem parte do programasportingbet para iospolítica externa brasileiro há anos. Por outro lado, quando assuntossportingbet para iossegurança com menor proximidade ao Brasil estãosportingbet para iosdiscussão, o país pode escorregar ao tentar se colocar como protagonista.
"Existe capacidadesportingbet para iosliderança,sportingbet para iosarticulação esportingbet para iosser uma fontesportingbet para iosinspiração para discussões sobre problemas globais, mas [o Brasil] não deveria ter a pretensãosportingbet para iosser um modelo ou líder para tudo", diz.
Leonardo Ramos, professor da Pontifícia Universidade Católicasportingbet para iosMinas Gerais (PUC-Minas), explica que o desafiosportingbet para iosLulasportingbet para iosavançar com a agenda relativa ao Sul é maior hoje do que no passado.
"O mundo mudou e muitas questões delicadas surgiram desde a última presidência do Lula, como as tensões entre Estados Unidos e China, a guerra na Ucrânia, o conflitosportingbet para iosGaza e a ascensão da nova direita", diz.
Segundo o especialista,sportingbet para iosalguns momentos a política externa obriga os países a se alinharem ou condenarem um dos lados envolvidos nos confrontos, causando constrangimentos e prejudicando a ideiasportingbet para iosnão alinhamento defendida por muitas das nações do Sul.
"E as próprias tensões domésticas e a polarização extrema têm ocupado mais a atenção hoje do que no passado. Com tudo isso, ele tinha mais margemsportingbet para iosmanobra e respaldo interno."
Para Nikita Sud, nos últimos meses, dois países chamaram a atenção por seu posicionamento mais assertivo do que o normal frente à guerrasportingbet para iosGaza: Brasil e África do Sul.
Enquanto o governo sul-africano apresentou uma acusaçãosportingbet para iosgenocídio contra Israel na Corte Internacionalsportingbet para iosJustiça (CIJ), a diplomacia brasileira tem sido bastante crítica à atuaçãosportingbet para iosIsrael no enclave palestino e chegou a votar a favorsportingbet para iosuma resolução da ONU que conclama o fim da venda e transferênciasportingbet para iosarmamentos aos israelenses.
Segundo a professora da Universidadesportingbet para iosOxford, por terem se posicionadosportingbet para iosforma distinta daquela incentivada pelos Estados Unidos, as nações se projetaram como "vozes" mais relevantes na disputa pela liderançasportingbet para iosuma nova ordem global, apesarsportingbet para iosterem sido alvosportingbet para iosmuitas críticas.
Mas para o diplomata Paulo Robertosportingbet para iosAlmeida, ex-ministro-conselheiro na Embaixada do Brasilsportingbet para iosWashington e ex-assessor especial do núcleosportingbet para iosAssuntos Estratégicos da Presidência da República, os posicionamentos pouco neutros do Brasil têm justamente o efeito contrário e prejudicamsportingbet para iosbusca por liderança.
Segundo Almeida, o governo do presidente Lula tem investidosportingbet para iosuma política externa excessivamente "partidária e personalista" que causa fricções com as grandes potências do Ocidente.
O diplomata cita,sportingbet para iosespecial, a posiçãosportingbet para iosrelação à invasão da Ucrânia pela Rússia.
Apesarsportingbet para iosdefender uma mediação pela paz, o presidente brasileiro fez declarações que foram entendidas como uma formasportingbet para iosapoio brando à Rússia.
Em janeirosportingbet para ios2023, durante visita do chanceler alemão Olaf Scholz ao Brasil, Lula chegou a dizer que a Rússia estava erradasportingbet para iosinvadir a Ucrânia, mas também sinalizou para culpa do próprio país invadido. “Continuo achando que quando um não quer, dois não brigam”, afirmou. Em maio do ano passado, ao participar do G-7, no entanto, Lula disse que condenava a violação da integridade territorial da Ucrânia.
"A insistência do Brasilsportingbet para iosconsiderar todas as partes legítimas e a faltasportingbet para iosneutralidade recente têm minado a posição do Brasil como líder", diz Almeida.
Ainda segundo Paulo Robertosportingbet para iosAlmeida, a busca por uma maior cooperação com outros paísessportingbet para iosdesenvolvimento não deve virsportingbet para iosdetrimento da relação com Estados Unidos e Europa - algo que tem acontecido, segundo ele.
"Essa aproximaçãosportingbet para iosLula com os países proponentessportingbet para iosuma nova ordem global tem causado alguns problemas com os tradicionais parceiros do Brasil no Ocidente, Estados Unidos e Europa Ocidental basicamente."
Laura Trajber Waisbich,sportingbet para iosOxford, discorda. "Não precisa ser um ou outro", diz. "Às vezes pode haver uma decepção ou um desacordo mútuo, mas na minha percepção é um desacordo que afeta apenas partes da relação bilateral, não o todo."
Segundo a especialista, países como Reino Unido, EUA, Japão e Noruega, por exemplo, têm demonstrado confiançasportingbet para iosrelação à liderança do Brasil na área ambiental, apesarsportingbet para iostomarem posições distintassportingbet para iosrelação a temas como a guerra na Ucrânia.
Para além da política externa, o cenário econômico mundial mudou profundamente desde os primeiros governossportingbet para iosLula.
Entre 2002 e 2010, o PIB brasileiro teve um crescimento médiosportingbet para ios4,1%, ancorado, sobretudo, no crescimento das exportaçõessportingbet para iosmatérias-primas e commodities do Brasil para naçõessportingbet para iosvertiginoso crescimento, como a China.
Jásportingbet para ios2023, Lula assumiusportingbet para iosum momentosportingbet para ioscrescimento menor, inflação persistente e contas públicas afetadas pela pandemiasportingbet para ioscovid-19.
Ao mesmo tempo, há sinaissportingbet para iosque o legado construído pelo atual presidente e pelo Brasilsportingbet para iosforma geral ainda garante uma boa posição, segundo analistas.
"O Lula foi o único chefesportingbet para iosEstadosportingbet para iospaís emergente que participou das reuniõessportingbet para ioscúpula do G77, do G20 e do Brics ano passado, certamente já pensandosportingbet para iosreforçar essa posiçãosportingbet para iosliderança", diz Leonardo Ramos, professor da PUC-Minas.
Os dados do índice elaborado pelos pesquisadores da Universidadesportingbet para iosDenver mostram que o Brasil é o campeãosportingbet para iosinfluênciasportingbet para iostrês países do G77: Bolívia, Paraguai e Uruguai. O cálculo considera o anosportingbet para ios2022 como referência.
O Brasil foi o país com maior influência sobre a Argentina até 1997, segundo o FBIC, mas ficou atrás dos Estados Unidos nos últimos anos.
África do Sul: 'líder moral'
Correndo nas margens da disputa, está mais um dos membros "mais antigos" dos Brics, a África do Sul.
O país se juntousportingbet para ios2011 ao grupo que começou com Brasil, Rússia, Índia e Chinasportingbet para ios2008, mas é atualmente considerado um dos integrantes mais antigos, já que Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita foram convidados a aderir ao bloco.
A aliança, aliás, tem papel central no avanço da ideia do 'Sul Global' atualmente.
A própria expansão do grupo após a 15ª Cúpula do Brics,sportingbet para ios2023, foi considerada um enorme passo para que o 'Sul Global' tome o centro do palco da política global.
O presidente da África do Sul e anfitrião daquela reuniãosportingbet para ioscúpula, Cyril Ramaphosa, disse à imprensa que uma ampliação ainda maior é esperada para os próximos anos.
Segundo ele, os Brics "embarcaramsportingbet para iosum novo capítulo no seu esforço para construir um mundo que seja mais justo, honesto, inclusivo e próspero".
Sob a liderançasportingbet para iosRamaphosa, a segunda maior economia da África (atrás apenas da Nigéria, segundo dadossportingbet para iosabrilsportingbet para ios2024 do FMI) tem expandidosportingbet para iosforçasportingbet para iosliderança.
Para Anthoni van Nieuwkerk, professor da Universidade da África do Sul, o presidente "está restaurando a posição e o papel do país como líder moral global".
"As mensagens e o tom usado por Ramaphosa sugerem um líder assertivo do Sul que compreende como o mundo funciona. Ele não tem medosportingbet para iosdesafiar a narrativa dominante e está preparado para colocar sobre a mesa as exigências do Sul Global", afirmou,sportingbet para iosum artigo publicado no portal The Conversationsportingbet para iosdezembrosportingbet para ios2023.
Essa ideia foi reforçada especialmente pela apresentação da denúncia à Corte Internacionalsportingbet para iosJustiçasportingbet para iosHaia contra Israel e pelo posicionamento da diplomacia sul-africana frente ao conflito na Ucrânia.
Segundo Van Nieuwkerk, quando se trata da guerra travada no Leste Europeu, a África do Sul é especialmente motivada a advogar pela paz diante das consequências econômicas do confronto na África, que já sofre com a insegurança alimentar e energética.
Ramaphosa liderou uma missãosportingbet para iospaz africana para o confronto, que apesarsportingbet para ioster fracassadosportingbet para iosseus esforçossportingbet para iosnegociação, foi interpretada como um sinal da busca por liderança regional e global do presidente sul-africano, diz.
Ao lado do Brasil, a África do Sul também é uma voz importante nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre agricultura e um intermediário entre países desenvolvidos esportingbet para iosdesenvolvimento.
Rússia: o debate sobre o 'R' dos Brics
Em agostosportingbet para ios2023, durante o Fórum Empresarial do Bricssportingbet para iosJoanesburgo, na África do Sul, o presidente Lula destacou a importância do bloco para o avanço dos paísessportingbet para iosdesenvolvimento, classificando o grupo como a "força motriz" do 'Sul Global'.
Mas há grande discussãosportingbet para iostorno do papel do 'R' dos Brics entre os paísessportingbet para iosdesenvolvimento.
Apesarsportingbet para iossua clara oposição às potências do Ocidente, há quem questione a inclusão da Rússia entre os países do 'Sul Global'.
"Assim como a China, a Rússia se encaixava nas leiturassportingbet para iospotência média ou potência emergente quando esses conceitos se popularizaram. Mas vai ficando cada vez mais claro que são potências 'reemergentes' — foram grandes no passado, tiveram problemas e depois voltaram a crescer", diz Leonardo Ramos, da PUC-Minas.
O especialista ressalta, porém, que enquanto a China se alinhou mais ao 'Sul Global' por muitos anos — porsportingbet para iospolíticasportingbet para iosnão interferência —, a tensão da Rússia com o chamado "mundo Ocidental" sempre foi mais inflamada.
Ao mesmo tempo, o governo russo parece interessadosportingbet para iospromover a ideiasportingbet para iosuma aliança contra o 'Norte Global' e usar alianças com o Sul a seu favor.
"A Rússia vem se engajandosportingbet para iosmaneira explícita com alguns países do Sul Global nas últimas décadas,sportingbet para iosforma a tentar desempenhar algum papel importante para que esses países votem com a Rússiasportingbet para iosfóruns internacionais", diz Ramos.
Em fevereiro, Moscou organizou o primeiro "Fórum pela Liberdade das Nações", com 400 delegadossportingbet para ios60 nações, para reunir os países do 'Sul Global' contra o que chamousportingbet para ios"neocolonialismo Ocidental".
No ano anterior, sediou uma reuniãosportingbet para ioscúpula entre Rússia e África, durante a qual o presidente Vladimir Putin anunciou o cancelamentosportingbet para iosmaissportingbet para iosUS$ 20 bilhõessportingbet para iosdívidas históricassportingbet para iosnações africanas, segundo a agênciasportingbet para iosnotícias estatal Tass.
O governo russo também fez lobby pela expansão dos Brics e enviou o ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov,sportingbet para iosvárias viagens pelo 'Sul Global'.
Mas quando o tema é o confronto com a Ucrânia, o alinhamento absoluto não é a realidade.
China, Índia e Brasil adotaram uma posição mais neutra. Mas outros integrantes do 'Sul Global' têm demonstrado inclinação maior a apoiar o lado ucraniano, especialmentesportingbet para iosvotações nas Nações Unidas.
Ainda assim, segundo o professor da PUC-Minas, os países do sul não deixamsportingbet para ioster um papel importante na política externa russa por representarem uma alternativa para importações e exportaçõessportingbet para iosum momentosportingbet para iostensão e sanções internacionais.
Os dados compilados pelo Índice Formalsportingbet para iosCapacidadesportingbet para iosInfluência Bilateral (FBIC) também mostram um crescimento da influênciasportingbet para iosMoscou sob o G77 nas últimas décadas, com previsãosportingbet para iosexpansão ainda maior até 2035.